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Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol
Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol
Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol
E-book477 páginas6 horas

Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol

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Sobre este e-book

O Brasil voltou a discutir uma nova legislação para incentivar a transformação dos clubes de futebol de associações sem fins lucrativos para sociedades empresárias, mais de vinte anos após a promulgação da Lei Pelé. O livro "Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol" busca trazer uma série de análises alternativas sobre o tema.

Aliando pesquisas acadêmicas e relatos de movimentos de torcedores de Chile, Argentina, Portugal e Espanha, a obra traz um quadro amplo e diverso de entendimentos sobre os verdadeiros impactos da entrega dos clubes a grupos privados.

Os textos da obra desconfiam e contestam, a partir de casos concretos, os mantras da profissionalização, da eficiência gerencial, da atração de investimentos, da transparência nas contas, da boa governança corporativa e do ganho de competitividade em campo, estabelecendo um quadro real e pouco animador sobre a atual situação dos clube-empresa no mundo.

Analisam também o perfil geral dos grandes proprietários de clubes em todo o mundo, cujos objetivos geopolíticos expõem uma indústria do futebol dominada por interesses muito distantes de uma lógica tradicional de mercado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de mai. de 2021
ISBN9786500193947
Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol

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    Pré-visualização do livro

    Clube Empresa - Irlan Simões

    00 - Rosto

    clube empresa

    Abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol

    Organização

    Irlan Simões

    Tradução

    Guilherme Jungstedt, Gustavo Mehl e João Ricardo Pisani

    Design

    Éric Chinaglia

    Ebook

    ISCS

    ISBN

    978-65-990834-2-6

    ©Editora Corner, Brasil, 2020

    Sumário

    Apresentação

    Introdução

    Clube-empresa: histórico, impactos reais e abordagens alternativas

    Irlan Simões

    Parte I - Análises

    Capítulo 1

    A Ley de Deporte na Espanha e o modelo de sociedad anónima deportiva: um balanço dos últimos 30 anos

    Daniel Ferreira & Victor de Leonardo Figols

    Capítulo 2

    Acabou o amor: o processo de divórcioentre clube e SAD em Portugal

    Fernando Borges

    Capítulo 3

    Sociedades anónimas deportivas no Chile: o declínio do futebol social

    Sebástian Campos Muñoz

    Capítulo 4

    As associações civis desportivas no futebol argentino: privatizações e resistências

    Verónica Moreira & Rodrigo Daskal

    Parte II - Torcedores

    Capítulo 5

    Sevilla Fútbol Club: a luta pelo patrimônio dos seus torcedores

    Accionistas Unidos del Sevilla Fútbol Club

    (Moisés Sampedro Contreras)

    Capítulo 6

    Clube de Futebol Os Belenenses: síntese histórica de um Clube grande e histórico em Portugal

    Assembleia de Sócios de Os Belenenses

    (Edgar Macedo & Rui Silva)

    Capítulo 7

    Club Universidad de Chile: recuperar o clube para os seus torcedores, superando o fracasso das S.A.

    Asociación de Hinchas Azules

    (Gabriel Ruete, Daniela Tapia, Sebástian Diaz,

    Santiago Rosselot & Daniel Albornoz)

    Capítulo 8

    Racing Club de Avellaneda: os torcedores e a mercantilização do futebol

    Movimiento Racing es de su Gente

    (Lucía Ravecca)

    Parte III - Outras questões

    Capítulo 9

    A raíz do problema: o declínio do futebol brasileiro após o período das parcerias dos anos 1990

    Marco Sirangelo

    Capítulo 10

    O modelo societário do futebol alemão: uma referência de sucesso em questão

    Carles Viñas

    Capítulo 11

    Faixa, rota e bola: o futebol como instrumento de soft power chinês

    Emanuel Leite Junior & Carlos Rodrigues

    Capítulo 12

    Soft power e futebol: os casos de Catar, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita

    Emanuel Leite Junior & Carlos Rodrigues

    Capítulo 13

    Multi-club ownership: um novo estágio da globalização dentro do futebol

    João Ricardo Pisani

    Sobre os autores

    Apresentação

    Irlan Simões

    Dentre os esportes coletivos, o futebol é o esporte dos coletivos. Sua dimensão sociocultural, sua capacidade de mobilizar afetos, de formar identidades, de gerar pertencimento e de constituir comunidades não encontra comparação cabível entre outras práticas esportivas. O futebol de hoje é o resultado de um jogo que se moldou por causa – e pelas mãos – desse aglomerado que no Brasil chamamos de torcida.

