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Psicoterapia corporal: A cura do trauma na eterna presença do agora
Psicoterapia corporal: A cura do trauma na eterna presença do agora
Psicoterapia corporal: A cura do trauma na eterna presença do agora
E-book457 páginas9 horas

Psicoterapia corporal: A cura do trauma na eterna presença do agora

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Sobre este e-book

Em alguns casos, traumas surgem diante de nós, como objetivos criados há muito tempo e que não podemos mais ignorar. Em muitos casos, porém, teremos que fazer um trabalho preliminar, teremos que abrir caminho, desarmar os obstáculos que bloqueiam o caminho, ou construir, para criar apoios e pontes que abram o caminho para o trauma e a cura. Uma pessoa equilibrada é uma pessoa saudável e um estado de equilíbrio dinâmico é um estado saudável para se estar. Qualquer coisa que perturbe o equilíbrio, não importa o quão profundo seja na escuridão do inconsciente, mostrará sinais de vida. Quanto mais demorarmos para enfrentar o trauma, mais difícil será rever um caso que pensávamos estar encerrado.

No passado, nossa tendência de fugir o mais rápido possível da dor do trauma era a resposta adequada e, de fato, poderia até mesmo nos salvar. No momento, entretanto, temos novos recursos e mais opções. Nós nos agarramos como sobreviventes de naufrágios à velha jangada em ruínas, castigada pelos mares tempestuosos de nossa infância e incapazes de ver as águas calmas para as quais estamos indo. A fórmula que experimentamos e que antes funcionava para nós não é mais essencial ou simplesmente não é o método certo quando nós e o mundo ao nosso redor mudamos. Quando nos recusamos a reconhecer um sentimento de desconforto como um prenúncio de outra coisa, podemos esperar outros tipos de estados, talvez menos persistentes, mas mais claros: ataques de pânico que aparecem inesperadamente, depressão que nos priva da alegria de viver, fobias que eles limitam nosso espaço vital, e outras doenças físicas que procuram desesperadamente, antes do abraço final da morte, nos deixar saber o que está acontecendo nas profundezas de nosso ser ...

São essas coisas que nos limitam e assustam, e apesar de tudo são as que nos mostram novos caminhos e possibilidades. Permaneceremos na "segurança" familiar à qual a criança se agarra ou, como adultos, tomaremos a criança assustada pela mão e, com a terapia que oferecemos, a conduziremos para a luz do dia?
IdiomaPortuguês
EditoraHakabooks
Data de lançamento1 de out. de 2018
ISBN9788418575013
Psicoterapia corporal: A cura do trauma na eterna presença do agora

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    Psicoterapia corporal - Vassilis Christodoulou

    PSICOTERAPIA CORPORAL

    A cura do trauma na eterna presença do agora

    TÍTULO: Psicoterapia Corporal - A cura do trauma na eterna presença do agora

    TÍTULO ORIGINAL: Body Psichotherapy - Healing trauma in the eternal present of now

    AUTOR: Dr Vassilis Christodoulou, 2019

    COMPOSIÇÃO: HakaBooks - Optima, body 12

    DESIGN TAPA: HakaBooks ©

    IMAGE DE CAPA: Dim. Vassiliadis ©

    TRADUÇÃO: Tatiana Neves ©

    1st EDITION: Octubro 2018

    ISBN: 978-84-18575-01-3

    HAKABOOKS

    08204 Sabadell - Barcelona

    +34 680 457 788

    www.hakabooks.com

    editor@hakabooks.com

    Hakabooks

    É proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio eletrónico, mecânicos, fotográfico, de gravação, fotocópia ou outros, sem autorização expressa dos titulares dos direitos.

    PSICOTERAPIA CORPORAL

    A cura do trauma na eterna presença do agora

    Dr. Vasilis Christodoulou

    BIOSSÍNTESE

    Este livro é dedicado

    à minha mulher Phoebe,

    uma companheira ávida,

    um suporte incansável

    e uma crítica acérrima

    a cada passo da minha jornada.

    PREFÁCIO

    de Lily Anagnostopoulou,

    Directora do Instituto Grego de Biossíntese.

    Neste livro extraordinário Vasilis Christodoulou conseguiu com êxito unir coração e mente, um desejo almejado por muitos nos dias de hoje bem como pela sociedade como um todo. Num trabalho baseado numa robusta documentação científica, ele faculta um comentário sobre os casos clínicos que apresenta. Desta forma ele expõe princípios científicos da teoria psicológica que sustentam o procedimento psicoterapêutico que esta utiliza, sem cansar o leitor. Com um amor óbvio pelos seus pacientes, ele apresenta o desenvolvimento dos seus métodos de healing de uma forma que emociona o leitor e leva-o juntamente com ele na sua árdua jornada.

