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Alienação Escolar e Capitalismo
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E-book165 páginas2 horas

Alienação Escolar e Capitalismo

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Sobre este e-book

A reflexão sobre a alienação, desde Marx, toma como locus de sua existência o trabalho. Diego dos Anjos, no entanto, pensa o processo de alienação na educação escolar. O processo educacional na sociedade moderna também está perpassado pela alienação, tanto de professores com seu trabalho alienado quanto dos estudantes com a aprendizagem alienada. Diego dos Anjos mostra várias faces da alienação escolar e sua relação com o capitalismo, discutindo questões como EAD, novas tecnologias, regimes escolar nacional, as políticas educacionais, o neoliberalismo, escolarização ampliada e valor da força de trabalho docente, entre outras questões correlatas. É uma importante contribuição para quem quer compreender a educação escolar na sociedade capitalista.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de nov. de 2020
ISBN9786588258125
Alienação Escolar e Capitalismo

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    Alienação Escolar e Capitalismo - Diego dos Anjos

    APRESENTAÇÃO

    A instituição escolar brilha nos olhos daqueles que vislumbram uma sociedade capitalista em constante expansão. Para a resolução de diferentes questões sociais surge a escola, impávida, inquestionável, mãe de todas as boas qualidades. Nós temos uma visão diferente sobre a educação, fruto de leituras, aprofundamento teórico e experiência de décadas de vida dentro da escola, passando da escola básica à escola superior. Dentro desta instituição, as experiências variam, indo desde a absorção acrítica de ideias e comportamentos durante a escola básica, e ainda para uma boa parcela dos estudantes do ensino superior, até às possibilidades de realizar pesquisa, participar de congressos, publicar, orientar, etc. que fazem parte da escola superior.

    Nosso interesse pelo estudo da educação ocorreu com a passagem da condição de aluno para a de professor, o que ampliou nosso ponto de vista sobre vários temas, levando-nos a questionar aspectos da escola que ainda não tínhamos percebido. Assim surgiram os textos que aqui reunimos, cada um refletindo questões que surgiram do exercício da profissão de professor.

    O primeiro artigo trata da questão de conhecer no que consiste a essência da educação escolar. Como sabemos, desde a Antiguidade foram criados espaços para iniciar as novas gerações em conhecimentos específicos, constituindo escolas de sacerdotes, guerreiros, aristocracia, etc. Entretanto, é somente no capitalismo que a forma escolar de educação se consolida e generaliza para o conjunto da sociedade e das classes sociais. É na complexificação da divisão social do trabalho que se tem origem o moderno regime escolar nacional, que determina a função da escola de reproduzir as condições das relações de trabalho preparando as novas gerações.

    No segundo texto analisamos a intensificação da alienação e exploração do trabalho docente no capitalismo contemporâneo. Identificamos a classe social a que os professores pertencem e apontamos para os elementos específicos que formam esta parcela da intelectualidade.

    No terceiro e quarto artigo refletimos especificamente sobre as relações de ensino-aprendizagem, primeiramente em nível empírico, no artigo Das Dificuldades do ensino de epistemologia da educação, refletindo sobre a experiência de aula nessa disciplina. Por sua vez, no artigo Auge e declínio da educação burguesa, dois exemplos: Kant e a EAD, refletimos sobre as ambiguidades do desenvolvimento da educação escolar no capitalismo, utilizando das ideias de Kant e da prática do ensino de EAD demonstrando os pontos de avanço e os limites insuperáveis da escola capitalista.

    No texto que encerra este livro debatemos como a ampliação da escolaridade pode atuar desvalorizando a força de trabalho, sob contexto de ofensiva capitalista na reorganização das relações de trabalho. As escolas capitalistas atuam reproduzindo as condições de existência da classe operária, da burocracia, da intelectualidade e é quase generalizada para a burguesia. As escolas capitalistas produzem atrofia e hipertrofia no corpo estudantil, processo que depende da classe social. Esta é a conclusão de nosso último texto.

    Tratamos de diferentes aspectos do funcionamento das escolas, ainda que vários outros aspectos não tenham sido abordados, e outros aspectos podem ter sido tratados insuficientemente. Apesar dos limites, cremos que a leitura deste trabalho pode introduzir e estimular a reflexão sobre as limitações das instituições escolares que aqui identificamos.

    Boa leitura.

    APARÊNCIA E ESSÊNCIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

    O sistema de educação escolar é uma das mais complexas organizações da sociedade moderna. Quer seja na forma privada ou pública, a escola ocupa papel central na sociedade capitalista, o que significa que a totalidade dos indivíduos tem, em maior ou menor grau, contato com a escola. Entretanto, para a imensa maioria, a percepção do fenômeno escolar fica no nível mais aparente, conhecendo somente o que o sistema escolar diz a respeito de si próprio, a importância do conhecimento, a possibilidade de ocupar uma boa profissão; nesse sentido, o objetivo desta reflexão é utilizar das categorias aparência e essência, presentes no método dialético, e analisar a educação escolar nos seus aspectos visíveis e invisíveis, na sua aparência e na sua essência.

