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A surpreendente graça nas decepções: Encontrando esperança quando Deus parece nos abandonar
A surpreendente graça nas decepções: Encontrando esperança quando Deus parece nos abandonar
A surpreendente graça nas decepções: Encontrando esperança quando Deus parece nos abandonar
E-book191 páginas3 horas

A surpreendente graça nas decepções: Encontrando esperança quando Deus parece nos abandonar

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Sobre este e-book

Todos alimentamos falsas expectativas em várias áreas da vida. Em relação ao nosso relacionamento com Deus, isso não é diferente. Então, quando Jesus não corresponde a essas expectativas, ficamos decepcionados.

Em A surpreendente graça nas decepções, Koessler explica como essas experiências difíceis podem ser a melhor coisa que pode nos acontecer, ainda que extremamente dolorosas. Na verdade, as frustrações decorrentes da aparente falha de Jesus em realizar nossos sonhos redefinem todas as nossas expectativas. É isso que significa graça surpreendente: a certeza de que toda dor e frustração podem nos aproximar ainda mais de Jesus.
IdiomaPortuguês
EditoraVida Nova
Data de lançamento23 de abr. de 2020
ISBN9788527509664
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    A surpreendente graça nas decepções - John Koessler

    dele.

    1

    Falsas esperanças

    e expectativas infundadas

    Quando Jesus parece estar muito distante

    Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua presença? (Sl 139.7)

    A minha primeira grande compra foi um submarino. Eu o vi no verso de uma caixa de cereais, que alardeava sua proeza de ser um submarino que submergia de verdade. O poder do fermento em pó e essa pequena embarcação prometiam tornar-me um mestre dos mares — ou, pelo menos, da minha banheira. Eu tinha de comprá-lo, mesmo que custasse várias semanas da minha mesada.

    No dia em que o submarino chegou pelo correio, levei-o para o banheiro. Com todo o entusiasmo que uma nova aquisição produz, abri a torneira. Rasguei a caixa e me dei conta de que o submarino era menor do que imaginara. Não importa. Deixei a água correr até chegar perto da borda da banheira, enchi o compartimento da base da embarcação com fermento em pó e a lancei na água.

    O submarino foi direto para o fundo da banheira. Não mergulhou. Simplesmente afundou. Quando o bicarbonato de sódio começou a se dissolver, as bolhas de ar subiram para a superfície, e de repente ele voltou à tona. Depois de alguns instantes, afundou novamente. A experiência trouxe novidade para mim, mas no geral ficou abaixo da minha expectativa. Fui tomado por uma onda de decepção e percebi que havia desperdiçado minhas economias em um brinquedo de plástico barato.

    Quando me tornei adulto, deixei essas preocupações infantis para trás. A decepção, porém, não seria descartada tão facilmente. Pelo contrário, ela se adaptou às minhas mudanças de preferência, incorporando-se aos brinquedos mais complexos da fase adulta e intromentendo-se na minha vocação e nos meus relacionamentos mais estimados. Como pastor jovem e recém-formado no seminário, mergulhei de cabeça no meu novo trabalho com todo entusiasmo e esperança que senti ao abrir a caixa do meu submarino novo. Contudo, não demorou muito para perceber que minhas sublimes expectativas como pastor do meu próprio rebanho nem sempre correspondiam às necessidades corriqueiras da minha congregação rural.

    No início do meu ministério, quando tentei apresentar aos presbíteros minhas metas de longo prazo para o culto de louvor, comunhão, evangelização e o discipulado, esperava que eles ficassem impressionados. No entanto, eles se entreolharam com ar de interrogação, até que finalmente alguém disse: Sinceramente, não consigo entender por que você pôs evangelização nessa lista. Bom, pelo menos eu tinha meus sermões. No início, sentia-me mais confortável nos estudos e no púlpito. Até que um membro da igreja me aconselhou a melhorar minhas mensagens: Se o senhor não consegue comunicá-la em vinte minutos, é porque ela não precisa ser dita, disse ao me cumprimentar após o sermão.