    Vasilis Chirstodoulou tem uma longa experiência no campo da psicoterapia. Ele consegue combinar com sucesso o conhecimento que adquiriu nos seus estudos multifacetados em psicologia com os seus abrangentes interesses na ampla esfera da prática psicoterapêutica. Um destemido investigador da verdade na prática terapêutica, constantemente lutando para encontrar aquilo que no final traga a cura, ele envolve-nos de perto nessa busca e oferece-nos generosamente a experiência e o conhecimento que tem adquirido.

    A importância primordial do presente, que é realmente o único tipo de tempo que temos, torna-se evidente, uma e outra vez, nas suas descrições do mistério da cura. Podemos curar-nos. Os nossos cérebros são plásticos e capazes de registar novas informações, a partir do momento em que revivemos experiências reprimidas num cenário terapêutico. No momento em que revivemos a experiência, o circuito neural do cérebro abre-se para inscrever uma nova experiência no lugar da antiga. Isso só é possível por um curto período de tempo. É por isso que o Presente na relação terapêutica é tão importante. É a única coisa que pode reparar uma memória traumática. Esta é a descoberta mais recente da investigação científica, mas é igualmente um saber antigo conhecido pelos curandeiros há milhares de anos. É também isso que faz da psicoterapia corporal a forma mais adequada de tratamento para lidar com o trauma.

    Nós não nos podemos curar sozinhos. Precisamos de outra pessoa - pelo menos uma - para nos mostrar compaixão. E compaixão não é suficiente. O conhecimento também é necessário, aquele tipo de conhecimento que é adquirido pela experiência. Para ajudar alguém a sintetizar na sua identidade todas as coisas do Passado das quais se tiveram que desprender, o terapeuta deve ser capaz de reconhecer o que essas coisas são exatamente e ter passado por experiências semelhantes. As poderosas emoções de dor, raiva e medo que são reprimidas no corpo e esquecidas pela mente, porque antes eram consideradas insuportáveis pelo nosso sistema, também devem fazer parte da experiência pessoal do terapeuta. Estas não devem assustá-lo; ele deve ser capaz de senti-las e aceitá-las. Para tal, o terapeuta deverá ter trabalhado nesse sentido – pelo menos até certo ponto – no que respeita às suas próprias experiências. Só então ele pode indicar o caminho a outro ser humano que está a tentar fazer o mesmo.

    Só agora, a ciência descobriu que as memórias são registadas nas células. Não só no cérebro, mas em todo o corpo. E para podermos sobreviver, construímo-nos de maneira a que as memórias desagradáveis são permanentemente registadas a partir do momento em que temos as nossas primeiras experiências no mundo. A ciência começa agora a reconhecer o fato de que nossas vidas começam no útero, que as experiências começa a ser gravadas lá, que somos construídos de baixo para cima, começando com os sentidos e seguidamente as emoções e o intelecto. Atualmente testemunhamos descobertas científicas verdadeiramente estonteantes que servem para sustentar o conhecimento empírico dos psicoterapeutas corporais.

    Contudo o leitor não se deveria deixar ludibriar. A nossa natureza corporal não é o caminho para a matéria. É o vínculo terreno para o espírito. ‘A Santidade é uma forma profunda de poesia que sintoniza o Universo com os versos do seu Criador’, ouvi uma vez numa palestra dada por Elder Makarios of Maroudas que, se não estou enganada, se estava a referir às palavras de Elder Porphyrios.

    Mais uma vez, o conhecimento científico moderno confirma o que já sabemos. Quanto mais integrado estiver o cérebro, mais consciente ele se tornará da natureza indivisível das coisas. Um cérebro integrado é aquele em que as diferentes partes cooperam e comunicam entre si como um todo unificado. Isto é alcançado quando o número de conexões internas no corpo, o sistema nervoso e o cérebro, são aumentadas. Assim, o homem torna-se consciente da sua conexão com tudo e todos. É como se a sua conexão interna e individual reconhecesse a unidade externa e coletiva. Este é o tipo de consciência que os Homens espirituais têm. A Biossíntese, sem proclamar um caminho espiritual específico, reconhece a espiritualidade de todos os seres humanos como sendo o núcleo da sua existência. A terapia é o caminho que leva da periferia – a neurose – ao núcleo – a essência.

