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Comentário Bíblico da Mulher Antigo Testamento - Volume I Gênesis a Jó
Comentário Bíblico da Mulher Antigo Testamento - Volume I Gênesis a Jó
Comentário Bíblico da Mulher Antigo Testamento - Volume I Gênesis a Jó
E-book1.668 páginas33 horas

Comentário Bíblico da Mulher Antigo Testamento - Volume I Gênesis a Jó

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Sobre este e-book

Editado e escrito por e para mulheres, o Comentário Bíblico da Mulher – Antigo Testamento, é uma excelente ferramenta de apoio aos estudiosos das Sagradas Escrituras. Onde, quando e quem escreveu determinado livro bíblico? Sob quais circunstâncias? Esta obra, de forma exegética e sob um olhar feminino, responde a esta e a outras questões, ajudando-nos a descobrir os significados mais profundos dos textos do Santo Livro, através da interpretação expositiva de suas mensagens e
ensinamentos.
IdiomaPortuguês
EditoraCPAD
Data de lançamento24 de mai. de 2022
ISBN9786559681211
Comentário Bíblico da Mulher Antigo Testamento - Volume I Gênesis a Jó

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    Comentário Bíblico da Mulher Antigo Testamento - Volume I Gênesis a Jó - Dorothy Kelley Patterson

    GÊNESIS

    INTRODUÇÃO

    Título

    Na Bíblia hebraica, todo livro do Pentateuco (os primeiros cinco livros do Antigo Testamento, a Torá dos judeus) recebia originalmente o título da(s) primeira(s) palavra(s) de seus respectivos livros. O mesmo é verdade para o título hebraico (berē’shit, no princípio) do livro de Gênesis. O título Gênesis, em português, usado na Vulgata latina, tradução de Jerônimo, origina-se da Septuaginta (a tradução do Antigo Testamento para o grego feita 300 anos antes de Cristo). Gênesis é uma transliteração do título grego, cujo sentido é origens. Registro ou gerações (heb. toledot) é a palavra-chave associada com a estrutura de Gênesis (Gn 2.4; 5.1; 6.9; 10.1).

    Cenário

    Os eventos registrados em Gênesis estendem-se historicamente até a morte de Josué, um período de pelo menos 2.500 anos. O escopo do livro se estreita de modo progressivo e consistente. O cenário, começando com a criação do universo, move-se ao longo da história para o assentamento da nação de Israel na pequena, mas fértil, região do delta do rio Nilo, no Egito. A seleção de seu conteúdo aponta para o propósito do autor divino: revelar a história e os princípios básicos do relacionamento de Deus com seu povo. Gênesis fornece o fundamento histórico para o restante do Pentateuco e toda a Bíblia, em particular em relação à aliança abraâmica.

    Gênero

    Gênesis é um livro estruturado com muito cuidado. Essa narrativa histórica tem uma seção inicial sobre a própria criação. O livro, depois dessa seção inicial, está dividido pela frase recorrente (heb. toletot, estas são as gerações), marcando as mudanças no desenvolvimento do povo de Deus. As promessas de Deus feitas na aliança são passadas com fidelidade de uma geração a outra. É possível afirmar que Gênesis é a história por trás do Deus que atraiu os israelitas para si mesmo como seu povo da aliança. O livro também inclui poesia, como a passagem em que Adão apresenta Eva (2.23) e a descrição da bênção de Jacó (49.2-27).

    Autor

    A autoria do Pentateuco foi sujeita a grande controvérsia em meio aos cristãos professos desde que Spinoza introduziu a alta crítica, ou o criticismo histórico, da Bíblia no século XVII. A hipótese documentário, desenvolvida a partir do trabalho de Spinoza, rejeitou a autoria mosaica do Pentateuco, como acreditava, até essa época, a maioria dos estudiosos no judaísmo e na igreja. Spinoza, ao contrário, sugeriu que o livro era o trabalho de vários escritores que viveram muito depois de Moisés. No entanto, a evidência de que Moisés escreveu o Pentateuco é conclusiva. Os livros de Êxodo, Números e Deuteronômio, todos eles, afirmam a autoria mosaica (Êx 17.14; 24.4-8; 34.27; Nm 33.1,2; Dt 31.9,22). Em outros trechos do Antigo Testamento, há referências ao Pentateuco como livro da Lei de Moisés (Js 8.31; 2Rs 14.6; Ne 13.1).

    O Novo Testamento também menciona Moisés como o autor (Mt 19.8; Lc 24.27; Jo 5.45-47; At 3.22; Rm 10.5; Ap 15.3). Jesus não disse de forma específica que Moisés escreveu Gênesis, mas naquela época os judeus consideravam o Pentateuco (Torá) como uma unidade. Jesus afirmou essa verdade (Mt 9.8; Mc 7.10; Lc 16.16-18; Jo 7.19). Os escritores do Novo Testamento teriam entendido o que Jesus disse sobre qualquer um dos cinco livros de Moisés como um endosso da autoria de Moisés para todo o Pentateuco. Outro apoio interno para a autoria mosaica incluiria a familiaridade do autor com a cultura e geografia egípcias, o que seria verdade em relação a Moisés, educado na casa do Faraó (Êx 2.10; At 7.20-22). Se houve edição pelos escribas provenientes de fontes que Moisés poderia ter usado, como a compilação das genealogias, isso não afetou a mensagem, a autoridade e a precisão do livro.

    Data

    Embora a data não possa ser determinada com certeza, se a autoria mosaica for aceita, conforme o é pela maioria dos evangélicos conservadores, a data de Gênesis tem de ser fixada durante o período de vida de Moisés (c. 1525-1405 a.C.), em que o período passado no deserto logo antes da entrada do povo de Deus na Terra Prometida sob o comando de Josué é a data mais provável para a escrita desse livro. Aceitando-se a data do êxodo como c. 1445 a.C., então a sugestão de c. 1.400 a.C. é uma data razoável.

    Destinatários

    Esse livro talvez tivesse originalmente a intenção de encorajar os israelitas a confiar em seu Deus onipotente e fiel quando antecipavam a entrada na Terra Prometida a partir de Cades-Barneia ou das planícies de Moabe. A geração mais velha que foi libertada da escravidão no Egito, com exceção de Josué e Calebe, morreu no deserto. Aqueles remanescentes que entraram em Canaã eram uma geração mais jovem sem memória em primeira mão da libertação milagrosa na qual Deus tirou seu povo do Egito. Moisés pode ter escrito o tratado um pouco antes para prepará-los para o êxodo, mas isso parece menos provável.

