O Lugar da Oralidade em Livros Didáticos de Letramento e Alfabetização Linguística: Reflexões sobre a Produção de Texto Oral
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O Lugar da Oralidade em Livros Didáticos de Letramento e Alfabetização Linguística - Érika de Souza Coutinho
Seria preciso, para dar conta da evolução das relações oral/escrito, imaginar a língua como um teatro em que entram em conflito as diversas formas de expressão, conflito do qual a época presente apenas representa uma fase. A linguagem é a expressão do ser inteiro, e apesar de a nossa civilização tender a reduzir a uma unidade de funções o que foi plural e múltiplo, possuímos ainda restos das tensões que se produziram entre as diversas formas de expressões.
(Roland Barthes & Eric Marty, 1984, p. 45)
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
1. INTRODUÇÃO
2. ORALIDADE E ENSINO
2.1 - A ORALIDADE
2.2 - CONCEPÇÕES DE LÍNGUA, LINGUAGEM, LINGUAGEM ORAL, DISCURSO E FALA
2.3 - A ESTRUTURA E O FUNCIONAMENTO DA FALA
2.4 - A MODALIDADE ORAL E O ENSINO
2.4.1 - O gênero oral e seus usos
2.4.2 - A comunicação oral
3. ORALIDADE E ALFABETIZAÇÃO
3.1 - O ESPAÇO DO ORAL NA ALFABETIZAÇÃO
3.2 - A ORALIDADE E O LETRAMENTO COMO PRÁTICAS SOCIAIS
3.3 - O TEXTO COMO UNIDADE DE ENSINO NA MODALIDADE ORAL
3.3.1 - O texto oral
3.3.2 - O processo de produção de texto oral
3.4 - O USO DO LIVRO DIDÁTICO EM SALA DE AULA COMO INSTRUMENTO DE ENSINO
4. PERCURSO METODOLÓGICO
4.1 - RECORTE METODOLÓGICO
4.2 - A COLETA DOS DADOS
4.2.1 - As coleções
4.2.2 - Títulos analisados
4.2.2.1 - Coleção 1 (CARPANEDA; BRAGANÇA, 2010a e 2010b)
4.2.2.2 - Coleção 2 (LOPES; MIRANDA; RODRIGUES, 2008a e 2008b)
4.2.2.3 - Coleção 3 (ANSON; CARVALHO, 2008a e 2008b)
4.2.2.4 - Coleção 4 (MAGALHÃES; CEREJA, 2010a e 2010b)
5. METODOLOGIA DE ANÁLISE DOS DADOS
6. ANÁLISE DOS DADOS
6.1 - ANÁLISE DA COLEÇÃO 1
6.1.1 - Visão geral da Coleção 1 (1º ano)
6.1.2 - Visão geral da Coleção 1 (2º ano)
6.1.3 - Análise da oralidade no livro de 1º ano da Coleção 1
6.1.4 - Análise da oralidade no livro de 2º ano da Coleção 1
6.1.5 - Considerações gerais sobre a Coleção 1 (1º e 2º ano)
6.2 - ANÁLISE DA COLEÇÃO 2 (1º E 2º ANO)
6.2.1 - Visão geral da Coleção 2 (1º ano)
6.2.2 - Visão geral da Coleção 2 (2º ano)
6.2.3 - Análise da oralidade no livro de 1º ano da Coleção 2
6.2.4 - Análise da oralidade no livro de 2º ano da Coleção 2
6.2.5 - Considerações gerais sobre a Coleção 2 (1º e 2º ano)
6.3 - ANÁLISE DA COLEÇÃO 3 (1º E 2º ANO)
6.3.1 - Visão geral da Coleção 3 (1º ano)
6.3.2 - Visão geral da Coleção 3 (2º ano)
6.3.3- Análise da oralidade na Coleção 3 do 1º ano
6.3.4 - Análise da oralidade na Coleção 3 do 2º ano
6.3.5 - Considerações gerais sobre a Coleção 3 (1º e 2º ano)
6.4 - ANÁLISE DO LD4 (1º E 2º ANO)
6.4.1 Visão geral da Coleção 4 (1º ano)
6.4.2 - Visão geral da Coleção 4 (2º ano)
6.4.3 - Análise da oralidade na Coleção 4 do 1º ano
6.4.4 - Análise da oralidade na Coleção 4 do 2º ano
6.4.5 - Considerações gerais sobre a Coleção 4 (1º e 2º ano)
6.5 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS QUATRO COLEÇÕES – DISCUSSÃO DOS DADOS
7. CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS (CITADAS E CONSULTADAS)
ANEXO 1 – ATIVIDADE DA COLEÇÃO 1
