Primeiros Passos Na Doutrina Espírita
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Primeiros Passos Na Doutrina Espírita - Ricardo Rêgo Barros
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
1
Ricardo Rêgo Barros
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA
VOLUME II
* Todo o produto desta edição é destinado à manutenção de obras
assistenciais responsáveis por crianças órfãs.
2
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
3
Ricardo Rêgo Barros
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA
VOLUME II
1ª. Edição
Recife
Ricardo Rêgo Barros Silva
2012
4
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
5
Ricardo Rêgo Barros
© 2011 por Ricardo Rêgo Barros
Supervisão Editorial
Ricardo Rêgo Barros
Revisão de Provas
Ricardo Rêgo Barros
Revisão Geral
Ricardo Rêgo Barros
Capa
Ricardo Rêgo Barros
Impressão e Acabamento
Editora Clube de Autores
Contato: ricardo.rbs@gmail.com
Registro no E.D.A Nº 567.192
Livro: 1.082 Folha: 256
1.08
6
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
7
Ricardo Rêgo Barros
SUMÁRIO
PARTE III – PRINCÍPIOS BÁSICOS
I. Prefácio..............................................................................................12
II. Introdução........................................................................................14
01. Deus.................................................................................................18
02. A Criação Divina............................................................................30
03. As Leis Divinas...............................................................................44
04. O Universo......................................................................................80
05. Os Espíritos....................................................................................88
06. Classificação dos Espíritos...........................................................98
07. Os Mundos Físicos e Espirituais...............................................116
08. Diferentes Categorias de Mundos Habitados..........................128
09. A Vida no Mundo Espiritual......................................................136
10. O Elemento Material...................................................................144
11. Os Reinos da Natureza...............................................................160
12. A Evolução do Espírito..............................................................178
13. O Homem Como Ser Trino.......................................................196
14. A Imortalidade da Alma.............................................................212
15. A Reencarnação...........................................................................222
16. A Desencarnação.........................................................................238
8
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
17. A Lei de Causa e Efeito..............................................................260
18. Determinismo e Livre Arbítrio..................................................278
19. Influência dos Espíritos em Nossos Pensamentos e Atos.. 288
20. A Perfeição Moral........................................................................294
9
Ricardo Rêgo Barros
Dedico este livro a todos aqueles que um dia, assim como eu, tiveram a
benção de necessitar de um tratamento espiritual, e foram abençoados de poder
encontrar uma casa espírita, através da qual conheceram essa Doutrina
maravilhosa que é, sem sombra de dúvidas, o Consolador prometido por Jesus.
Foi a dor, essa sublime professora, que me fez procurar essa ajuda
espiritual, e em consequência disso, estar hoje integrado de corpo e alma no
Espiritismo. Posso afirmar com toda a certeza de que ele é o responsável por
mudar por completo minha vida. E mudou para muito melhor.
Aquilo que, à primeira vista, parecia ser um mal, foi o motivo maior
para o meu reencontro com Deus.
10
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
11
Ricardo Rêgo Barros
I. PREFÁCIO
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
completará agora, em 2012, cento e cinquenta e cinco anos. Não é
muito tempo de existência se formos compará-la com outras
doutrinas bem mais antigas. Entretanto, temos de convir que, para
nós, que somos seus adeptos, já é tempo mais que suficiente para
ser compreendida e vivenciada, se considerarmos que, os
princípios básicos, que formam o seu corpo doutrinário, são tão
antigos quanto a própria humanidade.
As casas espíritas, que abrigam os adeptos e também
recebem novos integrantes diariamente, têm a responsabilidade de
bem atendê-los, prepará-los e mantê-los, no tocante ao bom
entendimento da Doutrina, em todos os seus aspectos: religioso,
filosófico e científico. No entanto, durante o tempo que já
militamos no Espiritismo, e também pelo fato de conhecermos,
em virtude dos trabalhos que realizamos, vários centros espíritas,
observamos ainda que muito se tem por fazer a esse respeito. São
muitos os centros espíritas que carecem de uma melhor estrutura,
e não me refiro aqui à estrutura física, mas sim de pessoal
qualificado para melhor atender as necessidades básicas que um
núcleo de Espiritismo exige.
