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Interseção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri
Interseção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri
Interseção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri
E-book370 páginas4 horas

Interseção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri

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Sobre este e-book

VOLUME 2/3
Uma catástrofe de proporções bíblicas está prestes a recair sobre o nosso planeta. Mas desta vez os terráqueos não estão sozinhos. Alguns dos habitantes no planeta Nibiru estão do lado deles, arriscando suas próprias vidas, para se oporem às terríveis forças da Natureza que serão desencadeadas. Neste segundo episódio da série ”As Aventuras de Azakis e Petri”, nossos dois adoráveis alienígenas precisarão utilizar toda a sua experiência e a sua incrível tecnologia para impedir o evento já dramaticamente anunciado no episódio anterior, intitulado ”De volta à Terra”. Reviravoltas, revelações e releituras de eventos e incidentes históricos farão com que o leitor aguarde ansiosamente pela última linha deste romance.
IdiomaPortuguês
EditoraTektime
Data de lançamento4 de jan. de 2020
ISBN9788835404194

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    Pré-visualização do livro

    Interseção Com Nibiru - Danilo Clementoni

    Introdução

    O vigésimo planeta, Nibiru (o planeta de passagem), como foi denominado pelos sumérios, ou Marduk (rei dos céus), assim referido pelos babilônios, na verdade é um corpo celestial orbitando nosso Sol em um período de 3.600 anos. Sua órbita é substancialmente elíptica e retrógrada (gira em torno do Sol em direção oposta aos outros planetas) e nitidamente inclinada em relação ao eixo do nosso sistema solar.

    Em cada aproximação cíclica, com frequência, ocorreram imensas turbulências interplanetárias no nosso sistema solar, assim como nas órbitas e na estrutura dos planetas em que consiste. Foi durante uma de suas transições mais conturbadas que o majestoso planeta Tiamat, localizado entre Marte e Júpiter, cuja massa é de aproximadamente nove vezes a da atual Terra, rico em água e com onze satélites, fora destruído numa colisão cataclísmica. Uma das sete luas que orbitam Nibiru atingiu o gigantesco Tiamat, cabalmente separando-o em dois e lançando as duas seções em órbitas opostas. Na transição seguinte (o segundo dia da Gênesis), os satélites remanescentes de Nibiru deram fim a este processo, destruindo completamente uma das duas seções formadas na primeira colisão. Os detritos gerados pelos múltiplos impactos criaram o que hoje conhecemos como Cinturão de Asteroides ou Anel de Fragmentos, como veio a ser chamado pelos sumérios. Este foi parcialmente engolido pelos planetas vizinhos. E Júpiter, em particular, captou o grosso dos detritos, desse modo aumentando visivelmente sua própria massa.

    Os objetos do satélite nesse desastre, incluindo os sobreviventes de Tiamat, foram quase todos projetados para as órbitas exteriores, formando o que atualmente conhecemos por cometas. A porção que sobreviveu à segunda transição então se posicionou numa órbita estável entre Marte e Vênus, levando consigo o último satélite restante e assim formando o que no presente chamamos de Terra, com sua inseparável companheira, a Lua.

    As marcas causadas por esse impacto cósmico, que ocorreu há cerca de 4 bilhões de anos, ainda são relativamente visíveis hoje. A porção marcada do planeta está agora completamente coberta pelas águas, no que hoje denominamos de Oceano Pacífico. Ela ocupa cerca de um terço da superfície de terra, se estendendo por mais de 179 milhões de quilômetros quadrados. Ao longo dessa vasta área, praticamente não existem áreas de superfície, mas apenas uma grande depressão, com profundidades superiores a dez quilômetros.

