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Estudos bíblicos expositivos em Efésios
Estudos bíblicos expositivos em Efésios
Estudos bíblicos expositivos em Efésios
E-book588 páginas17 horas

Estudos bíblicos expositivos em Efésios

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Sobre este e-book

Paulo tem pela frente um imenso desafio. Ele deve ser um apóstolo – mensageiro escolhido pelo Senhor Jesus aos gentios de Éfeso (Ef 1.1a,2a). Não apenas historicamente a cultura deles opunha-se à mensagem de amor do Deus da aliança, mas o povo da aliança – os judeus – está se opondo a que os gentios recebam a mensagem. Imensas barreiras de diferenças culturais, históricas e étnicas confrontam o apóstolo. E o que ele pode fazer a respeito disso? Ele está na prisão sob a guarda romana. Entenderíamos se Paulo simplesmente tivesse dito: "Desisto, Senhor. Os obstáculos são maiores do que eu mesmo. O Senhor terá de encontrar outra pessoa". No entanto, Paulo recusa-se a desistir porque ele reconhece que a sua força para enfrentar os obstáculos está em provisões além de si mesmo: a Palavra de Deus e a vontade de Deus.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de nov. de 2021
ISBN9786559890521
Estudos bíblicos expositivos em Efésios

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    Estudos bíblicos expositivos em Efésios - Bryan Chapell

    Estudos bíblicos expositivos em Efésios. Bryan Chapell. A glória de Cristo na vida da Igreja. Cultura Cristã.Estudos bíblicos expositivos em Efésios. Bryan Chapell. A glória de Cristo na vida da Igreja. Cultura Cristã.

    Estudos bíblicos expositivos em Efésios, de Bryan Chapell © 2018, Editora Cultura Cristã. Publicado originalmente com o título Ephesians © 2009 by Bryan Chapell. Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, estocada para recuperação posterior ou transmitida de qualquer forma ou meio que seja – eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou de outro modo – exceto breves citações para fins de resenha ou comentário, sem o prévio consentimento de P&R Publishing Company, P.O.Box 817, Phillipsburg, New Jersey 08865-0817.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Sueli Costa CRB-8/5213

    C462e

    Chapell, Bryan

    Estudos bíblicos expositivos em Efésios / Bryan Chapell; tradução Vanderlei Ortigoza. – São Paulo : Cultura Cristã, 2018.

    352 p.

    Recurso eletrônico (ePub)

    ISBN 978-65-5989-052-1

    Título original: Ephesians

    1. Exposição bíblica 2. Vida cristã I. Ortigoza, Vanderlei II. Título

    CDU 227.5

    A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

    ABDR. Associação brasileira de Direitos Reprográficos. Respeite o direito autoral.Editora Cultura Cristã

    Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP

    Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099

    www.editoraculturacrista.com.br – cep@cep.org.br

    Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas

    Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

    Sumário

    Agradecimentos

    Introdução: autor, contexto e temas

    O nosso chamado (1.1-2)

    O propósito do Pai (1.3-6)

    A missão do Filho (1.7-10)

    A convicção do Espírito (1.11-14)

    A igreja triunfante (1.15-23)

    O dom de Deus (2.1-10)

    Atestado de identidade (2.11-13)

    Demolindo barreiras (2.14-18)

    Unidos e bem edificados (2.19-22)

    Falsos chamados (3.1-13)

    O poder predominante do amor supremo (3.14-19)

    Ele é poderoso (3.20-21)

    Manual de orientação para a igreja (4.1-16)

    Lagartos e garanhões (4.17-24)

    Testemunha da graça (4.25-32)

    O cheiro de Jesus (5.1-7)

    Portadores de luz (5.8-21)

    O cabeça sacrificial (5.21-33)

    A esposa submissa (5.22-33)

    O lar temente a Deus (6.1-9)

    A armadura da fé (6.10-24)

    Agradecimentos

    O livro de Efésios celebra a igreja de Jesus Cristo, e eu devo fazer o mesmo. Certamente, já vi a igreja no seu pior estado de mau humor, dúvida, irritação e lágrimas, mas também já a vi em sua nobreza na coragem e na compaixão daqueles que demonstraram integridade em meio às pressões, respeito apesar das diferenças, que retribuíram o mal com o bem, agiram com misericórdia em vez de buscarem vingança, humilharam-se em vez de se orgulharem e demonstraram por mim o amor de Cristo, mesmo quando não havia nenhum motivo para isso. Desde a minha juventude, minha vida e alma têm sido edificadas pelas igrejas Cane Creek Primitive Baptist Church, First Evangelical Church, Glen Ridge Prebyterian Church, Winnetka Bible Church, Woodburn Presbyterian Church, Bethel Reformed Presbyterian Church, Covenant Presbyterian Church, bem como por todas as igrejas da Igreja Presbiteriana na América. Todas elas pertencem ao corpo de Cristo e, apesar de sua grande diversidade e divergências significativas, contribuíram para o ministério de Deus na minha vida. Louvo a Deus por cada uma dessas igrejas.

    Também sou grato aos alunos, colegas e professores do Covenant Theological Seminary. O estímulo e o apoio deles enriqueceu muito a minha vida ao longo de nossas conversas e trabalho para preparar a próxima geração de líderes ministeriais. Não conheço satisfação mais prazerosa do que pregar a corações tão ávidos, amorosos e perspicazes. A pregação dos temas tratados neste livro nos nossos cultos semanais multiplicou o meu conhecimento do evangelho e meu amor pelo Senhor, a quem servimos, e pela igreja, a quem ele ama.

    Agradeço à senhora Mary Beth McGreevy por dividir comigo seu coração e sua grande inteligência, em converter meus sermões para o formato de comentários. O trabalho dela junto a escritores como o doutor James Boice e o doutor George Robertson, bem como seu maravilhoso dom de ensinar, trouxe enorme contribuição para a divulgação do evangelho em nossa geração.