    Vasilis Christodoulou descreve-nos esta jornada e mostra-nos o caminho através do qual ele conduz os seus pacientes. Primeiro, ele sintoniza-se com a sua própria compreensão ampliada e depois pede aos seus pacientes que compartilhem uma identidade ampliada. A expansão da nossa identidade pessoal conduz sempre a uma ampliação da nossa compreensão, o que implica uma consciência alargada da existência. É assim que sempre foi. Isso é o que todos os caminhos espirituais dizem, e é isso que a ciência neuropsicológica moderna diz. E é com isso que nós, como psicoterapeutas corporais e seres humanos comuns, nos preocupamos.

    Vasilis, obrigado por descreveres de forma clara e eficaz o que se passa nas sessões de terapia e por apresentares o seu conteúdo de tal forma que possa ser entendido pelo público em geral. Este livro será de utilidade para todos os terapeutas em Biossíntese e eu gostaria de acreditar que também será de interesse para aqueles envolvidos em outras disciplinas psicoterapêuticas. De qualquer forma, tenho a certeza de que isso afetará os corações de muitos indivíduos que procuram a sua própria cura e ajudá-los-á a lidar com os seus próprios traumas em situações novas.

    Lily Anagnostopoulou

    Abril 2015

    ‘Tão pouco… tanta dor…’

    ‘Meu Deus, nós precisamos de tão pouco, mas tão pouco para viver uma vida saudável normal… e tanta dor é causada quando não o temos.’

    Estas foram as primeiras palavras de Nikos na sessão de terapia depois de ele se ter conectado com a necessidade de ser abraçado pela sua mãe quando era pequeno. Ele não tinha de passar pela psicoterapia para se aperceber que a sua mãe não era do tipo de abraçar.

    Ela cuidou da sua família tal como todas as boas mães. Ela manteve-nos limpos e alimentou-nos bem. Era uma boa família! Muitas vezes, se não sempre, eu estava sozinho no jardim ou em casa, conforme cresci, no nosso bairro local. Eu acreditava que esta solidão me ajudava a tornar-me um aluno bom e eficiente e um homem de negócios de sucesso ao dia de hoje. Nunca me ocorreu que eu estava a ‘esconder’ tamanha dor…

    O que Nikos estava a ‘esconder’ e não expressava em palavras era traído pelo seu próprio corpo. Era forte e bem constituído mas o seu tronco, coluna e a base do pescoço estavam particularmente tensos. As suas expressões faciais mostravam-se também tensas. Os seus pés estavam firmemente plantados no chão como se estivessem a dizer nada me pode abalar, eu sou forte e saudável. A sua respiração vinha do peito, superficial, com uma tendência para que restringir as expirações. Ele era particularmente cuidadoso, inicialmente fez muitas perguntas e estava bastante cético quanto às sessões de terapia, e não estava muito inclinado para o contacto físico. Era particularmente inteligente, o que o permitia de colocar-se a ele próprio como a estrela da família, primeiro com o seu sucesso académico e depois com o seu sucesso profissional.

    Ele veio ter comigo principalmente para procurar ajuda com o seu casamento por causa de certas disfunções familiares. Sim, esse tão pouco mencionado por Nikos é de extrema importância para a criança. O contacto corporal, o som delicado da voz materna, o seu peito e o amamentar são, quando existem, aquelas coisas que dão à criança uma base firme a partir da qual pode começar a explorar e dar os seus primeiros passos no mundo. E a questão que surge repetidamente à criança é: Sou eu bem-vindo aqui? É o mundo um lugar hospitaleiro? A primeira vez que esta questão é perguntada é no útero. E é aí que a criança começa a abrir-se para a vida – ou a retrair-se, com este recolhimento manifestando-se mais tarde no corpo como contrações, tensões nos músculos, quando as articulações em vez de servirem como pontes para permitirem o livre fluxo de energia, obstruem-no e aprisionam-no.

    Ao trabalhar a transformação de padrões de sentimentos e de expressões bloqueadas, a ferramenta mais essencial é a resposta empática de outro ser humano.¹

    Wilhelm Reich chamou à nossa habilidade de sentir os bloqueios de outras pessoas no nosso corpo identificação neurovegetativa. Stanley Keleman refere-se ao mesmo fenómeno pelo termo coordenação corporal.

