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O sítio sangrava
O sítio sangrava
O sítio sangrava
E-book305 páginas3 horas

O sítio sangrava

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Sobre este e-book

Ruth não é uma boa pessoa, mas é o melhor que consegue ser. Enquanto a vida pessoal desmorona ao seu redor, ela recebe a notícia da morte da avó e uma herança maldita: um velho sítio no interior de Taubaté. Acompanhada por Leo e Wagner, um casal numa relação tóxica, e Mara, amiga de longa data reminiscente de um passado turbulento.

A chegada dos forasteiros da cidade grande vai despertar algo antigo e vingativo na propriedade, que se manifestará de formas aterradoras. Um pesadelo muito familiar que deve ser mantido longe do alcance das crianças.
IdiomaPortuguês
EditoraBookerang
Data de lançamento30 de abr. de 2021
O sítio sangrava

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    O sítio sangrava - Rodrigo Espírito Santo

    cover-image, O sitio sangrava

    Copyright © por Rodrigo Espírito Santo

    Todos os direitos reservados

    -É PROIBIDA A REPRODUÇÃO-

    Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida, em quaisquer meios existentes, sem autorização do autor, por escrito.

    Edição: Danilo Barbosa

    Revisão: Erik Gabriel

    Capa e diagramação: Renato Klisman

    Ficção: Literatura Brasileira.

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1

    CAPÍTULO 2

    CAPÍTULO 3

    CAPÍTULO 4

    CAPÍTULO 5

    CAPÍTULO 6

    CAPÍTULO 7

    CAPÍTULO 8

    CAPÍTULO 9

    CAPÍTULO 10

    CAPÍTULO 11

    CAPÍTULO 12

    CAPÍTULO 13

    CAPÍTULO 14

    CAPÍTULO 15

    CAPÍTULO 16

    CAPÍTULO 17

    CAPÍTULO 18

    CAPÍTULO 19

    CAPÍTULO 20

    CAPÍTULO 21

    CAPÍTULO 22

    CAPÍTULO 23

    CAPÍTULO 24

    CAPÍTULO 25

    CAPÍTULO 26

    CAPÍTULO 27

    CAPÍTULO 28

    CAPÍTULO 29

    CAPÍTULO 30

    CAPÍTULO 31

    CAPÍTULO 32

    CAPÍTULO 33

    CAPÍTULO 34

    CAPÍTULO 35

    — Olhem, olhem! Tem sangue no sapato! Então os pássaraos arrancaram -lhe os olhos. Por malícia e malvadeza, a madrasta e suas filhas foram condenadas à cegueira pelo resto de suas vidas".
    A Gata Cinderella - Giambattista Basile (1634)

    O corpo da menina afundou no lago de pedra.

    A profundidade crescia, assim como o desespero. O ar escapando-lhe os pulmões e a força se esvaindo, sem conseguir voltar à tona.

    Aquilo não era lugar para criança, Carol finalmente entendeu.

    Mas já era tarde demais.

    Trinta minutos antes, a pequena corria pelo gramado úmido do seu recanto favorito: o sítio de veraneio onde os pais costumavam passar os domingos. Ao redor da casa ampla, atrações e possibilidades se espalhavam para todos os lados. Tinha quadra de esportes, churrasqueira, uma pequena área com telhado de palha e um playground bem velho. O sítio, já naquela época, não lidava bem com o avançar do tempo. As novidades e salamaleques que clubes menos distantes da cidade ofereciam começavam a desviar a clientela do local. Em seu favor, a natureza exuberante. A mata densa que soprava um vento fresco e revigorante por todo o terreno e, é claro, os animais que Carol tanto amava. Cavalos, pôneis, cabras, vacas… Todos acostumados com a presença insistente de crianças a acariciá-los e pedir montaria.