    Sou grato ao meu colega doutor David Chapman, cuja proficiência no Novo Testamento ultrapassa a minha em grande medida. Chapman analisou graciosamente e cuidadosamente meu texto, oferecendo vários discernimentos exegéticos, aconselhamentos e algumas correções. Sua ajuda com as notas de rodapé foi imensa e inestimável. Em raras ocasiões surgiram diferenças de pensamento com relação a algumas passagens. Caso tenha passado algum erro de interpretação, o mesmo deve ser atribuído a mim.

    Por se tratar de um comentário homilético e não exegético, retive a estrutura de sermão com que o preguei pela primeira vez. Embora as mensagens tenham sido expandidas para acomodar conteúdo exegético adicional, mantive as divisões originais com o intuito de auxiliar os pastores a lidar com as incumbências normais da pregação de púlpito. Isso significa que muitas vezes optei por não tratar complexidades exegéticas dentro do corpo do texto. Em vez disso, segui o antigo mandamento do bom pastor: destacar o fruto do meu trabalho em vez do suor do meu rosto. Ao mesmo tempo, quando havia alguma ideia exegética importante, que pudesse ampliar o entendimento pastoral do texto, inseri detalhes relevantes na discussão expandida ou nas notas de rodapé. Porém, a intenção dessas inserções não é exaurir o assunto (também não são sugestões para o que dizer num sermão). Elas servem apenas para indicar áreas de questões importantes que podem exigir mais atenção ou pesquisa. E, uma vez que esse material receberá uma divulgação maior que meus sermões originais, algumas vezes alterei nomes ou detalhes a fim de proteger identidades.

    Sou um pastor que depende do estudo de outras pessoas. Por causa disso, consultei outros comentários enquanto preparava as mensagens e os capítulos desta obra. Estou ciente de que Deus não abençoa o ministério de alguém que acredita não precisar recorrer à sabedoria de outros nem aqueles que não pensam por si mesmos. Portanto, além de minhas orações, reflexões e pregações ao longo dessa enriquecedora carta de Paulo aos Efésios, também me beneficiei com a sabedoria de muitos outros escritores. E, uma vez que este comentário não foi preparado em formato de artigo, mas de sermão, raramente acrescentei informações exatas de citações ou outras informações. Não obstante, quero reconhecer o meu débito e gratidão para com os estudiosos cujas obras consultei para produzir as mensagens que aparecem neste livro:

    BRUCE, F. F. The Epistles to the Colossians, to Philemon, and to the Ephesians. Grand Rapids: Eerdmans, 1984.

    EADIE, John. Commentary on the Epistle to the Ephesians. Original 1883. Grand Rapids: Zondervan, rpt. 1977.

    FERGUSON, Sinclair. Let’s study Ephesians. Edimburgo: Banner of Truth, 2005.

    HENDRIKSEN, William. New Testament commentary: exposition of Ephesians. Grand Rapids: Baker, 1967.

    HOEHNER, Harold. Ephesians: An exegetical commentary. Grand Rapids: Baker, 2002.

    HUGHES, R. Kent. Ephesians: the mystery of the body of Christ. Preaching the Word. Wheaton, IL: Crossway, 1990.

    LINCOLN, Andrew T. Ephesians. Word Biblical Commentary. Org. Bruce Metzger, David A. Hubbard e Glenn W. Barker. Volume 42. Dallas: Word, 1990.

    O’BRIEN, Peter T. The Letter to the Ephesians. Pillar New Testament Commentary. Grand Rapids: Eerdmans, 1999.

    Introdução:

    autor, contexto e temas

    O início da carta atribui sua autoria ao apóstolo Paulo (1.1) e o próprio autor confirma sua identidade ao longo dela (3.1).

    Algumas vezes surgiram críticas entre os acadêmicos a respeito da autoria paulina em razão de o estilo da carta (especialmente na sua primeira metade) parecer mais abstrato, corporativo e repetitivo do que em outras cartas do apóstolo. No entanto, esse pensamento revisionista não apenas nega as claras afirmações feitas na carta como também presume, ingenuamente, que um escritor não pode alterar seu estilo a fim de alcançar propósitos variados. Por exemplo, embora muitos temas e frases na Carta de Paulo aos Colossenses também apareçam na Carta aos Efésios (mais uma confirmação da autoria paulina), Paulo escreveu Efésios tendo em mente um tema mais sublime.

    A maioria das cartas paulinas trata dos problemas ou do progresso de uma igreja específica, o que requer uma exposição inicial de verdades doutrinárias que posteriormente conduzirão a instruções práticas. Porém, a maioria dos estudiosos entende que Paulo escreveu Efésios para todas as igrejas situadas nas redondezas de Éfeso ou culturalmente influenciadas por essa cidade. Para esse grupo de igrejas, inseridas numa cultura contrária ao evangelho, Paulo apresenta temas grandiosos e inspiradores, os quais muitas vezes levam o próprio apóstolo à doxologia e à oração.

    Paulo escreveu aos efésios durante o tempo em que estava preso (cf. 3.1; 6.20), provavelmente durante seu período de prisão domiciliar em Roma, em 60-62 d.C. (descrito em At 28 e mencionado em Cl 4.3,10,18). Antes desses dois anos de prisão, o apóstolo havia passado outros dois anos entre o cárcere e idas e vindas ao tribunal, depois da sua prisão inicial por acusações falsas feitas por compatriotas judeus em Jerusalém. As circunstâncias associadas à prisão de Paulo e seu apelo a César o impediram de cuidar pessoalmente das igrejas que havia estabelecido nas suas viagens missionárias. Apesar disso, a sua visão, não obstante os quatro anos do seu encarceramento, estava mais livre e expansiva do que nunca. Paulo escreve com o entusiasmo de um pai e com a visão de um profeta, a fim de inspirar essas igrejas recém-criadas, as quais ele deveria amar a distância.

