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Peças regionais
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E-book285 páginas2 horas

Peças regionais

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Sobre este e-book

O segundo volume do Teatro de Luiz Marinho encerra a reprodução das peças regionais do dramaturgo com Viva o cordão encarnado, comédia em dois atos, escrita em 1965; A promessa, comédia em três atos, de 1983; e A estrada, de 1994, peça em três atos: drama, tragédia e comédia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de fev. de 2019
ISBN9788578587475
Peças regionais

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    Peças regionais - Luiz Marinho

    Ficha catalográfica

    Copyright © 2019 Luiz Marinho

    Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Direitos reservados à

    Companhia Editora de Pernambuco – Cepe

    Rua Coelho Leite, 530 – Santo Amaro

    CEP 50100-140 – Recife – PE

    Fone: 81 3183.2700

    M338t

    Marinho Filho, Luiz, 1926-2002

    Teatro completo : peças regionais / Luiz Marinho ; organização, introdução e notas: Anco Márcio Tenório Vieira. – Recife : Cepe, 2019. v. 2.

    1. Teatro brasileiro – Pernambuco. 2.

    Teatro – Pernambuco. I. Vieira, Anco Márcio

    Tenório. II. Título.

    CDU 869.0(81)-2

    CDD B869.2

    PeR – BPE 19-30

    ISBN: 978-85-7858-747-5

    Viva o cordão encarnado foi escrito em 1965. Quatro anos depois, em 2 de dezembro de 1969, recebeu os prêmios Othon Bezerra de Mello de Teatro, da Academia Pernambucana de Letras, e da Associação de Críticos de Pernambuco. Em 1970, foi agraciado pela Academia Brasileira de Letras com o Prêmio Artur Azevedo. Em janeiro de 1968, Viva o cordão encarnado subiu ao palco do Teatro de Santa Isabel pelo Teatro Universitário de Pernambuco (TUP), sob a direção de Clênio Wanderley. Entre os 20 atores que compunham a montagem, estava o próprio Luiz Marinho. Com o apoio da Reitora da UFPE, do então prefeito do Recife, Augusto Lucena, e do então governador do Estado, Nilo Coelho, Viva o cordão encarnado participou do V Festival Nacional de Teatro de Estudantes, que foi realizado entre os dias 28 de janeiro e 8 de fevereiro, no Rio de Janeiro. Luiz Marinho foi agraciado com o prêmio de melhor autor do Festival de Estudantes.

    Em setembro de 1971, Otto Prado dirige Viva o cordão encarnado. No elenco, Luiz Mendonça. A peça, patrocinada pela Secretaria de Educação e Cultura do Recife, foi montada para homenagear a Semana da Pátria. Em seguida, ela se apresenta no Teatro Deodoro da Fonseca, em Maceió. Em 15 de abril de 1974, Luiz Mendonça dirige a comédia de Marinho no Teatro Dulcina, em Copacabana, em formato de musical, e com 23 atores. Sucesso de crítica e de público, diretor e autor recebem, em 1975, o Prêmio Molière, outorgado pelo Governo da França. Com o prêmio, Marinho faz sua primeira e única viagem ao exterior, onde, com sua esposa, visita Paris (faz palestra na Universidade de Toulousse) e Roma. Ainda em 1975, Luiz Mendonça viaja com sua peça para São Paulo e, depois, para o Recife e João Pessoa. No Recife, Valdemar de Oliveira denuncia a encenação de Mendonça por ofender as tradições populares, com transfigurações constantes. O que motiva a indignação do diretor do TAP, é que as pastoras estavam se apresentando de maiôs e a Diana de biquíni. Valdemar de Oliveira pede ao Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco que institua uma censura cultural contra a encenação de Mendonça. O Conselho, por sugestão do historiador Flávio Guerra, faz uma representação na recém-fundada Comissão de Proteção ao Folclore. Luiz Marinho sai em defesa de Luiz Mendonça. Segundo Marinho, o diretor de Viva o cordão encarnado "(...) foi muito criticado quando montou a minha peça (...). Reclamaram de Luiz Marinho porque ele permitiu ‘uma coisa daquela’, mesmo fazendo parte da Comissão de Folclore de Pernambuco. Acontece (...) que Luiz Mendonça não se propôs a mostrar o folclore nordestino. Ele me pediu permissão para tornar a peça um musical, por isso (eu) dei autorização".¹ Como se poderia prever, a representação do Conselho Estadual de Cultura junto à Comissão de Proteção ao Folclore não teve nenhum resultado.