ANEXO 2 – ATIVIDADES DA COLEÇÃO 2
ANEXO 3 – ATIVIDADES DA COLEÇÃO 3
ANEXO 4 – ATIVIDADES DA COLEÇÃO 4
APÊNDICE A
APÊNDICE B
APÊNDICE C – TÍTULOS MAIS NEGOCIADOS
APÊNDICE D – TÍTULOS MAIS NEGOCIADOS (DADOS ESTATÍSTICOS)
AGRADECIMENTOS
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
APRESENTAÇÃO
A presente pesquisa centraliza-se na reflexão sobre a oralidade/fala dos alunos na alfabetização, visando contribuir com as discussões acerca dessa temática ao analisar atividades presentes nos livros didáticos usados como suporte de ensino em sala de aula. Para isso, temos como objeto de investigação o lugar da oralidade em livros didáticos de Letramento e Alfabetização Linguística
.
Pensamos ser interessante uma pesquisa nessa fase de ensino (alfabetização) por se tratar de mudanças muito importantes na vida das crianças, uma vez em que elas estão saindo de uma fase na qual o texto oral predomina e adentrando uma fase de aquisição sistemática da escrita. Nosso estudo baseia-se no Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), objeto de investigação de alguns teóricos como Bakhtin (1981, 2003), Marcuschi (2001), Batista (2003, 2004, 2005), Schneuwly e Dolz (2004), Bronckart (2006), Souto (2008), entre outros.
A metodologia de trabalho pautou-se em uma pesquisa interpretativa, constatativa, investigativa e propositiva, de cunho teórico, documental e bibliográfico. O trabalho que culminou neste livro foi submetido a uma análise qualitativa dos dados, embora análises quantitativas tenham sido necessárias ao longo do processo. O procedimento utilizado na coleta de dados foi o seguinte: análise de quatro coleções de livros didáticos de Letramento e Alfabetização Linguística (livros do 1º e 2º ano do 1º ciclo) de editoras diferentes, aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático, de 2010. Os livros escolhidos faziam parte dos mais negociados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE): utilizamo-nos para a presente pesquisa o 1º, o 3º, o 7º e o 11º livros mais negociados pelo FNDE, respectivamente. Os dados foram coletados de um total de oito livros (quatro coleções diferentes para cada um dos dois anos escolares analisados).
Com isso, buscamos verificar se, nos livros, existiam atividades voltadas para o desenvolvimento do trabalho com a produção de texto oral e, se em tais atividades, a finalidade era desenvolver habilidades, competências e/ou capacidades relacionadas à oralidade. O objetivo central que norteou a pesquisa, fundamentalmente, foi investigar se as propostas de atividades contidas nos livros didáticos analisados visavam ao desenvolvimento da competência linguística e comunicativa voltadas para o desenvolvimento da linguagem oral dos alunos — atividades de produção de texto oral que tinham por objetivo a valorização dos atos de fala dos estudantes.
Os dados nos permitiram inferir, ainda, que, de um modo geral, a finalidade das atividades que envolvem a oralidade está relacionada a habilidades que envolvem o texto escrito, e não a produção de texto oral e a valorização dos atos de fala dos alunos por si mesmos. Dessa forma, ficou a seguinte constatação: há uma tendência muito forte de propor atividades nos modelos e nas práticas tradicionais.
