Pequena história da República
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Sobre este e-book
Esta Pequena história da República foi pensada originalmente para o concurso promovido pela revista Diretrizes, em 1939, cujo objetivo era a premiação de um texto que contasse, para crianças, a história de nossa República, em comemoração aos 50 anos de sua proclamação. O texto, que não chegou a ser inscrito no concurso, viria a ser publicado em Alexandre e outros heróis.
Com a publicação de Vidas secas, Graciliano Ramos havia encerrado um ciclo. A pesquisa que viera desenvolvendo tinha atingido um patamar difícil de ser superado. Vidas secas criaria, para o escritor, uma situação de impasse. Avançar além daquele ponto lhe parecia empreitada quase impossível. Talvez valesse tentar uma mudança de rota, recomeçar do zero, pondo de lado o que fizera até ali. Optando por um campo de experimentações que lhe permitiria talvez maior descontração, decidiu realizar experiências de literatura para jovens.
Abordando a queda do Império e a evolução da chamada República Velha, Pequena história da República é uma espécie de crônica histórica. O tom irreverente, acentuado na primeira parte, é muito semelhante ao do famoso relatório do prefeito de Palmeira dos Índios, dirigido ao governador do estado, que iria possibilitar a descoberta, pelo editor Augusto Frederico Schmidt, do escritor Graciliano Ramos.
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Pequena história da República - Graciliano Ramos
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
R143p
Ramos, Graciliano, 1892-1953
Pequena história da república [recurso eletrônico] / Graciliano Ramos. - 1. ed. Rio de Janeiro : Record, 2020.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5587-141-8 (recurso eletrônico)
1. Crônicas brasileiras. 2. Livros eletrônicos. I. Título.
20-65843
CDD: 869.8
CDU: 82-94(81)
Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472
Copyright © by herdeiros de Graciliano Ramos
http://www.graciliano.com.br
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Produzido no Brasil
ISBN 978-65-5587-141-8
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NOTA DO EDITOR
Esta Pequena história da República
foi pensada originalmente para o concurso promovido pela revista Diretrizes, em 1939, cujo objetivo era a premiação de um texto que contasse, para crianças, a história de nossa República, em comemoração aos 50 anos de sua proclamação. O texto, que não chegou a ser inscrito no concurso, viria a ser publicado em Alexandre e outros heróis.
Estruturada em pequenos verbetes, e tendo como base os manuscritos que se encontram no Fundo Graciliano Ramos, Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, esta crônica histórica sobre a República brasileira, escrita por um de nossos maiores autores, é aqui apresentada em edição especial.
AS COISAS
Em 1889 o Brasil se diferençava muito do que é hoje: não possuíamos Cinelândia nem arranha-céus; os bondes eram puxados por burros e ninguém rodava em automóvel; o rádio não anunciava o encontro do Flamengo com o Vasco, porque nos faltavam rádio, Vasco e Flamengo; na Estrada de Ferro Central do Brasil morria pouca gente, pois os homens, escassos, viajavam com moderação; existia o morro do Castelo, e Rio Branco não era uma avenida — era um barão, filho de visconde. O visconde tinha sido ministro e o barão foi ministro depois. Se eles não se chamassem Rio Branco, a avenida teria outro nome.
As pessoas não voavam, pelo menos no sentido exato deste verbo. Figuradamente, sujeitos sabidos, como em todas as épocas e em todos os lugares, voavam em cima dos bens dos outros, é claro; mas positivamente, a mil metros de altura, o voo era impossível, que Santos Dumont, um mineiro terrível, não tinha fabricado ainda o primeiro aeroplano, avô dos que por aí zumbem no ar.
O Amazonas, a cachoeira de Paulo Afonso e as florestas de Mato Grosso comportavam-se como hoje. Mas as estradas de ferro eram curtas, e quase se desconheciam estradas de rodagem, porque havia carência de rodas. Nos sítios percorridos atualmente pelo caminhão deslocava-se o carro de bois, pesado e vagaroso.
Pouco luxo nas capitais, necessidades reduzidas no campo. As cidadezinhas do interior, mediocremente povoadas, ignoravam a iluminação elétrica e o bar.
Os