    Em vez de seguir seu padrão normal nas cartas de apresentar questões doutrinárias direcionadas a problemas individuais, Paulo passa rapidamente da saudação pessoal para uma explicação abrangente do plano eterno de Deus para a salvação. Paulo diz que Deus predestinou seu amor aos efésios antes da criação do mundo, e seu propósito para o seu povo santo culminará na transformação do mundo por meio da igreja (cap. 1). O plano eterno de Deus e seu poder soberano incluem e reúnem todas as raças, submetendo o mundo inteiro ao reinado de Cristo por meio do ministério da igreja, e são tão infalíveis a ponto de já terem garantido a participação dos cristãos com Cristo no céu (cap. 1–2). O escopo de Paulo vai do horizonte passado ao horizonte futuro da eternidade, ligando terra e céu, destruindo barreiras humanas, revelando a origem e o propósito celestiais da diversidade de dons da igreja e, por fim, nos compelindo, com profundo amor, à união, à misericórdia e à pureza na igreja (Ef 1–4). Em última análise, os cristãos não são apenas assegurados quanto a um mundo transformado, um lugar no céu e um propósito na terra, mas a eles é dito também como terem as suas vidas e lares habitados pelo Espírito (cap. 5–6). Por fim, somos assegurados do poder do Cristo ressurreto para derrotar Satanás (cap. 6).

    As instruções práticas na segunda metade da carta são reminiscências de outras cartas paulinas, mas, dada a grandeza dos seus temas de abertura, a majestade e intimidade de Deus por ele descrito e a esperança que esses temas forneceram ao apóstolo, no decorrer dos seus próprios perigos, não nos admiramos que a sua mente e o seu coração estivessem frequentemente transbordando de doxologia e oração. Essa carta é corretamente citada como sendo essencial para estabelecer as verdades da soberania de Deus na nossa salvação pessoal. No entanto, quando elevarmos os nossos olhos para além das nossas fronteiras pessoais para compartilhar, mesmo que seja apenas um vislumbre da visão grandiosa de Paulo, então nós, também, nos juntaremos à sua doxologia pela maravilhosa graça de Deus que salva pessoas, capacita a igreja e, por meio disso, transforma o mundo.

    Efésios

    A glória de Cristo na vida da igreja

    1

    O nosso chamado

    Efésios 1.1-2

    Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Ef 1.1-2).

    Por favor, ore: a nossa igreja está em uma luta interna a respeito da poligamia. Por favor, ore: rebeldes voltaram a atacar esta primavera e nos forçaram a abandonar pessoas que vínhamos tentando ajudar em situação de grande perigo. Por favor, ore para que o catecismo em andamento nesta igreja recém-estabelecida espelhe verdadeiramente a primazia do evangelho da graça e não simplesmente estabeleça a autoridade dos líderes locais para fazer novas regras em reação aos costumes pagãos estabelecidos há gerações. Por favor, ore pela minha tendência habitual de me ocupar com muitos afazeres, como se o meu valor e o meu serviço para Deus dependessem de minha capacidade de executar tarefas.

    Esses pedidos de oração foram feitos por Rick Gray, missionário em Bundibugyo, Uganda. Os desafios que ele descreve nos seus relatórios de missão me deixam maravilhado com a sua fé – e com uma grande vontade de ter uma fé igual. Pense nas enormes dificuldades que ele enfrenta: uma sociedade reduzida à pobreza extrema e dilacerada por uma guerra civil; uma igreja local envolvida em pecado familiar e sexual arraigado há gerações e culturalmente aprovado pela sociedade; uma liderança eclesiástica focada em combater essas mazelas por meio do legalismo autoritário; e um coração que tenta ministrar em meio a todos esses problemas com uma segurança refletida sobre o que posso fazer para consertar tudo isso.

    O mundo interno e o mundo externo fazem tão grande pressão e trazem tantos desafios que seria compreensível se Rick fraquejasse ou desistisse, mas ele não faz nada disso. De alguma maneira, a fé deu a ele a capacidade de encarar a realidade e a imensidão dos desafios e, ao mesmo tempo, servir com perseverança, coragem e alegria. De onde vem essa capacidade de encarar problemas maiores que as nossas forças humanas e continuar confiando que Deus tem um propósito em tudo isso, e que não nos esforçamos em vão? Isso é algo que todo cristão deseja saber porque sabemos o que significa enfrentar desafios maiores do que nós mesmos, ainda que o nosso campo missionário não seja Uganda, mas nosso bairro, local de trabalho ou o lar.

    Sabemos o que significa enfrentar falta de recursos e não saber como ou se Deus irá suprir como desejamos. Muitos de nós também sabemos o que significa enfrentar famílias cujos problemas se arrastam há gerações, enfrentar empresas e igrejas tão influenciadas pelos pecados da nossa cultura que nem mesmo veem o que está errado. E nós nos perguntamos como faremos qualquer diferença porque, às vezes, também não vemos o erro. Os desafios que são maiores que nós não estão apenas fora de nós. Eles estão também em nós. Se ousarmos olhar para dentro de nós mesmos, veremos nossa incapacidade para vencer o pecado que assedia, nossas dúvidas persistentes a respeito da nossa capacidade de fazer o que Deus nos chamou para fazer, tanto no nosso lar quanto na nossa vida pessoal, e a resistência do nosso coração em ceder à humildade libertadora do evangelho. A imensidão dos desafios internos e externos nos faz ter vontade de desistir ou também de fugir do chamado de Deus. Senhor, é difícil demais. Não tenho forças para isso, grita o nosso coração. Como encarar problemas maiores que as nossas próprias forças ou recursos? O apóstolo Paulo responde por nós nas primeiras palavras da sua carta aos efésios. Sua introdução sinaliza as respostas da fé necessária para fazer frente aos grandes desafios de uma cultura exterior e do nosso coração interior.

    Afirme a origem de sua força (1.1)

    Paulo tem pela frente um imenso desafio. Ele deve ser um apóstolo – mensageiro escolhido pelo Senhor Jesus aos gentios1 de Éfeso (Ef 1.1a e 1.2a). Não apenas historicamente a cultura deles opunha-se à mensagem do amor da aliança de Deus, mas o povo da aliança – os judeus – está se opondo a que os gentios recebam a mensagem. Imensas barreiras de diferenças culturais, históricas e raciais confrontam o apóstolo. E o que ele pode fazer a respeito disso? Ele está na prisão sob a guarda romana.2 Entenderíamos se Paulo simplesmente tivesse dito: Desisto, Senhor. Os obstáculos são maiores do que eu mesmo. O Senhor terá de encontrar outra pessoa. No entanto, Paulo recusa-se a desistir porque ele reconhece que a sua força para enfrentar os obstáculos está em provisões além de si mesmo: a Palavra de Deus e a vontade de Deus.

