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De Volta À Terra: As Aventuras De Azakis E Petri
De Volta À Terra: As Aventuras De Azakis E Petri
De Volta À Terra: As Aventuras De Azakis E Petri
E-book302 páginas3 horas

De Volta À Terra: As Aventuras De Azakis E Petri

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Sobre este e-book

VOLUME 1/3 - (Português Brasileiro)

”Estávamos no caminho de volta. Apenas um dos nossos anos solares se passou desde que fomos forçados a deixar o planeta às pressas, mas para eles, em anos terrestres, se passaram 3.600. O que encontraríamos?”

Nibiru, o décimo segundo planeta do nosso sistema solar, tem uma órbita extremamente elíptica e retrógrada, muito maior do que todas as outras. De fato, leva aproximadamente 3.600 anos para completar uma volta em torno do Sol. Seus habitantes, aproveitando essa aproximação cíclica, têm realizado visitas sistemáticas por centenas de milhares de anos, todas as vezes influenciando a cultura, o conhecimento, a tecnologia e até a própria evolução da raça humana. Nossos ancestrais referiam-se a eles de muitas formas, mas talvez a que melhor os represente seja ”deuses”. Azakis e Petris, dois amáveis habitantes desse exótico planeta, a bordo da astronave Theos, estão retornando à Terra para recuperar um misteriosa e preciosa carga, que fora escondida em uma visita anterior. Uma história irresistível e divertida, ao mesmo tempo cheia de suspense e de releituras potencialmente devastadoras de eventos históricos.
IdiomaPortuguês
EditoraTektime
Data de lançamento29 de nov. de 2019
ISBN9788835400417

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    Pré-visualização do livro

    De Volta À Terra - Danilo Clementoni

    Introdução

    O décimo segundo planeta, Nibiru (o planeta de passagem), como foi chamado pelos sumerianos, ou Marduk (o rei dos céus), apelidado pelos babilônios, na verdade é um corpo celeste que orbita em torno do nosso sol, em um período de 3.600 anos. A sua órbita é substancialmente elíptica, retrógrada (gira em torno do sol na direção oposta à dos outros planetas) e é muito inclinada em relação ao plano do nosso sistema solar.

    Cada aproximação cíclica quase sempre resultou em enormes perturbações interplanetárias no nosso sistema solar, tanto nas órbitas, quanto na configuração dos planetas dos quais faz parte. Em particular, foi em uma de suas passagens mais tumultuosas, que o planeta imponente Tiamat, localizado entre Marte e Júpiter, com uma massa de cerca de nove vezes a da Terra, rico em água e equipado com onze satélites, fora devastado por uma colisão enorme. Uma das sete luas que orbitam em torno de Nibiru bateu no gigante Tiamat, dividindo-o praticamente ao meio e forçando as duas seções a seguirem órbitas diferentes. Em um segundo momento (o segundo dia da Gênesis), os satélites restantes de Nibiru completaram o feito, destruindo completamente uma das duas partes formadas na primeira colisão. Os detritos gerados pelos múltiplos impactos, em parte, criaram o que hoje conhecemos como o Cinturão de Asteroides ou Anel de Fragmentos, como era chamado pelos sumerianos, que então foram incorporados aos planetas vizinhos. Foi Júpiter, em particular, que capturou a maioria dos detritos, aumentando consideravelmente a sua massa.

    Os satélites causadores do desastre, incluindo os sobreviventes do ex-Tiamat foram, em sua maioria, lançados para fora das órbitas, formando o que atualmente conhecemos como cometas. A porção que escapou da segunda colisão se posicionou em uma órbita estável entre Marte e Vênus, levando consigo o último satélite, e assim formou o que conhecemos na atualidade como Terra, juntamente à sua companheira inseparável, a Lua.

    A cicatriz causada pelo impacto cósmico, que ocorreu há cerca de 4 bilhões de anos, ainda é parcialmente visível hoje. A parte danificada do planeta está completamente coberta por águas do que agora é chamado de Oceano Pacífico. Ele ocupa cerca de um terço da superfície da Terra, com uma área de mais de 179 milhões de quilômetros quadrados. Ao longo desta vasta área, praticamente não existem áreas de superfície, mas apenas uma grande depressão, com profundidades superiores a dez quilômetros.

