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"Nasci" Quando Meu Filho Morreu
"Nasci" Quando Meu Filho Morreu
"Nasci" Quando Meu Filho Morreu
E-book173 páginas2 horas

"Nasci" Quando Meu Filho Morreu

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Sobre este e-book

O desespero e a impotência que manifestamos diante da morte de alguém que amamos com todo nosso ser, são forças impossíveis de vencer se não forem encaradas com a certeza esperançosa de que, embora estejamos cobertos de cicatrizes, uma nova oportunidade está esperando por nós. Essa nova oportunidade vive em nosso interior. E os únicos que podem ativá-la somos nós mesmos, com verdadeira convicção.

Deus utilizou esse livro para me ajudar a continuar vivendo quando parecia que o mundo afundava sob meus pés; e por isso eu quero compartilhá-lo.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de nov. de 2020
ISBN9781005540401
"Nasci" Quando Meu Filho Morreu
Autor

Josho Campillay

Josho Campillay was born on April 24, 1976 in the city of Chilecito, in the province of La Rioja (Argentina). He is the son of a tradeswoman and a photographer, recognized neighbors of their little community for their daily work.He earned his high school diploma from a school of art where he was able to develop his taste for music. When he finished high school, on December 1993, he moved to the city of Córdoba (Argentina) to study computer science.At the age of 22, in 1998, he founded Grupo Email multimedios and brought the first public internet connection to his hometown, so that the neighbors of his community had access to the medium the connects the whole world.In 2001, he met his wife Guadalupe, and together they had three children: Abril, Ezequiel, and Agustin.In his career as an entrepreneur, he has founded four FM radio stations (Ñ, Comarca, El Punto, and Urbana), and also two other local media: Diario Chilecito and Chilecito TV. All of them together make up Grupo Email multimedios, where he currently works as director.

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    "Nasci" Quando Meu Filho Morreu - Josho Campillay

    Tradução: Rafael Levada Polimeni.

    Edição: Caio Fiori Bertazzoli e Adriana Fiori de Almeida (em memória de Juracy Salzano Fiori Almeida).

    © 2020 Josho Campillay

    e-mail: joshocampillay@gmail.com

    Prefácio

    O livro nasceu após a perda de Agustín, meu filho de quase dois anos.

    O nome da obra —que sem eu perceber começou a ser gestada em 2013— pode ser difícil de entender, e a única maneira de você entender o que vai ler nesses textos é tentando se colocar no meu lugar.

    Foram sete anos de pensamentos que poderiam ter me levado a viver uma vida inteira dentro das paredes da loucura. Era difícil para mim falar sobre o que estava acontecendo comigo porque sentia que ninguém conseguia entender minha dor, e porque não era justo que o mundo recebesse o peso da minha angústia.

    Aquilo que no começo foi uma acumulação de sofrimento que me fez navegar em uma tempestade emocional, começou a se transformar em calma à medida que eu escrevia em busca de respostas para as perguntas que atordoavam a minha cabeça.

    Com esse livro não procuro mudar a vida de ninguém, e sim compartilhar os pensamentos e sentimentos que, ao transformá-los em palavras, foram aliviando minha alma e ajudaram a minha família e eu a sobreviver.

    O desespero e a impotência que manifestamos diante da morte de alguém que amamos com todo nosso ser, são forças impossíveis de vencer se não forem encaradas com a certeza esperançosa de que, embora estejamos cobertos de cicatrizes, uma nova oportunidade está esperando por nós. Essa nova oportunidade vive em nosso interior. E os únicos que podem ativá-la somos nós mesmos, com verdadeira convicção.

    Nasci de novo, perdi a venda que me impedia de ver como a vida é maravilhosa. Minha família nasceu de novo; meus amigos também. Todas as pessoas que nos rodeiam lembraram qual é nossa verdadeira essência.

    Deus utilizou esse livro para me ajudar a continuar vivendo quando parecia que o mundo afundava sob meus pés; e por isso eu quero compartilhá-lo.

    O dia que meu filho se foi

    Eram as onze da manhã e meu filho Agustín estava mais inquieto que de costume. Enquanto eu tentava trabalhar no escritório de casa, ele (que tinha pouco menos de dois anos) somente queria brincar. Por isso, liguei meu teclado, e ele começou a tocar as teclas, cantar e mover seu corpo. Dessa forma era que passávamos as nossas manhãs.