    Principais temas

    A principal personagem no livro de Gênesis é o Deus soberano do universo, e o livro aponta para o relacionamento entre Ele e sua criação e para seu plano para o povo da aliança. Dois temas principais emergem à medida que o livro se desenvolve:

    • Deus como Criador. O primeiro vislumbre de Deus na Bíblia demonstra seu poder como Criador dos céus e da terra e da humanidade — macho e fêmea. Uma teologia apropriada de Deus não pode ser desenvolvida sem primeiro compreender a soberania de Deus sobre sua criação — não apenas como Criador, mas também como Governante sobre seu povo e sobre a própria história.

    • Deus como Redentor. Quando o pecado entra no mundo, a natureza de Deus exige punição do pecado por causa de sua santidade pessoal. Deus, o ser perfeito e santo, não pode aceitar a profanação e a maldade. Quando você peca, corta sua ligação com Deus. Só quando o pecado é removido é que você estabelece seu relacionamento com Ele ou sua comunhão com Ele é restaurada. Contudo, ao longo do livro de Gênesis, você pode ver o plano de Deus para a redenção de seu povo quando Ele faz uma aliança com eles. Israel, o povo escolhido de Deus, de quem viria o Messias (a sua [da mulher] semente, 3.14,15), aquEle que por fim esmagaria aqueles que se rebelaram contra Deus (a tua [da serpente] semente), era o canal para a obra redentora de Deus. O Senhor estabeleceu sua aliança (heb. berith):

    • com Adão no jardim do Éden (2.16,17);

    • com Noé (9.8-11);

    • com Abraão (12.1-3; 15.1-21);

    • com Isaque (26.2-5);

    • com Jacó (28.13-15).

    Deus, ao longo de Gênesis, é aquEle que faz aliança e guarda essa aliança.

    Esboço

    I. A CRIAÇÃO (1.1—2.25)

    A. Os Céus e aTerra (1.1-19)

    B. As Criaturas Vivas (1.20-25)

    C. A Humanidade — Macho e Fêmea (1.26—2.25)

    II. A QUEDA (3.1-24)

    A. A Abordagem de Satanás (3.1-7)

    B. O Pronunciamento do Julgamento de Deus (3.8-24)

    III. A GERAÇÃO DE ADÃO (4.1—6.7)

    A. A Família de Adão (4.1-26)

    B. A Semente Piedosa de Sete (5.1-32)

    C. O Aumento da Perversidade (6.1-7)

    IV. A GERAÇÃO DE NOÉ (6.8—11.32)

    A. O Julgamento de Deus É Proferido (6.8—7.6)

    B. O Chamado de Noé por Deus (7.7—8.19)

    C. A Aliança de Deus com Noé (8.20—9.29)

    D. Os Descendentes de Noé (10.1-32)

    1. Jafé (10.1-5)

    2. Cam (10.6-20)

    3. Sem, ou seja, os hebreus (10.21-32)

    E. A Confusão de Línguas em Babel (11.1-32)

    V. A GERAÇÃO DE ABRAÃO (12.1—25.18)

    A. A Aliança de Deus com Abraão (12.1—13.6)

    B. A Fidelidade de Deus na Renovação da Aliança (13.7—17.27)

    C. A Obediência de Abraão ao Responder à Aliança (18.1—25.18)

    VI. A GERAÇÃO DE ISAQUE (25.19—35.29)

    A. O Nascimento de Dois Filhos (25.19-34)

    B. A Aliança de Deus com Isaque (26.1-35)

    C. A Escolha de Jacó por Deus (27.1—35.29)

    VII. A GERAÇÃO DE ESAÚ (36.1-43)

    VIII. A GERAÇÃO DE JACÓ E A SALVAÇÃO DE ISRAEL (37.1—50.26)

    A. O Semear do Conflito (37.1-11)

    B. A Escravidão de José (37.12-36)

    C. A Fidelidade de Deus para com José durante sua Ascensão ao Poder (38.1—41.57)

    D. A Reunião de José com seus Irmãos (42.1—45.15)

    E. A Jornada de Jacó para o Egito (45.16—48.22)

    F. A Bênção dos Descendentes de Jacó (49.1-28)

    G. A Morte de Jacó e, mais tarde, a de José (49.29—50.26)

    EXPOSIÇÃO DO TEXTO

    A CRIAÇÃO (1.1—2.25)

    Os Céus e a Terra (1.1-19)

    1.1 No princípio. Essa frase significa o princípio da existência, o princípio do universo. O escritor está considerando o princípio da forma como se relaciona com a humanidade, e não o princípio de todas as coisas, mas o princípio de todas as coisas físicas, de todas as coisas concernentes à humanidade. DEUS (heb. ’elohim) uma forma plural de ’El (ou estritamente ’eloah, termo usado na Bíblia apenas em poesias), a palavra hebraica e cananeia para um ser divino ou sobrenatural. Esse termo também pode ser usado para se referir ao sobrenatural, como anjos ou outros seres do mundo (e.g., 1Sm 28.13) ou aos deuses de outras nações, e nesse caso é usado com o verbo no plural. A forma plural encontrada aqui com o verbo no singular, contudo, é intensiva, indicando que Deus é maior que a norma. Em hebraico, esse fenômeno é um plural de majestade, sugerindo a grandeza de Deus, um ser complexo e maravilhoso além de qualquer descrição. O autor, no entanto, provavelmente não pensou em termos de uma triunidade (conforme demonstrado pelo uso de palavras no plural com o verbo no singular), embora um cristão, com a ajuda do Novo Testamento, possa ver isso implícito na forma plural.

    Em hebraico, o verbo CRIOU (heb. bara’), usado apenas para o trabalho divino, está na forma qal (ativa simples). Bara’ indica sempre a produção de algo novo. A palavra é usada três vezes nesse relato — sobre a criação inicial da matéria (1.1), a criação da vida animal (1.21) e a criação do homem à imagem de Deus (1.27) — indicando que cada um deles era visto como um princípio único. O fato de que tudo foi criado por Deus talvez seja de maior relevância. Veja comentários sobre homem, criou, fez e formou no comentário sobre 2.4-9.

    1.2-5 E a terra era sem forma e vazia (v. 2). O escritor, tendo falado da criação dos céus e da terra, volta sua atenção para a condição da terra. Deus criou a terra sem forma para que pudesse lhe dar forma; e a fez vazia para que pudesse enchê-la. Ele a cobriu com água para que pudesse produzir com ela o que seria alterado por suas mãos. Não há nenhum pensamento de que se tornara dessa forma, nem era naturalmente assim; nem, tampouco, que as forças do caos estavam em operação contra Deus. O trabalho criativo de Deus aconteceu da forma como Ele determinou que fosse.

