Juízes
De Silvio Dutra
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Juízes - Silvio Dutra
Juízes 1
Lido fora de seu contexto, o início deste primeiro capítulo pode dar a entender que o autor sagrado poderia estar sugerindo que a conquista de Canaã somente começou efetivamente depois da morte de Josué, mas não é exatamente isto que ele está afirmando, pois o que está em foco é o avanço das conquistas, que eles deveriam prosseguir conforme o mandado de Deus, e que haviam sido iniciadas nos dias de Josué.
Muitos territórios que haviam sido previamente distribuídos pelas tribos, por sortes, enquanto Josué ainda vivia, deveriam ser conquistados quando as tribos se instalassem nas áreas, que lhes foram respectivamente designadas, conforme vemos em nosso estudo no livro de Josué.
Entretanto, por temor dos inimigos e por terem se acomodado ao que havia sido conquistado inicialmente, as novas gerações não haviam avançado no trabalho de conquistar a terra, e isto está claramente revelado logo no início da escrita deste livro de Juízes.
Depois da morte de Josué os israelitas consultaram ao Senhor para saber qual das tribos deveria empreender a primeira ação de combate, para avançar na conquista do território de Canaã, para animar as demais a combaterem também nos respectivos territórios.
Enquanto Josué vivia, as batalhas contra os cananeus eram realizadas pela ação conjunta de todas as tribos, mas agora, cada uma, respectivamente, com a eventual ajuda das tribos que lhes estavam associadas, deveria lutar para conquistar os territórios que lhes foram designados previamente por sortes, como foi o caso de Simeão, que lutou ao lado de Judá, porque teria herança no território que havia sido designado para esta tribo.
Enquanto estavam lutando juntos realizaram a conquista de muita terra e de muitas cidades, conforme descrito no livro de Josué, mas agora, tendo cada qual que lutar para estender suas respectivas fronteiras, nós vemos que não houve fé suficiente neles para crerem no Senhor, de modo a terem a sua forte mão trabalhando em seu favor.
E disto nos dá conta todo o relato do livro de Juízes, que revela a incredulidade e idolatria de sucessivas gerações de Israel, confirmando que tinha de fato a sua razão de ser o cuidado de Deus em ter determinado que não se permitissem conviver com os cananeus, para não se contaminarem com as suas práticas idolátricas.
Este esfriamento para com Deus ocorreu à medida que o tempo passava, pois nós não vemos isto logo no início, porque ainda havia muito daquela fé que as tribos demonstravam enquanto vivia Josué, nesta designação inicial feita pelo Senhor para que a tribo de Judá subisse primeiro à batalha, prometendo-lhes que teriam sucesso no empreendimento, e Deus jamais teria feito tal promessa, se não vislumbrasse qualquer fé e santidade neles.
Judá era o primeiro em dignidade, e então deveria ser o primeiro no cumprimento do dever.
O fardo da honra deve ir junto com o fardo do trabalho.
Deus prometeu ajudar a tribo de Judá, mas, não lhe daria sucesso a menos que se aplicassem vigorosamente ao serviço que deveriam realizar.
De igual modo, nenhum ministério florescerá pela ajuda das mãos do Senhor, sem que haja a mesma disposição de empenho nos ministros.
O exército de Judá realizou diversas conquistas, mas não tiveram fé suficientemente forte para empreender guerra contra os cananeus, que habitavam no vale, porque tinham carros de ferro (v 19), tendo se apossado somente da região montanhosa.
Mesmo para aqueles que têm fé em Deus há desafios à fé, que exigirão uma fé grande para que possam ser enfrentados, e daí a necessidade de se aumentar a fé no Senhor, por uma aplicação mais diligente nos deveres e uso dos meios da graça (oração, meditação na Palavra, consagração, santificação) para que a nossa fé seja aumentada pelo Senhor, de modo que possamos realizar maiores obras para a sua glória através de uma fé robustecida.
A fé de Judá foi suficiente para realizar por exemplo o grande empreendimento de derrota dos cananeus e perizeus em Bezeque, onde dez mil homens foram batidos pelas forças de Judá coligadas com as de Simeão.