    Atualmente, a configuração de Nibiru é muito semelhante à da Terra. Dois terços dele são cobertos por água, enquanto o resto está ocupado por um único continente que se estende de norte a sul, com uma área total de mais de 100 milhões de quilômetros quadrados. Alguns de seus habitantes, por centenas de milhares de anos, aproveitando a aproximação cíclica do planeta ao nosso, nos fazem visitas sistemáticas, cada vez influenciando a cultura, o conhecimento, a tecnologia e até a própria evolução da raça humana. Nossos ancestrais se referiam a eles de muitas formas, mas talvez o nome que melhor os represente seja "deuses".

    Astronave Theos – Um milhão de quilômetros de Júpiter

    Azakis estava deitado confortavelmente na sua poltrona escura auto moldável, que o seu velho amigo Artesão construiu com as próprias mãos, dando-lhe de presente há alguns anos, na ocasião de sua primeira missão interplanetária.

    — Vai te dar sorte — disse aquele dia. — Servirá para você relaxar e tomar as decisões certas quando for preciso.

    Sentado ali, havia tomado várias decisões desde então e a sorte de fato e amiúde, estivera ao seu lado. Por essa razão, ele sempre se lembrava dessa estimada recordação, mesmo a despeito de muitas regras que o teriam impedido, especialmente em uma nave espacial como a Bousen-1, na qual encontrava-se agora.

    Uma linha fina de fumaça azulada subia reta e rápida do charuto entre o polegar e o indicador da mão direita, enquanto com os olhos, tentava seguir a 4,2 UA¹ que ainda o separava do seu destino. Embora fizesse esse tipo de viagem há muitos anos, o charme da escuridão do espaço e de bilhões de estrelas que o salpicavam sempre foram capazes de capturar seus pensamentos. A grande abertura elíptica, logo à sua frente, permitia-lhe ter uma visão completa da direção do curso e ele ficava sempre surpreendido como esse campo de força, tão fino quanto uma teia, era capaz de protegê-lo do frio do espaço sideral, impedir o escape repentino de ar e de ser sugado pelo vácuo exterior. A morte seria quase imediata.

    Deu uma tragada rápida no seu charuto e voltou a olhar para a tela holográfica à sua frente, onde apareceu o rosto cansado e barbudo de Petri, seu companheiro de viagem, que na outra parte da nave, reparava o sistema de controle dos tubos de exaustão. Brincou um pouco, distorcendo a imagem soprando a fumaça que acabara de inalar, criando um efeito de onda que lembrava muito os movimentos sinuosos das dançarinas sensuais que costumava encontrar, quando finalmente voltava para a sua cidade natal e podia desfrutar de um merecido descanso.

    Petri, seu amigo e companheiro de aventuras, tinha quase trinta e dois anos e era a sua quarta missão deste tipo. Sua enorme estatura e físico imponente incutiam sempre muito respeito em todos os que passavam a conhecê-lo. Com olhos negros como o espaço exterior, cabelo longo, escuro e bagunçado que ia até os ombros, quase dois metros de altura e trinta, peito e braços vigorosos, capazes de levantar um Nebir² adulto sem esforço, ainda conservava a alma de uma criança. Ele era capaz de se comover vendo desabrochar uma flor de Soel³ ; podia ficar por horas, enlevado, assistindo as ondas do mar quebrarem na costa branca do Golfo do Saraan⁴ . Um indivíduo incrível, confiável e leal, disposto a dar sua própria vida por ele sem hesitação. Ele nunca teria partido sem Petri ao seu lado. Era a única pessoa no mundo em quem confiava cegamente e a quem nunca trairia.

    Os motores da astronave, ajustados para a navegação dentro do sistema solar, transmitiam o clássico e reconfortante zumbido bifásico. Para seus ouvidos treinados, o som confirmava que tudo estava funcionando perfeitamente. Com sua sensibilidade auditiva, seria capaz de perceber uma variação nas salas de câmbio de apenas 0,0001 Lasig, bem antes que o sofisticadíssimo sistema de controle automatizado. Por isso lhe fora concedido, já em idade jovem, o comando de uma astronave da classe Pegasus.

    Muitos fariam absolutamente qualquer coisa para estar no posto dele. Mas lá estava ele.