    E o Espírito de Deus [ou vento poderoso com o termo hebraico ’elohim como um superlativo absoluto ou caso elativo, embora, é óbvio, pertencendo a Deus] se movia sobre a face das águas (v. 2). Deus, de qualquer modo, se movia sobre a terra, pronto para a ação. Consequentemente, espírito parece ser o sentido mais provável. A energia criativa de Deus estava esperando para agir. Ele que é luz estava pronto para agir nas trevas. Ele que é tudo que é relevante estava pronto para trazer relevância a essa massa sem forma. No Antigo Testamento, a ação direta de Deus, quando vista no mundo, é descrita com frequência em termos do Espírito de Deus. O Espírito de Deus, para o Antigo Testamento, representa Deus se estendendo para agir — embora de modo invisível — de maneira positiva, local e visível no mundo. Aqui, portanto, Deus se movia sobre o mundo prestes a revelar a si mesmo em ação. Por conseguinte, é provável que se deva ver o Espírito agindo por intermédio da Palavra de Deus.

    E disse Deus: Haja luz. E houve luz (v. 3). A luz foi separada de Deus e, ainda assim, foi provida e sustentada por sua palavra. Assim, Deus, por meio de sua palavra, produziu o positivo a partir do negativo. As palavras em hebraico da ordem de Deus, assim como em português, são repetidas exatamente na descrição dos resultados. Exatamente o que Deus ordenou — nem mais nem menos — aconteceu. O Novo Testamento dá testemunho disso quando Deus fala: Todas as coisas foram feitas por sua Palavra, pelo Verbo, Jesus Cristo (Jo 1.1-3). Deus, por intermédio de seu Filho, fez [...] também o mundo. [...] e sustent[a] todas as coisas pela palavra de seu poder (Hb 1.2,3).

    E viu Deus que era boa a luz (v. 4). Deus não tinha a menor dúvida sobre o resultado de sua palavra. Essas palavras confirmam que sua palavra alcançou o que Ele queria que alcançasse. Ele viu que isso era bom, como sabia que seria. A criação estava em perfeita harmonia com seus desejos. Deus, de forma distinta de algumas religiões que consideram a matéria má e o espírito bom, viu sua criação — tanto a material quanto a espiritual — como boa.

    1.6-8 Até esse momento, não havia atmosfera, pois a criação é vista como uma manta de água primeva. E agora Deus agiu para produzir uma atmosfera com águas embaixo e nuvens acima, sobre a expansão. A palavra para EXPANSÃO (heb. raqiya‘, firmamento indicava algo sobre o qual se pisou ou algo que se estendeu. A palavra, em sua forma verbal, sugere tornar fino como uma peça de metal martelado para tomar forma, como observamos no trabalho de um artesão e, portanto, estendendo ou expandindo. A implicação é que a expansão é a obra de um artesão, ou seja, algo especificamente planejado e feito por Deus, tendo, desse modo, uma permanência e perfeição inerentes, dignas dEle. O escritor, por conseguinte, não sugere que há algo físico segurando lá em cima as águas. Antes, ele usa uma metáfora vívida para descrever uma realidade. As águas sustentadas acima por algo estendido por Deus foram separadas das águas embaixo. O objetivo não é compreender nem explicar o mecanismo, mas mostrar como a criação de Deus em si mesma revela a natureza dEle como o Criador e Sustentador supremo do universo.

    1.9-13 No versículo 9, Deus disse, E APAREÇA [heb. ra’ah, "ser visto ou feito visível, apresente-se] A PORÇÃO SECA [heb. yabbashah], distinguindo essa parte da criação do mar (Êx 4.9; Sl 66.6; Jn 1.13). No versículo 10, ele "chamou [...] à porção seca TERRA" (heb. ’erets), uma palavra que originalmente se referia a toda a terra, incluindo as águas (1.1,2). Pode significar a terra, em oposição a os céus (1.1; 2.1,4), terra, em oposição a mares (v. 10) ou uma área particular de terra (2.12,13).

    Então, agora há luz e forma e diferenciação; os blocos de construção da vida estão sendo postos no lugar. Deus, mais uma vez, ordenou, e o que ordenou aconteceu. Deus provê o sustento necessário para o homem e os animais. Observe o detalhe sobre a diversidade de vegetação que ele produziu: erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra (v. 11). As mais diversas dietas devem gratidão à provisão de Deus. Além disso, o sustento é autossustentável. O verbo produziu (v. 12) indica que o que foi produzido era uma parte essencial do que Deus já criara. As plantas foram produzidas pela terra e se reproduziram na terra. Segue-se a segunda fase da criação.

    1.14-19 A partir do quarto dia, períodos de luz e trevas foram determinados pela ação do sol e da lua. Esses luminares marcam agora a extensão dos dias e anos (v. 14). Desse momento em diante, os luminares governariam as ideias de tempo e estações. Dias e meses e anos resultaram dessa atividade. Eram sinais da provisão contínua de Deus. Mais tarde, o arco-íris tornou-se o sinal de Deus da permanência deles para o homem (Gn 8.22; 9.12-17).

    O dar nomes, o que é bastante relevante, ocorreu nos primeiros três dias preparatórios, e, nos dias cinco e seis, os resultados da atividade criativa foram abençoados como vivos e reprodutivos, mas os luminares não receberam nome nem foram abençoados. Deus não lhes deu nome indicando o pano de fundo de sua natureza. Eles são controlados à distância. Não se envolveram diretamente nem eram vivos. Assim, se exclui qualquer pensamento de considerá-los seres divinos ou de dar-lhes qualquer importância além de objetos criados.

    As Criaturas Vivas (1.20-25)

    1.20-23 Deus criou duas categorias de CRIATURAS VIVAS (heb. nephesh chayyah) no quinto dia. A palavra nephesh, cujo significado é garganta, ou seja, a fonte para a respiração, evolui para significar a vida dentro e, portanto, coisas vivas. A frase toda, portanto, pode ser lida de forma mais literal como coisas vivas que têm vida. Deus trouxe à existência por meio de sua fala as grandes baleias, ou grandes animais marinhos (ARA), (heb. tannin, monstros do mar, grandes peixes) e todo réptil de alma vivente para que se ench[am] [heb. sharats, multiplicar, sobejar, proliferar; cp. 9.7; Êx 1.7; Ez 47.9] as águas e aves para povoar os céus. O escritor tinha ciência das grandes criaturas no mar. Estas, para muitos, pareciam seres aterradores, mas ele sabia que eram criaturas de Deus. Muitos mitos antigos falam de monstros marinhos semidivinos que causaram sofrimento e caos (e os salmistas usaram as ideias de forma pictórica para demonstrar o controle de Deus sobre a criação; e.g., Sl 74.13; 148.7), mas o papel deles aqui não tem nada que ver com caos ou conflito. Foram feitos por Deus e, portanto, estavam sob seu controle e vontade.