Eles submeteram também o rei de Bezeque, denominado Adoni-Bezeque, que significa Senhor de Bezeque. E antes de ser morto, cortaram os seus dedos polegares das mãos e dos pés, e o próprio Adoni-Bezeque reconheceu que estava sendo castigado por Deus, porque ele havia cortado também os dedos polegares das mãos e pés de setenta reis que se alimentavam das migalhas da sua mesa.
Ele fizera aquilo para que não pudessem mais lutar empunhando espadas, e nem também terem facilidade de fugir, pela dificuldade de correr sem os polegares dos pés.
Naquela dispensação da morte e condenação, onde imperava a lei do olho por olho, para que aprendêssemos o temor devido aos juízos de Deus contra o pecado, nós podemos entender que aquele juízo era de fato procedente do Senhor como paga pelas suas más obras, demonstrando que realmente, com a medida com que tivermos medido, nós também seremos medidos, quer seja para o bem, quer seja para o mal, no dia do Grande Juízo Final.
Isto decorre de que enquanto houver pecado no mundo, ao lado da bondade, amor e misericórdia de Deus, também correrá paralelamente a isto os seus necessários juízos, de modo que os homens sejam desencorajados da prática do mal, pelo temor que lhes venha a suceder o mesmo mal que fizerem ao seu próximo, ainda que neste período da dispensação da graça, desde que Jesus morreu para o perdão dos pecadores, estes juízos têm sido muito abrandados, por conta da longanimidade de Deus.
Nós vimos em nosso estudo do livro de Josué (cap 10), que um rei também chamado Adoni-Bezeque levantou uma coligação de reis para lutar contra os israelitas.
Certamente, se tratava de um outro rei de Jerusalém que foi batido nos dias de Josué.
Tudo indica que este nome Adoni-Bezeque, era um título dos reis daquelas terras, tal como nós temos o título de faraó para os reis do Egito, e o de Abimeleque para os reis dos filisteus.
A conquista dos dias de Josué foi realizada mediante ação conjugada de todas as tribos de Israel, mas neste capítulo, nós temos apenas Judá e Simeão em ação.
Trata-se, portanto, de uma ocasião diferente da narrada no livro de Josué.
A passagem relativa a Calebe e à conquista de Quiriate-Sefer por seu sobrinho Otiniel, a quem deu por esposa sua filha Acsa, está amplamente comentada em Josué 15.16-19.
No verso 18 é citado que Judá tomou também a Gaza, a Asquelom e a Ecrom, três das cidades confederadas dos filisteus com os seus respectivos territórios, mas não tendo expulsado os seus habitantes conforme mandado do Senhor, os filisteus viriam a se fortalecer mais tarde, e tomaram de volta as suas possessões e passaram a ser um grande espinho na carne de Israel, até aos dias do rei Davi, e foram eles que oprimiram Israel nos dias de Sansão.
Os versos 21 a 36 narram a mistura dos israelitas com os cananeus que permaneceram em seus territórios, porque não os expulsaram segundo o mandado de Deus.
Os jebuseus permaneceram na posse de Jerusalém porque a tribo de Benjamim não os expulsou (v 21).
A tribo de Efraim conquistou Betel porque o Senhor era com eles (v. 22), mas não expulsaram os cananeus de Gezer, que ficaram habitando no meio deles (v. 29).
Todas as demais tribos, também não expulsaram os cananeus de seus territórios, de modo que conviviam com eles, e isto se lhes tornou laço, conforme havia sido predito desde os dias de Moisés.
Os carros de ferro dos cananeus, que habitavam o vale, e que tanto amedrontaram os israelitas são ainda os mesmos carros de ferro do diabo, que impedem a Igreja de avançar conquistando almas para Cristo em todo o mundo, e especialmente nos países onde predomina o islamismo.
São na verdade carros de ferro que não podem ser dominados sem uma ação direta e poderosa de Deus, e para isto é necessário fé, jejum e oração, por parte da Igreja, para que assim como ele destruiu tais carros nos dias de Débora e Sísera, como veremos nos capítulos quarto e quinto deste livro, ele possa abrir à evangelização tais portas, que se encontram ainda hermeticamente fechadas, impedindo uma livre pregação do evangelho.