    A Palavra de Deus (1.1)

    Quando Paulo diz que é um apóstolo de Cristo Jesus, ele está afirmando ser um mensageiro designado. O termo não é incidental. O Jesus crucificado, que é o Cristo – o Ungido dos judeus, o Messias há muito tempo profetizado, aquele que morreu e ressuscitou e está vivo ao lado de Deus, o Rei do universo, o Senhor que derrubou o violento Saulo na estrada para Damasco, a fim transformá-lo numa voz redentora aos gentios a respeito do amor eterno de Deus –, esse mesmo Jesus Cristo é aquele que chamou Paulo para falar. Tudo isso significa que, além de pertencer a Jesus, o apóstolo também o representa de tal maneira que a sua mensagem equivale à própria voz de Cristo. Quando Paulo fala sob a inspiração do Espírito de Deus, o próprio Cristo fala. Quando Paulo fala de graça e paz aos efésios, é o próprio Deus, nosso Pai, [...] [e o] Senhor Jesus Cristo que os estão abençoando. Portanto, que importa para ele se está preso, passando necessidades ou que a oposição que enfrenta seja grande? E fala em nome de Deus, e o fato de saber disso o enche de coragem e determinação para enfrentar os desafios do seu chamado.

    Poderíamos pensar que o chamado especial de Paulo não nos autoriza a ter o mesmo tipo de confiança. Afinal de contas, não sou apóstolo, alguém diria. O que a confiança dele tem a ver comigo? Na verdade, todos os cristãos se beneficiam do chamado de Paulo, o qual, por meio da sabedoria do seu Senhor, nos deixou um registro escrito da mensagem de Deus que ainda está disponível para nós. Então, quando falamos com fidelidade essas verdades, a Palavra de Deus é nossa. Podemos enfrentar oposição, resistência e privações, mas o conhecimento de que Deus fala conosco e por meio de nós significa que não somos dependentes da nossa própria sabedoria ou autoridade. Quer interagindo com a sociedade nos espaços públicos ou com um amigo em dificuldade na sala de estar até altas horas da noite, Deus continua transmitindo as suas verdades por nosso intermédio. Não dependemos somente das nossas próprias palavras. A Palavra de Deus é fonte de poder e nos ampara quando nos deparamos com as limitações das nossas forças e a imensidão dos nossos desafios.

    A vontade de Deus (1.1a)

    Enfrentamos os nossos problemas não apenas com a Palavra de Deus, mas também com a vontade de Deus. Paulo diz que ele é um apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus (v. 1b).3 Contra os grandes desafios que ele está enfrentando, essa afirmação é a sua defesa, sua ofensiva e sua confiança.

    Paulo pode defender o seu direito de falar porque seu apostolado tinha origem na vontade de Deus. Houve uma época em que seu único propósito de vida era perseguir aqueles que confessavam Jesus como Senhor. Chegou a segurar as capas daqueles que apedrejaram Estêvão. Que direito ele tem de falar em nome de Deus?, alguém poderia questionar. De fato, nenhum, a julgar pelo seu histórico. No entanto, Paulo não se tornou apóstolo por causa de seu currículo, mas por ter sido redimido por Jesus Cristo, que o disciplinou, o chamou e o comissionou. Paulo podia muito bem confessar ser o maior dos pecadores, mas estava autorizado a falar em nome de Deus porque era da vontade de Deus que ele fizesse isso.

    Essa mensagem serve de consolo para nós também. Quando falamos em nome de Deus e somos questionados por pessoas que conhecem o nosso passado, as nossas fraquezas e as inconsistências da nossa vida pessoal, podemos afirmar juntamente com Paulo: Se o que digo estivesse fundamentado na minha vida, não teria moral nenhuma para falar. No entanto, o Senhor me chamou, me disciplinou e me comissionou para falar em seu nome. Porque Deus quer que eu fale, tenho o direito de falar.

    Mas a vontade de Deus não era apenas a defesa de Paulo, de que ele tinha o direito de falar; era também a sua ofensiva. Como seu apostolado é da vontade de Deus, Paulo podia dizer aos seus ouvintes: Tenho o direito de falar, e vocês a responsabilidade de ouvir. Paulo tinha coisas muito duras para dizer aos efésios e sabia que eles poderiam ignorar ou menosprezar as suas palavras. Contudo, se o que está falando é da vontade de Deus, então todos teriam de prestar atenção ao que ele dissesse. Porque o chamado de Paulo é da vontade de Deus, ele tem autoridade.

    A vontade de Deus é a defesa de Paulo, sua ofensiva, e, finalmente, a sua confiança. A vontade de Deus não apenas lhe dava autoridade como também criava uma expectativa poderosíssima nele: Deus tem um propósito para mim. Isso é poder. Para a pessoa que crê ter sido chamada das trevas para a luz por meio de um poder maior que qualquer outra coisa neste mundo, tudo o que outros consideram oposição é, para essa pessoa, oportunidade.

    Lucas, companheiro de viagem de Paulo, fornece um retrato maravilhoso do poder que provém da confiança de que nosso chamado é da vontade de Deus. Lucas registra que Paulo havia realizado milagres extraordinários na sua viagem anterior a Éfeso (At 19.11-12). Como resultado, muitos creram no Senhor Jesus, confessaram seus pecados publicamente, queimaram livros de magia caríssimos e deixaram de comprar ídolos de prata. Então, um ourives chamado Demétrio convocou seus colegas de profissão para um tumulto. Segundo ele, a mensagem de Paulo estava degradando a deusa Diana. A cidade inteira irrompeu em alvoroço. Uma multidão enlouquecida saiu agarrando quaisquer cristãos que via pela frente e os arrastando para o anfiteatro da cidade, onde, com ameaça de violência, se puseram a gritar Grande é a Diana dos efésios!, durante duas horas.