    1.24,25 No sexto dia da criação, Deus, mais uma vez, planejou a diversidade de almas viventes conforme sua espécie. A diversidade na criação não é uma oportunidade cega, mas os resultados do propósito de Deus. Observe que seu plano incluía animais que mais tarde seriam domesticados, bem como os que seriam chamados de animais selvagens.

    A Humanidade — Macho e Fêmea (1.26—2.25)

    1.26-31 Agora chegou o momento para o qual toda a criação estava se direcionando — a criação do homem à imagem de Deus. Tudo que viera antes estava subordinado a isso. O mundo fora feito para a humanidade.

    2.1-3 A descrição do último dia da criação acontece apenas nas palavras do autor. Deus não age nem fala. O escritor descreve o dia sétimo como a culminância da obra da criação, como o dia em que Deus acab[ou] [...] sua obra [e] descansou. Antes, quando se afirma que Deus concedeu sua bênção, as palavras dele se seguiram para explicar a bênção, mas aqui não há palavras de explicação. O escritor afirma o dia como abenço[ado] e separado por Deus porque esse dia marcou o término de sua obra.

    2.4-9 Esses versículos não registram outra criação; antes, o relato da criação é reiterado e expandido à medida que a ênfase passa do resumo geral da atividade criativa de Deus para o sobrescrito focando a criação do homem e da mulher. Esses versículos dizem respeito à provisão específica de Deus para sua criação. O homem é central a esse relato. A provisão de Deus para ele incluiu árvores frutíferas em um lugar escolhido, água em abundância, animais para prover um tipo de companhia e, por fim, aquela que deveria ser a companheira apropriada do homem.

    Quatro verbos hebraicos distintos, em Gênesis 1—2 são usados para a criação do homem por Deus:

    CRIOU (heb. bara’, fazer do nada, 1.1) é usado apenas para se referir à atividade divina. No contexto de Gênesis 1.1, essa palavra significa fazer do nada (cp. lat. ex nihilo, do nada). Bara’, com relação ao homem a quem Deus criou a partir do pó da terra, significa criou no sentido de formou, moldou ou produziu, 1.27; 5.1,2; 6.7).

    FEZ (heb. ‘asah; 1.7,16,25,26; 2.18) é uma palavra comum com o sentido de produzir, criar, fazer a partir de materiais pré-existentes.

    FORMOU (heb. yatsar, moldar, vv. 7,8,19 — só essas três ocorrências em Gn; Sl 95.5; 139.16; Is 29.16; 43.1,7,21; 44.21,24) é usado para o ato do oleiro ou artesão de moldar seu material de acordo com seu propósito para ele (1Cr 4.23; Is 44.9-12; 45.9; 46.11; 64.8). O escritor usa essa palavra para descrever a obra criativa de Deus como habilidosa.

    Outro verbo traduzido por FEZ (heb. banah, construir com planejamento cuidadoso; cp. 11.4,5) aparece pela primeira vez na Escritura em 2.22 para transmitir a construção ativa da mulher por Deus.

    A descrição da criação do homem é dupla. Em um sentido, homem (heb. adam) é da terra, form[ado] [...] do pó da terra (heb. adamah), como também o foram os animais (2.7,19). O jogo de palavras em hebraico com o nome Adão é um lembrete de sua origem da terra. Por sua vez, sua vida foi soprada pelo fôlego de vida de Deus, conferindo-lhe um contato com o céu. O fato de que Deus soprou em seus [de Adão] narizes o fôlego da vida, algo que não fez com os animais, demonstrou que essa nova vida foi criada com a intenção de ser algo singular, único, como outra coisa, o que o torna distinto de todo o restante da criação. Ele não é apenas um animal; ele possui algo que vem diretamente de Deus, confirmando a singularidade de ser à imagem de Deus (1.26). Adão recebeu fôlego (heb. neshamah, espírito).

    O SENHOR Deus (heb. Yahweh ’Elohim, v. 8). Esse uso de nome duplo é raro fora dos capítulos 2 e 3, sendo encontrado em outros trechos do Pentateuco apenas em Êxodo 9.30, em que está conectado com Yahweh (SENHOR ou Jeová), como Criador. Essa frase enfatiza que o ’Elohim da criação (ressaltando o poder transcendente do Criador) é Yahweh (aquele que é ou aquele que causa o ser, veja Êx 3.14). Yahweh (SENHOR ou Jeová) é o nome de Deus na aliança, um lembrete de seu relacionamento pessoal com aqueles que se relacionam corretamente com eles. Nenhum outro está envolvido na criação.

    O interesse de Deus pelo homem é evidente (v. 9). As árvores não só provêm o sustento, mas também são agradáveis à vista. Deus preocupa-se não só com o paladar do homem, mas também com seu deleite estético.

    A evolução ateísta jamais explicou por que o mundo como um todo é tão belo. É para o bom prazer do homem. O princípio também se aplica mesmo se a beleza estiver no olhar de quem admira. Observe mais uma vez que a preocupação não é com a criação da vegetação, mas diz respeito especificamente com a provisão de Deus para o homem. As árvores foram escolhidas em especial por sua utilidade para o homem. A árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal são introduzidas nesse ponto em meio às árvores do jardim. As duas eram árvores reais. A primeira dava vida, ou seja, a vida eterna, quando seu fruto era ingerido (3.22). A outra árvore fornecia uma oportunidade para o homem exercitar sua liberdade de escolha. Apenas esse fruto era proibido, dando ao homem a responsabilidade de escolher obedecer. O texto não sugere nada inerentemente errado com esse fruto.

    2.10-14 As descrições dos rios no jardim do Éden (vv. 10-14) mostram que o autor tinha a intenção de que o lugar fosse identificado geograficamente. Havilá é mencionado em outro trecho em conexão com a Arábia (Gn 25.18; 1Sm 15.7), associado com resinas aromáticas, embora esse possa ser um Havilá distinto. Em Gênesis 10, Havilá está relacionado tanto a Cam, por intermédio de Cuxe (2.13), tradicionalmente a Etiópia ou Núbia, mas pode estar relacionado ao território cassita a leste do Tigre, quanto a Sem, por intermédio de Joctã (10.29). O nome, portanto, pode estar conectado com duas tribos distintas.