Por fim, observamos, também, um distanciamento do que a resenha do livro propõe no Guia do PNLD (BRASIL, 2010) e o que é, de fato, pedido nas atividades. Os livros apontam o trabalho com a oralidade, mas acabam cercando as estratégias das atividades, direcionando-as para um lugar no qual havia poucas possibilidades de o aluno pensar, agir e falar.
PREFÁCIO
Falar sobre ensino de língua é necessário. Em um mundo permeado pela escrita, saber ler e escrever tornou-se essencial. Por conseguinte, todos os indivíduos têm o direito de serem alfabetizados em sua língua materna, mas, para isso, precisam estar inseridos em um ambiente propiciador de conhecimento: a escola.
Com este livro, Érika Coutinho consegue trazer uma discussão de suma importância para os estudos em educação. O lugar da oralidade nos livros didáticos deve ser (re) pensado com a intenção cada vez mais integralizadora das duas modalidades da língua, isto é, fala e escrita. Ora, sendo a língua oral adquirida, sem nenhum ensinamento explícito, nos primeiros anos de vida e considerando que uma criança, ao adentrar o circuito escolar, possui grande conhecimento linguístico internalizado, por que não o trazer e o explorar no ensino de língua em sala de aula?
E é exatamente essa discussão que a autora levanta de forma eficiente e instigante em todo o trabalho apresentado, perpassando por discussões acerca da oralidade e das concepções de língua, linguagem, discurso e fala. Dessa forma, o tema abordado mostra-se extremamente caro e relevante para o meio educacional, visto que ainda não conseguimos nos desvincular definitivamente da visão tradicionalista em que a oralidade pertence, apenas, ao círculo da informalidade e, por isso, não deve ser contemplada em todas as suas facetas nas atividades dos livros didáticos.
Rio de Janeiro, junho de 2021.
BRUNA MACHADO
Mestra em linguística pela UFRJ.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa visa investigar a relação entre a oralidade e a alfabetização. Mais especificamente, procura-se entender o lugar da oralidade nos livros didáticos de Letramento e Alfabetização Linguística. Centralizamos nossas análises em atividades que envolvam a oralidade, visando compreender suas manifestações, seu papel e sua incidência nos livros didáticos. Nosso foco de investigação são as atividades de produção de texto oral que tenham como objetivo a valorização dos atos de fala¹ dos alunos (atividades que envolvam a oralidade em algum grau, que propiciem o desenvolvimento da proficiência oral dos alunos e que trabalhem na perspectiva da análise do texto oral). Dessa forma, analisaremos em que tipo de atividades a oralidade se materializa. O objeto a ser pesquisado surgiu da necessidade de compreensão dos fenômenos que circundam o ensino da oralidade na alfabetização e como os materiais didáticos utilizados nessa fase de ensino são estruturados.
Consideramos a proposta de pesquisa relevante, pois a oralidade vem sendo discutida em estudos recentes por pesquisadores da área da linguagem (Rio, 1996; Ramos, 1997; Marcuschi, 2001; Signorini e Marcuschi, 2001; Castilho, 2002; Scheneuwly e Dolz, 2004; Mendonça, 2006; Rojo, 2006; Cagliari, 2009), assim como questionamentos sobre o assunto vêm sendo levantados, havendo, entre os estudiosos, a necessidade de busca de informações mais detalhadas acerca da temática oralidade
e das propostas de pesquisas que busquem analisar os materiais de ensino que subsidiam a fase da alfabetização. Sobre tal temática, suscitaremos, inicialmente, duas perguntas:
1. Qual é o papel da oralidade na alfabetização?
2. Quais são os gêneros orais trabalhados em livros didáticos de alfabetização?
Assim, acreditamos que a pesquisa terá a oportunidade de apresentar elementos novos à discussão, além de buscar novos apontamentos que funcionem como base para discussões posteriores.
Para análise e coleta de dados, utilizaremos oito livros de quatro coleções e editoras diferentes, a saber: quatro livros do 1° ano e quatro livros do 2° ano, ambos do 1° ciclo. Os critérios para a