    De tempos em tempos os públicos do futebol voltam a ganhar novas significações. Sua rica diversidade convive em conflito nesse universo de consumo intenso e quase ilimitado de futebol. A oferta de jogos 24h por dia, 7 dias por semana, 12 meses por ano, ganhou, na última quadra histórica, o reforço da elaboração ininterrupta de produtos consequentes à indústria do futebol, como os mercados de videogames, de produção audiovisual, editorial e de bens supérfluos portadores das suas marcas.

    Afinal, jogadores e emblemas de clubes constituem-se como marcas indissociáveis do produto futebol. Estrelas mobilizam audiência para os clubes, que valorizam as imagens a serem vendidas: o espetáculo enquanto produto central mobiliza olhos, mentes e corações a serem oferecidas para o bombardeio publicitário em uma indústria esportiva cada vez mais midiatizada e desgarrada do esporte em si. O consumo do evento jogo de futebol deixou há tempos de ser a sua única linha de atuação.

    Há o torcedor e há o consumidor de espetáculo. No eco das reflexões que o compõem, esse livro oferece inúmeras provas de tal assertiva, contribuindo para expor como esse choque é real e presente, embora brutalmente desleal. Apartar essas duas categorias não faz desse exercício teórico-metodológico uma escolha arbitrária. Pelo contrário, oferece à discussão dessa obra coletiva as ferramentas necessárias para colocar cada coisa em seu lugar.

    Há pelo menos quatro décadas, mercantilização do futebol e culturas torcedoras estão em confronto franco em campo aberto. Não estivessem lá na fronte os torcedores, mas apenas os consumidores de espetáculos, a motivação deste livro sequer existiria. O preâmbulo da apresentação de Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol assim se justifica.

    A intenção do livro não é criticar, avaliar ou opinar sobre os projetos favoráveis aos clubes-empresa colocados em discussão no Brasil ao longo do ano de 2019.¹ Apesar de reconhecidas aqui as consideráveis diferenças entre as proposições que rivalizaram dentro da política institucional, no meio dos debates conceituais, no ambiente dos businessmen do futebol, entre dirigentes de clubes, etc., esta obra não oferece contribuições a nenhuma delas.

    Clube Empresa intenciona reunir abordagens, como o título deixa explícito, sobre a transformação dos clubes em empresas, aglutinando diferentes perspectivas, recortes espaciais e atores que compõem um amplo campo questionador a tal processo. É realizado por autores e agrupamentos com pouco ou nenhum contato entre si, que, ainda assim, estabeleceram uma série de conexões entre suas abordagens. Leituras de diferentes origens que se baseiam em casos concretos e ajudam a compreender melhor os impactos reais – materiais, não idealistas, evidenciadores e descritivos – da transformação dos clubes esportivos em sociedades empresárias.

    O que está xeque, portanto, é a própria ideia de constituir e conceber clubes como empresas. Os textos desta obra desconfiam e contestam, a partir de casos concretos, os mantras da profissionalização, da eficiência gerencial, da atração de investimentos, da transparência nas contas, da boa governança corporativa e do ganho de competitividade em campo, estabelecendo um quadro real e pouco animador sobre a atual situação dos clubes-empresa no mundo. Ao bom gosto das ciências humanas, o livro contribui para uma arqueologia dos traços ideológicos fundadores dessa concepção de um futebol de empresas, que, no ataque ao seu preponderante caráter associativo fundacional, apostou no discurso condenador da sua suposta falência e inviabilidade.

    Afinal, é preciso chamar as coisas pelo o que elas são. A longa história das narrativas contrárias ao caráter associativo e sem fins lucrativos dos clubes de futebol tem relações profundas com doutrinas políticas que coadunavam com o espírito do seu tempo. É nos anos de 1970 que essa noção mais avançada, agressiva e implacável de atuação política de futebol-negócio encontra, no desajuste financeiro circunstancial dos clubes associativos, um roteiro narrativo para despossuí-los de sua riqueza e de seu poder produtivo. A partir da década seguinte, após sua primeira vitória triunfal na Itália, essa ideia se espalha como epidemia pela Europa. O artigo introdutório de Clube Empresa foi devidamente elaborado para explicar esse processo com maiores detalhes.

    A analogia entre disseminação de ideias e propagação de vírus foi proposital. Caso este livro esteja sendo lido alguns anos após o seu lançamento, talvez o leitor seja de uma geração que não viveu o ano de 2020 e a pandemia da Covid-19, que, na altura do fechamento deste texto, havia vitimado milhares brasileiros e centenas de milhares em todo o mundo.

