Sertãopunk
De G. G. Diniz, Alec Silva e Alan de Sá
4/5
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Sobre este e-book
Coletânea de contos e artigos sobre o Movimento Sertãopunk, escritos por Alan de Sá e G. G. Diniz, com organização de Alec Silva.
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Pré-visualização do livro
Sertãopunk - G. G. Diniz
Diagramação e capa
Samuel Cardeal
Organização
Alec Silva
Revisão
G. G. Diniz
Alec Silva
Alan de Sá
Sumário
Introdução
Por que fazer o Nordeste sertãopunk?
Solarpunk, Sertãopunk e Um Futuro Sustentável
Religiosidade afro-brasileira e sertãopunk
Afrofuturismo, A Diáspora Africana Nordestina e O Sertãopunk
Os Olhos Dos Cajueiros
SCHIZOPHRENIA
Introdução
Alec Silva
Queria ter muito o que escrever aqui, afinal, dos três criadores do Movimento Sertãopunk, sou o único que não apresentará, nas páginas seguintes conto ou artigo. Não por não ter o que dizer, não por não ter o que criticar. Fui um dos primeiros, na verdade, a movimentar as engrenagens que nos trouxeram até aqui, unindo outros dois jovens nordestinos e criando o sertãopunk, o gênero literário de ficção especulativa nordestina.
Esta coletânea, composta por Alan e Gabriele, portanto, é o futuro do movimento. Meu papel se finda após a conclusão deste livro e o leitor, e a leitora, estiver familiarizado com a proposta e degustar algumas possibilidades de futuro no Nordeste. Não um futuro com cangaceiros robóticos e miséria, mas um futuro onde as desigualdades ainda existem, mas o povo luta por sua soberania e sua felicidade.
Se eu fosse otimista, pensaria num cenário como o que a Gabriele traz em seu conto, mas, sendo sincero, muito me agrada a visão mais pessimista do Alan, que brinca com o realismo mágico e o horror de maneira deliciosa. Ou, quem sabe, os dois universos, o dela e o dele, coexistem num mundo só, e é parte da pluralidade do sertãopunk.
De todo modo, o futuro agora é com eles.
Por que fazer o Nordeste sertãopunk?
Alan de Sá
O que é ser nordestino?
Um dos pontos que mais chamam a atenção sobre produções literárias de brasileiros de outras regiões sobre locais historicamente marginalizados (Norte, Nordeste e norte de Minas Gerais, por exemplo) é que, para algumas pessoas, basta que um bom trabalho de pesquisa
seja feito e tudo bem.
Tá. Vamos entender o porquê do protagonismo nordestino na produção do sertãopunk, o assunto desse texto.
Uma pessoa que nasce no Nordeste, mas passa a vida inteira em outra região, pouco conhece do que é o Nordeste. Por mais que ela viaje todos os anos pra lá, tenha amigos, parentes, uma série de coisas. Isso não é por falta de vontade ou de inteligência, é por não se pode tratar o conhecimento somente como acumulativo. O conhecer vem da percepção espacial, social; tato, olfato, audição, visão e fala. Essa pessoa deixa de ser nordestino por isso? Não. Mas existe um déficit em relação aos que estão lá e enfrentam os problemas cotidianos.
Uma pessoa que nasce fora do Nordeste, mas que passa a maior parte da vida na região, já conhece bem mais do que é o Nordeste. Num primeiro momento, ela vai olhar com os olhos de um estrangeiro, ainda que brasileira. Esse olhar, obviamente, sofrerá adaptações com o tempo e essa pessoa, passará a se enxergar — e também será enxergada pelos nordestinos — como alguém do Nordeste. E está certa: ela é nordestina, também, ainda que não de nascença.
Agora, uma pessoa que não nasceu na região e pouco conhece sobre ela, é outra história. Porque seu olhar estará condicionado ao que é transmitido sobre a região. Assim como também ocorre com a África, por exemplo, há uma homogeneização do ser nordestino. Não por falta de vontade, mas por conta de toda uma estrutura sócio histórica de desvalorização regional.
O que conhecemos como Nordeste brasileiro, legalmente, só existe, oficialmente, a partir do ano 1970, quando o IBGE incluiu Bahia e Sergipe (que antes faziam parte da região Leste e, antes disto, de Centro-Leste). Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, por exemplo, fizeram parte da região Norte por décadas antes de serem integradas com Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Não só por conta disto que as diferenças culturais existem dentro da região. Mas, quando se pensa em Nordeste, a impressão de uma massa única, que reage aos estímulos simultaneamente e identicamente, produz uma cultura semelhante e se porta da mesma forma acontece.
Similaridades culturais existem? Sim. Mas não são elas