    O rio que aguava a planície divide-se em quatro braços após sair dessa planície. O Pisom (2.11) e o Giom (v. 13), conforme a sugestão de alguns estudiosos, foram considerados afluentes do rio Nilo, e o Éden era um lugar muito maior que aquele tradicionalmente considerado. Os dois últimos rios, o Hidéquel (v. 14, conforme o rio Tigre [ARA] era conhecido no mundo da Antiguidade) e o Eufrates (v. 14) são bem conhecidos. Eles eram a força vital da Mesopotâmia. Assim, todos saberiam que o rio fluindo através da planície é frutífero. Os outros dois rios não são identificáveis para nós. Os rios mudam seu curso, e ocorreram muitos cataclismos e enchentes que podem ter mudado os cursos dos rios. A descrição indica que é provável que o Éden ficasse na região da Mesopotâmia, possivelmente nas montanhas armênias, a origem dos grandes rios.

    2.15-25 O homem foi posto no jardim do Éden para o lavrar e o guardar (v. 15). Deus lhe deu trabalho para fazer antes da Queda. Lavrar transmite a ideia de serviço e provisão; guardar indica proteger. O homem estava ali para manter a adoração e a obediência a Deus e para proteger a obra de Deus. A provisão de Deus é ampla e generosa. O homem poderia come[r] de tudo que crescesse no jardim, incluindo a árvore da vida (v. 16). Apenas uma árvore era proibida para ele (v. 17). Sem dúvida, confiar essa informação importante a Adão significava investi-lo de responsabilidade para a liderança. A árvore do conhecimento do bem e do mal simboliza o senhorio de Deus, um lembrete de que toda vez que o homem olhasse para aquela árvore saberia que haveria Um que, como seu Senhor, deveria ser obedecido. O homem, embora fosse senhor da terra, estava sujeito ao Senhor do céu. A raiz da palavra CIÊNCIA (heb. da‘ath, discernimento, sabedoria) é ligada ao verbo conhecer (heb. yada‘).

    O termo ciência não é usado aqui no sentido de compreensão intelectual, mas de aprendizado adquirido pela experiência. Dela não comerás, então comer dessa árvore proibida seria um ato de rebelião, e o homem, em razão disso, experimentaria a maldade, ou seja, se tornaria consciente do bem e do mal de uma forma como jamais o conhecera antes.

    Deus, depois, reconhece a necessidade do homem de uma ADJUTORA que esteja como diante dele (v. 18). Adjutora que esteja como diante dele (heb. ‘ēzer kenegdo, lit. ajudadora que corresponde ao que está em frente dele) transmite o sentido de uma adjutora apropriada ou comparável ao homem. Essa palavra ‘ēzer não é usada nunca para descrever o homem em seu relacionamento com a mulher. No entanto, a mesma palavra é usada para descrever o relacionamento de Deus com a humanidade (Êx 18.14; Dt 33.7; Sl 54.4). A palavra não implica superioridade nem inferioridade; não se refere a valor ou dignidade. Antes, descreve apenas uma função. Não se perde valor nem dignidade ao se tornar ajudadora de alguém. Na realidade, a função, por definição, sugere mais o desenvolvimento de uma parceria produtiva e afetuosa. Todas as criaturas vivas, antes da criação dessa adjutora divinamente designada, foram trazidas diante do homem para que este lhes desse um nome. Na cultura oriental, tanta no passado quanto no presente, o dar um nome significa autoridade sobre o que é nomeado (Gn 2.19,20). Deus, até esse momento no relato da criação, nomeara tudo; mas quando chegou o momento de dar nome aos animais, sobre os quais Adão teria domínio, essa tarefa foi entregue ao homem. O homem, ao mesmo tempo, estava estabelecendo um relacionamento com os animais. Eles proveriam a ele um tipo de companhia; mas, é claro, nenhum deles era apropriado para ser sua parceira na vida.

    E da costela [heb. tsēla‘, lado, vv. 21,22; veja Êx 25.12; 1Rs 6.5] que o SENHOR Deus tomou do homem formou [heb. banah, construir; veja 2.4-9] uma mulher (Gn 2.22). A mulher é formada do homem, indicando claramente que ela é como ele — a mesma carne e sangue (v. 23), com igual valor e também à imagem de Deus (1.27). O homem (heb. ’ish) nomeou a mulher (heb. ’ishshah), estabelecendo assim seu relacionamento singular com ela (2.23). A mulher recebeu um nome similar ao dele. O dar nomes é um ato que estabelece um relacionamento próximo, como também revela a posição do homem como tendo autoridade sobre ela. Ela, enquanto é sujeita a ele, também é sua companheira mais íntima. Aqui, por fim, estava aquela que, como sua adjutora, se equipararia ao homem (v. 18).

    A aliança de casamento é formalizada entre um homem e uma mulher na presença de Deus e de testemunhas. Até mesmo os dois verbos deixa[r] e apegar-se são usados em outros trechos da Escritura para descrever os relacionamentos de aliança (2.24):

    • deixar o seu pai e a sua mãe, ou seja, o compromisso público e a transferência da lealdade primária dos respectivos pais, tanto do homem quanto da mulher, para um com o outro;

    • apegar-se um ao outro sugere a permanência de um amor cada vez maior com afeto meigo e compromisso fiel;

    • tornar-se uma carne denota a união física, a intimidade mais exclusiva.¹

    Um dos retratos mais magistrais do relacionamento no casamento aparece nos versículos 24 e 25. O fato de que se afirma que o homem deve deixar seu pai e sua mãe indica que uma nova unidade está se formando. É claro, haverá laços e responsabilidades familiares, mas, pelo casamento, o homem essencialmente sai da casa dos pais para formar com sua esposa um novo laço de lealdade inquebrantável e completo em si mesmo. Esse relacionamento, por causa desse laço íntimo entre o marido e a esposa, supera até mesmo o relacionamento que tinha com seus pais. O marido e a esposa tornam-se um, unem-se em um relacionamento mais íntimo que qualquer outro, culminando com a união física desses dois corpos. Os laços familiares ainda existem, mas a lealdade entre um homem e sua esposa é básico, o principal. A união é absolutamente monogâmica e exclusiva, bem como permanente. A intimidade sexual entre marido e esposa não é pecaminosa; antes, a união do corpo e do ser é a mais sublime, o ápice belo e o retrato vívido da união completa que Deus planejou para o casamento cristão.