    Poucas eram as ideias concretas sobre os impactos da pandemia da Covid-19 sobre o futebol-negócio. Basicamente, o mundo todo parou, e eventos esportivos que inicialmente aconteceram sem público foram sequencialmente interrompidos. À medida que se tornavam alvos de críticas e eram vistos como focos de transmissão da doença, os agentes políticos e econômicos do futebol precisaram ceder à realidade. Coisa rara para uma indústria imune a crises e ao rigor da justiça...²

    A Eredivisie, a liga holandesa de futebol, se encerrou sem campeão, nem rebaixamento/promoção ao final do mês de abril, sendo negociadas apenas as classificações para as competições europeias – que sequer tinham definição sobre retorno ou continuação. Cidades importantes do continente, como Milão e Madri, noticiavam cerca de 500 mortes diárias mesmo após a fase mais aguda da contaminação.

    Em seguida, em carta enviada às ligas europeias no dia 28 de abril, a UEFA estabeleceu um prazo de 28 dias para que as entidades comunicassem suas decisões sobre a temporada 2019/20. Até aquele momento, dentre as grandes ligas, apenas o governo francês havia se pronunciado de forma mais consistente, em uma coletiva do primeiro-ministro Édouard Philippe: no cenário mais otimista, grandes eventos só voltariam acontecer após o mês de setembro.³

    No Brasil, de forma ainda mais dramática, a pandemia atingiu o andamento dos campeonatos estaduais e suas pequenas economias de salários módicos, clubes de pequena estrutura, receitas diminutas e carentes de liquidez. O campeonato brasileiro ainda torcia contra o relógio e a favor de uma solução para uma doença viral altamente contagiosa, letal e desconhecida, que não deixava margem para boas expectativas.

    A única coisa que se sentia até ali era a absoluta certeza de que a indústria do futebol não seria a mesma após a pandemia. Para o bem e para o mal. Importante anotar a surpreendente notícia (e posterior polêmica) da compra do clube inglês Newcastle United por Mohammed bin Salman, príncipe da Arábia Saudita. Por meio da mobilização de recursos do Fundo de Investimento Público do reino saudita, um novo país do Golfo Pérsico, em plena crise pandêmica – cotejada por uma grave crise do petróleo –, adquiria um clube europeu. A Arábia Saudita entrava no universo já ocupado pelos emirados de Abu Dhabi (Manchester City) e do Qatar (Paris Saint-Germain). Tema de um dos artigos desse livro.

    Sim, o futebol-negócio é obsceno. Este livro é motivado, basicamente, por esses e outros casos que fazem dessa indústria um universo insólito, grotesco, esdrúxulo, que se forma sobre a propriedade de instituições centenárias, socialmente produzidas ao longo da história.

    Era impossível arriscar qualquer prognóstico convicto do que viria pela frente no momento do fechamento do livro. Alto endividamento, ausência de recursos para pagamento de salários, rompimentos de contratos e cancelamentos de competições estavam convivendo nas mesmas páginas que noticiavam a aquisição de clubes por valores que superavam o PIB de uma dezena de pequenos países. Mais seguro voltar ao mundo pré-pandemia.

    * * *

    Estávamos em 7 de setembro de 2019, em um sábado reservado para uma sessão do Cinefoot – Festival de Cinema de Futebol, no Rio de Janeiro –, convidados por intermédio de Diogo Leal, coordenador do evento, e Leda Maria Costa, minha colega de Leme/UERJ. Na ocasião, discutiríamos o documentário A Última Final (2019), que retratava a final da Copa Libertadores de 2018 entre os rivais argentinos Boca Juniors e River Plate.

    Foi quando conheci pessoalmente Fernando Martinho, diretor do documentário e responsável pela editora Corner, já conhecida pela revista homônima e pela iniciativa de publicação do livro Futebol versus Poder. Naquela oportunidade, trocamos as primeiras ideias sobre a nova fase da editora, sobre a minha produção acadêmica e jornalística e sobre o meu antigo interesse em organizar um livro com o tema clube-empresa. Semanas depois, em outra oportunidade, oficializávamos a ideia de lançar o livro, do qual eu ficaria responsável por convidar os autores e movimentos que compõem a obra, coordenando os temas e o cronograma.

    Aquele setembro de 2019 foi marcado pelo período mais intenso das investidas midiáticas do deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), relator do Projeto de Lei n. 5082/2016. O PL, que já era conhecido como Projeto Clube-Empresa, ganhava notoriedade e surfava no prestígio e interesse do presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, que participava abertamente do diálogo com os segmentos interessados no tema.

    Na semana seguinte às primeiras ideias sobre o livro, publiquei, no site do Trivela, um artigo de título Clubes-empresa no Brasil: por um contraponto nessa conversa⁴, oportunidade que ampliou o alcance da discussão pretendida neste livro e acabou por destacar, por meio de conversas e reações de leitores, os pontos-chaves carentes de conhecimento por parte do torcedor brasileiro. Mesmo as informações e dados mais elementares sobre a transformação de clubes em empresas seguiam fora do alcance dos muitos interessados no tema.