    O tratamento de Nikos não começou com o recordar de uma experiência esquecida da sua infância. O seu conhecimento de como ele tinha crescido estava adornado com uma variedade de constructos mentais de forma a manter a dor afastada. O elemento cataclítico é fazer a conexão. Em terapia, um encontro com a dor dissolve-a sempre, literalmente. Dor, dor profunda, existe até a experiência ser cortada da consciência, ser excluída dela e perder carga emocional. Este é o mecanismo de defesa que usamos para esconder a verdade. Isto é o que assenta no âmago das nossas neuroses.

    Ao reprimir experiências dolorosas fragmentamo-nos porque a dor experienciada na altura, no momento em que aconteceu, foi demasiado grande para o nosso sistema psicossomático lidar. A dor é profunda e habitualmente remonta a um tempo em que não havia palavras com as quais pudéssemos articular mentalmente a experiência. Esta é a razão pela qual palavras e constructos mentais não são produtivos.

    Continuando o trabalho com Nikos a este nível, ele não precisaria de ideias nem compulsões na sua tentativa para controlar o aflorar da ansiedade, qualquer que fosse a forma que tomasse (problemas sexuais, raiva, pânico, problemas psicossomáticos, etc.). Necessidades que não tenham sido satisfeitas no passado podem ser a causa dos nossos problemas, das nossas neuroses. Satisfazer estas necessidades é o objetivo da terapia. Reprimir estas necessidades, no mínimo, oferece uma solução temporária para o problema, fazendo com que nos tornemos ainda mais fragmentados do que já estávamos.

    Ao reviver e satisfazer as suas necessidades no Presente, o indivíduo sente-se mais consciente e em maior harmonia com a sua vida interna. Podemos perguntar com prudência: como é possível satisfazer necessidades ou carências do tempo in utero, ou curar traumas que ocorreram no nascimento ou na infância?

    Quem quer que já tenha trabalhado com técnicas terapêuticas como aquelas usadas em Biossíntese entende como isto pode acontecer, visto que isto é experienciado diretamente. Quando uma sessão de terapia acontece trabalhamos no Presente, mas ao mesmo tempo o Passado também emerge no Presente, no agora. Consequentemente, na sessão de terapia o então torna-se o agora. Assim, temos o agora da sessão terapêutica e o agora do Passado, que é tão poderoso como originalmente fora. E todas as nossas ações tocam este AGORA intemporal, que nos dá a força para suportar a dor que não fomos capazes de suportar quando a sentimos originalmente, e no agora terapêutico levamos aquilo que não levámos então. Neste contexto, um adulto que revivi uma experiência da infância e chora como um bebé é de facto um bebé! E quando revivem experiências traumáticas da infância ou outros eventos, muitas vezes aparecem feridas no corpo. A memória do corpo é inimaginavelmente poderosa.

    A terapia torna os pacientes mais sensíveis em corpo e mente. Eles podem ficar tristes, mas não deprimidos. Eles podem sentir dor, mas não serão esmagados por ela. Eles podem experienciar crises, mas não sentirão desespero. Eles lidam com a vida diária e as suas dificuldades com a maturidade de uma pessoa que está consciente e com uma vitalidade crescente de energia que deixa de estar restringida por velhos bloqueios de experiências reprimidas.

    Meu Deus, nós precisamos de tão pouco, mas tão pouco, para viver uma vida saudável normal… e tanta dor é causada quando não o temos.

    Sim, esse tão pouco é de extrema importância para a criança.


    1 David Boadella, Lifestreams: An Introduction to Biosynthesis, London, Routledge Kegan & Paul, 1987.

    INTRODUÇÃO

    Tantas vezes rejeitamos a nossa ignorância que inconscientemente e de forma errada tomamos por conhecimento. A primeira vez que usei esta frase foi na minha tese de doutoramento, que teve como título "a limpeza da mente como estratégia para dar suporte psicoterapêutico aos pacientes com perturbações físicas severas. Para mim, a ignorância tem sido sempre uma luz orientadora na minha carreira profissional como psicólogo/terapeuta. E apesar de toda a satisfação que eu obtive do meu trabalho como terapeuta, sempre achei que algo estava em falta ou faltava no processo. A sensação de que qualquer coisa estava em falta era também a motivação básica para o meu desenvolvimento. Com o passar do tempo, percebi que aquilo que estava realmente à procura era um nível mais profundo de terapia, uma que tocasse as causas e a essência dos problemas das pessoas. Não me satisfazia trabalhar a um nível superficial nem adotar abordagens unilaterais no trabalho com as pessoas. A minha pesquisa inicial levou-me a explorar a dimensão espiritual do Homem e a escrever a minha tese de doutoramento, numa tentativa de associar a psicoterapia moderna com a espiritualidade e a oração. Na minha busca para encontrar como curar as pessoas, devagar mas com convicção, fui levado a entender a essência de toda a cura (healing) que não é nada mais do que a realização do ser humano. E aquilo que impede essa realização humana é o trauma, qualquer tipo de trauma que bloqueie o livre fluxo da energia dentro de um ser humano e a troca da energia com o todo da Existência, do qual não podemos estar separados.