    Atualmente, a configuração de Nibiru é muito semelhante à da Terra. Dois terços dele estão cobertos de água, enquanto o restante é ocupado por um único continente, que se estende de norte a sul, com uma superfície total de mais de 100 milhões de quilômetros quadrados. Por centenas de milhares de anos, alguns de seus habitantes, aproveitando a aproximação cíclica do planeta ao nosso, nos fazem visitas sistemáticas, toda vez influenciando a cultura, o conhecimento, a tecnologia e até a própria evolução da raça humana. Nossos ancestrais se referiam a eles de muitas formas, mas talvez a que melhor os represente seja "deuses".

    Cenário

    Azakis e Petri, os dois adoráveis e inseparáveis alienígenas que protagonizam esta aventura, retornaram ao planeta Terra depois de um dos seus anos (equivalente a 3.600 anos terrestres). Sua missão? Recuperar uma carga preciosa que precisaram abandonar às pressas numa visita anterior, devido a uma falha no seu sistema de acoplagem. Porém desta vez, encontraram uma população terráquea muito distinta à que deixaram antes. Hábitos, tradições, cultura, tecnologia, sistemas de comunicação, armas. Tudo estava transformado.

    Na chegada, depararam-se com um par de terráqueos: a Doutora Elisa Hunter e o Coronel Jack Hudson, que se dispuseram a acolhê-los, e depois de inúmeras aventuras, lhes auxiliaram a concluir a sua delicada missão.

    Mas os dois alienígenas prefeririam não ter contado a seus novos amigos que seu próprio planeta, Nibiru, estava se aproximando rapidamente e em apenas sete dias terrestres, viria a interceptar a órbita terrestre. De acordo com os cálculos dos seus Anciãos, um dos sete satélites chegaria perto suficiente para quase tocar o planeta, provocando uma série de mudanças climáticas, comparáveis àquelas de uma passagem prévia, que se resumira a uma definição: O Grande Dilúvio.

    Na primeira parte do romance De volta à Terra – As aventuras de Azakis e Petri, os quatro estavam dentro da sua nave imponente, a Theos, e é a partir desse ponto que retomaremos a narrativa desta nova e fantástica aventura.

    Astronave Theos

    Nas últimas horas, o cérebro de Elisa fora atulhado por tantas informações, que se sentia como uma garotinha que comera doces demais. Dois estranhos mas adoráveis personagens, que de repente apareceram do nada, subverteram muitas certezas históricas que ela e o resto da humanidade quase sempre deram como incontestáveis. Eventos, descobertas científicas, crenças, cultos, religião e a própria evolução humana estavam prestes a serem completamente revolucionados. Notícias da descoberta de que seres de outro planeta manipularam habilmente e guiaram o desenvolvimento da humanidade, desde seus primórdios, teria um impacto na sociedade como o da afirmação de que a Terra era redonda e não plana.

    Azakis, junto a Petri, seu amigo fiel e companheiro de viagem, estava imóvel no centro da ponte de comando, seguindo com os olhos Elisa, que estava andando nervosamente de um lado para outro, com as mãos nos bolsos das calças largas, murmurando palavras indecifráveis.

    Jack, ao contrário, estava caído numa poltrona, tentando apoiar com as mãos a cabeça, que de repente pareceu incrivelmente pesada. Mas foi Jack que, depois de minutos intermináveis de silêncio, decidiu tomar as rédeas da situação. Subitamente ficou de pé e encarando os dois alienígenas, disse em voz firme: — Se nos escolheram para essa tarefa, devem ter uma razão. Tudo o que vou dizer é que não ficarão decepcionados — Então olhou diretamente nos olhos de Azakis e perguntou, determinado: — Poderiam nos mostrar uma simulação, com essa sua pequena mágica, — e apontou para a imagem virtual da Terra,  que ainda estava girando lentamente no centro da sala — da aproximação do seu planeta?

    — Com prazer — logo respondeu Azakis. Ele coletou todos os cálculos dos Anciãos pelo seu implante N^COM e elaborou uma representação gráfica diante deles.

    — Esse é Nibiru — disse ele, indicando o maior planeta. — E esses são seus satélites, dos quais estávamos falando.