    A QUEDA (3.1-24)

    A Abordagem de Satanás (3.1-7)

    3.1-7 A palavra para SERPENTE (heb. nachash), no Antigo Testamento, refere-se sempre às cobras ou serpentes comuns, com exceção de Isaías 27.1 e possivelmente em Amós 9.3. Não obstante, essas exceções demonstram que os israelitas estavam familiarizados com os mitos contemporâneos relacionados com as serpentes e cobras, consideradas com frequência como criaturas semidivinas envolvidas com o mal. Nachash também é a raiz da palavra encantamento, porque encantar era enfeitiçar uma serpente. O fato de o escritor também chamar a serpente de a criatura mais astuta (heb. ‘arum, esperta, perspicaz, inteligente; Jó 5.12; 15.5; Pv 12.23; 22.3) demonstra que esse animal é incomum. O texto parece comunicar desde o início que a serpente foi dotada com algum poder sinistro, mas nada tira a responsabilidade pela falha do homem e da mulher.

    Você precisa ser cuidadosa para não proibir o que Deus não proíbe (como aconteceu com Eva, não comereis dele, nem nele tocareis, v. 3), enquanto, ao mesmo tempo, preserva tudo o que Deus diz sem questionar (É assim que Deus disse: [...]?, v. 1).

    A serpente se aproximou de Eva e questionou as instruções de Deus concernentes às árvores do jardim (Gn 3.1). A desobediência começou com o questionar Deus. Eva, em vez de responder apenas com as palavras de Deus, acrescentou sua própria advertência — de que ela e Adão não poderiam nem mesmo tocar a árvore do conhecimento do bem e do mal ou morreriam, fazendo com que a proibição parecesse irracional e até mesmo ridícula (vv. 2,3). A serpente movimentou-se para solapar ainda mais a confiança de Eva em Deus ao sugerir que sabe[r] o bem e o mal era algo bom, e que Deus não estava falando sério quando deu essa ordem (vv. 4,5). Antes, a serpente acusou Deus de tentar impedir Adão e Eva de se tornarem iguais a Ele.

    Ironicamente, Eva e Adão já haviam sido feitos à semelhança [...] de Deus, uma vez que foram criados à sua imagem (1.27). Na verdade, a serpente impugnou o motivo de Deus e fez com que Ele parecesse um espírito mesquinho: a serpente sugeriu que Deus lhes negava uma experiência rica e edificante. O homem e a mulher poderiam ser como Deus. A frase se abrirão os vossos olhos expressa uma metáfora hebraica para conhecimento. A serpente estimou o valor do que ganhariam sem mencionar o que perderiam. Ela apresentou uma maldição como uma bênção. Se eles continuassem em obediência, o conhecimento deles, é claro, viria da comunhão deles com Deus. Por sua vez, a desobediência à ordem divina acrescentaria uma dimensão dolorosa à compreensão deles — aprendendo as consequências custosas e trágicas da desobediência por experiência.

    A serpente não só questionou a Palavra de Deus (3.1), mas também contradisse o que Deus dissera, usando as palavras exatas da ordem divina (vv. 3b,4). O passo seguinte desse declive escorregadio é inevitável — você decide derradeiramente seguir seu caminho, e não o de Deus. Aceita o que é apresentado como algo melhor que o caminho de Deus (v. 5). O resultado é inevitável — desobediência a Deus, começando com a visão, seguida pelo olhar demorado e intenso, continuando com o abraçar o que parece ser atraente (v. 6).

    Que momento terrível quando foram abertos os olhos de ambos para o que haviam feito. Adão e Eva, da comunhão exclusiva com Deus e do domínio compartilhado sobre o mundo que Deus criara e confiara a eles, chegaram de forma patética a coser folhas de figueira a fim de fazer algum tipo de coberta para sua nudez (v. 7). Eles receberam verdadeiramente conhecimento, o conhecimento do que é bom e do que é mau, o conhecimento das consequências do pecado e da desobediência. A ideia de nudez aqui é aquela de inadequação diante de Deus, de ver a si mesmos claramente como se estivessem diante de Deus (veja Hb 4.13). Você pode comparar isso com a forma como Paulo não queria ser encontrado nu diante de Deus quando foi se encontrar com ele (2Co 5.3).

    O Pronunciamento do julgamento de Deus (3.8-24)

    3.8 Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim, Adão e Eva tentaram se esconder entre as árvores do jardim (v. 8). Como é tolo achar que você pode esconder algo de Deus ou evitar a chamada à responsabilidade de encará-lo. Eles conheciam seu pecado; sabiam que o pecado criara uma barreira entre eles e Deus. Sentiram o peso da culpa e a certeza do julgamento.

    3.9-15 Deus falou diretamente com Adão, o homem (v. 9). Deus, é claro, sabia onde ele estava, mas estava lhe dando uma chance de expressar seu pesar e arrependimento. No entanto, Adão buscou lançar a culpa em qualquer outro lugar, menos em si mesmo (vv. 10-12), e apontou para a mulher a quem Deus lhe dera. Eva veio a seguir e culpou a serpente (v. 13). Os resultados do pecado de Adão e Eva afetaram todos os seres vivos daquele momento em diante.

    Enquanto Deus proferia a maldição sobre a serpente (vv. 14,15), a referência aponta claramente para vinda daquEle que derrotaria a serpente. O versículo 15 é identificado pelos evangélicos como o protoevangelium (lat., lit. a primeira pregação do evangelho no sentido das boas-novas apontando para a vinda de Cristo). Nas gerações por vir, o evangelho se torna completo com a semente de Adão, o Messias que alcançará a vitória final. A serpente será derrotada por Cristo, o ungido.

    Semente no Antigo Testamento pode se referir a uma criança ou prole ou a todos descendentes de alguém. Eva é a mãe de todos os viventes (v. 20), e o Messias viria por intermédio dela (veja Gl 4.4). A concepção de Jesus foi milagrosa: a semente veio a Maria pela descida o Espírito Santo, e não por intermédio do esperma do homem depositado em seu ventre (veja Lc 1.35). O ferir o calcanhar refere-se aos sofrimentos de Cristo, os quais foram apenas um prelúdio de sua vitória derradeira e ressureição (Gn 3.15). O ferir a cabeça da serpente, no entanto, referia-se claramente a uma ferida mortal e, portanto, profética da derrota final de Satanás.