    Há cerca de dez anos foi-me dada a oportunidade de perceber, que na minha ignorância, eu tinha cometido o erro de não reconhecer um tipo diferente de conhecimento. Como psicólogo/psicoterapeuta, fui convidado a participar num programa de televisão e ao meu lado no estúdio sentou-se uma mulher que eu desconhecia. Antes do programa começar, enquanto estavam a ajustar as luzes, por educação, visto que ainda não tínhamos sido apresentados um ao outro, voltei-me para ela e apresentei-me. Depois de me dizer o seu nome, perguntei-lhe qual era a sua profissão. Quando ela me disse que também era psicóloga como eu, quis saber mais acerca da forma como ela trabalhava e a que escola ela pertencia. Biossíntese foi a sua resposta. Era a primeira vez que ouvia falar daquele tipo de psicoterapia e bombardeei-a com questões sobre o assunto. Quando ela mencionou o termo psicoterapia corporal, ao início eu entendi-a mal. Quer dizer que vocês se tocam? Sim respondeu ela, como se fosse uma questão totalmente natural. Em seguida, fiz um comentário com um ligeiro tom de sarcasmo: ‘Vocês até se abraçam? Claro" respondeu ela, silenciando-me com a simplicidade e consonância de quem sabe o que está a dizer e o que está a fazer. Eu pensei, e espontaneamente murmurei para mim mesmo, faz-me lembrar aqueles programas de TV onde eles fingem saber tudo. No entanto, esta mulher calma e modesta não parecia o tipo de pessoa que apareceria num programa como aquele. Entretanto, o programa correu bem, apesar do meu comportamento grosseiro.

    Uns dias antes deste encontro oportuno, eu tinha estado em Atenas e tinha comprado um livro que quase havia terminado de uma vez só no aeroporto e no avião de regresso a casa no Chipre. Era Waking the Tiger do Peter Levine. Desde o princípio, eu tinha sentido que o livro falava comigo, pessoalmente.

    Não muito depois do programa e ao estudar Waking the Tiger, pela primeira vez, guiado apenas pelo simples mas soberbo livro de Levine, intuitivamente observei o corpo de uma jovem paciente minha que tinha sido vítima de uma tentativa de violação. Eu fiquei impactado pela forma como o corpo estava organizado nele mesmo para lidar com o ataque: como, com pouco suporte, o seu medo e constrição se começavam a soltar e a resolver para defender as suas fronteiras. Um novo mundo estava a abrir-se diante de mim. Eu estava excitado por aquilo que tinha visto… Eu sentia-me como uma jovem criança que se tinha aventurado para lá da sua vila pela primeira vez. Nessa noite, em casa, para além de expressar a minha excitação, disse à minha mulher que queria descobrir mais. Depois de reler o livro de Levine, percebi que tinha sido editado e introduzido por Lily Anagnostopoulou, a directora do Instituto Grego de Biossíntese (Greek Biosynthesis Center). O nome soava-me familiar, mas queria confirmar.

    Telefonei para o canal televisivo que emitiu o programa e soube que aquela mulher discreta que tinha falado comigo sobre a psicoterapia e Biossíntese era, na verdade, a directora do Centro de Biossíntese da Grécia. Procurei os números de telefone relevantess verdade a directora do centro de biossintese e as devidas moradas e liguei para o Centro imediatamente. Do outro lado da linha estava a mesma voz calma:

    Sim, em breve iremos ter um seminário intitulado healing trauma (curando o trauma) que também proporcionará uma oportunidade para as pessoas que querem exercer psicoterapia corporal de forma a aprenderam sobre o programa educacional que oferecemos em Biossíntese. Venha e veja se lhe faz sentido.

    Devo admitir que, no meu entusiasmo, eu não apreciei a subtil ironia da situação. Na verdade fui e… fiquei.

