Escravidão e Estado: entre princípios e necessidades, São Paulo (1835-1871)
()
Sobre este e-book
Relacionado a Escravidão e Estado
Ebooks relacionados
A Confederação Nagô-Macamba-Malunga dos Abolicionistas: O Movimento Social Abolicionista no Rio de Janeiro e as Ações Políticas de Libertos e Intelectuais Negros na Construção de um Projeto de Nação Para o Pós-Abolição no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntendendo os indígenas no Império do Brasil Nota: 4 de 5 estrelas4/5Criminalidade e relações de poder em Mato Grosso (1870-1910) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDo Estado à nação: política e cultura nos regimes ditatoriais dos anos 1930 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOliveira Lima: Obra seleta - História Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiberais & liberais: Guerras civis em Pernambuco no século XIX Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIndependência do Brasil: A história que não terminou Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLaços de família: Africanos e crioulos na capitania de São Paulo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNordeste 1817: Estruturas e Argumentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Escolas de Primeiras Letras: Civilidade, Fiscalização e Conflito nas Minas Gerais do Século XIX Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe Centro a Periferia: Transformações no Mercado Interno Paulista (Séc. XIX) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMEMÓRIAS DE UM COLONO NO BRASIL - Thomas Davatz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTapacurá: Viagem ao planeta dos boatos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstado e Capital: fundamentos teóricos para uma derivação do Estado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstratégias Fascistas em Revista: Anauê! (1935-37) como Inovação Jornalística da Ação Integralista Brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasIntérpretes do Brasil: Clássicos, rebeldes e renegados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasYes, nós temos Coca-Cola : a fartura dos EUA e a guerra contra a fome no Nordeste Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs feridas mais profundas: uma história do trabalho e do ambiente do açúcar no Nordeste do Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEça de Queiroz: Agitador no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA história do conceito de Latin America nos Estados Unidos: da linguagem comum ao discurso das ciências sociais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Questão Christie, liberalismo e escravidão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Palácio e a Caserna: A dinâmica militar das crises políticas na Ditadura (1964-1969) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Cidade de Manáos: Sua historia e seus motins politicos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDa coluna Prestes à queda de Arraes: Memórias Políticas Nota: 5 de 5 estrelas5/5#Tóquio45: os dias finais da 2ª Guerra Mundial Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs memórias de Krzysztof Arciszewski : um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiteratura Jurídica no Império Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnjo Negro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSítios Arqueológicos Maias: Chichén Itzá Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ciências Sociais para você
Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coragem é agir com o coração Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCoisas que a Gramática Não Explica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTudo sobre o amor: novas perspectivas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Apometria: Caminhos para Eficácia Simbólica, Espiritualidade e Saúde Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Bíblia Satânica Moderna Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA perfumaria ancestral: Aromas naturais no universo feminino Nota: 5 de 5 estrelas5/5As seis lições Nota: 4 de 5 estrelas4/5Olhares negros: Raça e representação Nota: 5 de 5 estrelas5/5Guia Como Aumentar Seu Penis Definitivamente Nota: 5 de 5 estrelas5/5O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis Nota: 5 de 5 estrelas5/5Grau do Companheiro e Seus Mistérios: Jorge Adoum Nota: 2 de 5 estrelas2/5Curso De Maçonologia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA mentalidade anticapitalista Nota: 5 de 5 estrelas5/5Liderança e linguagem corporal: Técnicas para identificar e aperfeiçoar líderes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Bizu Do Direito Administrativo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFisiologia Do Exercicio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA cultura importa: fé e sentimento em um mundo sitiado Nota: 5 de 5 estrelas5/5O martelo das feiticeiras Nota: 4 de 5 estrelas4/5WOKE S.A.: A farsa da justiça social empresarial Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO que é o luto: Como os mitos e as filosofias entendem a morte e a dor da perda Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coletivismo de direita: A outra ameaça à liberdade Nota: 3 de 5 estrelas3/5O corpo encantado das ruas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Psicologia Positiva Nota: 4 de 5 estrelas4/5Neurociências E O Cotidiano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSalve o matriarcado: manual da mulher búfala Nota: 3 de 5 estrelas3/5Medicina Integrativa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mulheres na jornada do herói: Pequeno guia de viagem Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Avaliações de Escravidão e Estado