    O anfiteatro de Éfeso, que eu visitei, tinha capacidade para acomodar 20 mil pessoas sentadas. Até hoje me causa arrepios imaginar aquele lugar abarrotado de pessoas gritando e exigindo a morte daqueles novos cristãos. E, em meio a todo aquele perigo, sabe o que Paulo queria fazer? Estava confiantemente dizendo, Deixem-me falar com eles agora que estão reunidos. Os amigos de Paulo tiveram de segurá-lo para que ele não fosse falar à multidão. Pela providência divina, o escrivão da cidade disse às pessoas que, se elas não se acalmassem, os romanos viriam e as puniriam pelo tumulto, e isso dispersou a multidão. No entanto, não duvidamos da confiança de Paulo, que considerou a multidão ávida pelo seu sangue como uma congregação providencialmente reunida (veja At 19.30).

    Qual é o efeito da nossa crença de que o povo de Deus foi escolhido para um propósito divino por meio da vontade de Deus? Não se trata simplesmente de afirmar que alguns são enviados como missionários a lugares distantes porque acreditam terem sido chamados por Deus para essa obra. Em vez disso, é crer que nenhum de nossos problemas é maior do que o plano de Deus. Quando meu amigo e estudioso do Novo Testamento, Hans Bayer, retorna após ter ministrado em áreas afetadas pela depressão econômica da ex-União Soviética, ele se angustia por causa do desespero esmagador que pode envolver toda uma cultura. Apesar disso, ele volta àquelas áreas repetidamente porque ele diz acreditar que a Palavra de Deus é verdadeira, e que a vontade divina ainda é utilizar pessoas que creem na sua Palavra para superar desafios imensos.

    Também podemos ter motivos semelhantes para nos entristecer, como a aceitação do aborto, que há décadas vem ocorrendo na nossa cultura de promiscuidade. Apesar disso, se cremos que a Palavra de Deus é verdadeira e que a vontade dele é usar o seu povo para superar desafios, não apenas ousaremos continuar falando como também procuraremos oportunidades para falar. Continuamos a lutar por justiça em meio à pobreza por sabermos que o Salvador a quem servimos ainda se alegra com a misericórdia – e por meio dela transmite sua graça. Não desistimos quando encontramos incredulidade, ridicularização e resistência ao evangelho na nossa própria família, pois cremos que a Palavra de Deus pode ser transmitida por meio dos nossos lábios. Acreditamos que a vontade de Deus em nos escolher como seus servos é a nossa defesa (embora outros conheçam nossas fraquezas), a nossa ofensiva (apesar de os outros acharem que não temos o direito de falar) e a nossa confiança (apesar de, da perspectiva humana, haver pouca chance de a situação mudar).

    De onde vem a confiança de que a Palavra de Deus e a sua vontade nos capacitam a superar tais problemas gigantescos? O ponto de partida de Paulo é importante. O próprio Paulo é um apóstolo por causa da vontade de Deus (veja, novamente, o v. 1a). O que está diante dos seus próprios olhos é o quão distante e oposto ao evangelho seu próprio coração estava quando Cristo o chamou. Quando não havia desejo de procurar Jesus, o Salvador fez desse fariseu dos judeus um apóstolo de Jesus. Paulo foi transferido de um universo para outro, e é claro para ele que isso não foi e não poderia ter sido algo que ele mesmo fez, mas, antes, a obra soberana de Deus.

    A ação soberana de Deus ficou muito clara para mim numa reunião na igreja. Nossa congregação passava por dificuldades que poderiam nos levar ao desespero. No entanto, no meio das nossas discussões, um homem começou a falar sobre a sua conversão a Cristo. Em seguida outro fez o mesmo, depois outro e mais outro; por fim, todos acabaram narrando a história da própria salvação. Um comentou a respeito de sua infância numa família não cristã; outro havia passado 30 anos no exército numa vida de rebelião, zombando de homens que vivam pela fé; outro confessou sua vida pecaminosa nos tempos de universidade e sua pressuposição de que os cristãos eram doidos. Cada um concordou que a única explicação para sua nova vida era o fato de Deus ter agido e virado o mundo deles de cabeça para baixo. Muitos cristãos poderiam dizer o mesmo: Eu estava preso a negócios lucrativos, mas escusos... na imoralidade e enganando os outros... imerso em filosofias seculares... criado numa família não cristã... mergulhado em cinismo e desespero... quando Deus me chamou. Não há outra explicação. Deus fez algo que não pode ser explicado e ninguém mais conseguiria fazer. Ele altera o mundo pela sua própria vontade. É isso o que Paulo está dizendo. E essa afirmação dá a ele confiança diante dos problemas.

    Para Paulo, a maior evidência do poder da Palavra e da vontade de Deus para superar as dificuldades esmagadoras é a obra de Deus na sua própria vida. Seu apostolado não era apenas para atestar as verdades de Deus – era para testemunhar do poder de Deus, isto é, a mensagem de que a vida pode ser diferente, que mudanças são possíveis, que a oposição ao evangelho pode ser superada. Paulo se regozija usando palavras não muito diferentes de um hino cristão que nos lembra de que Deus é o poder do meu poder. Paulo começa com seu testemunho porque ele sabe que os efésios (assim como nós) precisam conhecer a fonte e a força do poder espiritual à luz do que ele deve dizer a seguir.

    Reconheça a força da oposição que você enfrenta (1.1b-c)

    Paulo afirma nossa fonte de poder com o propósito de nos ajudar a reconhecer a natureza das dificuldades que enfrentamos, as quais, embora pareçam assustadoras, podem ser superadas.

    A oposição parece ser esmagadora (1.1b)

    A falta de familiaridade com o mundo antigo não nos permite captar a mudança na segunda metade do primeiro versículo. Quando Paulo diz que sua carta é para os santos que vivem em Éfeso, raramente captamos o significado.4 Atualmente, equivaleria a endereçar a carta aos cristãos no Irã ou aos evangélicos que trabalham na MTV. Nesses casos, a expressão pareceria fora de propósito em razão dos enormes desafios à fé que o cristão enfrenta nesses locais.

