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A travessia do narrativo para o dramático no contexto educacional
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A travessia do narrativo para o dramático no contexto educacional
E-book230 páginas3 horas

A travessia do narrativo para o dramático no contexto educacional

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Sobre este e-book

O que se coloca neste livro é a possibilidade da inserção do ensino de Dramaturgia ou de Literatura dramática no meio escolar, assim como os outros gêneros da Poética. Isso ampliaria o conhecimento dos alunos no que se refere à formação leitora. Este livro demonstra como atividades interdisciplinares em ambientes escolares podem orientar professores de Língua Portuguesa e Artes/ Teatro no sentido da possibilidade do encontro, da partilha de saberes.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2016
ISBN9788546200108
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    A travessia do narrativo para o dramático no contexto educacional - Cristiane Santos Barreto

    Pessoa)

    Prefácio: Ainda é tempo de miragens

    Ao ser convidado a prefaciar este livro, me recordei do momento em que li e argui a dissertação de mestrado de Cristiane Barreto que deu origem a esta obra. Naquele momento mencionei que depois de participar de várias defesas de mestrado e doutorado cujo tema e as análises versavam sobre a Pedagogia do Teatro, percebia que quase sempre nas considerações finais vinham informações do fim ou suspensão, por motivos diversos da experiência analisada. Comecei a perceber que no fundo, muitas das práticas significativas de teatro na Educação Básica eram como Miragens. Segundo os dicionários uma Miragem é um fenômeno óptico muito comum em dias ensolarados. Trata-se de uma imagem causada pelo desvio da luz refletida pelo objeto, ou seja, é um fenômeno físico real e não deve ser confundida com uma alucinação, além de serem muito agradáveis de apreciar. Assim, muitas dessas práticas que parecem alucinações temporárias de um professor de teatro ou artista-docente e seus alunos, são na verdade espaços de [trans]formação de sujeitos, com uma temporalidade determinada pelas estruturas de poder presentes no espaço escolar. Uma destas práticas ‘miragens’ está presente neste livro. O texto de Cristiane Barreto nos leva a uma partilha da experiência ao propor a criação dramatúrgica como uma perspectiva de inserção do ensino de Teatro na Educação Básica, a partir desta experiência a autora contribui significativamente para as práticas em pedagogia do teatro.

    A experiência como atitude de pesquisa proporciona ao pesquisador e sujeitos da pesquisa a possibilidade de pertencer-se uns aos outros e ao mesmo tempo poder-ouvir-se-uns-aos-outros. Esta é a tônica do livro A travessia do narrativo para o dramático no contexto educacional.

    Ao explicar o conjunto de experiências vividas como professora de Teatro em projeto interdisciplinar com a professora de Língua portuguesa, como vistas à travessia de textos narrativos para textos dramáticos por alunos do Colégio Joan Miró – Salvador, Bahia, a autora contribui com os processos de investigação artística, nos quais o pesquisador se encontra envolvido e cujos objetivos estejam vinculados à análise das ações cotidianas existentes em processos de criação e de ensino-aprendizagem.

    O texto de Cristiane, nos leva a perceber que cada indivíduo é um processo aberto para novas composições. Focar nosso olhar no processo criativo como parte da existência é compreender a incompletude do ser humano. Somos seres inacabados que se formam e se transformam permanentemente. São as experiências vividas que nos oferecem a capacidade de reinventarmos. E neste sentido esta obra oferece aos leitores uma experiência de reinvenção ou uma miragem poética e educativa para nossa apreciação. Evoé!

    Narciso Telles

    Ator, professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), pesquisador GEAC-UFU/CNPq

    Introdução

    Avaliando minha trajetória como estudante de Artes Cênicas e a trajetória artístico/pedagógica, poderia defini-la da seguinte maneira: fazer/sentir/observar/estudar/analisar/avaliar. Para mim, a prática sempre veio antes ou paralelamente aos estudos teóricos.

    Minha ação, tanto nas escolas (ensino formal)¹, nas oficinas (ensino não formal)², como nos processos artísticos das encenações, partiu sempre do pragmatismo. Depois de realizar determinados trabalhos, ou até durante o desenvolvimento dos mesmos, vinha a necessidade de ler sobre o assunto ou buscar informações que, muitas vezes, traziam novidades ou confirmavam o caminho escolhido.

