Amor e superação: Como enfrentar perdas e viver lutos
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Sobre este e-book
Para o autor, antes de começar a falar de perdas, é preciso tocar em um outro tema: a autoestima. Quando ela está fortalecida, a pessoa consegue enfrentar melhor as dificuldades causadas pelas perdas. Segundo Py, o elemento mais importante para o aumento da capacidade de amar é a autoestima, pois é a partir dela que cada um desenvolve as bases para um relacionamento saudável.
Entre os conselhos para recém-separados, Luiz Alberto Py ressalta a importância de aceitar a realidade, preservar o amor dentro de si mesmo, perdoar, procurar manter a calma e fazer o possível para proteger sua vida e sua saúde. Tomar cuidado para não se envolver prematuramente em um novo relacionamento também é essencial, já que leva tempo para se estar em condições de amar de novo. Caso existam filhos, é preciso pensar sempre neles, escolhendo o que for melhor em função disso.
Dividido em sete capítulos, além da introdução, Amor e superação aborda questões delicadas como a perda dos pais, de um filho ou da pessoa amada, dando exemplos tanto da vida do autor como de pessoas que lhe escreveram contando seus problemas. Por meio da experiência dos outros é possível perceber que ninguém está sozinho no sofrimento e o tempo ajuda a cicatrizar as feridas, mesmo as mais profundas.
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Amor e superação - Luiz Alberto Py
Luiz Alberto Py
AMOR E SUPERAÇÃO
Como enfrentar perdas
e viver lutos
Sumário
5
Para pular o Sumário, clique aqui.
Introdução
UM
As três formas de amor
e como lidar com as emoções
DOIS
A perda dos pais
TRÊS
A perda dos filhos
QUATRO
A perda do parceiro amado
CINCO
A perda de si mesmo
SEIS
Dicas para lidar com a morte
EPÍLOGO
Autoestima
Créditos
O Autor
Introdução
5
Sei por experiência profissional como psicanalista e psicoterapeuta – e também por minha própria vivência – que não existe nada mais doloroso para nosso espírito do que o sofrimento causado pela perda de alguém que amamos ou de alguma coisa que desejamos preservar. Embora a perda seja sempre virtual, nem por isso é menos penosa e sofrida. Quando digo que as perdas são virtuais, refiro-me ao fato de que tudo o que perdemos são nossas expectativas de continuar a ter, no futuro, os nossos bens, amores e as pessoas que hoje estão em nossa vida e que consideramos importantes. Dito de outra forma: quando perdemos alguém, o que perdemos é a possibilidade de ter essa pessoa conosco a partir do momento da perda. Ou seja, perdemos uma possibilidade. A pessoa com quem convivemos será sempre parte de nossa lembrança; o que perdemos foi a oportunidade de continuarmos a ter a presença dela. Ao constatar isso, não tenho a ilusão de aliviar o sofrimento vivido pelo sentimento de perda, apenas de colocar em outra perspectiva a situação do prejuízo, do ferimento causado pelo amor.
Quando falamos em perda, devemos considerar também a maior de todas as perdas, a única que é real – a perda de si mesmo. Ela se apresenta em duas facetas inteiramente distintas. A primeira ocorre quando nos tornamos incapazes de guiar nossa própria vida, não sabendo o que fazer com ela, sem conseguir encontrar um rumo. A outra diz respeito à chegada do momento da morte. É quando nos damos conta de estarmos perdendo nosso futuro, nossos projetos – tudo e todos que nos são preciosos.
Aprendi que meditar sobre os fatos nos permite pairar acima das mazelas do existir. Em minha vida pessoal e profissional tenho testemunhado o poder da reflexão, tenho visto como podemos fazer crescer novas percepções que ajudam a superar as mais profundas dores. Aprendi também que usamos esta capacidade para seguir em frente e transpor os mais difíceis obstáculos.
Neste livro se encontram reflexões sobre as dores geradas não apenas pelos sentimentos de perda e pelas perdas reais, mas também sobre como os pensamentos podem nos ajudar a lidar com nossas dores, aliviá-las e até mesmo fazer com que o sofrimento se transforme em uma força benéfica e geradora de energia vital. Palavras transmitem ideias, e estas, uma vez compreendidas, transformam para sempre as pessoas. Como se disse sobre Homero, depois que todos os monumentos se transformaram em pó, suas palavras permanecem vivas na lembrança dos homens
.