    Sete corpos celestes, consideravelmente menores, estavam girando em torno do majestoso planeta a distâncias e velocidades muito diversas entre si. Azakis colocou o dedo indicador no que estava orbitando mais longe de todos e ampliou-o até ficar quase do seu tamanho. Então, muito solenemente, disse: — Senhoras e Senhores, permitam-me a apresentar Kodon; esta imponente massa rochosa decidiu criar muitos problemas para o seu querido planeta.

    — Mas qual é o seu tamanho? — perguntou Elisa, intrigada, enquanto observava o globo cinzento irregular.

    — Digamos que é um pouco menor do que a sua Lua, mas a massa é quase o dobro — Azakis fez um gesto ligeiro com a mão e o sistema solar inteiro apareceu diante deles, com os planetas se movendo lentamente em suas respectivas órbitas. As trajetórias de cada um eram representadas por finas linhas coloridas e diversas.

    — Esta, — continuou Azakis, apontando para uma linha vermelha escura — é a trajetória que Nibiru seguirá ao se aproximar do Sol — Então ele acelerou o movimento do planeta, até estar perto da Terra, e acrescentou: — e este é o ponto em que as órbitas dos dois planetas se cruzarão.

    Atônitos, mas prestando muito atenção, os dois terráqueos observavam a explicação que Azakis estava dando sobre o evento que, em apenas alguns dias, complicaria suas vidas e as de todos os  habitantes do planeta.

    — Em que distância Nibiru chegará até nós? — perguntou em voz baixa o Coronel.

    — Como disse, — respondeu Azakis, — Nibiru não será um incômodo excessivo para vocês. É Kodon que quase vai encostar na Terra e provocar muitos problemas — Ele trouxe a imagem um pouco mais perto e mostrou a simulação do satélite, no momento em que estaria no ponto mais próximo da órbita terrestre. — Este será o momento de força gravitacional máxima entre os dois corpos celestes. Kodon estará a apenas 200.000 quilômetros do seu planeta.

    — Raios! — exclamou Elisa. — Isso não é nada.

    — Na última vez, — retrucou Azakis — exatamente dois ciclos atrás, estava a cerca de 500.000 quilômetros de distância e todos nós  sabemos o que conseguiu causar então.

    — Sim, o famoso Grande Dilúvio.

    Jack estava de pé com as mãos entrelaçadas por trás das costas, balançando lentamente para frente e para trás, se erguendo levemente,  primeiro nos dedos do pé e depois nos calcanhares. De repente, num tom muito sério, quebrou o silêncio: — Com certeza não sou um dos maiores especialistas no assunto, mas receio que nenhuma tecnologia terrestre seria capaz de neutralizar um evento como esse.

    — Talvez pudéssemos lançar mísseis com ogivas nucleares — supôs Elisa.

    — Isso só acontece em filmes de ficção científica — respondeu Jack, sorrindo. — E de qualquer modo, supondo que pudéssemos fazer a aterrissagem de vetores desse tipo em Kodon, arriscaríamos destroçar o satélite em milhares de pedaços, provocando uma chuva mortal de meteoros. Isso seria realmente o fim de tudo.

    — Com licença — disse Elisa para os dois alienígenas. — Não disseram antes que, em troca do nosso precioso plástico, nos ajudariam a resolver esta situação absurda? Espero que realmente tenham algumas ideias boas para ajudar-nos aqui, porque senão, estamos conversados.

    Petri, que estivera quieto, de braços cruzados, sorriu ligeiramente e deu um passo em direção à cena tridimensional representada no meio da ponte. Com um rápido momento da mão direita, desenhou um tipo de rosquinha prateada. Ele apontou para a mesma com o indicador e moveu-a, até estar exatamente entre a Terra e Kodon, e então disse: — Esta deve ser a solução.