Em todo o mundo, empresas, instituições e órgãos que se
destinam à prestação de serviços ao público, investem, a cada dia,
na busca pela qualidade na prestação desses serviços. É aquilo que
todos nós conhecemos hoje como: Qualidade Total. M as aí, alguém
pode gritar
: "Vamos com calma! Estamos em uma instituição
religiosa! Qualidade Total não deve se aplicar a esse caso!". Ao
que nós responderemos: "Como não se aplica? E por acaso a casa
espírita não presta um serviço à comunidade? Por acaso não
presta serviços às pessoas? O ato de prestar um serviço não
implica no recebimento de honorários. Não visa, apenas, à
12
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
obtenção de lucro. Serviços podem ser prestados de forma
gratuita, como é o caso dos núcleos espíritas e tantas outras
instituições sem fins lucrativos, e não será por isso que estes
devem ser feitos: a toque de caixa
.
O Espiritismo, ou melhor, a casa ou o centro espírita, que é
uma instituição pública, tem unicamente o objetivo de prestar
serviços às pessoas; porque não? Senão vejamos: Esclarecer
através das palestras públicas; através de seminários e cursos sobre
a Doutrina; oferecer o consolo das mensagens dos amigos
espirituais; oferecer os serviços de passes; ofertar aos enfermos o
tratamento espiritual; receber os necessitados, auxiliá-los e
socorrê-los através das reuniões mediúnicas; oferecer a
evangelização ao público em geral; disponibilizar vários serviços
assistenciais, enfim, esses e tantos outros, são serviços que a casa
espírita presta ao público em geral. Definitivamente é uma
prestação de serviços!
Daí, os núcleos espíritas terem a extrema necessidade de
buscarem, com muita determinação, uma qualificação total
naquilo a que se propõem. Para isto, manter sempre em suas
dependências um programa de estudos constante da Doutrina, e,
principalmente,
da
mediunidade.
Formar
trabalhadores
plenamente alicerçados nos pontos basilares do Espiritismo e com
conhecimento sólido nas tarefas a que se propõem, tornará, a casa
ou centro espírita, cada vez mais capacitada para suprir as
necessidades de um público que cada vez mais busca, nas hostes
da Doutrina, um lenitivo para suas dores; uma qualidade total no
atendimento de que necessitam.
Este singelo trabalho que começou a ser desenvolvido em
1995 e cujo foco inicial era informar acerca do que seria um
tratamento espiritual na casa espírita, tomou outras proporções
graças a essa necessidade, que muitos núcleos de Espiritismo
possuem, de dispor de mais uma ferramenta didática para servir
aos que neles adentram.
13
Ricardo Rêgo Barros
É um livro que serve como fonte de consulta; como uma
espécie de: manual de operação
; de como se deve manusear
o
Espiritismo. É um trabalho simples, sem grandes pretensões,
porém, deverá ser de grande valia para aqueles que estão tateando
agora neste vasto campo de conhecimento religioso, filosófico e
científico.
Nenhum assunto incluso neste livro é novidade para os
adeptos mais antigos. Tudo está embasado, principalmente, nas
obras básicas de Kardec. O que podemos aqui destacar é que o
leitor iniciante poderá encontrar esses assuntos, tão necessários
para o início de sua jornada, em um só lugar.
Temos a certeza de que valerá à pena.
14
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
15
Ricardo Rêgo Barros
II. INTRODUÇÃO
Caro leitor, aqui estamos com o segundo volume de nossa
obra. Nela, o principiante no Espiritismo terá a oportunidade de
continuar com o seu aprendizado, através do estudo de temas
previamente selecionados, que lhes proporcionarão um melhor
entendimento acerca do assunto.
No primeiro volume tentamos abordar alguns assuntos
que, no nosso entendimento, iriam preparar o terreno para a
construção da base desse conhecimento acerca da Doutrina.
Ele foi dividido em duas partes, onde a primeira delas
abordou os seguintes temas: a religião e o seu papel na vida do
homem; sobre Jesus e a religião Cristã; sobre o porquê o
Espiritismo é o Consolador prometido pelo Mestre; sobre a
introdução ao Espiritismo(histórico, definição, o seu caráter, o
tríplice aspecto, as obras da codificação, e a síntese da vida de
Kardec). Essa foi a parte referente a introdução ao Espiritismo.
Na segunda parte, o leitor pode encontrar assuntos com as
orientações que fazem jus ao título do livro: "Primeiros Passos na
Doutrina Espírita". São assuntos que trazem informações iniciais;
para quem realmente está começando a frequentar uma casa
espírita, tais como: o papel do centro espírita na sociedade; como
identificar se determinada casa é realmente espírita; os passos
iniciais; qual a literatura inicial recomendada; como devemos nos
portar na casa espírita e perante suas atividades; quais seriam os
tipos de atividades que o neófito poderia participar dentro da casa
espírita; e, por fim, o que é ser espírita.