    O foco de nossa análise será a reflexão sobre os elementos essenciais da educação escolar, que consideraremos como a preparação das novas gerações para a vida em sociedade, logo, concluímos que a escolarização é o processo de ressocialização repressiva e coercitiva a qual os indivíduos da nossa sociedade estão submetidos. Entretanto, o discurso da escola e a sociabilidade, que atuam no nível da aparência, ocultam tal processo, daí a necessidade da análise que distingue o que é aparente e o que é essencial na organização escolar.

    A escola está no centro da dinâmica da sociedade capitalista, e no Brasil a Constituição Federal trata da seguinte maneira da educação: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CF, 1988). Os conceitos básicos que envolvem esse artigo da Constituição Federal são: a educação é um direito de todos; a educação é dever do Estado; a educação é dever da família; a educação deve ser fomentada pela sociedade. E os objetivos gerais são: o pleno desenvolvimento da pessoa; o preparo da pessoa para o exercício da cidadania; a qualificação da pessoa para o trabalho¹. Já o inciso primeiro do artigo 208 diz que o ensino fundamental é obrigatório e gratuito.

    A educação que aqui tratamos é a educação escolar, tipo de educação específica que ocorre dentro da organização da escola e que está intimamente vinculada à dinâmica da sociedade, o que significa que a educação escolar não tem um fim em si mesma, e encontra-se no jogo de relações entre família, Estado, relações de trabalho, conhecimento. Os diversos grupos envolvidos com a educação escolar (o núcleo familiar, políticos profissionais e a burocracia, empresas privadas e os produtores de conhecimento) dão importância para a escola a partir de sua visão específica: a família por ter filhos que terão acesso à cultura e possibilidade de um bom emprego; o estado para cumprir metas e objetivos estabelecidos nas políticas educacionais; os empresários porque terão trabalhadores qualificados; e os cientistas e intelectuais porque divulgam através das escolas as ideias aceitas e consolidadas no meio científico.

    À educação escolar é atribuída muito importância por diferentes grupos da nossa sociedade e ela é, efetivamente muito importante pelas relações que mantém com o conjunto da sociedade. Entretanto, para analisar o que faz da escola ter a importância que ela tem se faz necessário sair das visões limitadas de cada grupo social e analisá-la no conjunto da sociedade e em sua evolução histórica. A visão limitada que cada grupo tem pode corresponder na realidade à medida em que se percebe a aparência do fenômeno, ao que aparece imediatamente ao observador, mas como indicaremos na seção seguinte, a análise é necessária exatamente porque o fenômeno não é compreensível em sua aparência, embora esta tenha vínculos com a natureza, com a essência do fenômeno. A escola tem uma aparência, que a todos é perceptível, por isso a sociedade dá importância para a educação escolar; entretanto, é necessário compreender por que a escola assume tal aparência, e isso só compreendemos a partir da descoberta da essência da educação escolar.

    As categorias no Método Dialético e a Teoria Materialista da História

    Para compreender um fenômeno social que tem uma longa história e é encontrado nas mais diferentes sociedades se faz necessário ter uma teoria da história que em sua complexidade consiga captar a origem, a evolução e os desdobramentos do fenômeno. Ainda mais, se faz necessário compreender o fenômeno relacionado com a totalidade da sociedade onde este emerge como produção social. A escola, como qualquer outro fenômeno social, precisa ser compreendida a partir dessa perspectiva histórica e social.

    A teoria que consideramos como a mais completa para a análise da educação escolar é a teoria do materialismo histórico, que tem como objetivo analisar as sociedades humanas a partir da história concreta, produzida pelos seres humanos em cada época e sociedade em que vivem. Marx assim sintetiza o modo de conduzir suas pesquisas históricas:

    Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as relações jurídicas — assim como as formas de Estado — não podem ser compreendidas por si mesmas, nem pela dita evolução geral do espírito humano, inserindo-se pelo contrário nas condições materiais de existência de que Hegel, à semelhança dos ingleses e franceses do século XVII, compreende o conjunto pela designação de ‘sociedade civil’; por seu lado, a anatomia da sociedade civil deve ser procurada na economia política. (...). A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor dos meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência. Em certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham movido até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em seu entrave. Surge então uma época de revolução social. A transformação da base econômica altera, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura. Ao considerar tais alterações é necessário sempre distinguir entre a alteração material — que se pode comprovar de maneira cientificamente rigorosa — das condições econômicas de produção, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito, levando-o às suas últimas consequências. Assim como não se julga um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio, não se poderá julgar uma tal época de transformação pela mesma consciência de si; é preciso, pelo contrário, explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas e as relações de produção. Uma organização social nunca desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter; nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes que as condições gerais de existência destas relações se produzam no próprio seio da velha sociedade. É por isso que a humanidade só levanta os problemas que é capaz de resolver

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