Efeito Guardiola
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Efeito Guardiola - Manoel Martins Jr
Efeito Guardiola
O caminho até a maior campanha da
história da Premier
Manoel Martins Jr
[ 2 ]
Aos meus amigos Rafael e Evans, pela década de
parceria no ManCityBrazil.
Para minha mãe Graça, minha base e maior
exemplo.
[ 3 ]
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................... 6
TEMPORADA 2016/17 – UMA ESTREIA TURBULENTA 9
ANTECEDENTES .............................................................. 10
CHEGADAS E SAÍDAS........................................................ 13
Principais chegadas ..................................................................................... 14
Principais saídas ........................................................................................... 26
A TEMPORADA ................................................................... 33
Agosto 2016 ................................................................................................. 33
Setembro 2016 ............................................................................................. 40
Outubro 2016............................................................................................... 53
Novembro 2016 .......................................................................................... 57
Dezembro 2016 ........................................................................................... 63
Janeiro 2017.................................................................................................. 70
Fevereiro 2017 ............................................................................................. 74
Março 2017 ................................................................................................... 78
Abril 2017 ..................................................................................................... 82
Maio 2017 ..................................................................................................... 88
TEMPORADA 2017/18 – THE CENTURIONS ................. 93
ANTECEDENTES .............................................................. 94
CHEGADAS E SAÍDAS...................................................... 100
Principais chegadas ................................................................................... 101
Principais saídas ......................................................................................... 106
A TEMPORADA .................................................................. 114
Agosto 2017 ............................................................................................... 114
Setembro 2017 ........................................................................................... 117
[ 4 ]
Outubro 2017............................................................................................. 124
Novembro 2017 ........................................................................................ 133
Dezembro 2017 ......................................................................................... 143
Janeiro 2018................................................................................................ 152
Fevereiro 2018 ........................................................................................... 157
Março 2018 ................................................................................................. 163
Abril 2018 ................................................................................................... 167
Maio 2018 ................................................................................................... 173
CONCLUSÃO ..................................................................... 185
REFERÊNCIAS ................................................................. 187
SOBRE O AUTOR ............................................................. 201
[ 5 ]
INTRODUÇÃO
Quando comecei a escrever o meu primeiro livro sobre o
City, em meados de 2012, minha ideia inicial era de fazer um raio x
sobre as campanhas do City desde a compra pelo grupo dos
Emirados Árabes Unidos, em 2008, até o culminar do
emocionante título inglês conquistado em 13 de maio de 2012, em
uma partida que me arrepia até hoje. Infelizmente, por razões que
nem me lembro mais, mas provavelmente por questões de
disponibilidade de tempo, já que era uma época em que trabalhava
e estava atolado com questões de faculdade, acabei parando com
boa parte do trabalho já feito. Mais tarde, resolvi tomar um rumo
diferente, e acabei publicando um livro mais simples, intitulado
Orgulho na Batalha
, de 2015, ao qual está disponível neste
mesmo site, que apenas rememora alguns artigos de opinião
publicados no antigo portal dedicado ao clube para o qual eu
contribuía, conjuntamente com alguns escritos inéditos.
Bem, nos tempos pandêmicos de 2020, obtendo um pouco
mais de liberdade, acabei optando por retomar aquela primeira
ideia de quase 10 anos, só que desta vez abarcando as duas
primeiras temporadas de Guardiola no City, como que traçando
um caminho até que se chegasse à gloriosa campanha dos
Centurions, onde o clube se tornou o primeiro, e até hoje único, a
conseguir fazer uma centena de pontos na Premier League, isto em
conjunto com outros tantos recordes. Minha principal inspiração
para a linha de escrita adotada veio de uma coleção especial
publicada pela revista Placar em 2005 sobre a taça Jules Rimet,
compreendendo um relato sobre as Copas do Mundo de 1930 até
1970. Eram especiais que viam grátis, uma Copa de cada vez, junto
ao exemplar normal, e ao qual o único que eu não tive em mãos
foi o primeiro, sobre o Mundial do Uruguai.
O relato histórico foi escrito por Max Gehringer, ao qual a
maioria deve conhecer por causa de algumas séries sobre o mundo
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
dos negócios (igualmente boas) exibidas no programa dominical
Fantástico, da Rede Globo. Pois bem, antes eu já o havia
conhecido por esse preciosismo, que descrevia todas as partidas
disputadas nas competições, além de curiosidades e informações
sobre as delegações brasileiras e as equipes campeãs. Muito é do
meu lamento que eu acabei perdendo todo este material por
negligência de conservação (obviamente eu era apenas um
adolescente na época, e não tinha a mentalidade que eu tenho hoje
para valorizar minhas coisas). Longe de querer que esta obra seja
tão boa com a de Max, até porque não disponho dos mesmos
recursos de pesquisa, mas tenho que dar o devido crédito da
inspiração.