    Éfeso era a quarta ou quinta maior cidade do mundo na época de Paulo. A quantidade de pessoas que viviam ali pareceria assustadora para qualquer pessoa com uma nova mensagem de fé. Essa mesma sensação de futilidade tomou conta de um missionário que sobrevoou Calcutá pela primeira vez. Diante da imensidão de pessoas que viviam ali embaixo, ficou a imaginar que diferença ele poderia fazer naquela cidade. A única coisa que o fez permanecer foi, em suas palavras, a crença de que Deus havia ido para Calcutá antes dele. Paulo provavelmente teve essa mesma percepção quanto à presença e ao propósito de Deus em Éfeso, pois a cidade representava um enorme desafio à fé.

    Éfeso acabrunharia não apenas pela quantidade de pessoas, mas por causa de crença contrária. As atuais ruínas da cidade ainda preservam restos de uma enorme estátua do imperador romano Trajano. Embora Trajano tenha governado depois da época de Paulo, sua estátua ainda demonstra a atitude dos imperadores que Paulo teve de enfrentar. As ruínas dessa estátua mostram o pé do imperador apoiado sobre o globo terrestre, demonstrando duas coisas: as pessoas da antiguidade já estavam cientes do formato do planeta, e os romanos dominavam de tal maneira o mundo antigo a ponto de o imperador imaginar a si mesmo como possuidor da autoridade de um deus.5

    Além do culto ao imperador, Paulo também enfrentou outros tipos de adoração que aprisionavam muitos corações. Éfeso era um porto marítimo importante. Mesmo hoje, enquanto andamos pela rua das antigas docas para entrar na cidade. Há vestígios de um sinal entalhado em pedra que os guias dizem ser usado para indicar aos marinheiros a localização de um bordel. Porém, a tentação sexual não era apenas para a diversão daqueles que estavam só de passagem. Relatos antigos e pesquisas arqueológicas continuam revelando que a economia e a cultura de toda aquela região viviam imersas em materialismo, sensualidade e idolatria, exatamente como acontece atualmente em qualquer cidade moderna.

    A antiga Éfeso não era mais ímpia que outras cidades. Na verdade, havia apelos religiosos rivais para a integridade moral por parte de cidadãos decentes da cidade. No entanto, quer se buscasse abafar a imoralidade ou explorá-la, a cidade exibia todas as características comuns e desesperadoras de uma cultura em busca de algo divino. Por exemplo, um dos edifícios mais notáveis entre as ruínas da cidade é a sua antiga biblioteca.6 O edifício é um marco não apenas do compromisso cultural com o aprendizado, mas da noção grega (assimilada pela cultura romana) de que o verdadeiro esclarecimento era obtido por meio de níveis cada vez mais elevados de conhecimento obscuro – não apenas erudição filosófica, mas também experiências (tanto ascéticas quanto eróticas). A cidade e sua cultura eram viciadas numa variedade de paganismo sofisticado e ao mesmo tempo sórdido. Para tornar a situação ainda pior, a cultura greco-romana ainda era capaz de afirmar que essas coisas eram religiosamente boas. Embora hoje haja debate entre os estudiosos quanto ao grau de depravação da antiga Éfeso, não duvidamos da perversidade de uma cultura cujos deuses pagãos eram cultuados a despeito de suas perversões e malícias.

    O fato de Paulo referir-se aos cristãos de Éfeso como santos, um termo de origem judaica que significa separados ou consagrados (um termo que às vezes era reservado para os anjos), era algo impensável, até mesmo ofensivo, para os judeus da época.7 Um comentarista escreveu que Paulo, por meio dessa terminologia, conferiu a todos os seus ouvintes de origem pagã um privilégio anteriormente reservado em Israel apenas para servos especiais (especialmente os sacerdotais) de Deus.8

    Referir-se aos cristãos de Éfeso como santos era algo inacreditável, talvez até mesmo um exagero. Afinal, como era possível haver santos num lugar onde a política, a filosofia, a economia e a religião se interligavam para capturar toda uma cultura em pecado generalizado? Essa é uma pergunta não apenas para os tempos de Paulo. Isso porque, ao vermos a extensão do pecado ao nosso redor e em nós hoje, também podemos nos perguntar se há santos onde vivemos.

    É possível que haja santos, pessoas consagradas, numa cultura de pecado arraigado? Em pelo menos um sentido a resposta deve ser não, porque se o materialismo permeia toda a cultura, como poderia o cristão não sofrer nenhuma influência em questões relacionadas a trabalho, dinheiro, tempo e família? Poderia uma mãe não se sentir às vezes vitimada em razão dos seus filhos pequenos não permitirem que ela evolua profissionalmente? Se estamos cercados pela pornografia, como podem até mesmo aqueles cujo casamento é saudável e aqueles cuja moral é correta não serem afetados pela impureza? Numa cultura religiosa preocupada com números, tamanho e quantidade, haveria alguém isento da culpa de pragmatismo na busca do sucesso ou de inveja de quem aparentemente possui mais do que nós? Numa cultura política convencida de que o esforço humano é o caminho para a glória, haveria alguém isento de avidez pelo poder? Não, numa cultura de pecado arraigado não há ninguém imaculado, mas isso não significa que o pecado seja invencível. Segundo alguns padrões, nossos desafios sempre parecerão generalizados e esmagadores, mas por meio do evangelho devemos perceber também que eles podem ser superados.

    A oposição pode ser vencida (1.1c)

    Paulo identifica apenas a localidade geográfica desses santos como sendo em Éfeso; a condição espiritual deles não estava ligada a esse local. Utilizando um paralelismo inteligente no original grego, Paulo se refere ao povo de Deus como santos que vivem em Éfeso – dando a localização física deles; e fiéis em Cristo Jesus – dando a condição espiritual deles.9 Embora cercados pelo paganismo, eles estavam, no entanto, seguros em Cristo, não por serem pessoas consagradas, mas em razão da fé que os unia a Jesus. Aqui mais uma vez o apóstolo declara, como de praxe em suas cartas, a beleza e os benefícios da nossa união com Cristo. Embora problemas e tentações nos cerquem, eles não nos derrotam. Permanecemos santos de Deus por causa da nossa união com Jesus. Mais uma vez Paulo tira o foco de nós mesmos como a resposta aos desafios que são maiores que nós. Quando o pecado é generalizado, prevalecemos não pela nossa força, mas pela virtude do poder consagrador do Deus, que é nosso somente mediante a fé.