    3.16-19 O efeito da Queda sobre a mulher é que o privilégio e a bênção de ter filhos são acompanhados por intensa dor. No entanto, pela misericórdia de Deus, ela, apesar do que fizera, tem a bênção de ter filhos. A punição de Deus é que o ter filhos é alcançado por intermédio de muita dor. A mulher sente desejo (heb. tsshuqah, anseio, termo visto apenas outras duas vezes no Antigo Testamento — em Gn 4.7, em que o pecado anseia dominar Caim, e em Ct 7.10, por seu marido, mas o papel de servo do homem, líder da mulher, pode ser adulterado e se manifestar como autocrático e tirânico.

    3.20-24 Nesse ponto da narrativa, chamou Adão o nome de sua mulher Eva [heb. Chawwa, vida], porquanto ela seria a mãe de todos os viventes (v. 20). A tragédia, de repente, foi abrandada pela esperança. Eles, embora tenham perdido a vida eterna na terra, viveriam nas gerações por vir. E Adão, ao revelar sua disposição de cumprir a ordem para frutifica[rem] e multiplica[rem-se] (1.28), estava fazendo uma afirmação de fé. Eva, antes, fora mulher em relação ao homem, a sugestão de um relacionamento paradigmático; agora ela era a portadora da vida que, por meio da angústia e dor, teria filhos (3.16).

    Adão e Eva não podiam mais andar nus diante de Deus, pois, por causa da desobediência, tornaram-se vulneráveis, inadequados e envergonhados. A roupa deles seria sempre um lembrete da perda de um relacionamento maravilhoso com Deus, enquanto também vemos um toque da misericórdia afetuosa de Deus ao lhes prover a cobertura de que necessitavam. As roupas eram de peles, o primeiro indício na Bíblia de morte, totalmente ausente até esse momento (v. 20). Já nesse momento era necessário um substituto. Um animal morreu para que o homem fosse capaz de estar diante de Deus. Aparece aqui o início da ideia de substituição e sacrifício, o que levaria ao sacrifício final.

    A GERAÇÃO DE ADÃO (4.1—6.7)

    A Família de Adão (4.1-26)

    4.1,2 O relato sobre Caim e Abel fala especificamente da primeira ocorrência de derramamento de sangue humano. Pressupõe-se a existência de filhas de Adão (v. 17; 5.4) e de outros parentes, pois Caim diz "[...] todo aquele que me achar me matará" (v. 14). Então Caim e Abel devem ser vistos como dois entre outros filhos, mencionados especificamente por causa do incidente ocorrido.

    4.3 Caim trouxe uma oferta (heb. minchah, Lv 2.1; 6.14; 7.9-10; 23.16) do fruto da terra para Deus (Gn 4.1-3). A oferta de cereal era um reconhecimento da bênção de Deus e uma expressão da gratidão humana (Lv 6.20-23), embora não fosse expiação. Não há nenhuma razão para supor que a oferta em si era inaceitável. Ela era o fruto do trabalho de Caim. A oferta de Caim é descrita como branda em comparação com a de Abel (Gn 4.4,5). Não há menção às primícias, e menciona-se que ela foi apresentada ao cabo de dias (v. 3). Assim, pode haver um indício de que a oferta de Caim era de alguma forma descuidada, o que fica mais aparente quando é sugerido que Caim não fizera bem e a declaração de que o pecado [heb. chatta’ah, a primeira ocorrência do termo no Antigo Testamento] jaz à porta (vv. 6,7). A metáfora personifica o pecado como um animal selvagem, espreitando à porta da vida de Caim com a intenção de atacar e até mesmo escravizá-lo. Certamente, a oferta de Caim parece ter sido preparada de forma descuidada e tardia. Contudo, o que parece certo é que a rejeição da oferta de Caim estava relacionada com sua atitude geral de mente e coração. Caim tinha de ser aceitável de acordo com os padrões de Deus, e não com sua própria conveniência.

    4.4-12 A oferta de Abel também ilustrava a atitude de seu coração — seu primeiro pensamento era mostrar gratidão a Deus e, para isso, deu o seu melhor. Ele ofereceu dos primogênitos das suas ovelhas, pensando primeiro em Deus, e selecionou especialmente as melhores porções — em contraste com a forma abrupta em que a oferta de Caim é descrita (v. 4).

    Caim permitiu que seu desapontamento e raiva em relação à sua oferta menos apreciada envenenasse seu coração até ele por fim decidir matar seu irmão (vv. 5-8). Caim, em vez de reconhecer sua própria pecaminosidade e buscar expiação para ela, decidiu derramar sangue inocente como uma expressão da rebelião contínua (vv. 9-12). Se permitir que o ressentimento envenene seu coração, o fim pode ser trágico para você e também para os outros.

    Há, pela primeira vez, um registro de sangue humano sendo derramado por seu parente. Que semente horrível Caim plantou e que consequências horríveis se seguiram. Caim não foi mais capaz nem mesmo de lavra[r] a terra (v. 12), o propósito para o qual ele foi criado. Caim, em sua rebelião contra Deus, cometeu assassinato e perdeu seu papel no plano de Deus na terra. Ele foi levado para o deserto. Observe que Caim foi amaldiçoado diretamente em contraste com a maldição do solo no capítulo 3.

    4.13-16 Quando Caim afirmou: "Meu castigo é maior do que posso suportar" (v. 13; NVI), pensou apenas nas consequências do pecado para si mesmo. Não houve arrependimento, apenas pesar pelo que perdera. Como ele poderia lidar com uma vida de solidão e itinerante sempre com medo de todos os seus parentes?

    Deus respondeu a Caim com suas misericórdias sem cessar (v. 15). As palavras proferidas por Deus estão na forma de um pronunciamento. Caim é mencionado na terceira pessoa, e não como tu. Esse é o compromisso de Deus para proteger Caim. A promessa feita a Caim se estende a todos que verão o sinal de Deus e responderem correspondentemente, não por causa de Caim, mas à luz da afirmação pública da misericórdia do Senhor. Observe a referência a sete (v. 15), especificamente o número da perfeição e completude divinas. A vingança sete vezes era a totalidade da retribuição divina. No fim, só Deus determinou a sentença de Caim.

    Muitos estudiosos debatem a natureza do sinal de Caim que tem de ser algo muito característico, algo que os homens reconheceriam e ao qual se submeteriam; mas a Escritura se silencia a respeito desse ponto. Eles reconheceriam o sinal de Deus. Por um lado, esse sinal mostrava a todos que a vingança pertencia só a Deus; e, por outro lado, o sinal provava a fidelidade e misericórdia de Deus para com o homem pecador.

    4.17-26 E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque. Caim edificou uma cidade, que pode se referir tanto a um acampamento com tendas quanto a uma cidade comum (Nm 13.19). Ele chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque (Gn 4.17).