Durante quase dez anos, publiquei aos domingos, no jornal O Dia, uma coluna sobre questões emocionais onde respondia cartas enviadas pelos leitores. Esse trabalho me mostrou, na prática, o poder da palavra escrita. Um exemplo é a carta de uma leitora que resumi e respondi no pequeno espaço de que dispunha – exatamente como está transcrita aqui. Nesta carta, a leitora manifestava o desejo de conseguir evitar a indesejada perda do marido.
PERGUNTA: Meu marido é viciado em drogas, mas eu o amo e nossa vida tem coisas boas, principalmente nossos dois filhos. Não sei se quem precisa de ajuda sou eu ou ele. L., São Gonçalo.
RESPOSTA: Mudar é difícil; mudar os outros, mais difícil ainda. Até agora você vem conseguindo manter seu casamento e o amor por seu marido, o que já é bom. Para ajudá-lo a se afastar das drogas e das más companhias é preciso convencê-lo de que elas fazem mal a ele. Se ele se sente bem assim, é difícil. Ele parece gostar da família, talvez por aí você consiga motivá-lo. Por outro lado, lembre-se de que os viciados abusam das drogas porque não suportam a angústia que sentem em viver.
Dois anos depois recebi uma longa carta dessa leitora, que me contava os progressos que haviam ocorrido no casamento. Na medida em que ela, entendendo minhas palavras, tinha se disposto a valorizar as qualidades de pai de seu marido e procurado tratá-lo melhor, sem tantas cobranças, o resultado vinha sendo uma constante melhora no comportamento dele. Ela me contou que seu companheiro usa muito menos drogas, inclusive álcool, e tem ficado mais tempo em casa, deixando de lado as farras e se envolvendo cada vez mais com os filhos. Cartas como esta me animam a usar a palavra escrita como forma de propor modificações saudáveis às pessoas que me leem.
UM
As três formas de amor e
como lidar com as emoções
5
Vamos falar sobre o sofrimento causado pela perda de um ente querido e de como podemos superá-lo para recuperar a alegria de viver. Para situar a questão, examinemos as diversas formas de amar. O amor entre as pessoas se apresenta de três formas diferentes, começando pela infância e indo até a idade adulta.
O amor infantil é um amor carente. A criança ama seus pais – ou aqueles que dela cuidam – justamente pela necessidade que deles têm. Esta forma de amor, ainda uma maneira egoísta de amar, é a única ao alcance das crianças e também daqueles que ainda não evoluíram de uma situação emocional infantil. Podemos chamá-la de amor por gratidão.
Ao se aproximar da puberdade já é possível ao jovem desenvolver uma forma de amor que se manifesta sob uma perspectiva de troca. Assim, nos tornamos capazes de não apenas amarmos a quem nos ama, mas conseguimos oferecer uma retribuição de amor. De um pleno egoísmo, o adolescente evolui para a possibilidade de ser capaz de dar, além de receber. Esta é a forma de amar que caracteriza as relações de amizade e as relações amorosas entre adultos.
Mas é o amor desinteressado, aquele que geralmente surge quando nascem os filhos, que culmina o desenvolvimento do amor. É quando se ama independentemente da retribuição a ser recebida, quando a recompensa do amor vem do próprio prazer gerado pelo desenvolvimento do sentimento generoso dentro de nós. O elemento mais importante para o aumento da capacidade de amar é a autoestima, pois é a partir desta que cada um encontra alicerces para praticar o preceito de amar ao próximo como a si mesmo
.
A evolução da capacidade de amar é uma medida bastante precisa do desenvolvimento mental e espiritual de cada pessoa e pode ser percebida no comportamento afetivo. Observamos se ele se caracteriza pelo egoísmo, pela proposta de troca ou pela generosidade desinteressada.
Estes diferentes estágios da capacidade de amar acarretam também diferentes formas de sofrer as separações e perdas do objeto amado. As diversas maneiras de viver a dor da ausência do outro e as alternativas para lidar com esta situação e superá-la são o objeto de nossa atenção.
Nossas emoções são forças da natureza, e por isto têm a intensidade de uma torrente, muitas vezes incontrolável. Por outro lado, às vezes nos tomam de forma sutil e achamos que somos racionais quando, na verdade, estamos invadidos pelo efeito de emoções que nem sequer percebemos.
Vivi minha infância na praia de Copacabana e tive a oportunidade de conviver com a imensa força do