    A história de como eu conheci Lily, a Biossíntese, a psicoterapia corporal e as técnicas de holding manter-se-ia uma piada privada entre nós durante os dois anos seguinte. Deixei Palaion Patron Germanou, 49 (morada da minha casa no Chipre) e em Palaion Patron Germanou, 10 (morada do Instituto de Biossíntese em Atenas) aprendi uma nova verdade que tento manter sempre como uma luz orientadora na minha vida: ‘Mantém-te aberto, dessa forma, SÊ ABERTO. Não feches a possibilidade de uma nova verdade porque tens estado confortável com uma antiga. A vida começa no final da tua zona de conforto."²

    Sim, é estimulante viver no limiar da nossa zona de conforto. À idade dos 50, sob a orientação da Lily – e aqui eu gostaria de lhe agradecer por todas as coisas que ela me ensinou com tanto amor e paciência –, e com a ajuda de um grupo bastante forte de terapeutas e pacientes – a quem eu também gostava de agradecer, visto que de todos eles ganhei algo – e através do trabalho inspirador de David Boadella, eu descobri a Biossíntese. E através da Biossíntese eu adquiri um conhecimento do corpo tal como ele nos foi entregue pelo Pai de todas as formas de terapia corporal, o cientista, visionário, humanitário e eternamente jovem activista Wilhelm Reich. Descobri então, que eu não conhecia o meu corpo tão bem como conheço agora.


    2 Neale Donald Walsch, Conversations with God, Book 3: Embracing the Love of the Universe, Charlottesville, Hampton Roads Publishing, 2012, p. 100.

    CAPÍTULO 1

    PARA O TERAPEUTA CORPORAL

    Um dos meus pacientes, que eu chamarei C.D., tem trinta anos. Faz acompanhamento há já vários meses. Procurou a minha ajuda porque tem tido ataques de pânico e experienciado stress severo, bem como desconforto em situações com muita multidão, particularmente com pessoas que ele não conhece. Está convencido que se se encontrar numa situação dessas, sentirá a necessidade de se levantar e ir embora, e se isso não for fácil ou possível, entrará em pânico. Ele disse-me uma vez:

    Se eu os conheço e sei que eles gostam de mim, ou pelo menos se eu sinto que eles me aceitam, não há problema. Eu gostava sempre de saber que eles queriam estar na minha companhia.

    Esta é uma das razões pelas quais C.D. gasta bastante dinheiro quando se junta com amigos. Ele paga habitualmente a parte deles da conta. Seria cruel dizer-lhe que ele está a comprar a amizade deles? E no entanto a verdade é essa, de alguma forma, ele está a pagar-lhes para que o aceitem como amigo.

    Esta é parte do diálogo que aconteceu entre nós na nossa primeira sessão de terapia juntos:

    V. Ch.: Tu também não me conheces. Pergunta então a ti mesmo: como te sentes neste momento, nesta situação em particular?

    C. D.: Não tenho a certeza… O que posso dizer é que não me sinto muito confortável. Sinto-me ansioso… Acho eu.

    V. Ch.: Alguma ideia do que te está a deixar ansioso?

    C. D.: O facto de estar aqui… Suponho que seja isso. Eu não te conheço…

    V. Ch.: Como é que essa ansiedade se expressa a si mesma no teu corpo?

    C. D.: Eu estou a tentar desesperadamente não cometer erros.

    V. Ch.: Que tipo de erros é que tu pensas que tens tanto medo de cometer aqui?

    C. D.: Não sei. Eu sou sempre assim, estou sempre a tentar controlar tudo.

    V. Ch.: E consegues? Consegues controlar tudo?

    C. D.: Não, eu sei que é impossível mas não há nada que eu possa fazer para mudar a maneira como eu penso. Cheguei até a tomar antidepressivos, mas foi igual.

    V. Ch.: Agora vamos focar-nos no teu corpo. Como te sentes no teu corpo neste momento?

    C. D.: Sinto-me um pouco melhor. No início da sessão sentia-me diferente, acho eu, porque tu disseste para me sentar o mais confortavelmente possível e a uma distância que eu me sentisse confortável. Eu tinha uma dor no estômago e a minha respiração estava apressada dentro do peito. Houve um momento em que me senti zonzo. Agora já não me sinto zonzo.

    V. Ch.: Sentes-te zonzo com frequência?

    C. D.: Com o meu pai, especialmente quando tenho de enfrentá-lo para resolver um desentendimento. Trabalhamos juntos no mesmo negócio de família, sabe. Quando estou com ele, literalmente, a minha respiração encurta e falta-me o ar. Já há anos que a minha pulsação tem estado constantemente acima dos 110 e a minha pressão arterial 14/9 e até mesmo acima. E agora tenho taquicardia… As minhas mãos estão frias e suadas.