    A bem da verdade, o debate ainda se encontrava no mesmo campo das promessas dos anos de 1990. Enquanto o mundo apresentava exemplos concretos - falências e atividades ilícitas na Itália, abandono de clubes e alto endividamento na Espanha, fracasso esportivo e financeiro no Chile, corrupção e gestão temerária na Inglaterra e desequilíbrio e concentração financeira na Áustria –, o Brasil ainda atravessava todo o ano de 2019 repetindo os mesmos mantras de 30 anos atrás, e as mesmas percepções inocentes (ou nem tão inocentes) do momento da aprovação da Lei n. 9.615/1998, também conhecida como Lei Pelé.

    Afinal, nada de novo estava sendo criado no Brasil. O projeto clube empresa apenas buscava atualizar e reformular o que já se existia em termos de legislação esportiva quanto aos modelos disponíveis para que os clubes deixassem o formato de associações civis sem fins lucrativos para se converterem em sociedades empresárias. De realmente novo, discutiam-se elementos relacionados a um novo refinanciamento de dívidas, benefícios fiscais, relações trabalhistas e um perigoso atalho para adoção de um programa de recuperação judicial para clubes endividados.

    A aprovação do texto na Câmara aconteceu no dia 28 de novembro de 2019, às vésperas do encerramento do Campeonato Brasileiro daquele ano, vencido com sobras pelo Clube de Regatas Flamengo. O texto aprovado foi o do substitutivo de Pedro Paulo (DEM-RJ), relator do texto, ao PL n. 5.082/2016, do ex-deputado Otavio Leite (RJ) e do então deputado federal Domingos Sávio (PSDB-MG), que havia herdado a autoria do projeto. Outros projetos também foram inseridos no substitutivo, que acabou por eliminar quase que inteiramente o teor do PL original, apresentando uma proposta consideravelmente distinta.

    O projeto original de Otávio Leite já buscava ganhar evidência desde o longo processo de discussão do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol do Brasil, o Profut, em 2015. O então deputado tentou inserir na discussão do programa a proposta de criação das sociedades anônimas do futebol (SAF), modelo jurídico mais complexo que tinha a intenção de criar uma série de condições mais sedutoras e controladas para que os clubes deixassem o formato de associações civis sem fins lucrativos. A proposta original de Leite e de seus apoiadores era que a criação de uma SAF fosse pré-requisito para os clubes que quisessem aderir ao refinanciamento de dívidas com a União, previsto no Profut. O ponto foi vetado pelo então Ministro da Fazenda Joaquim Levy sem grandes explicações.

    A proposta então perde força e o tema clube-empresa só é retomado quando Botafogo de Futebol e Regatas anuncia a sua pretensão de colocar em prática o projeto elaborado pela Ernst & Young Global Limited, na altura de março de 2019. A empresa é uma transnacional que opera consultorias financeiras, e havia sido contratada por dois renomados sócios da instituição: os irmãos João e Walter Moreira Salles, sócios do Itaú Unibanco, maior banco privado da América Latina. O estudo da Ernst & Young detectou uma dívida de mais de 700 milhões de reais, praticamente impossível de ser saneada pelo clube, senão por meio de capital externo. Dentre as muitas possibilidades, como era de se esperar, o projeto sugeriu ao Botafogo que se transformasse em empresa e passasse a ter acionistas. Esse é o principal fato motivador de toda movimentação explicada anteriormente.

    Após aprovação na Câmara, o PL de Pedro Paulo (DEM-RJ) estava previsto para ser votado no Senado, quando uma das inúmeras crises do governo federal atrapalha o seu andamento. Em paralelo, um novo projeto, o PL n. 5.516/2019, é apresentado sobre o tema na casa, de autoria do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O parlamentar não apenas apresentou um projeto que rivalizava frontalmente com o do seu correligionário, como também resgatou em seu texto praticamente todos os preceitos contidos no PL n. 5.082/2016. Dentre os pontos principais, a ideia de sociedade anônima do futebol, removida pelo substitutivo de Pedro Paulo.

    Na altura do fechamento deste livro, tal era a curiosa situação: o PL aprovado na Câmara, resgatado por razões burocráticas, ganhou um texto completamente distinto, e, ao seguir para o Senado, confrontou-se com um novo PL, cujo teor era fiel àquele substituído inteiramente pelo PL da Câmara. Positivamente falando, de todo esse imbróglio ao menos não se retomaram ideias de uma lei de caráter compulsório, muito frequentes nos anos de 1990. Resguardava-se uma velha jurisprudência do meio do futebol, que preserva a autonomia das associações civis.

