Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Produção cênica e sociedade: relatos de experiências de processos criativos na produção cênica
Produção cênica e sociedade: relatos de experiências de processos criativos na produção cênica
Produção cênica e sociedade: relatos de experiências de processos criativos na produção cênica
E-book227 páginas4 horas

Produção cênica e sociedade: relatos de experiências de processos criativos na produção cênica

Nota: 5 de 5 estrelas

5/5

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A presente coletânea de artigos é o segundo volume publicado pelo Curso Superior de Tecnologia em Produção Cênica da Escola do Futuro de Goiás em Artes Basileu França. Ela nos convida a refletir como o produtor cênico articula a teoria e prática no exercício de sua profissão, na arte de fazer cultura no Brasil.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de fev. de 2021
ISBN9786558778837
Produção cênica e sociedade: relatos de experiências de processos criativos na produção cênica

Relacionado a Produção cênica e sociedade

Ebooks relacionados

Artes Cênicas para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Produção cênica e sociedade

Nota: 5 de 5 estrelas
5/5

1 avaliação1 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

  • Nota: 5 de 5 estrelas
    5/5
    ótimo Livro, muito esclarecedor para meu aprendizado e vivência acadêmica

Pré-visualização do livro

Produção cênica e sociedade - Iolene Mesquita Lobato

Sumário

1. PRODUÇÃO CÊNICA DESVELANDO SONHOS: A CRIAÇÃO DE UM FESTIVAL COMUNITÁRIO DE PRODUÇÃO CÊNICA NO CONJUNTO VERA CRUZ

Luciene Alves de Araújo¹

Allan Lourenço da Silva²

INTRODUÇÃO

Esse estudo é um relato de experiência da Produção de um Festival Comunitário no Conjunto Vera Cruz, na cidade de Goiânia – Goiás. O trabalho foi realizado junto ao Curso Superior de Tecnologia em Produção Cênica da ESCOLA DO FUTURO em Artes Basileu França. Entretanto, o relato se estabelece no campo do todo, perpassando ao mesmo tempo às múltiplas linguagens da produção cênica em seu caráter interdisciplinar. A interdisciplinaridade, entendida como um diálogo entre duas ou mais áreas do conhecimento, que em seu ato de interação podem produzir novos conhecimentos (SOMMERMAN, 2006).

A interdisciplinaridade se fez nesse projeto elemento de relevância, cuja estrutura estabelecida se configurou na produção de um Festival Comunitário Cênico. Esse festival comunitário procurou se estabelecer por meio de um diálogo com a dança, a música, o circo, o teatro e, também, com a realização de minicursos de gestão, capacitação e produção.

Nesse sentido, a produtora do presente projeto tomou como desafio vivenciar um problema social e regional, na intenção de compreendê-lo, tendo como questão norteadora dessa pesquisa: O festival comunitário cênico, em sua descentralização, podia ser uma ferramenta política/cultural para um processo de formação social, artística e capacitação técnica de crianças, jovens e adultos na periferia da grande Goiânia?

Essa pesquisadora acredita que a cultura – nesse caso a Arte – é parte de uma nação, país, estado, cidade, bairro, conjunto e direito de todo cidadão. Assim, o artigo 215 da Constituição Federal Brasileira de 1988 (2014, p. 124), afirma que: O estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais (EC nº 48/2005). E o artigo 216-A da EC nº 90/2015 apresenta que:

O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa, institui um processo de gestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo promover o desenvolvimento humano, social e econômico com pleno exercício dos direitos culturais (EC nº 90/2015 p. 125).

Se a arte é direito, assim como a saúde e a educação (conforme Constituição Federal Brasileira de 1988), de todo cidadão brasileiro, e o Estado precisa garantir que todos tenham acesso a ela, por que há descasos das autoridades com as comunidades dos bairros periféricos? Assim, esta indagação provoca essa pesquisadora/artista/produtora/ativista social, em seu curso de produção cênica, a pensar nessa gente excluída das grandes produções governamentais e de outros setores da elite brasileira e goianiense.