    V. Ch.: Como é que o teu corpo se sente agora que estás menos ansioso?

    C. D.: Está melhor, porém sinto-me triste.

    V. Ch.: E como é que o teu corpo se sente quando tu estás triste?

    C. D.: Sinto um peso no meu peito e não consigo respirar fundo.

    V. Ch.: Neste momento, o que te ajudaria a sentires-te melhor?

    (Por um breve momento ele permaneceu em silêncio.)

    V. Ch.: Ok, poderíamos aproximarmo-nos um pouco? Se estiver bem para ti, gostaria que nos levantássemos e nos colocássemos próximos um do outro com as tuas costas repousando contra as minhas para ver como te sentes.

    (Por um lado, este jovem homem precisava imenso de suporte e, por outro, respeito pelas suas fronteiras. Esta é a razão pela qual sugeri contacto costas-com-costas como primeira forma de contacto. Mais tarde, tentaríamos contacto ocular e das mãos.)

    V. Ch.: Como é que te sentes agora que podes repousar nas minhas costas? É uma sensação familiar? Sentes-te suficientemente confiante para te deixares ir?

    C.D.: Sinto-me ok.

    V. Ch.: Podes deixar-te ir? Isto que estás a sentir é uma sensação familiar?

    C. D.: Posso deixar-me ir… É como se estivesse a repousar nas costas do meu avô. O meu avô é uma torre de força para mim. Quando eu era pequeno, sempre que eu me sentia em baixo, socorria a ele.

    V. Ch.: Bem, agora mantém a sensação e diz-me que mais te poderia ajudar a sentires-te melhor.

    (Distanciei-me um pouco dele de forma a que não houvesse nenhum contacto corporal.)

    V. Ch.: Como te sentes agora?

    C. D.: Vai achar estranho, mas agora sinto como se tu não me quisesses. Sinto-me rejeitado. Eu mal te conheço e a nossa relação é… e mesmo assim eu sinto como se tu não me quisesses.

    V. Ch.: Diz-me o que sentes no teu corpo.

    C. D.: Sinto vontade de chorar.

    (As lágrimas começaram a cair; ele chorou em silêncio e o choro iria continuar assim durante alguns meses.)

    V. Ch.: É assim que te sentes – triste – quando perdes o teu suporte?

    C. D.: O que eu sinto não é fácil para mim. O meu avô era o único suporte que eu tinha. E tudo isto me parece parvo, mas é o que eu sinto.

    V. Ch.: Existe alguma coisa na minha atitude que te impulsiona para pedir desculpa? Sentes talvez que eu te estou a julgar?

    C. D.: Não…

    V. Ch.: Tomaremos nota disso. Sentes-te estranho aqui comigo, sabendo que não é o meu comportamento que está a fazer-te sentir desta forma. Importas-te que eu me aproxime? Importas-te de darmos as mãos por um momento?

    C. D.: Não, não tem problema.

    V. Ch.: Bem. Agora toma o teu tempo e diz-me: agora que temos este tipo de contacto, como é que te sentes?

    C. D.: Comovido. Sinto-me comovido e o meu peito está mais leve e posso respirar mais profundamente. E o meu estômago parou de doer.

    V. Ch.: Parece-me que precisas deste contacto, faz-te sentir melhor. Agora olha-me nos olhos, continua dando-me as mãos e diz-me como te sentes.

    C. D.: Sinto um nó na garganta e é difícil respirar. Tenho medo que me possas criticar por alguma coisa…

    V. Ch.: Volta para onde estavas, senta-te o mais longe que precises e pelo tempo que precises, e diz-me como te sentes. Podes voltar novamente quando sentires que precisas.

    Um breve momento depois:

    C. D.: Agora os meus ombros estão mais relaxados. Assim que eu me apercebo que tu não estás a colocar pressão em mim, eu sinto-me bem e posso aproximar-me de ti novamente.

    V. Ch.: Diz-me, de que forma é que tu sentes que eu estava a colocar pressão em ti?

    C. D.: Eu senti que estavas à espera de algo de mim. Eu sempre tenho dúvidas acerca do que deveria fazer quando outra pessoa está à espera de algo de mim.

    Este homem estava a tentar querer o que toda a gente quer, apesar daquilo que as outras pessoas pensariam dele, que em muitos casos era que ele era uma pessoa egoísta fixada em levar a sua avante. Recentemente, depois do trabalho corporal que tínhamos feito juntos, ele começava a respirar melhor, havia uma mirada mais enraizada nos seus olhos e as suas mãos não estavam tão frias e tão suadas como antes. Quando ele tinha o seu próprio espaço e as suas fronteiras eram respeitadas, ele não se sentia ameaçado e assim, conseguia conectar-se com confiança. Qualquer surge uma mudança no estado mental de uma pessoa, as emoções manifestam-se por si mesmas no corpo.