    Meu trabalho, apesar de ser um ministério, mais parecia um trabalho físico extenuante. As pessoas que eu amava nem sempre me amavam. Às vezes, não dava valor às pessoas que me amavam ou as tratava com indelicadeza. Eu me propus fazer algo de mim e com isso glorificar a Deus. Contudo, apesar de ter feito todo o possível para esperar grandes coisas de Deus e tentar realizar coisas grandiosas para ele, meus empreendimentos não alcançaram a trajetória que eu esperava.

    Cristianismo sem cicatrizes

    Eu não deveria ter ficado surpreso. Vivemos em uma era de expectativas irracionais. Nosso mundo é um lugar onde se fazem promessas sem nenhum compromisso, facilmente descumpridas, onde a hipérbole é a língua franca. Publicitários dizem que determinado xampu nos deixará mais atraentes para o sexo oposto; que álcool facilita os nossos relacionamentos; e que comprar o carro certo é o portal para a aventura. Esses propagandistas prometem muito mais do que apenas melhorar nossa vida. Anunciam a satisfação máxima.

    O problema da publicidade não é que ela crie necessidades artificiais, e sim que se aproveita dos nossos desejos humanos mais genuínos, ressalta o crítico de mídia Jean Kilbourne, no artigo Jesus is a brand of jeans [Jesus é uma marca de jeans]. "Não somos idiotas, temos consciência de que comprar determinada marca de cereal não nos aproximarará nem um centímetro a mais daquele objetivo. Todavia estamos cercados de anúncios comerciais que sujeitam nossas necessidades aos produtos e nos prometem que essas coisas proporcionarão algo que na verdade elas não podem nos dar".¹ Kilbourne observa que os comerciais também costumam promover o narcisismo ao retratarem nossa vida como enfadonha e trivial. Eles exploram nossos desejos naturais para intensificar nossa insatisfação e criar expectativas irreais.

    A igreja não está imune a esse modo de pensar. A teologia americana popular combina o otimismo natural do humanismo com a ética pelagianista do trabalho, o que resulta em uma poção venenosa de espiritualidade narcisista, que é pragmática e insipidamente positiva. Isso é o cristianismo sem cicatrizes. Um cristianismo em que todas as arestas cortantes de nossas experiências foram polidas. Esse tipo de cristianismo propõe uma ideia do sentido de seguir Jesus que substitui realidades duras por nostalgia e troca a noção de afeição religiosa, proposta por Jonathan Edwards, pelo sentimentalismo barato.

    Essa visão diz mais respeito aos proponentes do pensamento positivo do que àqueles que viram as promessas de Deus e as acolheram de longe (Hb 11.13). Ela retrata um mundo em que nem tristeza, nem dor, nem intriga maior poderão ao fiel abalar (como diz a letra do hino antigo Crer e observar). Não há lugar nesse cenário para alguém como Jó, cujo caminho foi fechado por Deus e coberto pela escuridão (Jó 19.8). Não há palavras adequadas para expressar as queixas de Jeremias de que fora enganado e ridicularizado pelos propósitos de Deus (Jr 20.7).

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    A igreja deprecia as promessas de Jesus quando recorre a clichês e à retórica do marketing espiritual para falar de sua experiência e de seus ministérios.

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    Folhetos de conferências cristãs afirmam que os que participarem dessas reuniões jamais serão os mesmos. Igrejas ostentam placas em que se vangloriam de ser a igreja mais cordial da cidade. Em outros contextos, não teríamos problema em reconhecer essas declarações pelo que de fato são: o ruído exagerado do marketing. Contudo, quando afirmações exageradas como essas são assumidas pela igreja, elas se revestem de uma aura de autoridade divina. Isso se aplica sobretudo quando se recorre ao estilo de linguagem da promessa bíblica para fundamentar tais alegações.