Portanto, o objetivo dessa pesquisa foi organizar e produzir um Festival Comunitário de Artes Cênicas com apresentações artísticas de circo, dança, teatro, música e mini oficinas de formação artística e capacitação técnica em Produção Cênica, no Conjunto Habitacional Vera Cruz, na cidade de Goiânia – Goiás. Esse bairro periférico foi escolhido devido a vivência dessa pesquisadora nesta região.

O Conjunto habitacional Vera Cruz foi criado no ano de 1979. O projeto de criação desse conjunto habitacional foi idealizado pelo governador Ary Valadão, mas sofreu algumas mudanças na gestão de Íris Rezende Machado no de 1983.

Aprovado pelo decreto de número 140 em 15 de março de 1979, o Conjunto Vera Cruz foi planejado em uma área de cinco milhões cento e setenta e nove mil e oitocentos metros quadrados. O projeto que foi executado pela antiga Cohab (Companhia de Habitação de Goiás) previa a construção de casas populares, as quais beneficiaram pessoas de baixa renda. Só a primeira etapa contemplou mais de mil de trezentas famílias. Nessa etapa as casas eram muito bem planejadas, existiam plantas de um, dois e três quartos.

Com a mudança de governo em 1983, passando de Ary Valadão para Iris Rezende Machado, o projeto original do conjunto habitacional se modificou a partir da segunda etapa. O objetivo era contemplar mais famílias, para isso foi preciso alterar as plantas das casas que a partir daí passaram a ser germinadas e bem menores que as da primeira etapa. Hoje o Conjunto Vera Cruz em um todo está de cara nova, a infraestrutura melhorou, o comércio cresceu e a população está mais satisfeita. Atualmente até o transporte coletivo tem atendido a população, na medida do possível, de forma satisfatória.

E todo esse desenvolvimento ainda não terminou, o Conjunto Vera Cruz que ficava praticamente isolado, hoje está cercado por vários outros bairros, e o progresso não para, a cada dia novos empreendimentos têm surgido na região.

Porém ainda, existem carências que precisam ser observadas com mais atenção e carinho pelas autoridades competentes, a área da saúde é a principal delas, o bairro não possui nenhum hospital e a população de toda a região precisa buscar longe essa assistência (GOIÁS DE NORTE A SUL, 2019).

Ao expor um pouco a história desse conjunto habitacional, percebeu-se que ele foi pensado somente na esfera estrutural para receber essas famílias, sem pensar num plano que envolvesse todo o conjunto em atividades culturais e artística. Isso, pôde ser visto ao ler a citação sobre o plano de criação desse conjunto e não encontrar nenhuma referência sobre arte e cultura. Esse projeto de produção de um Festival Comunitário de Artes Cênicas no Conjunto Vera Cruz, se valida ao pensar que todos cidadãos e cidadãs têm direito à cultura e à arte. Por isso, buscou-se a realização deste projeto nesse conjunto habitacional.

A metodologia aplicada na realização dessa pesquisa se encontrou na práxis de uma produção teórico-prático, em sua abordagem exploratória, bibliografia, qualitativa e em seguida na execução dela em sua prática.

O festival comunitário procurou levar ao Conjunto Vera Cruz atividades artísticas e formativas de grupos cênicos da ESCOLA DO FUTURO em Artes Basileu França e de outros artistas e formadores goianos. E, assim, estabeleceu um olhar social de dentro para fora e de fora para dentro. Nisso, encontrou-se a oportunidade de divulgação dos trabalhos e cursos realizados na ESCOLA DO FUTURO em Artes Basileu França e dos outros profissionais que desejaram apresentar-se nesse evento. Assim,

Atualmente, um festival de Artes Cênicas desempenha papel importante no campo das Artes Cênicas brasileiro. É durante um festival que a produção de teatro alcança uma difusão e um consumo maiores; e os artistas, uma maior repercussão social e, com isso, a legitimação do seu trabalho. Os festivais de Artes Cênicas, ao apresentarem novas produções artísticas, contribuem para o desenvolvimento dos grupos e artistas regionais, trazendo a um grande público, espetáculos de nomes relevantes da cena teatral com diferentes linguagens e estéticas. Dessa forma, impulsionam as Artes Cênicas e fomentam o turismo cultural, entre outros desdobramentos. (ROLIM, 2015, p. 20).