    Luiz Mendonça ainda voltará a dirigir Viva o cordão encarnado duas vezes. Uma, no dia 27 de agosto de 1986, quando a Fundação de Cultura Cidade do Recife abre, no Teatro de Santa Isabel, uma exposição para comemorar os seus 50 anos de teatro (ator e diretor) e os 25 anos de Luiz Marinho como autor teatral. Por ocasião do evento, a companhia Práxis-Dramática, que também comemorava 10 anos como produtora cultural, encena, com direção de Mendonça, Viva o cordão encarnado. Seis anos depois, Mendonça volta a dirigir a comédia de Marinho, agora no Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro, em uma produção da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL).

    Entre 17 e 31 de agosto de 1976, o Recife sedia a 1a Mostra de Teatro Amador de Pernambuco. O Clube de Teatro de Pernambuco encena, sob a direção de Lúcio Lombardi, Viva o cordão encarnado, no Teatro de Santa Isabel. No mês seguinte, em uma promoção do Teatro de Amadores do Cabo (cidade da Região Metropolitana do Recife), a peça é encenada no palco do Sesi. Em 1o de agosto de 1981, Viva o cordão encarnado sobe ao palco do Cineteatro Recreios Benjamin, em Timbaúba. Com direção de Leandro Filho, a encenação fica a cargo do Clube de Teatro de Pernambuco.

    Em abril de 1997, o Grupo de Teatro dos Economiários Aposentados de Pernambuco (Gteape) encena a comédia de Luiz Marinho com direção do próprio Marinho, tendo como assistente de direção Zailde Marinho Falcão, sua esposa. O texto representa Pernambuco no V Fenearte (Festival Nacional de Representação Teatral), no Teatro de Bolso Lima Filho, em Maceió. Em novembro de 1997, os alunos do Curso de Técnicas de Interpretação Teatral do Espaço Cultural Arcozelo, sob a direção de Rogério Costa, ator do TAP, encenam no Teatro Valdemar de Oliveira duas peças de Marinho: Viva o cordão encarnado e A afilhada de Nossa Senhora da Conceição. A peça fica em cartaz até o fim de dezembro daquele mesmo ano. Por fim, em janeiro de 1999, o ator e diretor Manoel Constantino leva ao palco da Cooperativa de Arte e Cultura Arlecchino o premiado texto de Marinho. Depois do Carnaval, a peça retorna em março do mesmo ano em nova temporada, agora no Teatro Valdemar de Oliveira.

    No dia 28 de março de 2002, Antônio Guedes, diretor da Companhia do Pequeno Gesto, dirigiu uma leitura dramatizada de Viva o cordão encarnado no Teatro do Sesc de Santo Amaro, dentro do projeto Todos Verão Teatro, promovido pela Federação de Teatro de Pernambuco (Feteape), que homenageava a memória de Luiz Marinho (morto em 3 de fevereiro daquele ano) e o ator e diretor João Ferreira. Em 19 de agosto de 2012, dentro da 10a edição do Festival Estudantil de Teatro e Dança (Recife), a Theatros e Cia. Produções Artísticas, sob a direção de Marcos Portela, encena, no Teatro Apolo, Viva o cordão encarnado.

    Viva o cordão encarnado foi publicado em 1969 pelo Instituto do Açúcar e do Álcool e pelo Museu do Açúcar (Recife), com prefácio de Valdemar de Oliveira. Em 1999, conheceu uma nova edição, agora dentro da Coleção bastidores: textos de teatro, Natal, Rio Grande do Norte, ano 1,

    no 2. Esta edição é uma versão condensada da versão príncipe. Para este volume, usamos a versão de 1969.


    1 In ALMEIDA, Arlindo. Luiz Marinho: antigamente o teatro era melhor. A União, João Pessoa, 16 de agosto de 1977, 2o Caderno, p. 1.