    O implante intraocular O^OCM fez com que a nova rota recalculada se materializasse à sua frente. Era notável como um objeto de apenas alguns mícrons podia executar todas aquelas funções. Inserido diretamente no nervo ótico, era capaz de exibir um painel de controle inteiro, sobrepondo-se à imagem que na realidade estava à sua frente. No início, não fora fácil se acostumar com aquele dispositivo e mais de uma vez não conseguira conter a náusea. Agora, no entanto, não podia trabalhar sem ele.

    O sistema solar inteiro girava em torno dele com toda a sua fascinante magnificência. O pequeno ponto azul perto do gigante Júpiter representava a posição da sua astronave, e a linha vermelha fina e curvada um pouco mais que a anterior agora transparente, indicava a nova trajetória em direção à Terra.

    A atração gravitacional do maior planeta do sistema era alarmante. Era essencial ficar a uma distância segura e somente a potência dos dois motores Bousen permitiria a Theos escapar do abraço mortal.

    — Azakis — resmungou o comunicador portátil sobre o painel de comando à sua frente. — Devemos verificar a condição das conexões no compartimento seis.

    — Você ainda não fez isso? — respondeu em tom de brincadeira, sabendo que enfureceria o seu amigo.

    — Jogue fora esse charuto fedorento e venha me dar uma mão! — Petri bradou.

    Eu sabia.

    Conseguira irritar o amigo e estava se divertindo à beça.

    — Aqui estou, aqui estou. Estou a caminho, meu amigo, não fique exaltado.

    — Vamos, estou no meio desta porcaria há quatro horas e não estou a fim de brincadeiras.

    Resmungão como sempre. Porém, nada nem ninguém seria capaz de separá-los.

    Eles se conheciam desde a infância. Petri o tinha salvado mais de uma vez de uma surra certa (sempre fora muito maior do que os outros, desde criança), intervindo com o seu tamanho respeitável entre seu amigo e a turma habitual de valentões, da qual ele fora alvo com frequência.

    Quando menino, Azakis não sabia se era o tipo pelo qual os membros mais atraentes do sexo oposto brigariam para ter. Vestia-se sempre bastante desalinhado, com a cabeça raspada, magricela e sempre conectado à Rede, da qual absorvia um número vasto de informações a uma velocidade dez vezes superior à média. Com dez anos, graças ao seu excelente desempenho acadêmico, obtivera um acesso de nível C, com a opção de adquirir conhecimento que não estava disponibilizado para a maioria de seus pares. O implante neural N^OCM que garantia aquele tipo de acesso, no entanto, tinha alguns pequenos efeitos colaterais. Durante a fase de aquisição, a concentração tinha de ser absoluta, e uma vez que passava a maior parte do seu tempo assim, tinha quase sempre uma expressão ausente, com o olhar perdido, isolado de tudo o que acontecia ao seu redor. Na verdade todos acreditavam que, ao contrário do que diziam os Anciãos, ele fosse meio retardado.

    Ele nunca se importou com isso.

    Sua sede de conhecimento não tinha limites. Mesmo durante a noite permanecia conectado, e embora durante o sono a capacidade de aquisição, por causa da necessidade de concentração absoluta, fosse reduzida misteriosamente para 1%, não queria perder nem um segundo da sua vida sem aproveitar a oportunidade de desenvolver a própria bagagem cultural.

    Acordou com um leve sorriso e foi em direção ao compartimento seis, onde seu amigo o estava esperando.

    Planeta Terra Tell El-Mukayyar  Iraque

    Elisa Hunter estava tentando pela enésima vez enxugar as malditas gotas de suor que, da sua testa, teimavam em cair lentamente na direção do seu nariz, e em seguida, mergulhar na areia quente aos seus pés. Já havia muitas horas que estivera de joelhos, com a sua inseparável Espátula Marshalltown⁶ , raspando delicadamente o solo, na tentativa de trazer à luz, sem danos, aquela que parecia ser a parte superior de uma lápide. Desde o começo, essa teoria não a tinha convencido. Estivera trabalhando por quase dois meses perto do Zigurate de Ur.⁷ Graças a sua fama de arqueóloga e especialista em língua sumeriana, tinham lhe dado permissão para trabalhar. Muitas sepulturas foram encontradas desde o começo das escavações no início do séc. XX, mas em nenhuma delas tinham visto um artefato como aquele. Dada a forma quadrada particular e o grande porte, maior que um sarcófago, parecia a tampa de uma espécie de recipiente enterrado ali milhares de anos antes, para proteger ou esconder não se sabia o quê.