    A menina passou muitas tardes revezando-se entre a piscina infantil, o parquinho e passeios no Ulisses, um cavalo velho que trotava no compasso de um carrossel enferrujado. Enquanto isso, o pai bebericava e beliscava linguiças e nacos de carne com os compadres na churrasqueira e a mãe tomava sol na espreguiçadeira, comentando a novela com as amigas.

    Ao final da tarde, todos se sentavam nas longas mesas comunitárias no quintal da sede e um almoço mais elaborado era servido. Depois do doce de abóbora e o pudim de leite, todos entravam nos carros após as efusivas despedidas e a procissão vagarosa percorria os dez minutos de estrada de chão que ligavam o sítio à rodovia, e dali para o resto do mundo. Alguns dos melhores momentos da infância, Carol passou naquela propriedade.

    Aos 12 anos, aquilo já não fazia tanto sentido. Toda vez que a mãe anunciava outra ida ao sítio, ela bufava. Significava um dia inteiro longe da MTV, do telefone, dos amigos da escola, ouvindo o pai contar as mesmas piadas sem graça de sempre. Ainda teria as amigas da mãe lhe puxando as bochechas e exclamando o quanto estava crescida. Só de pensar naquilo já se irritava.

    Carol sempre protestava, é claro, mas não tinha liberdade de escolha. Sem chance de ficar sozinha em casa. Emburrada, entrava na Quantum e a família, nem tão feliz, tomava a estrada.

    A água na piscina infantil já mal lhe cobria os joelhos, isso sem contar os pirralhos, que insistiam em bater os braços, fazendo algazarra e espalhando gotas por todo canto. A garota tentava proteger os cabelos num rabo de cavalo. Se pudesse, sairia dali. Ou melhor, nem entraria! Mas para piorar as coisas, alguma tia fez dela a cuidadora dos pequenos, uma vez que já era uma mocinha.

    — E se a gente afogasse um moleque desses?

    A frase pegou Carol de surpresa. Distraída com a gritaria dos pequenos, nem reparou quando o garoto sentou ao seu lado. Era alto, magro, sem camisa, calção de nylon. Devia ser pelo menos uns dois anos mais velho. Ombros largos, bronzeado, cabelos loiros, descoloridos, como os surfistas na TV. Um colar de couro cru ostentava um dente pontiagudo. E brinco, gente!

    — Desculpa. Piada besta, eu sei. Não pretendo afogar criança nenhuma. A não ser que você peça, é claro. Prazer, Fábio. — Estendeu a mão. Tinha um sorriso bonito.

    — Então? Seu nome é...? — Insistiu Fábio. Só então ela se deu conta de que não havia respondido.

    — É Carol…— gaguejou, roxa de vergonha.

    — Prazer. Você não é meio grandinha pra esse lugar?

    — Aqui é sempre assim?

    — Chato? É. — Carol acabou sorrindo. Ele retribuiu. Pensava que o sorriso daquele garoto não podia ficar mais iluminado. Tinha se enganado. — Nunca te

    por aqui… — acabou dizendo, ao invés de perguntar onde ele morava.

    — Meu pai é militar. A gente não para nos lugares por muito tempo. Esse é meu primeiro fim de semana por essas bandas.

    — E onde você vai estudar?

    — Não lembro o nome da escola. Só sei que é de um santo.

    — Todas as escolas da cidade têm nome de santo.

    — Todas as duas, né? Nossa, vai faltar santo pra tanto estabelecimento de ensino.

    — Quer ver uma coisa muito maneira? — Ele sussurrou no ouvido dela. De repente, Carol nem se importava mais com a algazarra das crianças na água.

    — O… o quê?

    — Vai ter que confiar em mim. É segredo. — Deu uma piscadela.

    — Mas… Minha mãe falou para… — Carol engoliu a própria frase, envergonhada do quanto soava medrosa e infantil.

    — É rapidinho. Ninguém vai notar. Além do mais, já está mais que na hora de sair da piscina das criancinhas.

    Carol ficou ainda mais vermelha. Antes que pudesse responder, ele já estava de pé. Assistiu por alguns segundos os chinelos de Fábio balançarem, rumo

    à cerca lateral do sítio. Tomada de uma coragem desconhecida, levantou-se e o seguiu.