    Este livro é dedicado muito especialmente ao meu pai e meus tios (os meninos do coronel João de Nãna) que muitos pastoris e samba de negro acabaram naqueles mundos de Nazaré, Goiana e Timbaúba.

    O autor

    Homenagens:

    Ao compadre Evandro Rabelo

    Ao doutor Luiz Oiticica

    Personagens, atores e corpo técnico do programa de estreia de viva o cordão encarnado, apresentada no Teatro de Santa Isabel, Recife, em 17 de janeiro de 1968, pelo Teatro Universitário de Pernambuco (TUP).

    Cabo Nestor: Jones Mello

    Vicência: Ruth Bandeira

    Heronides: João Ferreira

    Maria Não Enjeita: Marlene Santana

    Dora: Diva Nise

    Josias: Marlos Urquiza

    Dudu: Marcelo Teixeira

    Berenice: Lourdes Flório

    Dapenha: Karlise Pinto

    Chicuto: Nelson Alexandrino

    Delegado – Pai: Sandoval Cavalcanti

    Sacristão – Valter: José Antonio Accioly

    Boa Tapa: Wiberto Guerra

    Zulmira: Márcia Cisneiros

    Zefa: Maria Rita Freire

    Mané Fozinho: Paulo Ferreira

    Romeu: Luís Carlos

    Soldado – Rapaz: Sílvio Belo

    Juca: José Geraldo W.

    Cenário e guarda-roupa: Janice Lôbo

    Execução guarda-roupa: Estelita Wanderley

    Maquinaria: Aluísio P. de Santana

    Contrarregra: Nelson Alexandrino

    Maquilagem: Ana Campos Lima

    Programa: José Anacleto Elói

    Músicos: Valdemiro de L. (clarinete)

    Severino A. (trombone)

    Luciano P. (bateria)

    Direção: Clênio Wanderley

    PERSONAGENS

    Cabo Nestor

    Vicência

    Heronides (Velho matraca)

    Maria Não Enjeita

    Dora

    Josias

    Dudu

    Berenice

    Dapenha

    Chicuto

    Delegado

    Sacristão – Valter

    Boa Tapa

    Zulmira

    Zefa

    Mané Fozinho

    Romeu

    Soldado – Rapaz

    Juca

    Três músicos

    Caro espectador, antes que o pano se abra, quero te pedir desculpas pela linguagem um tanto licenciosa, assim como por algumas situações um tanto vexatórias que irão surgir daqui a pouco em nossa peça... Lembro-te, entretanto, que esta é uma peça sobre pastoril, cuja praxe é: Até a meia-noite, dá pra as famílias... de uma hora em diante... Bem, prometo-te que à meia-noite em ponto nossas pastoras oclarão.

    As músicas desta peça foram recolhidas em Recife, Goiana, Pontas de Pedra, Timbaúba (Pernambuco) e Canguaretama (Rio Grande do Norte).

    PRIMEIRO ATO

    Um quarto humilde de teto baixo, mas relativamente grande, onde residem Heronides e Vicência. Ao fundo, uma janela irregularmente mais alta que a porta, que é cortada horizontalmente e com boa fresta. Uma cama, uma mesa grande e uma menor, encostada à parede e onde se bota tudo: fogareiro, panelas, pratos, feira, quartinha, etc. Pelas paredes: vestidos, soutiens, combinações, etc., e um terno numa ombreira; bem perto da cama, uma calça de homem pendurada no prego. Além do quarto, pode-se ver, ao fundo, o mesmo trecho de rua, mais afastado, que irá servir de fundo para o segundo ato.

    A peça começa com trovador da plateia cantando a todo pulmão e se acompanha ao violão. O palco estará às escuras, só depois que o público se familiarizar com o trovador é que a luz irá se sentindo, passeando pelos detalhes no quarto (as roupas nas paredes, a mesa etc.) até encontrar a cama onde Heronides, apenas de calção, está dormindo, virado para a parede, enquanto Vicência, de robe, está sentada na mesma cama e ouve religiosamente, com suspiros, a voz do trovador. Este vem fardado, porém, sem o quepe. É o cabo Nestor.

    Cabo

    (Cantando)

    "Vi-te, era noite, a lua descorada...¹

    Brilhava nas paragens luminosas

    E a noite estava toda embalsamada,

    Porque exalavam no canteiro as rosas!