Todavia, estes carros de ferro não se limitam apenas aos países de tradição muçulmana, como também se referem aos grandes bolsões de resistência satânica, no mundo ocidental, quer através de um forte secularismo e desinteresse pelas coisas celestiais, como também ao grande e crescente aumento da iniquidade em todas as suas formas de expressão, e isto faz com que a Igreja fique imobilizada, porque são carros de ferro que não podem ser destruídos sem uma ação direta e poderosa de Deus, e por isso necessitamos urgentemente de um novo e grande avivamento do Espírito Santo, para que tais resistências possam ser rompidas.
Todavia, sem oração incessante e sem retidão de vida, não haverá nenhum avivamento.
Deus tem feito à Igreja a mesma promessa que fez a Josué de pelejar pelo seu povo, desde que este se mantenha fiel à sua vontade:
Porém a região montanhosa será tua. Ainda que é bosque, cortá-los-á, e até às suas extremidades será todo teu; porque expulsarás os cananeus, ainda que possuem carros de ferro e são fortes
(Josué 17.18).
"1 Depois da morte de Josué os filhos de Israel consultaram ao Senhor, dizendo: Quem dentre nós subirá primeiro aos cananeus, para pelejar contra eles?
2 Respondeu o Senhor: Judá subirá; eis que entreguei a terra na sua mão.
3 Então disse Judá a Simeão, seu irmão: sobe comigo à sorte que me coube, e pelejemos contra os cananeus, e eu também subirei contigo à tua sorte. E Simeão foi com ele.
4 Subiu, pois, Judá; e o Senhor lhes entregou nas mãos os cananeus e os perizeus; e bateram deles em Bezeque dez mil homens.
5 Acharam em Bezeque a Adoni-Bezeque, e pelejaram contra ele; e bateram os cananeus e os perizeus.
6 Mas Adoni-Bezeque fugiu; porém eles o perseguiram e, prendendo-o, cortaram-lhe os dedos polegares das mãos e dos pés.
7 Então disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, com os dedos polegares das mãos e dos pés cortados, apanhavam as migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E o trouxeram a Jerusalém, e ali morreu.
8 Ora, os filhos de Judá pelejaram contra Jerusalém e, tomando-a, passaram-na ao fio da espada e puseram fogo à cidade.
9 Depois os filhos de Judá desceram a pelejar contra os cananeus que habitavam na região montanhosa, e no Negebe, e na baixada.
10 Então partiu Judá contra os cananeus que habitavam em Hebrom, cujo nome era outrora Quiriate-Arba; e bateu Sesai, Aimã e Talmai.
11 Dali partiu contra os moradores de Debir, que se chamava outrora Quiriate-Sefer.
12 Disse então Calebe: A quem atacar Quiriate-Sefer e a tomar, darei a minha filha Acsa por mulher.
13 E tomou-a Otniel, filho de Quenaz, o irmão de Calebe; mais novo do que ele; e Calebe lhe deu sua filha Acsa por mulher.
14 Estando ela em caminho para a casa de Otniel, persuadiu-o que pedisse um campo ao pai dela. E quando ela saltou do jumento, Calebe lhe perguntou: Que é que tens?
15 Ela lhe respondeu: Dá-me um presente; porquanto me deste uma terra no Negebe, dá-me também fontes d'água. Deu-lhe, pois, Calebe as fontes superiores e as fontes inferiores.
16 Também os filhos do queneu, sogro de Moisés, subiram da cidade das palmeiras com os filhos de Judá ao deserto de Judá, que está ao sul de Arade; e foram habitar com o povo.
17 E Judá foi com Simeão, seu irmão, e derrotaram os cananeus que habitavam em Zefate, e a destruíram totalmente. E chamou-se o nome desta cidade Horma.
18 Judá tomou também a Gaza, a Asquelom e a Ecrom, com os seus respectivos territórios.
19 Assim estava o Senhor com Judá, o qual se apoderou da região montanhosa; mas não pôde desapossar os habitantes do vale, porquanto tinham carros de ferro.
20 E como Moisés dissera, deram Hebrom a Calebe, que dali expulsou os três filhos de Anaque.
21 Mas os filhos de Benjamim não expulsaram aos jebuseus que habitavam em Jerusalém; pelo que estes ficaram habitando com os filhos de Benjamim em Jerusalém até o dia de hoje.
22 Também os da casa de José subiram contra Betel; e o Senhor estava com eles.
23 E a casa de José fez espiar a Betel (e fora outrora o nome desta cidade Luz);
24 e, vendo os espias a um homem que saía da cidade, disseram-lhe: Mostra-nos a entrada da cidade, e usaremos de bondade para contigo.