Outro lamento que eu tenho é não ter coberto a
temporada dos Centurions do modo como gostaria. Como os
leitores certamente perceberão, meus artigos de opinião, que eu
também coloco todos neste livro, como uma forma de aprofundar
as questões daquelas temporadas, são muito mais presentes no
primeiro ano de Pep. Novamente, o tempo me tolheu a
oportunidade de uma abordagem equilibrada sobre cada uma das
campanhas, ainda assim, espero que o que eu pude incluir,
inclusive escritos inéditos que gostaria de ter feito ao tempo e não
fiz, possam suavizar um pouco este déficit.
No mais, só me resta sempre lembrar que não sou
jornalista, logo, não me cobrem uma profundidade, qualidade de
texto, rigor ou diversidade de conteúdo que não tenho. Sou apenas
um aficionado que acompanha o clube, e gosta de escrever sobre
ele, agradecendo sempre a amizade e oportunidade que meu amigo
Evans Leão me dá de colocar meus pitacos nem sempre corretos e
contribuir com o Manchester City Brazil. Ele sim, faz um trabalho
extraordinário e construiu um veículo de informações que é um
cânone para quem se interessa pelo City, com informações sempre
bem fundamentadas e atualizadas, vindas das melhores fontes.
[ 7 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
Outro ponto é que, por não ser um trabalho jornalístico,
esta não é uma narrativa neutra. Constituindo, pura e claramente,
uma visão de torcedor sobre a campanha do clube, com seus
problemas e distorções que a paixão permite. Apontamentos
feitos, só me resta lhes desejar uma boa leitura, e me desculpar
antecipadamente por quaisquer erros encontrados. Aproveitem!
[ 8 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
TEMPORADA
2016/17 – UMA
ESTREIA
TURBULENTA
[ 9 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
ANTECEDENTES
O dia 01 de fevereiro de 2016 vai ficar marcado para
sempre na memória dos torcedores do Manchester City. Não, não
é o dia de um título importante ou de uma grande vitória sobre o
maior rival, mas sim o de um simples anúncio. Bom, não tão
simples assim, era somente do técnico mais consagrado e festejado
deste último século: o catalão Pep Guardiola. Parecia um dia de
sonho, daqueles sonhos improváveis que você acha que nunca irão
se realizar. Quem tinha um pouco de visão de futuro e entendia o
momento sabia bem que não era simplesmente uma troca comum,
que poderia dar certo ou não, a depender dos resultados
conquistados, mas sim algo muito mais profundo que aconteceria,
uma verdadeira revolução que era destinada a marcar época e fazer
história. Quem imaginou isso, não errou.
O melhor de tudo é que era um processo que já havia
começado, e ali chegava apenas ao seu auge, ao ponto máximo da
estratégia traçada pelo CEO Ferran Soriano, e o diretor de futebol
Txiki Begiristain. Tudo era uma questão de visão. O precursor foi
o chileno Manuel Pellegrini, uma escolha controversa à época, por
ser um treinador já experiente com apenas uma passagem, sem
grande sucesso, em um grande europeu, o Real Madrid. Porém,
Pellegrini foi escolhido a dedo para abrir caminho e começar a
implementar um novo estilo no clube. Seu antecessor, Roberto
Mancini, era amado pela torcida, e todos agradeciam por ele ter
tirado o clube da fila, tanto de títulos gerais quanto de
campeonatos ingleses, porém, seu duro e pouco variado estilo
italiano nunca agradou os homens escolhidos para transformar o
City em uma nova potência mundial. Sua demissão antes mesmo
da temporada 2012/13 acabar mostrou isso, apesar dos protestos
das arquibancadas.
Pellegrini trazia uma proposta mais ofensiva, e isto logo se
fez realidade no clube, com um futebol muito mais agradável e
[ 10 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
envolvente. A sua primeira temporada foi excepcional,
conquistando o título da Copa da Liga e a segunda Premier League
para o City, de uma maneira bem menos dramática do que dois
anos antes. Porém, o segundo ano (2014/15) já não foi tão feliz
assim, com o City passando em branco, sendo apenas vice-
campeão inglês e caindo nas oitavas de final da Champions League
para o Barcelona. Pellegrini ganhou a chance de mais uma
temporada, mas, em 2015/16 as coisas pioraram ainda mais.