    Durante a tarde, vários trabalhadores estavam fazendo reformas na nossa casa. Sai apenas por um instante com a minha caminhonete para comprar algumas ferramentas que me tinham pedido, e quando estava voltando, alguém saiu de repente da garagem de um clube esportivo em bicicleta. Era um garoto da minha vila que alguns anos atrás havia perdido o seu filho, que foi atropelado por um veículo. Eu não vi ele e quase que o atropelei. Brequei de repente, nos assustamos, olhamos um para o outro, e perguntei se ele estava bem; ele se desculpou por ter saído sem prestar atenção, e cada um continuou seu caminho.

    Com o coração ainda agitado pelo susto, não consegui evitar de me lembrar do trágico dia em que ele perdeu o seu filho. Em nossa vila nos conhecemos entre todos e essa tragédia nos afetou muito. Enquanto eu voltava para a minha casa, fiquei me perguntando como ele tinha feito para suportar tanta dor e poder seguir em frente com a sua vida. Minutos mais tarde —num acidente impossível de explicar— a vida ia me mostrar como era esse sentimento: nosso filho Agustín morreria.

    Estávamos todos, os cinco membros da nossa família, em casa quando ocorreu o fato. Minha esposa Guadalupe e eu entramos na caminhonete e saímos a toda velocidade até o hospital levando o nosso filho com a esperança de que ainda pudessem salvar a sua vida. No caminho eu pedia para Deus que não me colocasse à prova com a perda do meu filho, enquanto minha esposa —abalada— ia atrás com Agustín nos braços. Jamais ouvi ninguém gritar com tanta desesperação que nem os gritos que ela dava pelo nosso filho. Quando chegamos ao hospital, os médicos tinham confirmado o que não queríamos aceitar: Agustín se havia ido. É impossível não lembrar de cada um dos detalhes daquele dia. A maioria das pessoas da vila estava nas portas do hospital, acompanhando o nosso sofrimento.

    Quando voltamos para a nossa casa já haviam se passado mais de 24 horas desde que fomos nos despedir do corpo do nosso filho. Entrei no meu escritório, vi meu teclado ligado e a cadeira que estava encostada para que meu filhinho pudesse alcançá-lo. As teclas tinham restos de doce de pêssego, de quando ele esteve tocando durante a manhã anterior. Ele esteve comendo biscoitos doces e suas mãos estavam grudentas. Tudo estava exatamente como ele havia deixado.

    O silêncio era sufocante. O que até ontem era o nosso lugar agora se tornou num espaço frio e sem vida. A música havia parado. Meu filho já não estava aí para cantar. Senti a necessidade de sentar em sua cadeira e acariciar as teclas que ele havia deixado em silêncio. Quase perdendo a noção do tempo e do que estava ocorrendo, me encontrei tocando uma melodia que jamais antes havia tocado. Essa música era como uma espécie de calmante para a minha dor.

    Eu me deixei levar pelas melodias, que aos poucos eram mais profundas, até que a tristeza se tornou música. Minha alma sentia uma necessidade desesperada de dizer muitas coisas, e as palavras surgiram à medida que a melodia era construída. Meu filho tinha acabado de morrer, e paradoxalmente, com essa morte nasceu "Ángel del amor y la canción" (Anjo de amor e a música): um compêndio de notas musicais e de palavras que expressavam uma dor impossível de explicar, mas que através da música ficaria gravada para sempre.

    Minha esposa Guadalupe caiu numa depressão muito profunda, tão profunda quanto ensurdecedora. Uma espécie de incongruência se apoderava de cada um de nós: ela, quase muda e em silêncio; e eu, escrevendo, vendo vídeos do nosso filho e cantando para ele com a esperança de que pudesse me escutar.

    Estávamos completamente desconectados como casal. Tentávamos dialogar, mas era impossível manter um diálogo. Ela se culpava por tudo o que nos tinha ocorrido. E eu me culpava porque sentia que tinha errado em meu dever como pai ao proteger a minha família.

    Submergidos nessa situação não percebemos o passar do tempo. Podiam ter passado umas horas ou um mês inteiro, mas para nós era a mesma coisa, porque a dor que nos atravessava não se podia acalmar com nenhum pensamento ou distração. Os dias eram curtos e as noites intermináveis. O tempo havia perdido seu significado.

    Em um breve momento de clareza, coincidimos e conseguimos conversar. Entre lágrimas e abraços que nasciam do fundo do nosso ser, prometemos fazer um esforço por tentar manter de pé a família que Deus nos tinha dado, apesar de todo o sofrimento que estávamos vivendo. Embora a promessa parecia sólida, a dor era muito forte.

    Era evidente que minha esposa havia baixado os braços, não queria continuar vivendo. E para piorar as coisas, nossos filhinhos Abril e Ezequiel —que haviam testemunhado a morte de seu irmão caçula— fizerem o assustador anúncio de que não queriam continuar vivendo sem seu irmãozinho. Tinham apenas cinco e sete anos e também estavam sobrecarregados pela situação. Precisavam da sua mãe e do seu pai. E eu sentia que o mundo tinha desabado sobre mim. Não tinha a força suficiente para manter de pé a minha família.