Agora, neste segundo volume, procuramos relacionar
temas que formam as bases da própria Doutrina, começando com
Deus, que é a causa primeira de todas as coisas, e depois seguindo,
numa tentativa de ordenação lógica, com os outros assuntos de
grande importância para quem realmente quer conhecer o
Espiritismo.
16
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
O leitor irá observar, no decorrer da leitura deste volume,
que os capítulos são totalmente integrados, uns aos outros, pois os
assuntos se complementam e, se aqui foram divididos em
capítulos, isso se deu de forma meramente didática, para facilitar o
estudo, pois optamos em não alongar demais os capítulos.
Como exemplo, poderemos citar os capítulos que tratam:
do universo; da criação divina; do elemento material; da evolução do Espírito;
dos reinos da natureza etc., que tratam de um mesmo tema central,
porém cada um trazendo detalhes mais diversificados.
É possível que outros temas importantes estejam fora de
nossa relação, por falha de nossa parte, e nesse caso, pedimos ao
leitor que nos informe quais seriam eles, através de email, e nós os
acrescentaremos em novas edições da obra. Todavia, acreditamos
que, os que aqui foram relacionados, irão auxiliar, ou melhor,
deverão, pelo menos, situar o principiante no ponto de partida do
caminho que o levará para um estudo mais aprofundado.
Quiçá nosso objetivo possa ser alcançado, e todo aquele
que ler esta obra dela possa se beneficiar e colher bons frutos.
Esse foi sempre o motivo que nos moveu para o desenvolvimento
deste trabalho.
17
Ricardo Rêgo Barros
PARTE III
Princípios Básicos
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PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
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Ricardo Rêgo Barros
01. DEUS
Falar sobre Deus não é uma tarefa que esteja ao alcance de
Espíritos inferiores como nós. E isso é explicável, por nos faltar,
ainda, uma bagagem espiritual muito grande para poder
compreendê-Lo.
Necessitaremos de muitas, mas muitas reencarnações
mesmo, e, consequentemente, de muito aprendizado, para que
possamos ter uma melhor compreensão acerca da grandiosidade
de Deus.
Parafraseando aqui, o que dizem os Espíritos elevados, só
poderemos tentar explicar e/ou entender Deus, de acordo com os
acanhados conhecimentos que possuímos. Daí, podemos
entender porque existem tantas divergências de definições acerca
Dele.
Neste capítulo tentaremos – e com muita pretensão de
nossa parte - fazer algumas colocações acerca do que entendemos
a respeito do nosso Pai Celestial.
É evidente que teremos que aproveitar muitas coisas que
outros autores espíritas - tanto encarnados como também
desencarnados - nos informaram em várias obras de suas autorias.
Iremos aqui, transcrever muitas informações necessárias e
importantes, não só das obras da codificação, que serão sempre
nossa base do Espiritismo, como também nas ditas:
complementares, para nos auxiliarem nessa questão de tão alta
envergadura.
***
Nos dias atuais, diante de tantos desequilíbrios morais
vivenciados pela humanidade - graças aos Espíritos ainda presos
às paixões inferiores, como muitos de nós ainda somos –
20
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
podemos perceber o quanto necessitamos de um entendimento
mais apurado acerca de Deus, nosso Pai, Criador e Amigo.
Sem sombra de dúvidas, somente com Ele "habitando em
nossos corações" - o que poderá ser comprovado pelos nossos
atos - é que poderemos reverter essa situação, e criarmos um
mundo melhor e mais justo, onde os sentimentos da fraternidade,
da paz e do amor possam sempre prevalecer em qualquer ação
que empreendermos.
Assim, chegamos a conclusão que: no que diz respeito a
essas verdadeiras calamidades
morais que assolam nosso
mundo, se nós, que fazemos parte dele, tivéssemos um pouco
mais de fé em nosso Pai e seguíssemos Suas leis sábias e justas, ou
seja, se praticássemos os dois únicos mandamentos ensinados por
Jesus: "Ama a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti
mesmo", com toda certeza não estaríamos a vivenciar tanta maldade
e tanto desequilíbrio em nossa civilização.
***
Para que possamos entender verdadeiramente Deus, e
consequentemente toda Sua obra, necessário se faz que
possuamos mais religiosidade; que estejamos revestidos do
verdadeiro sentimento Cristão.