    Tell el-Mukayyar – A fuga

    Na tenda do laboratório, os dois falsos beduínos que tentaram roubar o precioso conteúdo da nave auxiliar dos dois alienígenas, estavam amordaçados e firmemente amarrados a um grande barril de combustível. Estavam sentados no chão, encostados no contêiner pesado de metal, em direções opostas. Um dos assistentes da doutora ficara de guarda no lado de fora da tenda e de vez em quando, olhava para dentro para vigiá-los.

    O mais magro, que visivelmente tinha algumas costelas partidas por causa do murro do Coronel, e apesar da dor que o impedia de respirar, não parou, nem um segundo, de olhar em volta, procurando algo para libertá-lo.

    A luz do sol da tarde penetrava a tenda timidamente por um pequeno buraco na parede, lançando um feixe fino de luz no ar quente e poeirento. Aquele raio de luz feito uma espada esboçava uma pequena elipse branca no chão, que estava se movendo lentamente em direção aos dois prisioneiros. O sujeito magro estava observando o progresso lento do pedaço iluminado, quase hipnotizado, quando um clarão de luz repentino o trouxe de volta à realidade. A cerca de um metro, algo metálico, soterrado pela metade na areia, refletia a luz do sol diretamente no seu olho direito. Ele mexeu um pouco a cabeça e tentou descobrir o que era, em vão. Então, tentou esticar uma perna naquela direção, mas uma terrível pontada em suas costas fez com que lembrasse do estado das costelas, e resolveu desistir. Pensou que provavelmente não alcançaria o objeto, e tentando falar através da mordaça, sussurrou: — Ei, ainda está vivo?

    O comparsa gordo não estava em situação melhor. Depois de Petri lançá-lo pelo ar, um grande hematoma apareceu no seu joelho direito; tinha um belo galo na testa, o ombro direito estava lhe torturando e o pulso direito estava inchado como um balão.

    — Acho que sim — ele respondeu em voz baixa, murmurando através da mordaça.

    — Ainda bem! Chamei-o por um bom tempo. Estava ficando preocupado.

    — Devo ter desmaiado. Minha cabeça está estourando.

    — Definitivamente precisamos sair daqui — disse o sujeito magro com determinação.

    — Mas como você está? Algo quebrado?

    — Devo ter algumas costelas partidas, mas me viro.

    — Como deixamos nos pegarem assim de surpresa?

    — Não importa agora. Aconteceu o que aconteceu. Vamos tentar ficar livres. Olhe para a sua esquerda, onde o raio da luz do dia aparece.

    — Não consigo ver nada — respondeu o gordo.

    — Há alguma coisa enterrada pela metade lá. Parece um objeto de metal. Veja se consegue alcançar com a sua perna.

    O ruído repentino do zíper da tenda se abrindo interrompeu a operação. O guarda apareceu e olhou para dentro. O gordo voltou a fingir que estava inconsciente enquanto o outro permaneceu completamente imóvel. O homem deu uma olhada neles, então rapidamente verificou todo o equipamento espalhado em volta, e com um ar satisfeito, se retirou e fechou a entrada novamente.

    Os dois ficaram parados um instante, então o gordo falou primeiro: — Essa foi perto.

    — Então, pode ver o objeto? Pode alcançá-lo?

    — Sim, agora eu posso. Espere, vou tentar.

    O falso beduíno obeso começou a balançar para frente e para trás, tentando soltar um pouco as cordas que o seguravam, e então começou a esticar a perna esquerda o máximo que podia na direção do objeto. Ele conseguiu alcançá-lo. Começou a cavar com o calcanhar até conseguir expor uma parte.

    — Parece uma espátula. Deve ser uma Marshalltown Trowel. Essa é a ferramenta preferida dos arqueólogos para raspar o chão, na procura de louça antiga.

    — Consegue apanhá-la?

    — Não.

    — Se você parasse de se empanturrar com porcarias, seria um pouco mais ágil, seu gordo feio.