    Por achar conveniente, resolvi explicar melhor este procedimento pessoal diante dos processos da própria formação, na formação de alunos através do ensino de Teatro ou de atores e, também, nos processos artísticos em que estive envolvida desde a década de 1990 até os dias atuais.

    No lugar de aluna do curso de mestrado, a partir de março de 2010, observei que me sentia feliz por ter conseguido ingressar, mas, ao mesmo tempo, fiquei inquieta e curiosa diante da expectativa do que viria a ser meu reencontro com a instituição acadêmica.

    Logo na primeira semana de aula, uma surpresa: a pressão para que os alunos concluam suas dissertações antes do prazo previsto no edital do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA. Compreendo a necessidade dessa pressão. Tantos alunos acabam por se perder na teia dos prazos, na difícil tarefa de sistematizar a pesquisa, na leitura, na revisão bibliográfica e na escrita da dissertação. Fora aqueles que buscam objetos de estudo com tanto ineditismo que acabam também presos em suas subjetividades ou dificuldades teóricas.

    Pela matriz curricular obrigatória do curso, tive que cursar três disciplinas. A carga horária das aulas não se constituiu um problema porque já tinha programado para dedicar-me a elas no primeiro semestre, mas a profusão e a velocidade de textos a serem lidos e resumos a serem feitos deixaram-me um tanto confusa.

    Não que os assuntos fossem desinteressantes, mas não tinha tempo hábil para maturar nada. Era impossível efetivar algum tipo de conhecimento mais profundo e crítico sobre qualquer tema ou conteúdo dado. A impressão é que estava imersa no velho dilema: quantidade é melhor do que qualidade? Pensei: Tudo bem. Servirá para um aquecimento na sistematização dos estudos.

    Mas foi a disciplina SPA³ que se revelou a mais intrigante: um misto de terapia em grupo e aula/seminário. No primeiro dia, a turma sentada em círculo, e a orientação da professora Cássia Lopes⁴ foi que deveríamos ouvir a música Peixe⁵ de Caetano Veloso, que traz em sua letra a metáfora da imagem do peixe refletida dentro da água: peixe/deixa eu te ver peixe/verde/deixa eu ver o peixe/vi o brilho verde/peixe prata, e escrever palavras que remetessem às imagens produzidas pela música e por nossas pesquisas.

    Diante desse estímulo/provocação, paralisei. Não consegui articular no tempo solicitado uma imagem que metaforicamente representasse a minha pesquisa. Alguns colegas começaram a descrever as que articulavam com suas pesquisas. Ouvir tudo aquilo mexeu demais comigo. Algumas descrições poéticas, outras engraçadas, ainda outras herméticas e até excêntricas.

    De repente, alguém falou que estava em dúvida sobre se o tema e objeto que tinha ingressado no curso seria um estudo que ainda o estimularia. Outra pessoa, um ano adiantada no curso, entre lágrimas, confessou estar sem conseguir escrever a dissertação devido a questões pessoais. Esses relatos foram verdadeiramente o estímulo/provocação que precisava. Quando chegou a minha vez de falar, deixei escapar quase sem querer a palavra: conflito. Expliquei que estava em um momento confuso por estar com um espetáculo em cartaz, estava totalmente envolvida no processo e totalmente arrebatada também. Todos surpresos. Mas, talvez, quem mais ficou surpresa com a minha revelação tenha sido eu mesma.

    Em um breve comentário, relatei a possibilidade de transformar minha pesquisa na investigação do processo de adaptação de texto narrativo/romance para o teatro, no contexto educacional, com o objetivo de incentivar o ensino de Dramaturgia, e, consequentemente, estimularia também a formação do aluno/leitor. Fiquei surpresa com essa atitude porque não tinha absolutamente pensado nisso antes. Apenas tinha percebido que o objeto de estudo ao qual ingressei no curso necessitaria de um recorte ou custaria uma disponibilidade que não sabia se conseguiria dar conta no tempo normal exigido. Houve, por parte da professora e da turma, uma espécie de compreensão e motivação em relação à súbita declaração, a qual, momentaneamente, encheu-me de segurança para seguir a nova empreitada.