    Apesar disso, no projeto com maior tendência de aprovação, os benefícios criados estariam apenas disponíveis se e somente se o clube promovesse sua conversão em empresa. Ao mesmo tempo em que criava uma situação de injustiça financeira para com as associações com estruturas sociais mais sólidas, ofertando ajuda estatal apenas àqueles clubes que possuíssem donos, o projeto também criava dentro dessas associações um tipo de constrangimento político que já era notado na altura do fechamento desse livro. Tradicionais grupos de poder – conselheiros e sócios com nome forte e conta bancária polpuda – viram na iniciativa legislativa um aliado de grande valia para colocar em prática antigos projetos de controle total das agremiações. A narrativa de inevitabilidade da transformação de clubes em empresas e de associados em acionistas jogava totalmente a favor das velhas oligarquias, ávidas por eliminar oposições e concorrências. As mesmas velhas oligarquias que criaram as mesmas situações amadoras que os defensores do clube-empresa sempre questionaram. A roupagem mudaria, mas as práticas e os atores não.

    Como dito anteriormente, esta obra não pretende esmiuçar ou debater tais projetos de lei. É a própria concepção de clubes como empresa que está em questionamento aqui. O breve contexto feito serve apenas como momento de localização do leitor quanto à dinâmica desses debates, nem tanto consensuais em seus pormenores. Os inúmeros exemplos globais predecessores servem como parâmetros para o Brasil, portanto, é compreensível a existência de diferentes perspectivas que emergem dentro do campo defensor da conversão de clubes em empresas. Essas distinções poderão ser melhor compreendidas na leitura sobre cada modelo escolhido pelos países aqui trabalhados.

    * * *

    "Clube Empresa" é resultado da existência e colaboração de cinco coletividades bem distintas. Uma delas é o Na Bancada, projeto criado em abril de 2018 para atuar como plataforma múltipla de conteúdo, da qual o livro em questão é uma das produções. O Na Bancada é originalmente pensado como um podcast, na ocasião em que lançava o livro Clientes versus Rebeldes: novas culturas torcedoras nas arenas do futebol moderno⁶ em São Paulo. Na sua mesa de lançamento, Matias Pinto, membro do estúdio Central 3, e também realizador do podcast O Som das Torcidas, estava entre os convidados.

    Esses projetos são parceiros no podcast SDT Na Bancada,⁷ compondo dois conteúdos distintos dentro do mesmo canal. O Som das Torcidas tem como enfoque a apresentação e discussão das músicas cantadas nos estádios de todo o mundo, tratando de clubes específicos, rivalidades ou norteando-se por um gancho temático. Complementarmente, no mesmo território de concreto, o Na Bancada faz um trabalho menos musical e mais sociopolítico, abordando temáticas que competem ao dia-a-dia dos torcedores de futebol do Brasil e do mundo, guiando-se pela proposta de um conteúdo em defesa das culturas torcedoras, de clubes democráticos e de estádios populares.

    Nesse processo produtivo conjunto e de mútuo aprendizado, ao qual se somara uma dezena de companheiros,⁸ os horizontes das abordagens, os contatos e o conhecimento sobre a realidade de torcedores de inúmeros países foram se expandindo. Sem o desenvolvimento do trabalho jornalístico exigido pelo podcast, o livro Clube Empresa não existiria: autores, personagens, casos e realidades aqui registrados foram abordados no SDT Na Bancada.

    Outra parte indispensável para a realização dessa obra é a bagagem acumulada em ambiente acadêmico. O supracitado Clientes versus Rebeldes é também fruto de uma pesquisa realizada em estágio de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Sob a orientação do Prof. Dr. Ronaldo George Helal, a pesquisa é vinculada ao Laboratório de Estudos de Mídia e Esportes (LEME/UERJ), de sua coordenação. A produção desse livro ocorreu também em meio ao processo de pesquisa de doutorado na mesma instituição, sob financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (Capes). Para além dos vínculos formais, também fica a nota de agradecimento aos colegas pelo apoio: Alvaro do Cabo, Carol Fontenelle, Camila Augusta, Clara Quintanera, Fausto Amaro, Felipe Mostaro, Juan Silveira, Leda Costa, Marina Perdigão, e tantos outros que passaram pelo LEME.

    Falando em ambiente acadêmico, Clube Empresa também contou com a generosa contribuição e divulgação do portal Ludopédio. Sempre muito atentos aos movimentos da produção acadêmica sobre futebol em seus inúmeros meandros, o portal não apenas ajuda a aglutinar e a congregar pesquisadores brasileiros e estrangeiros, como também aparece no livro como colaborador nas letras de Victor Figols de Leonardo, autor do artigo que abre esta obra, ao lado de Daniel Ferreira.

    Por fim, completa o corpo de responsáveis pela publicação de Clube Empresa a editora Corner, cuja participação já mereceu uma contextualização à parte. Sem mais delongas, vamos ao conteúdo o livro.