Quando aqui falo de mais religiosidade, não me refiro às
religiões tradicionais; aquelas que formam as escolas dogmáticas,
cujos credos - para aqueles que compreendem o Cristianismo de
Jesus, e não o dos homens - como bem disse Kardec, "são
incapazes de encarar a razão frente a frente, e em qualquer época da
humanidade".
Durante muito tempo estamos a conviver com certos
dogmas que, graças a falta de fundamentos racionais, só
contribuíram para nos afastar, cada vez mais, de um entendimento
claro do que seja realmente a religião; do que seja verdadeiramente
21
Ricardo Rêgo Barros
o Cristianismo. Muitos desses conceitos nos distanciaram ainda
mais de Deus.
Muitos são os equívocos que as religiões tradicionais ainda
mantém em suas bases, acerca do Criador e de Suas leis.
Entretanto, sabemos reconhecer o mérito que elas possuem em
tentar elevar a criatura humana a uma condição melhor, ou seja,
em tentar elevar o homem até o Pai.
Um fato que o leitor não deve deixar de considerar é que,
a evolução é um processo lento e poucos ainda são os que já
despertaram para a verdadeira compreensão acerca de Deus.
***
Allan Kardec, na questão de número um de O Livro dos
Espíritos, fez a eles a seguinte pergunta: Que é Deus? E obteve a
seguinte resposta: "Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas
as coisas". Essa resposta, clara e objetiva, com certeza foi a forma
pela qual os Espíritos superiores definiram, de forma sintética, o
entendimento que eles possuem de Deus. Além do mais, se eles
tentassem explicá-Lo de maneira mais analítica, com toda a
certeza iriam nos confundir ainda mais; e isso por um motivo
muito simples: a nossa linguagem é ainda muito limitada para se
definir muitas coisas; não só sobre Deus, mas também sobre a Sua
criação.
No estudo que iremos fazer aqui, vamos nos valer, e não
poderia ser de outra forma, dos ensinamentos trazidos pelos
Espíritos superiores, pois é evidente que eles possuem uma
compreensão bem maior do que nós sobre o assunto.
Mas é importante que o leitor saiba que, somente os
Espíritos puros, assim como Jesus, é que possuem um entendimento
completo sobre Deus e sobre Suas leis; daí o motivo dele ter dito:
Eu e o Pai somos Um!
.
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PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo
Franco, nos traz os seguintes ensinamentos acerca da Divindade:
"Toda e qualquer tentativa para elucidar a magna questão da
Divindade redunda sempre inócua, senão infrutífera, traduzindo esse desejo a
vã presunção humana, na incessante faina de tudo definir e entender.
Acostumado ao imediatismo da vida física e suas manifestações, o
homem ambiciona tudo submeter ao capricho da sua lógica débil, para reduzir
à sua ínfima capacidade intelectual a estrutura causal do Universo, bem assim
as fontes originárias do Criador.
Desde tempos imemoriais, a interpretação da Divindade tem recebido
os mais preciosos investimentos intelectivos que se possam imaginar.
Originariamente confundido com a Sua obra, mereceu ser temido pelos povos
primitivos que legaram às culturas posteriores a sedimentação supersticiosa das
crendices que fundamentavam o seu tributo de adoração, transitando mais
tarde para a humanização da divindade mesma, eivada pelos sentimentos e
paixões transferidos da própria mesquinhez do homem...". (03).
Diante do que nos diz Joanna, o homem, para que
pudesse entender o Criador, teve a necessidade de igualá-Lo à
condição humana, invertendo assim os papéis, pois, ao invés de
ele (o ser humano) ser a imagem e semelhança do Pai, Este é que
se tornou a sua imagem e semelhança.
Continuando ainda com ela:
"Diversas escolas filosóficas do século XIX desejaram padronizar as
determinações divinas e a própria Divindade em linhas de fácil assimilação,
na pretensão de limitarem o Ilimitado. Outras correntes de pesquisadores
aferrados a cruento materialismo, na condição de herdeiros diretos do
Atomismo Greco-romano, do pretérito, descendentes, a seu turno, de Lord
Bacon, como dos sensualistas e cépticos dos séculos XVIII e XIX, zombando
da fé ingênua e primitiva, escravizada nos dogmas ultramontanos dos
religiosos do passado, tentaram aniquilar histórica e emocionalmente a
23
Ricardo Rêgo Barros
existência de Deus, por incompatível com a razão, conforme apregoavam,
mediante sistemas sofistas e conclusões científicas apressadas, como se a
própria razão não fosse perfeitamente confluente com o sentimento de fé, inato
em todo homem, como demonstram os multifários períodos da história.