    — O que meu físico vigoroso tem com isso?

    — Vamos lá então, físico vigoroso, vê se consegue pegar aquela espátula, ou farão com que emagreça na cadeia.

    Imagens de cafetões repugnantes e fedorentos de repente surgiram diante dos olhos do homem gordo. Essa visão terrível provocou uma força que pensava que não tinha mais. Ele curvou a coluna o mais longe que podia. Uma pontada de dor disparou diretamente do ombro dolorido para a cabeça, mas ele ignorou. Com uma investida firme, conseguiu levar o calcanhar para trás da espátula, e rapidamente dobrando a perna, puxou-a para si.

    — Feito — gritou através da mordaça.

    — Será que pode calar a boca, seu idiota? Pra quê está gritando? Quer que esses dois capangas voltem aqui e esmurrem a gente de novo?

    — Desculpe — o gordo replicou suavemente. — Mas consegui pegar de verdade.

    — Viu? Com empenho, até você é capaz de ser útil. Deve estar afiada. Veja se consegue cortar essas malditas cordas.

    Com a mão que estava sadia, o gordo agarrou o cabo da espátula e começou a esfregar a ponta mais afiada nas cordas por trás das costas.

    — Supondo que a gente possa ficar livre, — o gordo murmurou, — como vamos fugir daqui? Esta área está cheia de gente e ainda está amanhecendo. Espero que tenha um plano.

    — Claro que tenho! Não sou eu a mente engenhosa por aqui? — exclamou o magro, orgulhoso. — Enquanto você estava tirando uma sonequinha confortável, analisei a situação e achei um meio de dar o fora.

    — Sou todo ouvidos — respondeu o outro, continuando a subir e a descer a espátula.

    — Esse cara da vigia olha aqui pra dentro a cada dez minutos e nossa tenda está no lado leste da área.

    — E daí?

    — Como diabos pude trazer você como parceiro pra este trabalho? Você tem a imaginação e a inteligência de uma ameba; esperando que a ameba não fique ofendida com a comparação.

    — Na verdade — retorquiu o gordo ligeiramente ressentido — fui eu que te escolheu, uma vez que o trabalho foi dado a mim.

    — Conseguiu se libertar? — interrompeu o magro; a discussão estava começando a piorar e seu cúmplice estava absolutamente certo.

    — Preciso de alguns minutos. Acho que vai ceder.

    Logo depois, a corda usada para amarrar os dois ao barril se rompeu e a barriga do gordo, finalmente livre de restrições, retornou ao tamanho normal.

    — Conseguimos! — exclamou o gordo, satisfeito.

    — Excelente. Agora vamos continuar até o guarda voltar. Precisamos fazer com que tudo esteja do mesmo jeito que antes.

    — Ok, parceiro. Vou fingir de novo que estou adormecido.

    Os dois não precisaram esperar muito. Alguns minutos depois, o assistente da doutora estava de volta, para espiar dentro da tenda. Ele deu a olhada habitual em volta, checando o ambiente, e sem notar nada fora do comum, fechou o zíper e então se posicionou novamente na sombra da varanda, calmamente acendendo um cigarro enrolado à mão.

    — Agora — disse o sujeito magro. — Vamos embora.

    Com todas as dores e desconfortos, era mais complicado do que se imaginava, mas depois de soltarem gemidos monótonos de dor e vários palavrões, acabaram frente a frente.

    — Passe a espátula pra mim — ordenou o magro, removendo sua mordaça. As dores no lado direito impediam que se mexesse com facilidade, mas ao colocar sua mão aberta no seu lado, conseguiu aliviar um pouco a dor. Ele alcançou o lado oposto à entrada da tenda com alguns passos, ajoelhou-se e lentamente empurrou a espátula Marshall para dentro. A lâmina afiada da espátula atravessou o pano macio do lado voltado para o leste como manteiga, criando uma pequena fenda de quase dez centímetros. O sujeito magro aproximou o olho direito e espiou pela fenda por alguns instantes. Como esperado, não havia ninguém ali. Somente as ruínas da antiga cidade, a cerca de cem metros, onde, de antemão, haviam escondido o jipe que seria usado para a fuga, com toda a pilhagem.