    Reconheça a força da sua mensagem (1.2)

    Na sua saudação no início, Paulo apresenta o tema que deseja comunicar no restante do livro: graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Ef 1.2). Os cristãos de Éfeso estavam vivendo no meio de um paganismo flagrante e poderoso. Eles tinham a vida ameaçada por ele e eram tocados por ele; no entanto, o apóstolo está oferecendo graça em meio ao pecado e paz em meio aos dilemas de consciência e provável perseguição. Como é possível ter esse tipo de esperança em meio a esses tipos de dificuldades?

    O poder da graça (1.2a)

    Paulo pode oferecer essa esperança porque a graça e a paz que ele oferece não têm origem humana, mas são concedidas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. E, portanto, não têm as limitações naturais do poder e do esforço humano. Essas palavras são comuns no início das cartas de Paulo (Rm 1.7; 1Co 1.3; 2Co 1.2; Gl 1.3; Ef 1.2; Fp 1.2; 2Ts 1.2; Fm 3; também em forma abreviada em Cl 1.2; 1Ts 1.1). Com frequência tem sido observado que Paulo combina uma antiga saudação judaica de shalom (paz) com uma modificação cristã da saudação gentia comum. A saudação grega padrão cairein (que significa olá ou, lit., alegre-se), foi transformada em caris (que significa graça). Assim, por meio dessas palavras simples, Paulo ressalta a boa-nova de que Deus provê o que não podemos realizar por nossa própria conta.

    A origem divina da graça na vida de Paulo permeia a sua mensagem de muitas maneiras. Até mesmo a ordem do nome divino (Senhor Jesus Cristo) na sua saudação reflete o progresso da graça na própria vida do apóstolo. No seu zelo para alcançar aceitação divina, esse ávido judeu perseguidor, até então conhecido como Saulo, esforçava-se ao máximo para pacificar Deus, o Pai. Certo dia, porém, esse zelote foi derrubado na estrada para Damasco por uma luz ofuscante e uma voz que dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?. "Quem és tu, Senhor?, respondeu ele. Eu sou Jesus, a quem tu persegues, foi a resposta (At 9.4-5). Dali em diante, Paulo começou a proclamar esse Jesus como o Cristo" (At 9.22).

    O poder da paz (1.2a)

    A saudação de Paulo aos efésios ecoa o progresso de sua compreensão da irresistível graça divina por meio da sequência da sua vivência com as pessoas da Trindade. Quando Paulo (como Saulo) era inimigo de Deus, o Pai enviou o Filho para reivindicá-lo para si. Sem nenhum esforço da parte de Paulo – na verdade, em face dos esforços contrários de Paulo –, o Filho tomou as providências para fazer de Paulo um verdadeiro filho de Deus. Por essa razão Paulo reconhece Jesus como o Messias, o Cristo. O conhecimento de um Deus que age em benefício do seu povo sem nenhum mérito da parte deles é a graça autoevidente na vida de Paulo. Ele proclama essa graça aos efésios não simplesmente como a esperança deles, mas também como a paz deles, porque essa graça significa que Deus não leva mais em conta os pecados deles. Deus superou os obstáculos do coração humano e o poder da impiedade humana. Porque Paulo conhece essa graça, ele sente paz – e compartilha ambas, sabendo que, quando a graça é entendida como o poder misericordioso e triunfante de Deus em favor do seu povo, então o resultado é paz.

    A paz é o que permite Paulo perseverar diante do sofrimento, quando as igrejas resistem ao seu ministério e quando seu ministério parece ser incapaz de superar os obstáculos tanto de dentro quanto de fora da igreja. Embora Paulo estivesse preso na época em que escreveu aos efésios, ele permanecia confiante no amor e no propósito de Deus. Como ele estava em paz, o ministério de Paulo prosseguia. Por meio da sua vida entendemos que a paz é o poder para o ministério, bem como o fruto da graça. Talvez seja por isso que Paulo iniciou a carta com uma promessa de paz, uma vez que o que ele diria no restante da sua carta a respeito do ministério da igreja daria motivo para muita controvérsia.

    Nós também devemos estar cientes desse poder na paz. Estatísticas publicadas pela fundação Lilly endowment* a respeito do pastorado nas igrejas revelaram que 30% dos pastores estão indo bem – têm dom para a tarefa e parecem eficazes em seu ministério; no entanto, 40% seguem apenas improvisando conforme a necessidade – sentem-se inúteis, encurralados em becos sem saída, enveredando por trilhas que parecem cada vez mais pantanosas. Os 30% restantes se encontram em situação crítica – mal conseguem ficar em pé, sentem-se atacados por todos os lados, veem a si mesmos como fracassados, buscam desesperadamente uma saída qualquer. O que isso quer dizer é que 70% dos pastores consideram-se inadequados no ministério que exercem. Os obstáculos tornaram-se grandes demais. Os pastores perguntam a si mesmos se a situação vai algum dia mudar, e acreditam que não têm mais recursos para que consigam fazer uma diferença.

    Não é preciso ser pastor para se perguntar se os desafios do ministério são grandes demais para esperar mudanças. Alguns líderes têm lidado com crianças e adolescentes que, apesar de frequentarem a igreja, parecem endurecidos quanto ao evangelho e escravizados à cultura. Conselheiros têm atendido pessoas cujos problemas parecem tão profundos, complexos, duradouros ou ímpios a ponto de se perguntarem que mais poderia ser dito ou feito para ajudar. Muitos trabalham em ambientes em que os valores seculares deixaram de ser questionados, fazendo com que o testemunho cristão pareça antiquado e até mesmo intolerante. Alguns frequentam igrejas locais enfraquecidas por décadas de amargura, licenciosidade e indiferença.