Aquele grupo que mudou o patamar do clube parecia envelhecido,
precisando de uma renovação drástica e urgente, e suas ideias não
estavam sendo assimiladas. Na Premier League, que viu o Leicester
desbancar a todos e deixar o mundo boquiaberto com o seu título
inesperado, o City fez uma campanha sofrível, a pior desde
2009/10, quase ficando fora da Champions League no ano
seguinte com um quarto lugar (superando o United apenas em
critérios de desempate).
O consolo veio com mais um título da Copa da Liga, para
encerrar a passagem do treinador chileno feliz, e uma ótima
campanha na Champions, a melhor do clube até então desde a
volta aos torneios europeus, quando atingiu a semifinal, mas foi
eliminado pelo Real Madrid. Porém, como foi dito antes, o grande
fato daquela temporada para os Citizens aconteceu antes de seu
final. Primeiro, em dezembro, o Bayern de Munique anunciou que
Guardiola não renovaria o seu contrato, que terminaria naquela
temporada. Os próximos passos do treinador catalão eram um
mistério: tiraria um ano sabático para descansar, assim como o fez
depois da saída do Barcelona, ou embarcaria em uma nova
aventura logo, até mesmo retornando ao clube que deu a chance
de ele mostrar os seus conceitos ao mundo. Porém, atrás das
cortinas as conversas pareciam já estar bem adiantadas, e ele
aceitou o convite de seus amigos Soriano e Txiki, com quem,
[ 11 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
juntos, haviam revolucionado o Barcelona muitos anos antes, e
veio se testar na Premier League.
O anúncio do Manchester City, que também havia
anunciado que seu treinador não continuaria a pouco tempo,
certamente deixou muita gente surpresa. Saber que Pep Guardiola
estaria livre no mercado seria um pretexto para uma batalha feroz
para tê-lo em seus quadros, e, imaginavam que, com uma dezena
de clubes a sua disposição, ele optaria por alguém do círculo de
elite europeu, um clube tradicional e supercampeão. Só que o
Manchester City foi mais esperto que os outros, e tomou o prêmio
para si antes mesmo da carnificina começar. Dizem, e é só um
boato, que as conversas haviam começado muitos anos antes,
ainda quando Pep já estava acertado com os bávaros, mas que o
acordo era que seu próximo passo seria a Inglaterra, mais
especificamente o lado azul de Manchester. Com a presença de
Soriano e Txiki, não é de se duvidar disso. O fato é, para tristeza
de alguns, raiva de outros, frustração de vários, ele havia escolhido
um projeto ainda buscando afirmação para continuar seu trabalho.
Era a hora de Guardiola estar na Premier League, o
campeonato mais badalado e disputado do mundo. Sua passagem
pela Alemanha havia sido controversa, já que alguns ousavam até a
dizer que foi fracassada. Lá Pep conquistou as três Bundesligas que
disputou, com ampla margem, campanhas tão perfeitas que nunca
haviam sido vistas em toda a história, nem mesmo com relação ao
Bayern, um domínio total. Mais que isso, ele modificou o estilo do
time, mexeu em bases históricas, tentou tirar a cara do disciplinado
futebol alemão do clube, trouxe gente de fora para a espinha
dorsal, e muitos não gostaram. Dizem que este foi o motivo para
abreviar sua passagem por lá. Sua pedra no sapato, como sempre,
foi a Champions League, já que, como dizem, a Bundesliga é
obrigação por lá. Três duras quedas nas semifinais para três
[ 12 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
espanhóis, Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid,
frustraram seus sonhos.
Como sabemos bem, na mesma medida em que o mundo
do futebol o idolatra, Guardiola carrega para onde vai uma
proporção enorme de haters sedentos pelo seu fracasso, para
provarem que ele não é isso tudo, e que o futebol operário é mais
eficaz que o talento. Certamente a ida para Premier League cravou,
para estes, a sepultura de sua carreira mentirosa. Afinal, até ali
Guardiola havia atuado em ligas onde não havia grande
concorrência para seus poderosos clubes, o que facilitava em
muito o seu trabalho, já que qualquer um poderia fazer o mesmo,
só que, agora, ele teria adversários de verdade, muitos, e um estilo
de futebol ao qual o seu não conseguiria se adaptar. A sua união
com um clube também muito odiado, devido ao sucesso recente,
parecia ser a mistura perfeita para esta gente. Pior que teve muito
mais figuras que compraram este discurso de que a Premier
League não era para ele, principalmente depois dos primeiros
resultados.