    — Espera, espera! — chamou, tomando cuidado para não atrair a atenção dos adultos. — Aonde você vai?

    — Encontrei um lugar muito legal aqui perto. Mas não é pra criancinha.

    — Ué, mas não é sua primeira vez? — Ficou desconfiada.

    — Pai militar, lembra? A gente chegou cedo pra caramba. Deu tempo para explorar o lugar.

    — Seu pai é militar, mas te deixa usar brinco?

    Parou, receosa, quando Fábio a encarou. Levou a mão à orelha e puxou a argola com força. Carol tomou um susto e segurou o grito.

    — É de pressão. Ele chega, eu tiro. Se você contar pra alguém, vou ser obrigado a te matar. — Carol ficou muda. — É brincadeira! Relaxa!

    Os dois riram e ela deixou os ombros tensos caírem. Só então reparou que o alarido das famílias estava distante. Há poucos passos dali, estava a cerca que separava a mata da propriedade.

    — A gente vai para lá? Não pode! É proibido! — Carol protestou, nervosa. Fábio revirou os olhos.

    — Você só faz o que é permitido?

    — Mas e se tiver cobra?

    — Então vou na frente. Aí ela me pega primeiro — debochou Fábio, escalando a cerca.

    Carol olhou para trás. Os pais e demais adultos permaneciam distraídos ao redor da churrasqueira. Uma nova leva de petiscos acabara de ser servida. Ela respirou fundo e seguiu o menino lindo e rebelde.

    Os dois esticaram as pernas finas sobre o mato alto. Carol perdeu o equilíbrio, mas ele segurou-lhe a mão. Aquilo a deixou ainda mais vermelha. Parecia um morango.

    — Eu ouvi meu pai comentando com o capitão que esse sítio, antes, era parte de uma fazenda. A sede era onde moravam os caseiros. E nem é tão antiga assim… — Fábio contou como se fosse um segredo. — O capitão disse que tem uma lenda… Sobre um tesouro escondido na casa.

    — Você acredita nessas coisas? — Carol revirou os olhos.

    — Eu acredito que não vou passar meu domingo numa piscina de criança.

    Carol ponderou que precisaria fazer uma escolha. Ou parava de agir como uma pirralha medrosa ou dava meia volta e retornava ao sítio. Preferiu continuar seguindo o aventureiro bronzeado.

    A cada passo dado mata adentro, o silêncio ficava mais pesado. Quase não se ouvia mais o churrasco. Apenas os passos sobre as folhas e os pássaros cantando ao longe.

    — Tem certeza de que é por aqui? — insistiu Carol, meio sem fôlego.

    — Tá quase. Juro que não vai se arrepender.

    O pensamento de que a mãe podia estar naquele momento à sua procura fez o coração dela disparar. Fábio virou-se e deu passagem para que tomasse a dianteira.

    — É agora que o bicho pega. — Deu outra piscadela.

    Carol respirou fundo e deu um passo para fora do mato, o pé tocando uma superfície dura. Quando saiu do capim, deparou-se com uma piscina oval, grande como um campo de futebol, com bordas de pedra, a água parada refletindo as nuvens no céu.

    — Isso sim que é piscina! — Fábio colocou as mãos na cintura.

    — Uau! A água parece tão…

    — Limpa? Olha ali. — Fábio apontou para um duto que canalizava um riacho para dentro da construção de pedra. Outra calha escoava o excesso, criando um veio menor que seguia pela mata.

    — E o tesouro?

    — Ora, ora. Veja só quem passou de desconfiada a ambiciosa. Tá vendo ali, entre as árvores? — Fábio apontou para um telhado antigo, emergindo do verde da floresta.

    Carol ficou boquiaberta.

    — Aquela é a casa da fazenda?

    — Deve ser. Mas isso fica para depois. Agora, adivinha o que vai acontecer?

