Conto de terror para crianças insones
De R.M. Paiva
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Sobre este e-book
Acomode-se, por favor, e não se incomode com o ambiente ao seu redor. Os túmulos continuarão selados, e os mortos que os ocupam permanecerão descansando em seu repouso eterno. Sei que um vento frio nos fustiga, nesta noite iluminada pela brilhante lua que desponta no céu escuro, mas espero que tenha trazido um bom casaco para se aquecer. Não se preocupe caso comece a ouvir ruídos vindos dos arbustos em volta; nem tudo está morto dentro de um cemitério. O coveiro logo virá ao seu encontro, trazendo em seu acervo de pesadelos alguns contos oriundos de lugares assustadores, onde coisas disformes rastejam entre as sombras, à procura de vítimas distraídas, que se encontram no lugar errado, na hora errada.
Silêncio, agora!
Ele está chegando...
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Conto de terror para crianças insones - R.M. Paiva
é…
– Sinceramente, não conheço nenhum animal nessa região que possa fazer um ferimento assim… – afirma Hernandes, com certa inquietação na voz. – Veja isso! – Ele afasta a lã que se acumula no pescoço da ovelha e Daniel se aproxima para visualizar melhor.
O animal se encontra deitado numa mesa metálica. Os olhos sem vida fixos no teto da sala de cirurgia; o pescoço empapado de sangue exibe dois furos do tamanho de moedas de cinco centavos.
– Talvez, sei lá… um cão do mato ou uma onça, quem sabe? – supõe o garoto.
– Acredito que não… – O veterinário retira o excesso de suor da testa usando o antebraço. Despe-se das luvas e caminha até a pia. Enquanto higieniza as mãos, continua falando, de costas para Daniel. – As mordidas desses animais iriam dilacerar mais a carne… e também… o predador que fez isso… parece que ele precisava de apenas uma fonte de alimento.
– Qual, dotô?
– Sangue – responde Hernandes, virando para encarar Daniel. – Eu vou fazer algumas fotos. Uma amiga bióloga, que mora na capital, pode ajudar a identificar o animal dono dessa mordida.
– Eu agradeço, dotô, mas dessa noite num passa… – diz Daniel, e apesar de ter apenas doze anos de idade seu tom de voz soa ameaçador aos ouvidos de Hernandes. – Vou dar cabo da vida desse bicho maldito!
– Cuidado, Daniel! – alerta o veterinário. – Não sabemos com que espécie de animal estamos lidando aqui.
– Pois hoje, se ele aparecer, a gente descobre, dotô!
Daniel sai da clínica, pega sua bicicleta na carroceria da caminhonete de Hernandes e volta para a fazenda, com determinação e raiva no olhar.
* * *
Na varanda de casa, sentado em sua cadeira de balanço, Martins observa com tristeza no olhar o cercado a alguns metros, onde estão suas estimadas ovelhas. Apesar de o rebanho ser formado por ovinos saudáveis, o olhar amargurado é por outro motivo: antes existiam 25 animais; agora, apenas dezoito.
O sol, lentamente, começa a se pôr, dando ao céu uma coloração vermelho-alaranjada.
Daniel se encontra entre as ovelhas, que se locomovem de um lado a outro, agitadas.
– Pode ficar tranquila, Mancha – assegura o garoto, acariciando a cabeça da ovelha mais antiga do rebanho, cujo nome é por causa do círculo escuro que se destaca da lã branca em suas costas. – Num vou deixar nada de ruim te acontecer, menina.
Mancha berra e se afasta, juntando-se às outras.
Daniel pula a cerca feita de madeira e caminha na direção do pai.
– Elas tão é estressadas por tarem presas… – lamenta ele, subindo os degraus até a varanda.
– É para o bem delas, você sabe – diz o pai. – Se eu pudesse… – Martins suspira, melancólico, e olha para onde devia haver uma perna. – Eu mesmo ia caçar esse bicho.
Olhar para a perna direita do pai, amputada até o joelho, deixa Daniel triste, porque o que mais admirava em Martins era sua disposição para as atividades do campo, sua saúde de ferro. Contudo, até o mais forte dos homens pode se tornar impotente devido ao diabetes. Principalmente um homem do campo acostumado a se ferir, com certa frequência, seja por um descuido com um facão ou pelo manuseio negligente de um machado. O ferimento necrosa por não cicatrizar, e a amputação do membro atingido se torna uma dolorosa realidade.
– Num fique agoniado, não, pai… eu mesmo vou matar esse maldito!
– E tu tá abilolado do juízo, Daniel? Como tu vai fazer isso?
– Ora, pai, vou mandar chumbo quente no couro do bicho – explica o garoto.
– Deixe de invenção, menino! Onde é que eu quero você brincando com a espingarda? – repreende o pai, lançando um olhar de desaprovação para o filho.
– Mas pai, eu…
– Mas nada! – interrompe o homem, gesticulando com a mão. – Se eu ver você com a arma, é você que vai dormir de couro