    Aquilo que devemos fazer nas nossas sessões de terapia com um novo paciente, para além de obter uma ideia inicial da sua história, é, no aqui e agora da sessão, criar as condições nas quais o paciente poderá sentir que as suas fronteiras estão a ser respeitadas, que ninguém o vai criticar e que ele irá receber o apoio que precisa.

    O terapeuta corporal não se resume a palavras, nem está restrito por elas. Ele usa palavras e escuta atentamente mas não pára por aí. Ele irá reunir informação importante ao escutar aquilo que o paciente diz e como o diz. No entanto, ele obterá ainda mais informação importante ao observar a correspondência, ou falta dela, entre o que o paciente diz e o seu corpo. Para onde está o paciente a olhar quando está a falar? Eles dizem sentir-se calmos e confortáveis quando na verdade estão a desviar o olhar de nós e os seus corpos mostram-nos que eles estão a dois passos da porta? Como é a sua respiração? Estão a respirar com o seu estômago ou com o seu peito? A sua respiração é profunda, superficial ou caótica e irregular?

    O corpo fala com quem quer que o escute

    Na psicoterapia corporal aprendemos que o corpo realmente fala com quem está preparado e capaz de escutá-lo. Nós observamos o tónus muscular e tomamos nota da postura do tronco e da coluna, e a condição das mãos, dos pés, da nuca e do rosto. Como é que o paciente responde ao toque? Eles sentem-se confortáveis com a proximidade física? Como é que eles respondem a exercícios que estão designados a ajudá-los a sentir possíveis bloqueios nos seus corpos?

    De forma a conseguirmos chegar às emoções temos de ir através do corpo. Alguém a despejar as suas emoções é como uma má peça de teatro, na qual as falas estão desconectadas do enredo. Em vez de sentirmos que as nossas emoções são estimuladas pelo enredo, o actor tenta mostrar-nos o que devíamos estar a sentir ao contar-nos o que ele mesmo sente. Ele diz coisas que mesmo ele próprio apenas sente mentalmente; o corpo não acompanha. Não existe ponte entre a mente e o corpo: eles estão separados por um abismo. E qualquer comunicação entre a cabeça e o corpo é via… uma ponte de corda, como aquelas que baloiçam por cima das ravinas e que, para atravessar, exigem o tipo de coragem exibida por aqueles heróis destemidos dos filmes antigos. Assim, o caminho para as emoções é sempre através do nosso próprio corpo. Logo, qualquer coisa que o afecta é de extrema importância no nosso trabalho.

    Da nossa abordagem terapêutica à psicoterapia corporal, o nosso papel continua a ser aquele de um terapeuta: o de uma pessoa que já fez a jornada, que já percorreu um bom troço do seu caminho do autoconhecimento. E é aqui que o princípio básico da terapia entra: ninguém pode acompanhar de forma segura outra pessoa na sua jornada de autoconhecimento para lá do ponto que ela própria alcançou. A jornada para o submundo das entranhas e das emoções não é um caminho fácil. Não há dúvida porém que irá alargar os seus horizontes e abrir novos caminhos… para novas aventuras e novo conhecimento para qualquer um que realmente aceite desafios. A democratização do processo terapêutico na psicoterapia corporal não desaparece com o papel do terapeuta. Confronta-nos, contudo, com uma verdade universal: na jornada da vida, todos somos – como terapeutas e pacientes – companheiros de viagem no processo de maturação. Consequentemente, os nossos papéis alternam. Nós somos iguais, apesar de, como terapeutas não deveríamos descurar o facto de que a pessoa que estamos a tratar é uma pessoa com certas demandas.

    O Homem é uma entidade integrada de corpo, mente e espírito

    No nosso trabalho, a pessoa na sua totalidade é o foco da nossa atenção e por isso tratamo-lo(a) como uma entidade integrada de corpo, mente e espírito que vive e evolui em sociedade.

    Cada um de nós não possui um corpo; ele ou ela é um corpo. Cada um de nós não possui um espírito; ele ou ela é um espírito. E somos todos concebidos, todos nascemos e todos evoluímos em sociedade.

    É muito comum para as pessoas fazerem questões como: Porque é que remexemos o Passado? Quanto mais procuras, mais

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