    Infelizmente tendo descoberto, pelo momento, apenas uma porção da parte superior, ainda não era capaz de determinar a altura do suposto recipiente. As incisões cuneiformes que cobriam toda a superfície visível da tampa não se assemelhavam a nada que já tivesse visto antes.

    Para traduzir, levaria vários dias e muitas noites sem dormir.

    — Doutora.

    Elisa levantou a cabeça, e com a mão direita logo acima dos olhos para protegê-los do sol, viu o seu ajudante Hisham se apressando em sua direção.

    — Doutora — repetiu o homem — uma chamada para você da base. Parece urgente.

    — Já vou. Obrigada Hisham.

    Aproveitou a pausa forçada para beber um gole de água, já quase fervendo, do cantil que ela sempre levava preso ao cinto.

    Uma chamada da base… Só pode ser problema.

    Levantou-se, deu uns tapas nas calças levantando várias nuvens de poeira e caminhou determinada para a tenda que servia de base de apoio para pesquisas.

    Ela abriu o zíper que mantinha a tenda semifechada e entrou. Demorou um pouco para seus olhos se habituarem à mudança de luz, mas isso não a impediu de reconhecer, no monitor, o rosto do Coronel Jack Hudson, que severamente, olhava para o nada, esperando ela aparecer.

    O Coronel era oficialmente responsável pela equipe estratégica antiterrorismo em Nassíria, mas a sua verdadeira tarefa era coordenar uma série de estudos científicos encomendados e controlados por um departamento enigmático: o ELSAD⁸ . Esse departamento era cercado pela aura de mistério que normalmente envolve esse tipo de corporação. Quase ninguém sabia exatamente os objetivos precisos e as metas dessa organização. Sabia-se apenas que o comando operacional reportava diretamente ao Presidente dos Estados Unidos.

    No fundo, Elisa não se importava muito. A verdadeira razão pela qual ela tinha decidido aceitar a oferta de participar de uma das expedições era que, finalmente, poderia voltar para o lugar que mais amava no mundo, fazendo o trabalho que adorava e em que, apesar da sua idade relativamente jovem (trinta e oito), era uma das mais talentosas e importantes no setor.

    — Boa noite, Coronel — disse ela, mostrando o seu melhor sorriso. — A que eu devo esta honra?

    — Doutora Hunter, pare com essas pieguices. Sabe muito bem por que estou ligando. A autorização que foi concedida para completar o seu trabalho já expirou há dois dias e a senhora não pode mais ficar aí.

    Sua voz era clara e firme. Desta vez, nem mesmo o seu charme inegável seria suficiente para arrancar um adiamento. Decidiu jogar sua última cartada.

    Desde 23 de março de 2003, quando a coalizão liderada pelos Estados Unidos havia decidido invadir o Iraque, com o propósito expresso de depor o ditador Saddam Hussein, acusado de manter armas de destruição em massa (alegação que se revelou infundada depois) e de apoiar o terrorismo islâmico no Iraque, toda a pesquisa arqueológica, já muito difícil em tempos de paz, havia sofrido uma parada forçada. Foi apenas com o fim formal das hostilidades em 15 de Abril de 2003 que reanimou a esperança de arqueólogos de todo o mundo de poderem voltar aos lugares em que, presumivelmente, as civilizações mais antigas da história tinham se desenvolvido e em seguida, espalhado a cultura em todo o globo. A decisão das autoridades iraquianas no final de 2011 de reabrir as escavações de alguns dos locais com valor histórico inestimável, a fim de continuar a aperfeiçoar a sua herança cultural finalmente transformou a esperança em certeza. Sob a bandeira da ONU e com inúmeras autorizações assinadas previamente e confirmadas por um número incontável de autoridades, vários grupos de pesquisadores, selecionados e supervisionados por funcionários competentes da comissão, poderiam operar por períodos limitados, nas áreas arqueológicas mais significativas do território iraquiano.

    — Caro Coronel — disse ela, aproximando-se tanto quanto possível da webcam, de modo que seus olhos verdes-esmeralda pudessem obter o efeito que esperava: — o senhor tem toda a razão.

    Sabia bem que dar razão ao interlocutor, o teria preparado de forma mais positiva.

    — Mas agora que estamos tão perto.

    — Perto do quê? — o Coronel gritou, levantando-se da cadeira e apoiando os punhos sobre a mesa. — Há semanas que persistiu com a mesma história. Não estou disposto a confiar mais sem ver com os meus próprios olhos algo de concreto.