    * * *

    Clube Empresa foi estruturado para garantir, em duas frentes de investidas, a compreensão mais profunda das particularidades do processo de transformação de clubes em empresa em quatro localidades: Espanha, Portugal, Chile e Argentina. Os países em questão foram escolhidos por representarem, ao mesmo tempo, diversidade e proximidade com a realidade brasileira, qual modo possuem características históricas, políticas e socioculturais mais aproximadas, também se encontram em níveis bem distintos de potencial financeiro na pirâmide da indústria do futebol.

    Da parte que se aproxima do Brasil, esses países também tiveram a difusão da prática do futebol promovida por associações, clubes e sociedades fundadas em um período histórico semelhante. Em todos esses casos, essas entidades básicas da prática, ensino e competição esportiva se guiaram pelos mesmos ideais associativos, ainda que tenham constituído, por óbvio, características particularmente locais (classistas, étnicas, regionais, etc.). Atravessaram, portanto, as diferentes etapas de desenvolvimento da indústria do futebol – popularização, profissionalização, massificação e midiatização – de uma maneira que nos permite conexões facilmente assimiladas nas etapas mais recentes de empresarização.

    A diversidade geográfica e econômica, por outro lado, contribui para enxergar a complexidade do tema abordado e a necessidade de um olhar mais apurado a cada elemento do objeto. Enquanto tomamos como exemplo dois países europeus – logo, circunscritos em ambientes mercadológicos próprios, como as competições da UEFA –, também notamos suas diferentes escalas: a Espanha é uma das Big Five Leagues, o grupo das ligas mais ricas do planeta. Já a liga de Portugal disputa relevância contra forças secundárias do continente, sem deixar de se estabelecer como destino importante de atletas sul-americanos.

    A mesma relação existe entre Argentina, Chile e Brasil, países que compartilham o mesmo espaço geográfico e complexo mercadológico do futebol da América do Sul, sob o comando da Conmebol. Em termos de escalas de relevância econômica, o país andino é o mais frágil e precário, de modo que seu pioneirismo na transformação dos seus clubes em empresas não contribuiu nem minimamente para elevar o seu status financeiro, tampouco esportivo, na esfera continental.

    Aproximações e diferenças recebem influências transversais das particularidades formadas nos arcabouços legais de cada país. Associações civis podem ou não conviver com as sociedades anônimas. A depender do país escolhido, associações podem participar como acionista dessa empresa, ou mesmo deixarem de existir por força da lei. Nesse processo, o torcedor mais ativo pode se posicionar, ser percebido e se perceber de formas muito distintas, principalmente aquele que já estabelecia relações associativas mais sólidas.

    Para conseguir dar conta desse desafio, o livro conta com três partes, sendo as duas primeiras diretamente conectadas. Seguindo o método que utilizamos no podcast SDT Na Bancada, no qual produzimos conteúdos sobre todos os temas tratados neste livro, a análise político-econômica e sócio-histórica da indústria do futebol de um país deve ser acompanhada e contemplada pela experiência de torcedores organizados em coletivos, agrupamentos, movimentos, associações, etc. Partimos do princípio de que esses grupos são produtores de conhecimento e, de igual modo, representantes de um segmento que também produz o futebol. Mesmo que alijados e invisibilizados dentro desse processo, torcedores compõem uma força produtiva dos clubes, em uma relação que merece ser entendida para muito além da produção do espetáculo esportivo.

    Assim, Parte I - Análises e Parte II - Torcedores são complementares e podem ser lidas em ordem alternada, pois ambas possuem capítulos referentes às realidades de Espanha, Portugal, Chile e Argentina, respectivamente.

    Já a Parte III – Outras questões traz temas correlatos e complementares que compõem o cenário do processo de transformação dos clubes em empresas – ou do seu aprofundamento – no século XXI. São cinco artigos ao todo. Um deles é focado especificamente no Brasil dos anos de 1990, em um contexto muito importante para entender o atraso do nosso futebol com relação ao processo de empresarização. Um segundo artigo também foca especificamente na Alemanha. Os três artigos que fecham o livro, como veremos adiante, são mais aproximados quanto ao interesse nos atores políticos e econômicos que hoje dominam o futebol global. Essa trinca possui relação intrínseca com o capítulo introdutório.

    Dessa forma, os 14 artigos do livro estão organizados para que não seja necessária uma leitura em ordem de apresentação. Estão elencados sem dependência cronológica ou temática entre eles. Caberá ao leitor escolher o roteiro da sua leitura, definindo o recorte espacial/temporal/temático que convier à sua pesquisa.