25 Mostrou-lhes, pois, a entrada da cidade, a qual eles feriram ao fio da espada; porém deixaram livre aquele homem e toda a sua família.
26 Então o homem se foi para a terra dos heteus, edificou uma cidade, e pôs-lhe o nome de Luz; este é o seu nome até o dia de hoje.
27 Manassés não expulsou os habitantes de Bete-Seã, nem os de Taanaque, nem os de Dor, nem os de Ibleã, nem os de Megido, todas com suas respectivas vilas; pelo que os cananeus lograram permanecer na mesma terra.
28 Mas quando Israel se tornou forte, sujeitou os cananeus a trabalhos forçados, porém não os expulsou de todo.
29 Também Efraim não expulsou os cananeus que habitavam em Gezer; mas os cananeus ficaram habitando no meio dele, em Gezer.
30 Também Zebulom não expulsou os habitantes de Quitrom, nem os de Naalol; porém os cananeus ficaram habitando no meio dele, e foram sujeitos a trabalhos forçados.
31 Também Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem de Sidom, nem de Alabe, nem de Aczibe, nem de Helba, nem de Afeca, nem de Reobe;
32 porém os aseritas ficaram habitando no meio dos cananeus, os habitantes da terra, porquanto não os expulsaram.
33 Também Naftali não expulsou os habitantes de Bete-Semes, nem os de Bete-Anate; mas, habitou no meio dos cananeus, os habitantes da terra; todavia os habitantes de Bete-Semes e os de Bete-Anate foram sujeitos a trabalhos forçados.
34 Os amorreus impeliram os filhos de Dã até a região montanhosa; pois não lhes permitiram descer ao vale.
35 Os amorreus quiseram também habitar no monte Heres, em Aijalom e em Saalabim; contudo prevaleceu a mão da casa de José, de modo que eles ficaram sujeitos a trabalhos forçados.
36 E foi o termo dos amorreus desde a subida de Acrabim, desde Sela, e dali para cima." (Jz 1.1-36).
Juízes 2
Este capítulo é uma síntese de tudo o que é narrado neste livro de Juízes.
Ele é uma preparação para tudo o que será dito daqui em diante.
Ele cita o que aconteceu, e estes fatos serão narrados detalhadamente nos capítulos posteriores, com exceção dos cinco últimos capítulos que se referem a um período anterior ao dos juízes.
A narrativa se inicia com o anjo do Senhor repreendendo duramente os israelitas, pelo fato de não terem conquistado os territórios que lhes foram designados por sortes, nos dias de Josué, e pelo fato de terem se acomodado e se misturado aos cananeus.
Nos versos 11 a 13 é citado que a geração que se seguiu à de Josué não conhecia o Senhor, e fez o que era mau aos seus olhos, misturando-se aos cananeus e fazendo as mesmas práticas abomináveis deles.
O que havia ocorrido com o povo de Israel é o mesmo que ocorre com a Igreja dos nossos dias.
A condição de todo o período coberto pela narrativa do livro de Juízes, o qual durou aproximadamente trezentos anos, está declarada de forma resumida nos versos 14 a 23.
Nestes versos está revelado claramente que o motivo de estarmos enfraquecidos diante de nossos inimigos espirituais e sujeitados a sermos pisados pelos homens, como sal que perdeu o sabor, está relacionado ao abandono do Senhor, e da prática da sua Palavra.
A comunhão com Deus, garantida por um andar no Espírito Santo, fazendo aquilo que ele nos tem ordenado na Bíblia e em relação à sua vontade específica, no que se relaciona ao viver diário, especialmente o que diz respeito às coisas pertinentes ao ministério, que recebemos dele para cumprir, é o modo de se ter uma vida verdadeiramente próspera e sermos mais do que vencedores, por meio de Jesus, sobre a carne, o mundo e o diabo.
Quando nos desviamos dos caminhos do Senhor ficamos sujeitados à disciplina da aliança, que temos com ele, por iniciativa e autoridade dele próprio, que nos deixa à mercê da opressão dos nossos inimigos, para que seja produzido em nós o devido arrependimento.
Quando este arrependimento ocorre e clamamos pelo livramento de Deus, ele