Mantenha-se vivo
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Sobre este e-book
A narrativa emociona ao trazer os relatos do jovem e da figura dócil e amorosa de sua mãe. Ambos nos encantam pela intensa fragilidade ao mesmo tempo em que precisavam ser fortes. São experiências dolorosas envolvendo a dependência química e todos os capítulos marcantes e comoventes que dela decorrem. Manter-se vivo torna-se uma tarefa difícil diante das circunstâncias nas quais os personagens se encontram, mas a fé e o amor podem nos ajudar a vencer qualquer obstáculo. E, mesmo que a vida não seja exatamente o que queremos, ela ainda consegue ser linda e muito valiosa.
Os conflitos internos, a desestruturação do lar e as ilusões fizeram de César um vilão, mas vilões também podem recompor suas histórias e brilhar como estrelas na escuridão.
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Mantenha-se vivo - Sandra Helena Pereira
Introdução
Meu nome é Cesar. Sempre gostei de histórias, elas falam sobre a vida das pessoas. Os vilões também fazem parte das histórias e nem sempre são maus. Eles também podem ser estrelas.
Depoimento de mãe
— Alô! Quem fala?
— Mãe, sou eu, seu filho. Lembra de mim?
E foi assim, com uma ligação, um longo silêncio e suor nas mãos que o milagre da minha vida começou.
Naquele momento, encontrava-me dentro de um trem, indo trabalhar, quando meu celular tocou com essa ligação tão especial. Fiquei de pernas bambas, sem palavras e sem ar. Demorei um pouco para responder. Depois de uma pausa de alguns segundos, onde minha vida com meu filho passou pela minha mente como um filme acelerado, respirei fundo e respondi:
— Meu filho amado! Claro que lembro de você! Peço a Deus em minhas orações para cuidar dos seus caminhos. Nossa... Quantas saudades!
— Mãe, estou te ligando para pedir desculpas. A senhora me perdoa? Já se passaram tantos anos...
— Ah, meu amor! Que saudade! Não tem nada a ser perdoado. Te amo tanto. Estou muito feliz que esteja me ligando. Queria estar perto de você para poder te abraçar e beijar.
Depois dessas palavras, conversamos por quase dez minutos. Perguntou-me como estavam os irmãos e disse que ligaria outras vezes. Senti muita alegria! Era como se uma chama de amor brotasse no meu coração. Fiquei eufórica e prossegui no meu caminho sorrindo com o rosto pegando fogo.
No meu trabalho, o dia demorou a passar e, como uma garotinha, não parei de pensar no que tinha acontecido. A feliz ligação me transportou para o ano de 2001. Fiquei mentalmente presa nessa data onde meu filho ainda era adolescente e, em uma enorme tela, assisti meus pensamentos como se os estivesse revivendo.
Toda aquela alegria deu lugar à recordações de toda uma vida: Me recordei de muitas coisas, dentre elas, a dependência química do meu filho. Tudo era tão forte e presente que senti o cheiro ruim que essa lembrança me trazia. Naquele tempo, a vida, para mim, não era colorida, não tinha esperança de nada, as coisas pareciam sombras e a tristeza fazia parte do meu dia a dia. Não conseguia ver nada de bom, nem motivos para sorrir. Era frustrada por meu filho, tão novo, ter experimentado as drogas e eu não pude fazer nada para salvá-lo. Era como estar trancada em um quarto escuro e com pouco oxigênio. Tinha a sensação de que, a qualquer momento, alguém chegaria na minha casa com meu filho nos braços, desfalecido pelo efeito das drogas. A sombra escura de seu suicídio lento, ao mesmo tempo, agitado me aterrorizava. O único pensamento que tinha era que alguma coisa desastrosa poderia acontecer e ele morreria.
Cheguei a me sentir culpada por ter saúde e ele estar naquela situação. Ele caminhava para o fundo do buraco, e, inconscientemente, eu o acompanhava. Era uma caminhada a dois onde apenas um (ele) marcava o ritmo dos passos.
Por muitos anos, estive em completa apatia. Não tinha vontade de fazer nada. As pessoas próximas a mim não entendiam, mas eu realmente não tinha forças para reagir à tristeza que tomava conta de meu coração. Meu filho tão querido usava drogas, fazia coisas erradas, sumia por longos períodos, e eu não tinha como ajudar. Só assistia, sem poder interferir.
Minhas noites eram longas, com um sono falhado e preocupado. Meus dias eram curtos, ocupados pelo temor da nova noite perturbadora que se aproximava. Ansiava para que o sol não se fosse, dando lugar à noite, onde os cães domésticos viram lobos selvagens.
Enquanto meu filho era pequeno, eu guardava a ilusão de que tudo passaria. Colocava-me sempre entre ele e as consequências de seus atos. Eu era o seu escudo. Não deixava nada nem ninguém se intrometer no seu crescimento. Por muitos anos, passei a não ter mais identidade. Eu era simplesmente a mãe.
Fui a mãe que