    Por exemplo: para entender como o Girona FC se torna um dos clubes da holding City Football Group, mais de 25 anos após se tornar empresa graças à Ley de Deportes espanhola, destrinchada no capítulo 1, será possível estudar o processo histórico da constituição do conceito de multi-club ownership por intermédio da leitura do capítulo 13. Complementarmente, o capítulo 12 aprofunda a discussão sobre o capital do emirado de Abu Dhabi no futebol, e como isso se explica por meio da análise da geopolítica do Golfo Pérsico.

    De igual modo, o leitor poderá fazer o estudo do caso do Racing Club, descrito no capítulo 8, por meio de uma contextualização mais aprofundada sobre o futebol argentino nos anos de 1990/2000, exemplarmente construída no capítulo 4. Uma empreitada que se complementa com uma análise da crise que atingiu as economias da América do Sul, e consequentemente o seu futebol, abordada no capítulo 9.

    Conectados pela temática central do livro, cada artigo possui a sua particularidade e contribui com a composição de um quadro teórico e analítico amplo. O livro atinge seu objetivo em estabelecer leituras profundas, que trazem os pontos indispensáveis para a compreensão de cada realidade parcial da indústria do futebol e como elas se relacionam entre si. Em que pese o alto nível de globalização do futebol-negócio, é de se perceber a relativa autonomia de cada país/liga, cujas leis internas ainda são soberanas frente às determinações das entidades gestoras como FIFA, UEFA ou Conmebol.

    Isso implica que não é possível abordar um país em específico usando os mesmos óculos que ajudaram a entender outro país. Seria preciso dar atenção redobrada a três pilares, todos devidamente contemplados pelos autores convidados: 1) os aspectos político-econômicos e a posição daquele país dentro da indústria global do futebol – centro/periferia, exportador/comprador, potência geopolítica/país dependente, etc. – bem como as características particulares da regulamentação adotada para o tema; 2) as características políticas dos clubes do país – quando e como deixaram de ser ou persistiram em se manter associações civis, o grau de participação dos associados nos órgãos decisórios das agremiações, as narrativas que impulsionaram as ideias de empresarização na opinião pública, etc.; 3) as culturas torcedoras e suas reações aos projetos de empresarização dos clubes, suas consequências na relação clube/torcida em suas novas estruturas, o surgimento de novas práticas do torcer e a renovação na percepção identitária, pertenciva e participativa do torcedores.

    Enquanto organizador do livro, fiquei responsável pela produção do artigo introdutório, que serviria de pontapé inicial para as investigações seguintes. Em Clube-empresa: histórico, impactos reais e abordagens alternativas, estabeleço conceitos, sistematizações e categorizações importantes para guiar o estudo do tema em um quadro, por assim dizer, mais panorâmico. No artigo são tratados casos de clubes de distintos países que, juntos, corroboram a tese de que a propriedade de clubes de futebol não se estabelece enquanto um negócio lucrativo do ponto de vista financeiro. Contudo, como esses muitos casos ajudam a perceber, nota-se a alta eficiência da propriedade de clubes em render dividendos políticos para seus envolvidos. Em distintas esferas – política eleitoral, geopolítica ou mercado de capitais –, a tônica da propriedade de clubes é cada vez menos produção de lucro e mais produção de imagem, relações públicas e propaganda.

    A Parte I – Análises é inaugurada pelo trabalho conjunto de Daniel Ferreira e Victor Figols de Leonardo em "A Ley de Deporte na Espanha e o modelo de sociedad anónima deportiva: um balanço dos últimos 30 anos". Os dois pesquisadores brasileiros, com experiência de pesquisa em Barcelona, trazem dados e casos concretos que desenham a complicada situação do futebol na Espanha, mesmo 30 anos após a lei que obrigou os clubes a se tornarem empresas. Observaram, dentre outros aspectos, como, em 2010, os clubes acumulavam uma dívida 40 vezes maior que em 1991, em um país em que o equilíbrio financeiro e o saneamento de dívidas foram os principais motivadores da Ley de Deporte. Na segunda parte, um artigo traz em detalhes o caso do Sevilla FC de modo complementar.

    Em seguida, em Acabou o amor: o processo de divórcio entre clube e SAD em Portugal, Fernando Borges faz um apanhado geral dos efeitos da lei que, em 1996, obrigou os clubes de Portugal a estabelecerem o formato de S.A.D., em suas posteriores revisões e adequações. A partir de casos de clubes que vivem conflitos entre associação e empresa investidora na S.A.D da agremiação, Borges estabelece um quadro geral problemático sobre o futebol no país. A espinha dorsal do artigo é o clube Belenenses, caso também tratado na Parte II, mas o artigo também aborda outros casos importantes para se conhecer a empresarização à portuguesa.