    Nas Escrituras, Jesus às vezes faz uso de hipérboles. Ele também faz declarações intrépidas nada hiperbólicas sobre si mesmo e sobre o evangelho. A diferença entre as afirmações dele e as que ouvimos com frequência nas igrejas é que as afirmações de Jesus, apesar de extremas, não são excessivas. A igreja deprecia essas promessas quando recorre a clichês e à retórica do marketing espiritual para falar de sua experiência e de seus ministérios.

    O discurso da intimidade inviável

    Um exemplo disso é o vocabulário que geralmente usamos para falar de nossos relacionamentos. Em The search to belong: rethinking intimacy, community and small groups [A busca por pertencimento: repensando intimidade, comunidade e pequenos grupos], Joseph R. Myers usa as categorias do espaço físico cunhadas pelo antropólogo Edward T. Hall para descrever níveis de pertencimento na igreja. Hall identificou quatro tipos de espaço que definem as interações humanas: público, social, pessoal e íntimo. De acordo com Myers, a igreja geralmente emprega o vocabulário da intimidade para se referir a relacionamentos que, quando muito, são amizades próximas. "O problema é que, quando defino meus relacionamentos pessoais como íntimos, explica Myers, eu diluo o significado dos relacionamentos que tenho no verdadeiro espaço íntimo".²

    Assim como as falsas promessas dos publicitários, esses rótulos exploram nosso anseio natural por intimidade humana e nos armam ciladas para a decepção inevitável. Cria-se um ônus absurdo para os pequenos grupos, a escola dominical ou o culto de adoração definidos desse modo. Na realidade, os ambientes e os relacionamentos que podem ser genuinamente definidos como íntimos são poucos. Myers propõe um teste de realidade necessário quando questiona se queremos mesmo que todos os nossos relacionamentos sejam íntimos: Pense em todos as relações de sua vida, desde o relacionamento com o caixa do banco, passando pelo relacionamento com uma irmã, com os colegas de trabalho até o relacionamento com seu cônjuge. Será que conseguiríamos sustentar satisfatoriamente todos esses relacionamentos se eles fossem íntimos?.³

    O mesmo vale para o vocabulário que a igreja usa para caracterizar o tipo de relação que esperamos ter com Jesus Cristo. Não faz muito tempo, um ex-aluno meu reclamou da maneira que os líderes de jovens empregam o que ele chama de o vocabulário da intimidade inviável para definir nosso relacionamento com Jesus Cristo.É o tipo de coisa que se ouve quando os líderes de jovens dizem para seus alunos ‘namorarem’ Jesus, explicou. Quando a igreja usa o vocabulário da intimidade inviável para se referir a nossa experiência com Cristo, ela substitui a intimidade verdadeira pela barata e não faz justiça à transcendência divina.

    Somos semelhantes a Deus, mas Deus é diferente de nós (Nm 23.19; Is 55.8,9). Deus é como nós e ao mesmo tempo ele não é como nós. Deus está tanto mais distante quanto mais próximo de nós do que qualquer outro ser, ressalta C. S. Lewis.⁵ Fomos feitos à imagem de Deus (Gn 1.26). Somos como ele, mas ele não é como nós. Ele faz, nós somos feitos; ele é original, nós derivados. Ao mesmo tempo, porém, e pela mesma razão, a intimidade entre Deus e até a pior das criaturas é mais próxima do que a que qualquer criatura possa ter com outra.

    Do mesmo modo, a Bíblia também afirma que, na Encarnação, Deus Filho se fez semelhante a nós. (Hb 2.17). Ele foi tentado em todas as coisas assim como nós somos (Hb 4.15). Essa semelhança garante a possibilidade de buscar a Cristo e nele encontrar compaixão e ajuda nas tentações, e abrir o caminho para um relacionamento verdadeiro. No entanto, o Cristo ressurreto é também o Cristo transcendente. Em suas aparições pós-ressurreição, Jesus convidou seus discípulos a tocá-lo e ver que ele não era um fantasma (Lc 24.39; Jo 20.27). Isso foi uma prova robusta de que a humanidade de Cristo continuou depois de sua ressurreição. Mas essas aparições também deixam bem claro que o modo em que esses discípulos se relacionavam com Jesus mudou radicalmente após a ressurreição. Maria foi advertida a não segurar a forma física de Jesus porque ele ainda devia ascender ao Pai (Jo 20.17). O mesmo João que fala com tanta familiaridade de ver e tocar Cristo e que deitou a cabeça sobre o peito do Salvador cai aos pés de Jesus como morto (Ap 1.17).