    — Caminho livre — disse ele, usando a lâmina da espátula para abrir o pequeno corte até o chão. — Vamos! — e rastejou pela fenda.

    — Podia ter feito um buraco maior? — resmungou o gordo, entre um gemido e outro, enquanto tentava, com dificuldade, deslizar para fora.

    — Venha logo! Precisamos fugir depressa.

    — Fácil falar. Mal consigo andar.

    — Deixa disso, se apresse e pare de reclamar. Lembre-se, se não conseguirmos fugir, ninguém impedirá que passemos uns bons anos na cadeia.

    A palavra cadeia sempre instigava força extra no sujeito gordo. Ele não falou mais nada, e sofrendo em silêncio, seguiu o companheiro, que se arrastava furtivamente em direção às ruínas.

    Foi o estrondo de um motor à distância que despertou suspeitas do homem da vigia. Olhou para o cigarro agora apagado, então atirou-o para longe com um gesto rápido. Determinado, ele passou para dentro da tenda, mas mal podia acreditar no que via: os dois prisioneiros fugiram. A corda fora deixada de qualquer jeito perto do barril de combustível, um pouco mais adiante estavam os dois pedaços de pano que usaram como mordaças e na parede no fim da tenda, um rasgão que ia até o chão.

    — Hisham, pessoal — berrou o homem com todo o fôlego que tinha nos pulmões. — Os prisioneiros fugiram!

    Astronave Theos – O superfluido

    A imagem do objeto que Petri havia colocado no espaço entre Kodon e a Terra deixou ambos os terráqueos boquiabertos.

    — E o que é essa coisa? — perguntou Elisa com curiosidade, enquanto ia mais perto para enxergar melhor.

    — Ainda não demos um nome oficial — Petri trouxe o estranho objeto de volta ao primeiro plano de novo, e observando a doutora, acrescentou: — Talvez você possa escolher um.

    — Se ao menos você explicasse o que é, talvez eu pudesse tentar.

    — Nossos melhores cientistas se dedicaram a este projeto há um certo tempo — Petri entrelaçou as mãos por trás das costas e começou a andar lentamente pela sala. — Esse equipamento é o resultado de uma série de estudos que, em parte, vão mesmo além das minhas habilidades científicas.

    — E posso lhes garantir que são notáveis — disse Azakis, dando um tapinha afetuoso nas costas do colega.

    — Em poucas palavras, é uma espécie de sistema antigravitacional. Tem base em um princípio que, como disse, ainda está sendo estudado, mas que posso tentar resumir em algumas palavras.

    — Acho que isso seria bem melhor — comentou Elisa. — Não se esqueçam de que pertencemos a uma espécie que, se comparada à sua, pode ser definida facilmente como subdesenvolvida.

    Petri assentiu ligeiramente. Então se aproximou da representação tridimensional do estranho objeto e calmamente continuou a explicação. — Isto – que vocês chamaram de rosquinha anteriormente – é geometricamente definido como toroide. O anel tubular é oco, enquanto o que poderíamos simplesmente chamar de buraco central contém o sistema de propulsão e de controle.

    — Até aqui, está tudo claro — disse Elisa, cada vez mais empolgada.

    — Muito bem. Agora vamos examinar o princípio de operação do sistema — Petri girou a imagem do toroide e mostrou a seção interna. — O anel é preenchido por um gás, geralmente um isótopo de hélio,  que, refrigerado a uma temperatura perto de zero absoluto, muda de estado e se transforma num líquido com características bem particulares. Na prática, sua viscosidade se torna quase nula e pode fluir sem gerar nenhuma fricção. Chamamos essa característica de superfluidez.