Guardiola precisava então de não calar a boca dos haters, já
que estes nunca se calarão, apenas mudarão as desculpas e os
ataques após cada teoria deles ser dissipada pelos fatos, mas sim
obriga-los novamente a ter que mudarem o seu discurso contra o
treinador. Era um desafio e tanto.
CHEGADAS E SAÍDAS
Como já dito, a chegada de Pep Guardiola presumia uma
revolução no clube, o que significava que as mudanças não se
resumiam unicamente a ele e seu staff. Era preciso uma profunda
reformulação no elenco para que se montasse um grupo capaz de
aderir mais facilmente a suas ideias. A renovação era necessária de
qualquer forma, bom que se diga, independente de quem chegasse,
como bem mostravam as duas temporadas anteriores com
[ 13 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
resultados aquém do esperado. Assim, a janela de verão do
Manchester City foi bem movimentada.
Nestas seções trataremos apenas dos principais nomes, aos
quais tiveram um histórico posterior ou anterior na equipe
principal do City. Serão desconsiderados retornos de empréstimos,
jogadores jovens comprados para serem emprestados ou para as
categorias de base, e também vendas em definitivo de atletas que já
estavam fora do plantel.
Principais chegadas
John Stones: Stones era um talento precoce, revelado pelo
Barnsley, acabou contratado pelo Everton em 2013, então com 19
anos, por três milhões de libras. A partir de 2014, ele assumiu de
vez a titularidade no clube, e se tornou destaque, ganhando o
prêmio de jogador jovem da temporada do Everton. Visto como
uma promessa de liderança e como um futuro capitão que poderia
marcar época por muitos anos na seleção inglesa, logo despertou o
interesse de clubes maiores. O Chelsea tentou três vezes levá-lo
para Stamford Bridge, mas foi o City que venceu a disputa,
pagando 47,5 milhões de libras para tirá-lo do Goodison Park,
tornando-se até então o segundo defensor mais caro da história. A
saída de Martin Demichelis, Eliaquim Mangala e as lesões de
Vincent Kompany demandavam um sangue novo para o setor.
Stones veio sob muitas expectativas, mas, infelizmente,
podemos dizer que sua passagem pelo clube nas duas primeiras
temporadas, e até depois, não confirmaram o que se esperava dele.
Seu grande calcanhar de aquiles foram as lesões, principalmente
musculares. Na primeira temporada, acabou bastante criticado por
suas atuações, porém, em 2017/18, Stones finalmente conseguiu a
sequência que tanto almejava, e correspondeu. Na primeira metade
da temporada, pode-se dizer que ele foi o melhor defensor do
time, sendo titular absoluto com atuações destacadas, inclusive
[ 14 ]
Efeito Guardiola, por Manoel Martins Jr
marcando três gols na primeira fase da Champions League, dois
em uma partida, contra o Feyenoord. O problema é o azar que ele
sempre teve de interromper seus melhores momentos no clube
com lesões. Assim, uma injúria muscular sofrida em partida contra
o Leicester, no mês de novembro, estragou tudo. Stones demorou
para voltar, e, quando voltou, já no ano seguinte, não conseguiu se
firmar mais, voltando a apresentar instabilidade quando foi
escalado na parte final da temporada, depois, se machucou
novamente.
Foi um roteiro repetido quase que igualmente na
temporada seguinte. Em alguns momentos, chegou a ser
experimentado como volante por Pep, mas também não foi bem.
São coisas que vão minando claramente a sua confiança e a própria
confiança do clube em seu potencial, deixando mais difíceis as
chances de uma volta por cima. Muitos já veem como improvável
uma estadia a longo prazo de Stones no City.
Leroy Sané: Mais uma joia da fábrica de talentos do
Schalke 04, o extremamente habilidoso Sané resolveu percorrer
um caminho diferente de alguns de seus compatriotas, não sendo
seduzido pelo tentador Bayern de Munique. Porém, Guardiola foi
atraído pelo seu talento, que viu de perto nos tempos de
Alemanha. Então, ele aportou no City em 02 de agosto de 2016,
custando cerca de 46,5 milhões de libras ao clube. Assim como
Stones, Sané não teve uma primeira temporada de muitos festejos,
alternando lampejos com atuações muito abaixo da média. Muitos
se questionaram se havia sido uma aposta correta do clube. Ao
final, ele reclamou que o fato de não conseguir respirar pelo nariz
teria atrapalhado o seu rendimento. Naquele período entre
temporadas, aproveitou para corrigir o problema.
Não se sabe se a questão nasal influiu, mas Sané realmente
mudou da água para o vinho entre uma temporada e outra, se
tornando um dos principais destaques da histórica equipe dos