O Céu Também Chora

De Maria Catarina Cavaco

“O Céu Também Chora” é um livro que te elucida sobre aspetos sociais e pessoais como a ansiedade, a depressão, o que é viver em ti, descobrir-te e, acima de tudo, permite-te saber que não estás sozinho na tua jornada.

• Idioma: Português
• Editora: CORDEL D' PRATA
• Data de lançamento: 20 de abr. de 2021
• ISBN: 9791220294768

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David.

1.

Aqui estou eu, agarrada aos meus sentimentos de revolta que a vida se encarregou de carregar junto a mim durante tantos anos. A mágoa de viver em fases inconstantes e desequilibradas arrasta-se até hoje. Por algum motivo, nunca passa, porque o tempo não perdoa nem tem pena de todas as lágrimas. Se lhe dissesse o quanto me magoa por vê-lo passar, se calhar abrandava, e o destino em que deposito tanta fé trataria de resolver as coisas. Aí sim, o tempo poderia voltar a demorar as infinitas horas no meu relógio.

Horas, longas e inacabáveis horas… como é que eu vos poderei controlar se sinto que nem de mim própria tenho controlo…? É como se eu tivesse caído em mim própria e sem escadas nem tão pouco corrimões onde me pudesse agarrar.

2.

Por muitos dias na minha vida, pensei que a felicidade era algo que devíamos procurar. Percebi agora que a felicidade se cultiva.

Tal como as flores, também as pessoas precisam de se regar diariamente, mas sempre na quantidade certa. Tal como as flores, também as pessoas precisam de exposição, ou seja, precisam de ouvir comentários de outras pessoas como forma de ajudá-las a construírem uma imagem mais forte de si próprias, tornarem-se coloridas. Tal como as flores, também as pessoas precisam de cuidado.

É isso que falta no mundo atualmente: cuidado. Todos se tratam como balas, num mundo onde todos somos flores.

3.

Hoje, enquanto vasculhava álbuns antigos de 2015 e 2016, percebi que cresci. Cresci, mas apenas quatro anos se passaram. A minha mente cresceu comigo. Vejo o mundo de forma diferente. Vejo pessoas de forma diferente.

Talvez se toda a gente pensasse na sua vida há quatro anos, teriam uma imagem muito diferente da realidade. E, se há quatro anos alguém me dissesse que a minha vida estaria assim neste momento, eu não acreditaria.

Onde estavas tu há quatro anos?

4.

Olho ao meu redor.

Vejo uma folha de papel e penso no que ali caberá. Numa folha de papel cabe um desenho de uma criança com saudades da família unida. Numa folha de papel cabe uma carta de amor escrita com todo o coração para alguém distante. Numa folha de papel cabe um texto meu. Numa folha de papel cabe uma conspiração. Numa folha de papel cabe um dia escrito à noite. Numa folha de papel cabe uma poesia.

Se prestássemos atenção aos detalhes, seríamos tão mais felizes…

5.

As pessoas pressionam-nos muito para sermos o ser humano perfeito, o amigo perfeito, o companheiro perfeito, o filho perfeito, o irmão e o neto perfeito. E a verdade é que queremos sempre corresponder às expectativas das pessoas que nos amam e que nós também amamos. Queremos vê-las felizes e queremos ser o motivo da sua felicidade, porque não há sensação melhor do que a de fazer outra pessoa feliz.

O pior é quando queremos agradar e acabamos por nos esquecer que também precisamos dessa atenção. Se dermos tudo o que temos, ficamos sem nada para nós. E é aí que dói. E aquela frase do amar não chega quando não se ama o suficiente nos faz sentido. Mas não há