    Das esferas azuis, de etéreas pagas

    A lua descia cristalina, em jorros:

    Ao longe as águas sem rumor das vagas,

    E a noite estava todas embalsamada

    (O cabo irá subindo no palco e se perdendo pelas laterais.)

    Quando te vi, quando me viste, amamos...

    Branca, não sei se recordas... quando

    Era a terra um rosal e, pelos ramos,

    O mês do incenso ia desabrochando!..."

    (Vicência, de súbito, lembra-se de qualquer coisa, e apavorada olha para a porta e sobressalta-se. Olha Heronides. Salta da cama e rápida vai enfiar um pano vermelho pela fresta da porta e suspira aliviada. Quando se volta, dá com Heronides já sentado na cama. O cabo já está cantando mais ou menos perto da porta. Heronides levanta-se e retira um urinol debaixo da cama. Abre a porta da janela e joga o líquido do vaso no trovador. Vicência está estática.)

    Cabo

    (Cantando)

    Amamo-nos e vivemos docemente,

    Sobre a terra cheirosa, erma de escolhos,

    E eu me banhava... (Água, impacto.)

    Heronides

    Pois lá vai o banho! (Joga tudo e da porta grita:) Vá latir na porta da mamãezinha, seu fela!!!

    Vicência

    (Com um acesso de riso) Tá bem, tá bem, tá bem... Ai meu Deus!...

    Heronides

    (Rindo também) Saiu correndo, levou uma topada... Quebrou o violão... (Ri mais.)

    Vicência

    Pare, pare, pare pelo amor de Deus! (Ri mais.)

    Heronides

    E o pinico caiu certinho na cabeça dele. (Estronda de rir.)

    Vicência

    Pare, pare, senão eu morro! Ai que dor! (Ri doidamente) Ai! Ai, ai, ui!

    Heronides

    (De repente, sério) Quem será? Parou aqui! Você estava em pé na porta... Olhando... (Avançando) Quem é? Vamos, diga já!

    Vicência

    (Morta, mas aparentando calma) Você parece que tem esterco de galinha nessa cabeça, homem! Com certeza eu estava na porta para abrir pra ele entrar... E depois lhe apresentar, não é, seu idiota?

    Heronides

    Sim, mas o que foi que você foi fazer na porta? Responda!

    Vicência

    Deixe a porta aberta por causa do calor... (Começa a chorar) Eu feito uma besta, fico tocaiando... Acordada, com pena de fechar, e ainda por cima, abanando... Quando acabar, você... (Chora e depois parando) Foi quando o homem começou a cantar e eu, com medo, fui fechar... (Chora novamente – Berrando.)

    Heronides

    Ô meu Deus! Tava vigiando o sono do papai!!! Vize Malia! Num sole mai não! Chegue! Chegue!

    Vicência

    Você sabe que estou no mês perigoso, o sétimo, não posso ter contrariedade! (Continua o choro.)

    Heronides

    (Aproximando-se e baixando a cabeça) Dê aqui em papai, dê!

    Vicência

    Faz 10 anos que a gente peleja pra ter esse filho... Quando é agora... Você... (Chora muito.)

    Heronides

    (Abraçando) Não sabe que homem é assim mesmo?

    Vicência

    Você sabe que esse menino apareceu abaixo de promessa! Quer jogar tudo fora, quer? (Chora) Quer? (Ficando séria) Peça três vezes perdão a São Raimundo! Vamos! Peça perdão a São Raimundo!

    Heronides

    (Se ajoelha em frente a Vicência e com a mão pedindo a bênção para o céu, repete) Perdão, São Raimundo! Perdão, São Raimundo! Perdão, São Raimundo!

    (À proporção que for falando, a luz irá morrendo. Quando a luz acende, Vicência está sozinha. É de manhã. Chora, enquanto lava umas xícaras. Maria Não Enjeita entra e ela procura se recompor. Maria vem com novidades e nada percebe a princípio.)

    Maria

    Menina... Tu não sabes, Zulmira?... Passou por uma! Ave, Maria, eu acho que eu morria! Quer dizer, não morria não, porque eu não me passava pra isto!...

    Vicência

    Que foi?

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