    Atravessando o Oceano Atlântico, é Sebástian Campos Muñoz quem ensina sobre o processo chileno de empresarização dos clubes, no artigo "Sociedades anónimas deportivas no Chile: o declínio do futebol social. Autor de uma pesquisa sobre o tema, Muñoz lança mão de seu trabalho de jornalista para traçar um histórico dotado de depoimentos, com apurado encadeamento de fatos. O artigo permite compreender as inúmeras manobras e interesses políticos que aceleraram a votação do projeto que impôs a conversão das associações civis em sociedades anónimas deportivas profesionales" (SADP), dando nomes aos envolvidos. No capítulo 7, com foco no Club Universidad de Chile, temos outro artigo que destrincha esse contexto histórico.

    Por fim, na Argentina, Verónica Moreira e Rodrigo Daskal escrevem As associações civis desportivas no futebol argentino: privatizações e resistências. A dupla também é autora do livro Clubes argentinos: Debates sobre un modelo, do qual extrai muitas informações, atualizando-as para o contexto pós-2018: a atuação política de Mauricio Macri, presidente do país, para emplacar a aprovação do formato de empresa no futebol argentino. O ex-presidente do Boca Juniors voltou a ser derrotado, em processo anterior também explicado nesse artigo. Já no capítulo 8, a realidade argentina é discutida a partir do Racing Club de Avellaneda.

    A Parte II – Torcedores segue a sequência utilizada anteriormente, com relatos de organizações e de movimentos de torcedores, respectivamente, de Espanha, Portugal, Chile e Argentina.

    Iniciamos o relato dos torcedores com a experiência dos Accionistas Unidos del Sevilla Fútbol Club, agrupamento representado por seu presidente Moisés Sampedro Contreras, que escreve Sevilla Fútbol Club: a luta pelo patrimônio dos seus torcedores. O caso do Sevilla é muito bem-vindo por se tratar da mobilização dos chamados "pequeños accionistas. Esses antigos socios" adquiriram e mantiveram a posse de cotas minoritárias de ações naquelas SAD’s que, após a Ley de Deportes de 1990, herdaram os ativos e patrimônios das antigas associações civis. Tal categoria de torcedores-acionistas (ou acionistas de base, como se intitulam) é extremamente peculiar do futebol espanhol, uma vez que as associações foram extintas, ao contrário do que ocorreu nos três outros países abordados.

    Em seguida, já em Portugal, é a vez de Edgar Macedo e Rui Vasco Silva, representando os sócios do Belenenses, relatarem a longa contenda jurídica estabelecida entre a associação e a empresa Codecity, pela propriedade dos ativos do futebol profissional do clube do Restelo. No artigo Clube de Futebol ‘Os Belenenses’: síntese histórica de um Clube grande e histórico em Portugal, os dois sócios dos Azuis relatam de forma mais íntima a batalha dos torcedores pela retomada da agremiação e as estratégias adotadas para esvaziar de valor simbólico e sentido o time controlado pela Codecity. Dentre elas, a corajosa decisão de criar um outro time de futebol com jogadores das divisões de base do CF Os Belenenses, para recomeçar a partir da 6ª divisão de Portugal em pleno ano de centenário.

    Novamente mudando de continente, o agrupamento Asociación de Hinchas Azules escreve, a dez mãos, o artigo Club Universidad de Chile: recuperar o clube para os seus torcedores, superando o fracasso das S.A.. Histórico alvo de manipulações e interferências políticas, La U passou a ser controlada pela empresa Azul Azul S.A em 2007, após concessão imposta pela lei das SADP. Mais do que o relato das ações e das percepções dessa associação contra as sociedades anônimas, o artigo é uma verdadeira autópsia da falência do futebol chileno empresarizado. Inúmeras denúncias, fundamentadas em dados e contextualizações, nos entregam um conteúdo inspirador.

    Por fim, fechando a Parte II, Lucía Ravecca resgata o histórico da luta dos torcedores e sócios do Racing Club, da Argentina. Em seu artigo Racing Club de Avellaneda: os torcedores do Racing e a mercantilização do futebol – 1998-2008, um interessante e amplo processo de pesquisa que restabelece o cenário conflituoso que atingiu o futebol argentino na virada do século. O mote Racing es de su Gente encampado por diversas diferentes organizações de torcedores racinguistas muito explica os movimentos mais recentes de combate a uma nova investida pela sociedade anônima em 2018, como relatado no capítulo 4. Conhecer a história do Racing Club e da sua transformação em Blanquiceleste S.A, bem como sua posterior crise, é uma obrigatoriedade para se entender o rechaço dos torcedores argentinos à ideia de empresarização e a consequente defesa das associações civis sem fins lucrativos.

    Os cinco artigos que encerram o livro, na Parte III – Outras questões, trazem elementos diversos que compõem a atualidade da

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