    — Se está achando que vou pular nessa água, você está redondamente…

    Fábio não deu tempo dela terminar. Agarrou-a no colo e pulou, as pernas encolhidas, explodindo no meio do espelho d’água. Ela tentou gritar, mas a voz transformou-se em bolhas de ar submersas.

    Carol não esperava que a piscina estivesse tão fria. O choque térmico trouxe-a de volta à superfície quase instantaneamente, braços e pernas em movimento frenético, o cabelo molhado cobrindo os olhos. Ouviu as risadas de Fábio. Afastou o cabelo do rosto e encarou o garoto há poucos metros dela, cachos escorridos emoldurando o sorriso glorioso.

    — Seu babaca! — Jogou água na cara dele, que retribuiu. A guerrinha durou alguns momentos e acabou com os dois se divertindo, abraçados, no meio da piscina de pedra.

    — Te falei que valeria a pena.

    Carol só balançou a cabeça, perdida nos olhos dele. Se fossem ambos mais crescidos e experientes, teriam trocado um beijo. Mas ambos nem imaginavam como agir naquela situação inédita, aqueles sentimentos inexplorados. Carol desviou o olhar, notando a orelha dele.

    — Seu brinco! Sumiu!

    Ele levou a mão ao lóbulo e falou um palavrão.

    — Cara, foi difícil pacas comprar esse brinco! Que merda!

    — Deve ter caído no pulo…

    — Ou quando você começou a se debater feito um bebezão! — ele provocou.

    — Você que me agarrou! — ela se justificou, indignada.

    — Já volto. — Fábio deu-lhe as costas e mergulhou.

    Carol permaneceu balançando os pés e mãos, girando no próprio eixo. Por um instante, sentiu-se estranhamente só, mesmo sabendo que o rapaz estava a poucos metros dali. O corpo já se adaptara à temperatura da água, embora o rosto ainda queimasse com o constrangimento do que quase acontecera.

    Como pode ser tão estúpida? E se aquela fosse a última chance? Será que deveria tentar forçar a barra para uma nova tentativa? Mas e se o rapaz recusasse a aproximação? Como viver com esse constrangimento? Burra, burra, burra!

    Um puxão no pé afundou Carol antes que pudesse prender o fôlego.

    O corpo da menina afundou no lago de pedra.

    A profundidade crescia, assim como o desespero. O ar escapando-lhe os pulmões e a força se esvaindo, sem conseguir voltar à tona.

    Aquilo não era lugar para criança, Carol finalmente entendeu.

    A água gelada invadiu-lhe a boca e ela se debateu, engasgando, lutando para voltar à superfície. A menina finalmente emergiu, tossindo água, seguida por Fábio.

    — Calma, eu tava só brincando! — o rapaz comentou sem graça, depois de recuperar o fôlego.

    — Que coisa mais escrota! — foi a resposta dela, assim que parou de tossir.

    Carol nadou em direção à borda, mas Fábio pegou-a pelo braço e a puxou para perto… Até demais. Com o peito colado no dele, a menina sentiu-se desarmada. E assim aconteceu o primeiro beijo, com os lábios quase imóveis, trêmulos, tenros.

    Quando abriu os olhos, deparou-se com aquele sorriso lindo.

    — Tenho um presente para você, Carol.

    O garoto ergueu a mão e mostrou que segurava uma boneca de pano. As cores desgastadas pelo tempo ainda podiam ser identificadas. Os cabelos de lã repartidos em duas tranças tinham fios amarelos e vermelhos. Longos cílios pintados sobre os olhos de um azul desbotado. O vestido de renda vermelha contrastava com os sapatinhos que, um dia, tiveram um tom turquesa.

    O aspecto da boneca não era o mais agradável. Era grande e parecia algo pinçado de um aterro sanitário. Carol não sabia ao certo como reagir àquele gesto. Pensou em aceitar o presente por educação, desde que aquele momento continuasse. A contragosto, sorriu e segurou a boneca de pano, um peso insignificante de uma tarde inesquecível.