    — Agora estou ficando um pouco perdida — disse Elisa, lamentando.

    — Simplificando, esse gás, em estado líquido, adequadamente estimulado pela estrutura do anel, será capaz de viajar dentro dele, sem nenhuma dificuldade, a uma velocidade próxima à da luz, e conseguirá mantê-la por um período teoricamente infinito.

    — Fantástico — foi tudo o que Jack comentou, e não havia perdido nem uma sílaba de toda a explicação.

    — Ok, agora acho que entendi — acrescentou Elisa. — Mas como essa engenhoca vai combater os efeitos da força gravitacional entre os dois planetas?

    — É aí que as coisas começam a ficar mais complicadas — respondeu Petri. — Digamos que a rotação do superfluido a velocidades próximas à da luz, gerem uma curvatura de continuidade espaço-tempo em volta, provocando um efeito antigravitacional.

    — Meu Deus! — exclamou Elisa. — Meu velho professor de física estaria se revirando no túmulo.

    — E não somente ele, minha querida — acrescentou o Coronel. — Se entendi direito o que esses dois senhores estão tentando nos explicar, cá estamos conversando sobre a subversão de muitas teorias e conceitos que vários dos nossos cientistas passaram a vida inteira tentando analisar e estudar. O princípio de antigravidade foi teorizado mais de uma vez, antes que qualquer um fosse capaz de prová-lo completamente. Agora finalmente temos a prova aqui, diante de nós — e ele apontou para o estranho objeto — de que isso é realmente possível.

    — Eu teria um pouco mais de cuidado — disse Azakis, atenuando um pouco o entusiasmo do Coronel. — Sinto-me obrigado a informar-lhes que essa coisa nunca foi testada em grandes objetos como planetas, ou melhor, tentamos há dois ciclos mas não terminou exatamente como esperávamos. Além disso, eventos que não antecipamos podem ocorrer,  e…

    — Lá vem você, trazendo má sorte como sempre — disse Petri, interrompendo seu colega. — O mecanismo já foi demonstrado antes. Nossa própria astronave usa parte desse princípio para propulsão. Vamos ser otimistas ao menos uma vez!

    — Porque realmente não existem outras alternativas, de qualquer jeito, ou estou errada? — perguntou Elisa, com uma voz decepcionada.

    — Infelizmente, creio que não — disse Petri desolado, levemente cabisbaixo. — Na verdade, a única coisa que realmente temo é que, dado o tamanho reduzido do nosso toroide, não seremos capazes de absorver completamente todos os efeitos da força gravitacional, e uma parte dos grávitons conseguirá fazer seu trabalho, de qualquer forma.

    — Está dizendo que essa coisa poderá não ser suficiente para impedir uma catástrofe, mesmo assim? — perguntou Elisa,   aproximando-se do alienígena de maneira ameaçadora.

    — Talvez não totalmente — respondeu Petri, dando um pequeno passo para trás. — Pelos meus cálculos, diria que cerca de dez por cento dos grávitons poderiam ser liberados nesse tipo de manobra.

    — Então, tudo poderia ser esforço em vão?

    — Absolutamente — respondeu Petri. — Reduziremos os efeitos em noventa por cento. Sobrará muito pouco para manejarmos.

    — Vamos chamar de "Newark". — disse Elisa satisfeita. — Agora é melhor nos apressarmos. Sete dias passam rápido.

    Base aérea Camp Adder – O refúgio

    Os dois estranhos personagens, ainda vestidos de beduínos, acabavam de entrar em seu esconderijo na cidade, quando um fraco som intermitente do laptop, ainda funcionando na mesa da sala de estar, chamou-lhes a atenção.

    — Quem diabos será? — perguntou o magro, irritado.

    O sujeito gordo, que agora estava mancando mais do que antes,  aproximou-se do computador, e depois de digitar uma senha decididamente complicada, disse: — É uma mensagem da base.

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