    — Se o senhor me der a honra da sua companhia esta noite no jantar, terei o maior prazer de lhe mostrar algo que irá fazê-lo mudar de ideia. O senhor aceita?

    Os dentes brancos ostentavam um sorriso bonito e o passar de mão pelo cabelo louro e comprido fazia o resto. Ela tinha certeza que o tinha convencido.

    O Coronel franziu o cenho, tentando manter um olhar furioso, mas sabia que não resistiria a essa proposta. Elisa fazia o seu tipo e um jantar tête-à-tête o intrigava muito.

    Além do mais ele, apesar dos seus quarenta e oito anos, era ainda um homem atraente. Corpo atlético, traços marcantes, cabelos grisalhos curtos, olhar forte e decidido de um azul intenso, uma boa cultura geral que lhe permitia manter discussões sobre muitos temas, tudo combinado com o charme indiscutível do uniforme, fazia dele um exemplar do sexo masculino ainda muito interessante.

    — Ok — bufou o Coronel — mas se esta noite realmente não me mostrar algo de extraordinário, já pode começar a recolher toda a sua bugiganga e fazer as malas — ele tentou usar o tom mais autoritário possível, mas sem muito sucesso.

    — Às vinte e zero horas esteja pronta. Um carro irá buscá-la no seu hotel — e desligou, um pouco arrependido de não ter se despedido.

    Raios, tenho que me apressar. Tenho poucas horas antes de escurecer.

    — Hisham — gritou, espiando para fora da tenda. —Reúna toda a equipe. Preciso de toda a ajuda possível.

    Ela caminhou apressadamente os poucos metros que a separavam da área de escavação, deixando para trás uma série de pequenas nuvens de poeira. Em minutos, todos se reuniram ao seu redor, esperando por suas ordens.

    — Você, por favor, remova a areia daquele canto — ordenou, indicando o lado da pedra mais longe dela. — e você, ajude-o. Sugiro que tomem muito cuidado. Se é o que penso, esse objeto salvará a nossa pele.

    Astronave Theos   Órbita de Júpiter

    O pequeno, mas extremamente confortável módulo esférico de transferência interna estava correndo a uma velocidade média de cerca de 10 m/s, o condutor número três, que levaria Azakis até a entrada do compartimento onde o seu companheiro Petri o esperava.

    A Theos também tinha forma esférica e um diâmetro de noventa e seis metros, equipada com dezoito condutores tubulares, cada um com pouco mais de trezentos metros, como meridianos, construídos com dez graus de distância um do outro e cobrindo toda a circunferência. Cada um dos vinte e três níveis tinha quatro metros de altura, exceto o hangar central (décimo primeiro nível) que media o dobro; eram facilmente acessíveis graças às paradas que cada condutor fazia em cada andar. Na prática, para atravessar os dois pontos mais distantes da nave, levaria no máximo quinze segundos.

    A freagem foi quase imperceptível. A porta se abriu com um leve chiado e atrás dela apareceu Petri, parado com as pernas abertas e os braços cruzados.

    — Há horas que espero — disse num tom decididamente pouco convincente. — Você já terminou de entupir os filtros de ar com aquela porcaria fedorenta que sempre carrega? — a alusão ao  charuto era ligeiramente velada.

    Indiferente à provocação, com um sorriso, Azakis pegou do cinto o analisador portátil e o ativou com um gesto do polegar.

    — Segure isso e vamos logo — disse, passando o aparelho para Petri com uma das mãos, enquanto com a outra tentava colocar o sensor dentro do conector à sua direita. — Chegada prevista em aproximadamente 58 horas e estou ficando um pouco preocupado.

    — Por quê? — Petri perguntou ingenuamente.

    — Não sei. Tenho a sensação de que vamos ter uma grande surpresa desagradável.

    A ferramenta que Petri tinha na mão começou a emitir uma série de sons em diferentes frequências. Ele olhava o aparelho sem ter ideia do que estava indicando. Olhou em direção ao amigo à procura de algum sinal, mas não viu nenhum. Azakis, movendo-se com muito cuidado, apontou o sensor no outro conector. Uma nova série de sons ininteligíveis saiu do analisador. Depois, silêncio. Azakis pegou o instrumento da mão do seu companheiro, olhou atentamente para os resultados, e em seguida sorriu.

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