    Se os problemas são tão grandes, a cultura tão ímpia, a igreja tão fraca e as pessoas tão humanas, então que base há para se esperar que qualquer mudança seja realmente possível?

    O apóstolo nos dá a resposta por meio das suas amáveis palavras iniciais, as quais revelam a chave para o nosso poder. O que Paulo diz que aconteceu com ele pode acontecer com outras pessoas na igreja hoje. Deus superou o pecado de Paulo, sua ira, sua índole assassina e a sua guerra contra a fé. Se Deus pode fazer isso, então podemos estar em paz sabendo que Deus é capaz de superar qualquer um dos grandes obstáculos desta vida, sejam eles produtos de nossa cultura ou da nossa própria fraqueza humana. Podemos estar em paz quanto ao que não conseguimos realizar pela nossa própria força porque a obra de Deus não depende da força humana. Não precisamos nos desesperar simplesmente porque não somos fortes o bastante para superar os nossos desafios. Quando a mensagem da graça dá o fruto da paz, então possuímos e refletimos o poder do evangelho. A fraqueza humana não é o fim da história. Deus está operando, de modo que os cristãos podem ficar em paz e prosseguir. A paz pessoal que a graça nos traz é a fonte secreta do poder para o ministério invencível.

    Confrontado com desafios enormes em Uganda, Rick Gray escreveu a respeito de um contratempo pessoal que chamou sua atenção para a fonte de poder que o capacitava a encarar a dificuldade com a expectativa de mudança:

    Enquanto revisava o primeiro rascunho do Katekisimo (o novo catecismo que estamos preparando) propus-me a completar um determinado número de páginas por dia. Certa tarde, à medida que o tempo passava e Mubwisi, meu querido cotradutor, debatia-se com a escolha da palavra ideal em lubwisi para exprimir o sentido do texto em inglês, eu perdi a paciência com ele e o tratei com aspereza e antipatia, impaciente por ele não trabalhar mais rápido. Minha propensão a ter o trabalho pronto me cegou para a presença de Cristo e tapou os meus ouvidos para a convicção do Espírito a respeito do meu pecado.

    A menos que eu mantenha Jesus no centro do meu ministério, não serei capaz de amar as pessoas e trazer glória para Deus. Sou liberto de minha propensão e necessidade de cumprir tarefas somente quando percebo que meu valor não está na minha capacidade de produção para Deus, mas no amor magnífico do Salvador por mim. A percepção das suas mãos cravejadas e estendidas para me abraçar me capacita a agir e a amar as pessoas ao meu redor com a mesma compaixão. Somente o amor evangélico que flui de mim para o coração dos outros me possibilita transformar a vida das pessoas com quem me relaciono em meu ministério [...]

    Assim, embora acredite que o Katekisimo e a disciplina na igreja de Bundimulinga são ministérios que Deus pode utilizar para mudar a vida e o coração das pessoas, também estou convencido de que, a menos que essas atividades sejam realizadas em parceria com Jesus e fundamentadas numa percepção profunda do amor que emana do Calvário, elas poderão facilmente causar mais mal do que bem.

    Rick enfrenta grandes desafios: pobreza, sistema de saúde precário, baixa qualidade de ensino, cristãos imaturos, catecismo inadequado, guerra civil e lutas pessoais. Não é de admirar que algumas vezes Rick duvide que seus esforços vão fazer alguma diferença. Apesar disso, ele sabe que a resposta aos seus questionamentos está em crer na verdade da fidelidade de Deus.

    O Deus cuja Palavra e vontade superam os obstáculos do coração de Rick não se intimida com as adversidades do mundo. Ao contrário, continua oferecendo graça e paz para todos aqueles que o buscam. Quando conhecemos sua graça, então podemos vivenciar a sua paz, independentemente dos desafios que enfrentamos. E essa paz nos impede de cair em desespero ou desistir. Portanto, a paz de Deus é mais poderosa que as forças opositoras do mundo e de nós mesmos. Paz é a prova e expressão do poder de Deus. Não existe nada neste mundo mais forte do que a paz que é o poder do evangelho para aquele que crê. Com essa paz o evangelho supera desafios maiores que as nossas forças e nos dá confiança e amor para enfrentar os problemas em nome de Cristo e com a sua bênção.

    Notas

    * (N. do T.) Organização filantrópica particular norte-americana (sediada na cidade de Indianápolis, estado de Indiana, Estados Unidos) cujo propósito é promover apoio educacional e espiritual em comunidades.

    1 Um público gentio é evidente à luz das referências a vós, gentios em Efésios 2.11 e 3.1 e na ênfase de Paulo no seu papel de apóstolo aos gentios nessa carta (3.1-12; cf. Rm 11.13; 1Tm 2.7). Isso não exclui a possibilidade de que também estivesse se dirigindo a cristãos judeus, o que explicaria sua ênfase na unidade da igreja (tanto judeus quanto gentios) em 2.11–3.7.

    2 A prisão de Paulo está implícita em Efésios 4.1 (cf. 3.13; 6.20). Provavelmente, trata-se do mesmo período em que escreveu Colossenses e Filemom, uma vez que o mesmo mensageiro, Tíquico, é o portador da carta (Ef 6.21-22; Cl 4.7-9; observe, porém, 2Tm 4.12; Tt 3.12; At 20.4), e também acompanha Onésimo (Cl 4.9; cf. Fm 10-14).

    3 Nas suas saudações iniciais, com frequência Paulo apresenta seu apostolado como resultado da vontade de Deus (1Co 1.1; 2Co 1.1; 2Tm 1.1). No contexto dos primeiros versículos de Efésios, esse tema é ainda mais importante em vista da ênfase na vontade operativa de Deus na predestinação dos crentes para adoção e glória (Ef 1.5,11-12; cf. 1.9).

    4 Alguns manuscritos gregos antigos omitem as palavras que vivem em Éfeso. Isso levou a três interpretações: (a) a carta original incluía essas palavras, mas elas foram omitidas em alguma das primeiras cópias; (b) a carta original foi escrita para circular pelas várias igrejas da Ásia Menor (incluindo a igreja de Éfeso), de modo que havia um espaço em branco para ser preenchido com o nome da igreja em

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