Por meio do relato de experiência, este estudo procurou não uma resposta definitiva, mas possíveis caminhos de desvelar um sonho há muito adormecido.

1. O FESTIVAL COMUNITÁRIO – EM BUSCA DE SUA ESSÊNCIA

O desafio de se pensar em um festival comunitário se encontrou, desde já, também em compreender a sua etimologia e não somente sua estrutura ou história. Há nesse conceito duas palavras de extrema relevância que precisaram ser compreendidas em suas partes para, então ser pensada em seu todo. Encontrou-se essa pesquisadora em uma bifurcação, cuja mesma precisou tomar um rumo que elucidar-se um pouco mais sobre a importância da palavra Festival Comunitário.

Teve-se então a justaposição de duas palavras independentes, mas que juntas provocam novas e outras ações permeadas pela coletividade, o bem comum e a comunhão de um mesmo desejo e forma de pensar. Por isso, para melhor estruturar o pensamento e diálogo sobre a produção cênica de um festival comunitário de artes cênicas, procurou essa pesquisadora compreender sobre a palavra festival e comunitária separadamente e depois entendê-la em seu todo.

Iniciou-se então um estudo a partir da palavra festival, que em si parece ter um sentido de comemoração, festejo e/ou festa. Essa palavra foi fundamental nessa pesquisa, pois é a partir dela que esta proposta cênica será organizada e executada. E, por meio dela, governos e iniciativas privadas propõe atividades artísticas e culturais junto a sua sociedade.

Nesse sentido, a pesquisadora brasileira Maria Inês Ribeiro Basílio de Pinho em sua dissertação de mestrado Festivais de Teatro: sua gestão, impactos e financiamento, aponta que:

Quando se analisa e se confronta pela perspectiva de diversos autores (Encyclopedia Brittanica, 1929; Larousse, 1980; Porto Editora, 1988) o conceito de festival, é possível chegar aos seguintes resultados: festival é uma festa pública; é uma série de representações consagradas a uma arte (PINHO, 2017, p. 04)

É dentro dessa festividade que se cria relações e desejos em comum, ou seja, em comunidade. Para isso, foi preciso compreender também esse conceito tão caro a esta pesquisa. O conceito ou termo comunidade parece se estabelecer em uma unidade que procura o bem comum. De entender que um determinado número de pessoas precisa conviver, trabalhar e pensar em comum acordo para que todos vivam de forma igual. Assim, O dicionário Michaelis aponta a seguinte etimologia como um substantivo feminino que traduz:

a qualidade ou estado daquilo que é comum a diversos indivíduos. Grupo de pessoas que vivem em comum e cujos recursos matéria pertencem a todos. Conjunto de pessoas que vivem numa mesma região, com o mesmo governo, e que partilham as mesmas tradições históricas e/ou culturais. (MICHAELIS, 2015).

Portanto, pensar sobre os termos festival e comunitário em sua etimologia foi fundamental para compreender que esta pesquisadora procurou realizar um trabalho de produção cênica, que promovesse a união de uma comunidade em um ato de festividade. Não se trata apenas de gerar uma competição, mas de traduzir por meio das Artes e Produção Cênica uma celebração da vida, do sagrado e do profano em seu sentido sacro. Assim, por meio desse festival comunitário, a intenção é promover festejos, momentos de confraternização e celebração, criando sentimentos de pertencimento a um grupo ou comunidade. Para o teatrólogo brasileiro Fernando Peixoto em seu livro O que é teatro (1980, p. 14): organizando rituais religiosos, os homens organizam festas, nas quais as sociedades primitivas se integram numa comemoração coletiva de extrema vitalidade, mesmo que o elemento da morte possa estar presente até de forma acentuada.