    Lembro-me bem da provocação da professora: Você estudou dramaturgia na escola?. Durante minha formação na Educação Básica não tive contato com texto dramático, assim como a maioria dos colegas e até mesmo a professora. Mas por que não inserir nos Ensinos Fundamental e Médio o conhecimento da dramaturgia, já que se trata de um dos gêneros literários ou poéticos? Além de fazer essa provocação, a professora Cássia me indicou o livro A Formação do Leitor Literário, de Teresa Colomer, como uma referência para a pesquisa.

    Tudo isso foi muito importante para a construção do recorte ou do novo objeto de estudo e deste trabalho.

    Resolvi de imediato que só iria ter a primeira conversa com o professor/orientador quando conseguisse elaborar algo mais concreto sobre o novo objeto de interesse. Mas, um dia desisti da ideia inicial de discorrer sobre a adaptação do romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, para o texto dramático História de Uma Lágrima Furtiva de Cordel, que culminou no espetáculo em que estive envolvida nos primeiros dias de aula.

    A priori pretendia analisar a utilização dessa adaptação nos processos de oficina que realizei desde 2009, mas, a essa altura, já tinha terminado a temporada e, com isso, também se foi o meu interesse. Tinha uma certeza: desejava continuar na linha de pesquisa que aborda processos educacionais, por acreditar que seria minha maior contribuição, no momento, para a instituição acadêmica à qual estava vinculada. Naturalmente, lembrei-me de uma atividade realizada em 2007 quando era professora da disciplina Artes/Teatro, inserida na matriz curricular, com alunos do Ensino Fundamental, da sétima e oitava séries, no Colégio Joan Miró, da rede particular de ensino.

    Foi assim que surgiu o desejo de produzir A Travessia do Narrativo para o Dramático, a adaptação de Capitães da Areia, de Jorge Amado, para Meninos do Asfalto, no contexto educacional. Sentia-me extremamente estimulada com a nova perspectiva. Entrei em contato com a coordenação e direção do Colégio onde lecionei, para participá-los do meu interesse e, também, saber se consentiam com a possibilidade de transformar a atividade realizada em 2007 com os alunos em material de estudo da pesquisa do mestrado em curso. Diante da resposta positiva, senti-me ainda mais segura em prosseguir. A escolha dessa atividade, dentre as inúmeras que poderia optar, deu-se por considerá-la uma das mais produtivas no que se refere à práxis pedagógica e à maturidade profissional.

    Iniciei, da mesma maneira, a busca de imagens, de ideias, de palavras e de conceitos para repensar o projeto e selecionar os teóricos da área de educação, da teoria da dramaturgia e da pedagogia do teatro os quais considero de extrema importância para a base e articulação deste novo estudo.

    Em alguns momentos da escrita sentia-me estimulada. Em outros, sentia-me prestes a despencar de abismos que eu mesma criava. Foi, então, que chegou em minhas mãos, por meio da disciplina Pesquisa em Artes Cênicas, sob a orientação da professora Angela Reis⁶, um texto denominado O Olho e a Névoa – Considerações sobre a Teoria do Teatro, de Ângela Materno. Logo na primeira leitura fiquei inquieta.

    Li várias vezes e a impressão foi a de que alguém escreveu algo muito próximo da realidade em que me encontrava, pensei. Um trecho logo na primeira página, de Samuel Beckett, como uma espécie de epígrafe, deixou-me intrigada:

    Isso, à primeira vista, parece claro. Mas, na medida na qual os olhos se detêm, vai ficando obscuro [...] Restam ainda os tênues lampejos de luz e a agitação. A busca cega e indefinida da mente. Incessante. (Materno, 2003, p. 31)

    Metaforicamente, era a tradução do que sentia.