    — Achei que era grandinha demais para essas coisas. — Carol o alfinetou de modo sarcástico.

    — Sei lá. Não achei certo deixar a bichinha jogada lá no fundo. Parecia você lá na piscina das crianças, presa em um lugar que não era o dela. Já salvei uma boneca, por que não duas?Carol se perguntou se já era o momento de outro beijo. Antes que pudesse tomar a iniciativa, o rosto de Fábio mudou de charme para confusão, os olhos arregalados. Mergulhou num impulso, de repente, uma expressão estranha. A garota bufou, contrariada com o que julgou ser mais uma brincadeira inapropriada. Não bastassem os sustos e a boneca suja de lodo, agora aquilo. No lugar de outro beijo, lá estava o garoto fazendo palhaçada. Bem que a mãe avisou que meninos demoravam mais para amadurecer.

    Uma mão espalmada surgiu, acenando diante dela. Xingando o rapaz mais uma vez pela brincadeira, junto a paciência que só o amor recém-descoberto

    é capaz de proporcionar, Carol pegou a mão de Fábio para puxá-lo de volta à superfície.

    Sem fazer esforço, trouxe o braço pra fora d’água, extirpado. Uma ferida grande e vermelha, escorrendo água e sangue, o osso do antebraço à mostra.

    Carol entrou em choque, enquanto a água adquiria um tom carmim morno.

    Ela gritou e soltou o braço, que caiu na água espirrando sangue dentro da sua boca. Nadou o mais rápido que pôde, tentando desesperadamente atingir a beira de pedra, tentando se afastar da poça de sangue que se tornara a piscina, outrora cristalina. Viu outra forma sólida, próxima à beira. Era um pé boiando nas ondas vermelhas.

    O pé esquerdo de Fábio.

    Carol se arrastou para fora, ralando-se na pedra áspera, mas não sentiu dor ou diminuiu o passo. Estava anestesiada, em prantos, aterrorizada. Lançou-se pela mata em busca da cerca que a levaria de volta à segurança do sítio, ao colo da mãe e ao abraço do pai. Afastava o capim alto da frente, empurrando o corpo contra a mata densa.

    Exausta e sem fôlego, notou que ainda segurava a boneca de pano, agora tinta, com o sangue do primeiro amor. Abriu a mão num espasmo e deixou-a

    cair.

    Um ronco repentino fez sua espinha gelar. Virou-se devagar e se deparou com algo que a paralisou, incapaz de compreender.

    Tinha assistido, na escola, a um documentário sobre os animais do Pantanal. Por isso reconheceu imediatamente os olhos amarelos sobre o focinho largo e comprido, o couro grosso e as fileiras intermináveis de dentes pontiagudos. Mas nunca imaginara que fosse tão grande. Era gigantesco, do tamanho de um

    boi.

    Carol congelou, paralisada pelo medo. O animal abriu a mandíbula, centenas de dentes afiados, alguns ainda tintos de sangue. Preso entre as fileiras anteriores, Carol reconheceu o colar de tira de couro que Fábio usava, balançando em um dente, minúsculo em relação aos outros ao redor.

    O instinto de sobrevivência entrou em ação. Sabia que precisaria correr para salvar-se. Antes que pudesse dar o primeiro passo e sair em disparada, testemunhou algo que documentário escolar nenhum jamais registrara.

    A criatura, fosse um jacaré, crocodilo ou lagarto gigante, ergueu-se e colocou-se de pé, sobre as patas traseiras, como um urso. A sombra projetou-se sobre a garota, bloqueando a luz do sol.

    Luz que Carol jamais voltaria a ver.

    Mal se ouviam as buzinas e sirenes ao longe, abafadas pelas cortinas pesadas. Ruth estava em seu elemento, junto ao ruído intermitente da hidromassagem borbulhando e cheiro de cigarro. Os braços torneados de Antônio pousados sobre o seio dela e o jato

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