    Eu tinha alcançado o limite da fragilidade humana e sentia que nada nem ninguém podia nos ajudar. A sensação de estar à beira de um abismo, o vazio e a desesperança eram tão fortes que pela minha cabeça passaram os pensamentos mais sombrios que alguém possa imaginar. Senti que Deus nos havia abandonado, e essa sensação me deixou ainda mais atordoado, porque sabia que sem a Sua ajuda nossa família estaria acabada.

    Os dias passavam e a depressão da minha esposa cada vez era mais profunda. Ela ficava trancada em seu quarto e chorava em silêncio e solidão durante dias. Ela não queria ver ninguém. Até que nosso filho Ezequiel entrou no nosso quarto uma tarde e viu sua mãe na cama. Quando perguntei se sabia onde ela estava, ele respondeu: Ela está jogada no quarto. Meu filho, de apenas cinco anos, usou a palavra Jogada. Fiquei desesperado, porque não podia imaginar o dano que poderíamos estar causando em sua cabecinha. Conversei com a minha esposa e contei para ela o que o nosso filho havia me falado. Guadalupe saiu da cama imediatamente, lavou seu rosto, penteou seu cabelo, se ajeitou e foi conversar com Ezequiel. Enquanto ela abraçava ele, lhe disse o quanto o amava e pediu desculpas por ter ficado ausente durante tantos dias. Naquele dia prometeu fazer todo o seu esforço para continuar sendo a mãe de Abril e Ezequiel, e também minha esposa.

    Durante todo esse processo, só queríamos conversar com pais que tivessem passado pela mesma situação. Centenas de pessoas vieram à nossa casa: amigos, familiares, conhecidos da vida… e todo mundo nos abraçava tentando nos dar apoio nesse momento de muita dor. Mas ninguém podia nos aliviar com palavras, porque ninguém sabia da magnitude daquela dor. Nenhum deles tinha passado por isso.

    A culpa ia crescendo e tomando conta aos poucos das nossas vidas. Eu e a minha esposa começamos a discutir porque não suportávamos ver o sofrimento do outro. Tudo em nossa vida ia se manchando de escuro. Tudo o que havíamos construído estava caindo aos pedaços.

    Um dia encontrei —numa bagunça total— caixas de medicamentos para dormir. Diante da situação em que estávamos passando, e observando o seu comportamento, tive medo que minha esposa tentasse tirar a própria vida; então sentamos para conversar. Eu disse a ela que tentasse por alguns instantes deixar de lado a dor que estava sentindo e se colocasse no lugar dos seus pequenos filhos, pois eles também estavam sofrendo. Eles estavam sentindo dor vendo que tudo o que haviam conhecido estava desmoronando. E que se além da dor de ver o irmão morrer, também tinham que suportar outra tragédia e crescer sem sua mãe, que vida os aguardaria? Como eles poderiam superar uma tragédia dessa em suas vidas? Se realmente amávamos nossos filhos, tínhamos que nos fortalecer de qualquer maneira, para que eles tivessem uma vida saudável como a vida que tivemos nós. Minha esposa me escutou com atenção. Choramos juntos, tentando imaginar toda essa dor multiplicada. Também juntos, prometemos que nunca faríamos nada assim e que dedicaríamos toda a nossa vida em tentar reconstruir a felicidade que havia se interrompido.

    As orações das pessoas que nos amam começaram a fazer efeito. Nossas orações também foram escutadas e Deus nos estendeu sua mão para que pudéssemos seguir em frente. Nossos filhos mereciam ter uma vida normal com pais presentes. Tinham sofrido demais: eles também tinham perdido um irmão.

    Sabemos com certeza que o que aconteceu com o Agustín nos mudou para sempre. Nunca mais voltaremos a ser os mesmos. E não há um dia em nossa vida que não falemos sobre o que ele nos deixou, o que Deus nos ensinou através dele. É incrível o impacto que ele teve nas nossas vidas com tão pouco tempo conosco. Lembrar dele é sorrir, mas também é chorar. É felicidade e angústia ao mesmo tempo.

    Nossos filhos Abril e Ezequiel tiveram um papel fundamental nesse processo. Eles nos ensinaram muito sobre como seguir em frente a cada dia. Embora eles fossem muito pequenos entendiam tudo. E mesmo que às vezes eles também entristeciam porque sentiam a falta de seu irmãozinho com quem brincavam o dia todo, tinham pensamentos muito

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