Deste modo, este ato é tão antigo quanto o ser humano e a própria arte do teatro, que nasce a partir de festas religiosas na Grécia Antiga e se formata com os Festivais Dionisíacos. E vem atravessando pela humanidade desde a idade antiga até os dias de atuais. No início, estes encontros festivos ou festivais eram de caráter sagrado, muitos deles se encontravam em cultos e festas rituais, perpassando o pensamento de que o mesmo só ocorreu a partir do teatro grego. Para Berthold (2008, p. 2) Não somente os festivais de Dionísio da antiga Atenas, mas a Pré-história da religião, a etnologia e o folclore oferecem um material abundante sobre danças rituais e festivais das mais diversas formas que carregam em si as sementes do teatro.

Percebe-se que o festival se estrutura de diversos modos e que se encontra presente na cultura humana por meio de atos de celebração da vida, através de suas atividades artísticas e rituais. O pesquisador teatral francês Patrice Pavis no livro Dicionário do Teatro expõe o seguinte pensamento:

As vezes a gente se esquece que festival é a forma adjetiva para festa: em Atenas no século V, por ocasião das festas religiosas (Dionisíacas ou leneanas), representavam-se comédias, tragédias, ditirambos. Estas cerimônias anuais marcavam um momento privilegiado de regozijo e de encontros. Deste acontecimento tradicional, o festival conservou uma certa solenidade na celebração, um caráter excepcional e pontual que a multiplicação e a banalização dos modernos festivais muitas vezes esvaziam de sentido (PAVIS, 2015, p. 166).

Nessa perspectiva, do sentido sagrado em sua origem no teatro grego, é que esse estudo se volta o olhar para compreender o Festival de Teatro em sua era clássica. Assim, essa pesquisadora procurou compreender um pouco a sua estrutura e funcionalidade, para pensar esta produção realizada no Conjunto Vera Cruz.

2. ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA: O FESTIVAL EM SUA PRODUÇÃO

Pensar um festival como uma ideia não foi ou é de natureza fácil, imagina pensar essa ideia na prática – em sua ação – em seu ato – em sua execução. Assim, foi importante fundamentar teoricamente a ideia, trazendo autores que ajudassem a pensar sobre a estruturação de uma ideia, nesse caso o Festival de Artes Cênicas do Conjunto Habitacional Vera Cruz. Este festival em sua teoria, procurou compreender tanto a essência da palavra quanto a sua estruturação. E, também a importância desse para a comunidade ou sociedade local, seja em seu sentido econômico/financeiro e artístico/cultural, seja na formação de público ou de visão de opção profissional.

Para tanto, procurou estruturá-lo dentro de estratégias e ações para viabilizar a sua execução. Estes fatos foram fundamentais, pois permitiram nessa pesquisa a partir de seu estudo teórico obter uma visão dos possíveis acertos e dificuldades que poderiam ser encontrados quando executados. São estes fatores que esse trabalho buscou demonstrar na realização da produção. Assim, procurou-se relatar nessa pesquisa o quanto um trabalho teórico pode sofrer modificações em sua prática. Michele Bicca Rolim (2015, p. 80), menciona que: Muitas decisões curatoriais partem de questões orçamentárias e técnicas. O curador precisa saber, basicamente, com qual recurso orçamentário pode contar, e quais serão os espaços disponíveis para a apresentação dos espetáculos.

Ao substituir a palavra curador por produtor, percebe que essas decisões são encontradas também dentro de uma produção cênica, no qual precisam ser pensados e examinados com cautela. Estes são fatores importantes para compreender as possíveis mudanças que este projeto sofreu no ato da produção.

Assim, o primeiro desafio encontrado na produção desse festival foi possibilitar o capital econômico para o seu financiamento. Incialmente, tentou-se algumas parcerias com o comércio e a comunidade local, buscando apoios de empresários e líderes comunitários. Entretanto, estas parcerias não foram possíveis devido a nova estrutura comercial local – com suas gestões em outros locais –, e a crise econômica em que se encontra o sistema econômico no Brasil e em Goiás. Deste modo, foi proposto também tentar apoios de políticos e da Associação de Bairros do conjunto, porém isto foi invalidado também por causa do momento político que estamos vivendo e o descaso de muitos deles com a arte e cultura. Houve uma tentativa de parceria com o Favera – ONG que trabalha com o audiovisual no Vera

Está gostando da amostra?
Página 1 de 1