    • • •

    Os cristãos místicos alertaram que em nossa experiência com Cristo deveríamos esperar desolação, dor e sofrimento.

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    Assim como depois da ressurreição os discípulos de Jesus não se relacionaram mais com Cristo do mesmo modo que antes desse acontecimento, nossa relação com Jesus também não é com o Cristo tal qual o encontramos nos Evangelhos. Nós adoramos um Cristo elevado aos céus e glorificado. Na ressurreição, o véu que cobria a glória divina de Cristo foi rasgado. Jesus ainda é como nós, mas também é diferente de nós. Seremos glorificados como ele, mas em um dia que ainda está por vir (1Jo 3.2).

    De acordo com Jesus, ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11.27). Isso é uma revelação do Pai sem a qual todo olho está em trevas e pela qual todo olho que ele desejar pode ser iluminado.⁷ Contudo, não se trata de um relacionamento comum; não interagimos com o Pai da mesma maneira que interagimos com nossos pais, irmãos ou companheiros. É verdade que os cristãos místicos, como Teresa de Ávila, freira espanhola do século 16, empregaram há muito tempo o vocabulário da intimidade para falar de suas experiências com Cristo. Teresa se referia a Cristo tanto como amigo quanto como amado, mas ela também alertou que em nossa experiência com Cristo devemos esperar desolação, dor e sofrimento.

    Por que não podemos sentir a presença de Deus

    A Bíblia usa metáforas de intimidade para caracterizar nosso relacionamento com Cristo. Somos comparados a noivo e noiva, a marido e mulher, e a pai e filho (Ap 21.2; Is 54.5; Mt 7.11). A diferença entre essas metáforas e o vocabulário da intimidade inviável é que o linguajar que em geral usamos nos dá a falsa impressão de que a intimidade com Cristo pode ser vivida e mantida pelos mesmos mecanismos que sustentam os relacionamentos comuns: presença física, toque e conversação. A presença é um elemento importante em nosso relacionamento com Cristo — Jesus prometeu estar conosco até o final dos tempos (Mt 28.20) —, todavia trata-se de uma presença espiritual e invisível mediada pelo Espírito Santo, não uma presença física. João podia dizer que viu e tocou Cristo, mas nós não podemos (1Jo 1.1). A nossa bênção especial é ter comunhão íntima com Aquele que é invisível para nós (Jo 20.29). A situação é semelhante quando se trata de oração. É verdade que temos prazer em ter um tipo de conversa com Jesus mediante a prática da oração, mas em geral isso é como se fosse uma conversa apenas unilateral. Ele responde às nossas orações, mas se mantém em eloquente silêncio. O que foi dito sobre os judeus em relação ao Pai pode ser dito sobre nós em relação a Cristo: Vocês nunca ouviram a sua voz, nem viram a sua forma (Jo 5.37).

    Há uma maneira de ouvir em nosso relacionamento com Cristo. Jesus disse Estas ouvem a minha voz, eu as conheço, e elas me seguem (Jo 10.27). Entretanto, para a maioria, esse ouvir não é perceptível. Sim, Jesus fala por meio das Escrituras, mas isso é comunicação por inferência; inferimos o que Cristo está nos dizendo por meio de algo que foi falado ou escrito para outra pessoa. Não é um diálogo comum.

    É claro que Deus nunca está verdadeiramente ausente. Não há lugar para onde possamos fugir da presença dele (Sl 139.7-12). Mas o fato de que ele está em todo lugar e sempre presente não garante que sentiremos a presença dele. Pelo contrário, a ausência é um fato da nossa experiência com Deus tanto quanto a realidade da sua

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