A escolha: Uma visão sobre as relações de poder
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Sobre este e-book
A partir de um paralelo com a passagem bíblica da tentação de Jesus Cristo no deserto, o autor busca desvelar algumas das formas de manifestação encobertas de poder que regem a sociedade, gerando uma falsa percepção de liberdade e autonomia pessoal, quando, de fato, nossos atos e nosso próprio modo de pensar são previamente condicionados, de modo subliminar, para que atuemos em conformidade com intenções já estabelecidas pelos detentores do poder.
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A escolha - Marlo Thurmann Gonçalves
Havana
Prólogo
Após décadas desacordado, um paciente da ala de comas de um hospital subitamente desperta, sendo confundido com Jesus Cristo pela população que acreditava ser ele o Messias que teria retornado à Terra para instaurar uma nova era, devido a uma fotografia tirada por um repórter e publicada no jornal local.
Percebendo a oportunidade de atrelar a imagem do paciente à do Salvador e, com isso, criar a figura de um novo líder, o diretor de um periódico convida o homem recém desperto a passarem quarenta dias reclusos em um local afastado da população para que possa expor seu plano de criação da figura do novo herói
e, assim, firmarem seu pacto.
Realizando-se uma analogia com a estória bíblica de Jesus, seus anos perdidos, a tentação do demônio durante os quarenta dias em que peregrinou no deserto e sua ressurreição, pretende-se descortinar as relações de poder que nos cercam, sendo muitas delas imperceptíveis em nosso cotidiano.
Ao final, fica o questionamento sobre se não estaríamos nós alheios à realidade que nos cerca, recusando-nos a despertar para ela e, como na Odisséia de Homero, preferindo vivermos enfeitiçados como porcos, servis, até o ponto em que não mais seja possível recuperarmos a nós mesmos.
Lucas 3:16
Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias.
Chamava-se corredor dos ausentes
. Uma sala longa, com leitos dispostos de ambos os lados, em duas fileiras quase intermináveis separadas por um estreito corredor utilizado para o trânsito de médicos e enfermeiros. Apesar de contar com janelas amplas no lado leste da sala, que permitiam a iluminação natural do ambiente, as paredes e lençóis brancos dispostos sobre os leitos, cobrindo os pacientes, aliados ao silêncio quase constrangedor do local, frontalmente contrastante com as lamúrias e gritos de pacientes e familiares das demais alas do hospital, conferiam ao local um ar lúgubre, como se os pacientes da ala de comas fossem mortos, dispostos em um grande sepulcro caiado.
Seguindo sua rotina diária, o médico-chefe do setor caminhava lentamente pelo corredor, acompanhado por um médico residente, em passos cadenciados, analisando por um mero relance de olhar as fichas dos pacientes colocadas aos pés dos leitos, as quais muito raramente mostravam alguma evolução de quadro clínico. Explicava ao residente alguns procedimentos adotados no tratamento dos pacientes, tentando esconder seu ar entediado pela repetição diuturna e interminável daquela rotina de avaliação clínica.
Enquanto avançavam pelo corredor, desviavam-se das cadeiras dispostas aos pés de cada um dos leitos por parentes solitários, que há anos utilizavam-se dos horários de visitação para ficarem sentados, em vigília silenciosa, aos pés das camas de seus parentes, aguardando alguma reação que reacendesse a fé que há muito lhes faltava.
Sabia o médico que seria em vão informá-los que os pacientes encaminhados ao corredor dos ausentes
se encontravam em coma profundo, sendo reduzidas, para não dizer nulas, as chances de reversão de seus quadros clínicos. Os familiares que para lá se dirigiam diariamente, mantendo a vigília silenciosa ao longo de todo o período de visitação, em sua grande maioria cumpriam essa rotina imbuídos, seja de um sentimento de culpa pela ideia de abandonar um familiar à própria sorte, ou mesmo como forma de dar sentido a uma vida sem outros objetivos que não o de, em ato de caridade, velar por um parente em estado irrecuperável.
À medida que avançavam de forma lenta pelo corredor, quebrando o silêncio apenas nas ocasiões em que o médico-chefe fornecia ao residente informações técnicas sobre determinado paciente ou sobre tratamentos empregados, chamou a atenção do residente um dos leitos do lado leste, sobre o qual estava deitado um homem aparentando ter em torno de trinta anos de idade, com barba e cabelos castanhos compridos, bem aparados.
Ao contrário dos demais pacientes, cujas expressões macilentas e estáticas possuíam um angustiante semblante de dor, tristeza ou mesmo da quase certeza da ausência da alma em seus corpos, aquele homem deitado, vestido apenas com uma camisola branca, apresentava uma incomum expressão de tranquilidade, como se estivesse simplesmente repousando, alheio ao clima de dor reinante no local, aguardando o momento para erguer-se de sua cama.
Sobre sua cabeça, afixada à cabeceira da cama, a inscrição INRI
, abreviatura de Indivíduo Não Reconhecido pela Instituição
, expressão que denotava ser totalmente desconhecida pelo hospital a identidade e a origem daquele homem.
Intrigado com a expressão peculiar do paciente, em muito destoante do ambiente geral do local, o médico residente questionou a seu superior quais as informações que tinham acerca daquela pessoa em particular. Interrompendo sua ronda, o médico superior deu uma rápida e desatenta virada de rosto em direção ao paciente, sem se preocupar em esconder sua contrariedade pela súbita interrupção de sua ladainha, respondendo com certo ar de desdém: - Este paciente encontra-se aqui há pelo menos duas décadas, antes mesmo de eu exercer a profissão nesta instituição. Acredito que tenha sido internado por volta dos dez, doze anos, por algum parente ou conhecido que, sabe-se lá como, não deixou qualquer informação. Não se sabe muito a seu respeito, na verdade a única informação que se tem diz respeito ao seu estado clínico: encontra-se em coma profundo e irreversível. As chances que possui de reversão de seu quadro clínico são nulas, ainda mais se considerado o longo período em que se encontra em estado de coma. Ouso dizer que somente por intervenção divina este paciente poderia voltar a acordar.
Por uma dessas estranhas curiosidades do destino, enquanto o médico tecia considerações científicas acerca da impossibilidade de reversão do quadro clínico do paciente, ambos puderam observar, incrédulos e estupefatos, o incógnito paciente abrir seus olhos e perscrutar, com ar curioso e de uma estranha serenidade, o ambiente que o cercava.
Lucas 24:7
O Filho do homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores e crucificado, mas ressuscitará ao terceiro dia.
Tivesse se tratado de um caso comum de reversão de coma e talvez permanecesse incógnito o paciente cujo período no hospital logo ficou conhecido como seus anos perdidos
. A excitação causada pelo raríssimo acontecimento, que poderia conferir fama imediata no meio acadêmico a quem descobrisse suas causas,