    A linhagem de Caim foi assim delineada. A linhagem de Sete e Caim são contrastadas. Caim, e também seus descendentes, começa fugindo porque matou seu irmão, continua com seu pedido por proteção e termina com mais uma morte. A linhagem de Sete começa com a instituição oficial da adoração do Senhor, continua com um homem que andou [...] com Deus (Enoque, 5.22,23) e termina com o homem que achou graça aos olhos do SENHOR (Noé, 6.8). No entanto, só Noé e sua família, e não a família humana mais ampla, foram salvos do dilúvio.

    De acordo com a antiga genealogia, só os descendentes importantes seriam enumerados, e o período de tempo de Lameque pode ter sido considerável (v. 18). A similaridade dos nomes na linhagem de Sete não deve surpreender (5.1-32). Eles vêm da mesma raiz familiar, e essa similaridade dos nomes deve ser esperada ao longo do tempo. Na verdade, os dois nomes são idênticos. Os Lameques, embora tenham a mesma grafia, são claramente distinguidos (4.18,19,23,24; 5.25-31). Essa lista é feita de forma deliberada com sete nomes a fim de mostrar completude. Qualquer que tenha sido o passado de Caim, parece haver uma determinação para estabelecer a confiança contínua de sua família em Deus — Enoque é dedicado; alguns dessa linhagem incluem El em seus nomes (heb., Deus, uma forma abreviada encontrada com frequência em uma sentença descritiva denotando um nome relevante); sete são enumerados em descendência; e Lameque apela à aliança do Senhor com Caim (4.24).

    Além disso, Meujael significa Deus destrói, ao passo que Metusael significa homem de Deus, sugerindo um retorno à esperança consciente de aceitação diante de Deus (v. 18). É também interessante nessa genealogia a primeira sugestão de alguém tendo mais de uma esposa. Embora uma ostentação por parte de Lameque, esse desvio do plano de Deus para o casamento é apenas um outro sinal da descida na queda contínua do homem. Não se sabe muito sobre a mulher Naamá (heb., agradável, amabilidade, v. 22), mas ela deve ter sido muito extraordinária ou extremamente bela para ter sido mencionada pelo nome nessa genealogia. A tradição judaica a identifica como a esposa de Noé.

    A Semente Piedosa de Sete (5.1-32)

    5.1-32 Essa seção começa com uma lista de dez patriarcas, de Adão (v. 1) a Noé (v. 32) e é seguida por uma passagem em que Deus faz uma aliança com o homem após um exemplo particularmente devastador da descida profunda do homem.

    Em Gênesis, essa aliança é o ponto central sobre o qual a passagem é estruturada, e essa seção termina com o seguinte colofão: Estas são as gerações de Noé (6.9). Essa mistura de genealogia e história é enfatizada por uma lista de dez patriarcas para representar a linhagem toda, embora essa lista não seja toda inclusiva. Há também dez patriarcas mencionados depois do dilúvio, de Noé a Abraão. Outras listas do Antigo Oriente Próximo também apresentam dez reis nomeados antes do dilúvio, e, em alguns casos, o sétimo da linhagem é visto como especialmente proeminente, provendo um padrão antigo facilmente reconhecido. A omissão deliberada dos nomes de genealogias é comum ao longo da Bíblia com o uso de gerou (heb. yalad, gerou; 5.3), retratando simplesmente a descendência.

    Por exemplo, Mateus faz isso de forma deliberada na genealogia de Jesus para fazer uma série de quatorze (duas vezes sete) gerações. O número 10 sugere uma série completa (por isso Jacó pôde dizer vosso pai me enganou e mudou o salário dez vezes, Gn 31.7, com o sentido de muitas vezes). Os números são proeminentes na literatura do Antigo Oriente Próximo.

    Há um padrão para toda a genealogia com exceção parcial de Enoque. Repete-se a fórmula vez após vez: gerou [...]viveu [...] depois que gerou [...] gerou filhos e filhas [...] foram todos os dias [...] e morreu (e.g., 5.6-8). Assim, cada um deles foi frutífero; cada um deles teve uma vida longa e morreu. Sete é retratado claramente como à semelhança e à imagem de Adão (v. 3). A morte de Adão aos novecentos e trinta anos, setenta anos antes de completar mil anos, pode ser visto como algo relevante (vv. 4,5). Certamente, em períodos posteriores, mil anos representava um período perfeito e completo, o ideal. Contudo, Adão não alcança o ideal, pois pecara. Assim, um período designado por Deus fez com que Adão ficasse aquém apenas por setenta anos (o período ideal intensificado por sete). A mensagem é que Deus controla todas as coisas, até mesmo isso. Deus deixou claro que as consequências do pecado são de longo alcance, até mesmo além da morte.

    Afirma-se que Enoque, como Noé (6.9), andou [...] com Deus (5.24). Essa descrição é um indício claro de santidade pouco comum e a marca de um relacionamento íntimo com Deus. É possível comparar Malaquias 2.6 — Levi andou comigo em paz e em retidão e apartou a muitos da iniquidade. Em contraste com essa atitude, temos a de Abraão, que só andou na presença de Deus (Gn 17.1; 24.40). Há possivelmente um contraste deliberado entre a caminhada de Enoque com Deus (sétimo na linhagem de Sete) e as atividades de Lameque (sétimo na linhagem de Caim) e seus filhos. Afirma-se apenas o seguinte em relação a Enoque: e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou, e não que ele morreu (5.24; Hb 11.5). Todo indivíduo tem duas escolhas: o caminho de Enoque ou a vereda de Lameque. Não uma rota do meio porque esses dois caminhos estão em oposição um com ou outro (Sl 1; Mt 7.13,14).

    O Aumento da Perversidade (6.1-7)

    6.1-4 No Antigo Testamento, o termo filhos de Deus (heb. benē ha-’elohim) também se refere aos seres celestiais (Jó 1.6 e contexto; 38.7; Sl 29.1; 89.7; Dn 3.25; Dt 32.8 na LXX; veja também Jz 6—7; 1Pe 3.19,20; e 2Pe 2.4-6). No entanto, há uma série de outras alternativas sugeridas para a relevância de filhos de Deus:

    Os filhos de Deus representam a linhagem piedosa de Sete; e as filhas dos homens (Gn 6.2), a linhagem amaldiçoada de Caim (ou, na realidade, as filhas dos outros filhos de Adão). Em favor dessa visão é que ela segue diretamente as genealogias de Caim de Adão até Noé. Todavia, não há nenhuma razão para uma pessoa pensar que toda a linhagem de Sete era piedosa. Certamente, muitos de seus descendentes devem ter morrido no dilúvio.

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