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Escravidão e Estado - Antonio Marco Ventura Martins
CAPÍTULO 1. O TRÁFICO NEGREIRO ATLÂNTICO PARA A PROVÍNCIA DE SÃO PAULO, 1835 – 1850
Logo após a ruptura política com a antiga metrópole portuguesa, o jovem país independente, então já ao par de um numeroso rol de críticas às condições em que se realizava o cativeiro de africanos e descendentes nas Américas, críticas essas provenientes tanto da Europa quanto de outras regiões das Américas, viu-se às voltas com um problema correlato, mas ainda mais imediato. O tráfico de africanos pelo Atlântico tornou-se, ainda no primeiro quartel do oitocentos, uma das questões mais latentes, desafiadoras e centrais para legisladores, membros do executivo e outros homens que se colocaram à frente de um Estado que se tornou livre, sem, contudo, conferir, nem mesmo na letra da lei, plena liberdade a todos os seus habitantes. ⁴⁷
Depois de muitos debates, foi firmado em 1826, e ratificado no ano seguinte, por brasileiros e ingleses, um tratado que acabou por resultar na declaração de que o tráfico negreiro tornar-se-ia ilegal no Brasil a partir de 1830. Ainda assim, apenas no final do ano seguinte, quando ocupava a pasta do ministério da justiça o liberal paulista Diogo Antônio Feijó⁴⁸, foi promulgada uma nova lei com o intuito de colocar fim a essa prática. O político paulista esteve, como homem de Estado, no centro do problema do fim do tráfico. Em 1831 era ministro. Anos mais tarde, em 1835, quando cresceu sensivelmente o contrabando de cativos para o Brasil, Feijó ocupava o cargo de regente do jovem país. A lei promulgada em 1831, conhecida como Lei Feijó⁴⁹, não se tratava, como acreditou-se por um algum tempo em mera cortina de fumaça para dar mais fôlego ao tráfico e ludibriar os britânicos⁵⁰. Ainda assim, a partir de 1835, ocorreu uma retomada robusta do tráfico negreiro atlântico para o Brasil⁵¹, e esse cenário foi possibilitado por diferentes acertos firmados entre pessoas de diferentes estratos sociais que iam desde senhores e traficantes que frequentavam os lugares mais importantes da sociedade imperial até ribeirinhos e pescadores, além de autoridades locais, fazendeiros e, é claro, dos traficantes que, gozando de prestígio social, investiam e empregavam seus capitais nos arriscados mas, quase sempre, lucrativos desembarques e transportes de homens então ilegalmente escravizados⁵². Soma-se a esse cenário, de maneira central, as vozes impactantes da política dos afamados varões do Império que, nas tribunas parlamentares de suas províncias e na Corte, ou por intermédio de jornais onde possuíam grande influência econômica e política, ecoavam a necessidade de continuar o comércio de escravos com a África. Um comércio, em suas argumentações, defendido como vital para o desenvolvimento da riqueza do país⁵³.
Concomitantemente aos desafios políticos, internos e externos, que se lançaram à retomada e à continuidade legal do tráfico negreiro, um fator econômico foi determinante para a ocorrência, em escala ampliada, do contrabando para o litoral brasileiro. Alavancados pelas demandas crescentes e pelo consumo de produtos como o açúcar, algodão e o café, decorrentes das expansões das atividades das economias industriais que reconfiguraram as necessidades dos mercados europeu e americano, no século XIX, milhares de braços africanos foram empregados nas lavouras dos Estados Unidos, Brasil e Cuba⁵⁴. Como apontou David Brion Davis, novos vínculos foram formados entre o sistema escravocrata americano e as indústrias têxteis que surgiram na Europa e na Nova Inglaterra e esses vínculos foram robustecidos, particularmente, para o Brasil, a partir do tráfico ilegal. ⁵⁵
A Província de São Paulo, a partir de 1840, integrou, conjuntamente com partes do Vale do Paraíba fluminense e da Zona da Mata mineira, a maior área mundial produtora de café destinado ao mercado externo e algumas décadas mais tarde consolidou-se como o maior produtor mundial do grão. Logo, o desempenho da economia nacional se alinharia ao café e uma vez vinculados, os problemas decorrentes da necessidade de sua produção, sobretudo, o da mão de obra, ganhariam status de problema nacional. Tal posição de primazia de São Paulo na produção cafeeira não foi o fruto da ampliação de pés de café apenas nas regiões onde a cultura da planta se estabeleceu mais cedo. Desde a primeira metade do século XIX, a área conhecida como quadrilátero do açúcar, que compreendia as regiões das vilas de Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu e Jundiaí, com destaque para a produção de Itú e Campinas, também embrenhou-se na produção cafeeira. Em geral, tratava-se de áreas tradicionalmente pobres – majoritariamente dotada de senhores de poucos escravos – que, aos poucos, se tornaram mais dinâmicas e, posteriormente, também passaram a chamar atenção por suas produções cafeeiras. Em suma, inicialmente, como já dissemos, concentrada no Vale do Paraíba, principalmente, nos municípios de Bananal, Areias e Guaratinguetá, a produção de café em São Paulo se expandiu, ultrapassou o Vale do Paraíba fluminense em número de sacas colhidas, e se espalhou para o Oeste, rasgando a província na direção nordeste até que, nas décadas finais do Oitocentos, alcançou as divisas de São Paulo com o sul de Minas