    Vários trechos a seguir iam se encaixando diante dos meus olhos; a busca pela compreensão das lacunas, dos sentidos, das contradições, das diferenças, das semelhanças e das reflexões críticas dos textos. Sobre isso, Materno destaca:

    Dar a ver é produzir disjunções e espaçamentos na aparente inteireza e organicidade do objeto, abrir lacunas em sua espessura, estabelecer suas diferenças e antinomias internas, flagra o espedaçamento e obscuridade do visível implicados em tudo o que se mostra. Dar a ver é abismar (Ibid., p. 32)

    Na medida em que lia tal texto, estabelecia conexões com minha formação acadêmica, a trajetória artístico/pedagógico/profissional e o momento atual no mestrado. As questões eternas sobre a teoria e a prática trouxeram lembranças de vários embates que tive comigo mesma e com os professores durante o percurso na Universidade. Acredito que, no meu caso, partir da prática, da experiência, estimula-me a buscar compreensão teórica. Um dos trechos do texto de Materno (2003) sinaliza de maneira esclarecedora o cruzamento da prática com a teoria:

    Mas se o pensar teórico, no esforço de visualização de seus objetos (sejam eles o teatro, a literatura, o conceito de imagem, etc), caminha de modo tateante entre interrupções e recomeços é porque ao mesmo tempo em que não deve se deter no já alcançado (no já estabelecido), mas sim refundar sua perspectiva a cada confronto com novas paisagens e outros olhares, ele também precisa deter o movimento das coisas para que elas possam se tornar visíveis. (Ibid., p. 33)

    Diante dessas considerações, observo que a minha névoa foi proveniente da dificuldade ainda encontrada nas pesquisas acadêmicas na área de Artes Cênicas em confrontar-se, por um lado, com a teoria, como Materno destaca nesse trecho que situa exatamente o momento inicial de construção deste livro (2003, p. 36):

    (...) como a pedra no caminho, ou como o rochedo que, no meio do rio, obriga as águas a refluírem e os pensamentos saltarem de seus leitos e pensarem sobre seus próprios cursos, a teoria provoca, não raramente, desconforto, suspeitas (...)

    e, por outro lado, o desafio de qualquer pesquisador da área na busca de um método que equilibre a prática e a teoria.

    Para isso, trago este trecho de Fernando Pinheiro Villar e José da Costa, que aborda a importância do pesquisador descobrir o caminho que o conduzirá nessas espécies de pesquisas:

    Esta organização prévia para alcançar o que irá se transformar algumas ou inúmeras vezes – ou mesmo ser abandonada – no percurso da pesquisa é o método, o caminho pelo qual se atinge o objetivo. O método pode ser visto como um modo de ação, uma ordenação de etapas de procedimento(s) para a averiguação de um pensamento, fenômeno, desempenho ou realidade. (Villar, Costa, 2006, p. 132).

    Acredito, dessa forma, que todas essas considerações feitas podem ser relevantes para os prováveis leitores de pesquisas que abordem estudos acerca do ensino de Teatro nos contextos educacionais e, da mesma maneira, contribuir para que outros pesquisadores percebam por meio do processo de construção inicial deste estudo, algum caminho que possa ajudá-los a enfrentarem as suas névoas.

    Optei pelo termo travessia para representar parte do título deste livro por conta de seu foco investigativo, a análise da adaptação de texto narrativo⁷ para texto dramático⁸, já que o significado da palavra, segundo Ferreira (p. 685, 2002) é o ato ou efeito de atravessar região, continente, mar, etc.

    Desse modo, observei que a prática desenvolvida com os alunos, em 2007, da 7ª e 8ª séries do Colégio Joan Miró, na cidade de Salvador, capital da Bahia, assemelha-se com a situação de um barco que sai de um porto para outro, com uma tripulação, com desafios, com conquistas e com dificuldades, portanto, é uma espécie de travessia de um gênero para outro. Também ressalto que a obra de Jorge Amado, Capitães da Areia, o texto/base, traz uma introdução após o prólogo⁹, no qual se percebe a presença do mar no romance e da rotineira travessia marítima, como se pode verificar neste trecho:

    Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousavam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes e pintados de cores, para a aventura das travessias marítimas (Amado, 2008, p. 27).

    Diante do processo dramatúrgico realizado neste livro, escolhi o termo da adaptação por ter sido o utilizado com os alunos, em 2007, na atividade interdisciplinar entre Artes/Teatro e Língua Portuguesa. No terceiro capítulo deste livro,

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