Sócrates já nominava Deus como A Razão Perfeita
, enquanto
Platão O designava por Ideia do Bem
.
O neoplatonismo, com Plotino, propôs o renascimento do Panteísmo,
fazendo Deus, o Uno Supremo
, que reviverá em Spinoza, não obstante
algumas discussões na forma de Monismo, que supera na época o Dualismo
cartesiano. O monismo recebe entusiástico apoio de Fichte, Hegel, Shelling e
outros, enquanto larga faixa de pensadores e místicos religiosos empenhava-se
na sobrevivência do Dualismo.
Mais de uma vez alardeou-se que Deus havia morrido
,
proclamando-se a desnecessidade da fé como da Sua paternidade, para,
imediatamente, reiterada vezes, com a mesma precipitação, voltarem esses
negadores a aceitar a Sua realidade.
A personagem concebida por Nietzche, que sai à rua difundindo
haver matado Deus
, chamando a atenção dos passantes, após o primeiro
choque produzido nos círculos literários e intelectuais do mundo, no passado,
estimulou outras mentes à negação sistemática. Fenômeno idêntico acontecera
no século anterior, quando os convencionais franceses, supondo destruir Deus,
expulsaram os religiosos de Paris e posteriormente de todo o país,
entronizando a jovem Candeille, atormentada bailarina de Ópera, como a
Deusa Razão, que deveria dirigir os destinos do pensamento intelectual de
então, ante Robespierre e outros, em Notre-Dame. Logo, porém, depois de
múltiplas vicissitudes, o curto período da Razão fez que Deus retornasse à
França, e muitos dos seus opositores a Ele se renderam, declarando haver
voltado ao Seu regaço, cabisbaixos, arrependidos, melancólicos. Deus vencia,
mais uma vez, a prosápia utopista da ignorância humana!
Repetida a experiência no último quartel do século das luzes
,
tornou a ser exilado da Filosofia e da Ciência por uns e reconduzido
galhardamente por outros expoentes culturais da Humanidade.
24
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
Novamente, ante o passo avançado da tecnologia moderna, através
da multiplicidade das ciências atuais, pretende-se um Cristianismo sem Deus,
uma Teologia não teísta, fundamentada em cogitações apressadas, que
pretendem levar o homem à busca das suas origens
, como desejando
reconduzi-lo à furna, em vez de situá-lo em a Natureza, mantê-lo selvagem
por incapacidade de fazê-lo sublime.
Tal fenômeno reflete a apressada decadência histórica e moral das
velhas Instituições, na Terra de hoje, inaugurando uma Nova Era...
As construções sociais e econômicas em falência, as arquiteturas
religiosas em soçobro, as aferições dos valores psicológicos e psicotécnicos
negativamente surpreendentes, o descrédito inspirado pelos dominadores, em si
mesmos dominados, pelos vencedores lamentavelmente vencidos pela
inferioridade das paixões em que se consomem, precipitaram o agoniado
Espírito humano na busca do nada
, das formas primeiras, rompendo com
tudo, como se fora possível abandonar a herança divina inata indistintamente
em todas as criaturas, para tentar esquecer, apagar e confundir a inteligência
com os impulsos dos instintos, num contumaz e malsinado esforço de
contraditório retorno às experiências primitivistas da forma, quando ainda
nas fases longevas de formações e reformações biodinâmicas...
Concomitantemente, porém, surgem figurações morais, espirituais,
mística e científicas, sofrendo os embates que a dúvida e o cepticismo impõem,
resistindo, todavia, estoicamente, na afirmação da existência de Deus,
apoiadas pela Filosofia e Ética espíritas, que são as novas matrizes da
Religião do Amor, pregada e vivida por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Conclusão - Deus é Amor
, afirmava João.
Meu Pai
, dizia reiteradamente Jesus, conceituando-O da forma
mais vigorosa e perfeita que se possa imaginar. E Allan Kardec, mergulhando
as nobres inquirições filosóficas nas fontes sublimes da Espiritualidade
Superior, recolheu através dos Imortais que "Deus é a Inteligência suprema,
causa primária de todas as coisas", em admirável síntese, das mais felizes,
completando a argumentação com a asserção de que o homem deve estudar "as
25
Ricardo Rêgo Barros
próprias imperfeições a fim de libertar-se delas, o que será mais útil do que
pretender penetrar no que é impenetrável", concordante com o ensino do
Cristo, em João: "Deus é Espírito, e importa que os que O adoram, O
adorem em Espírito e verdade."- (03).
De acordo com o que foi exposto, fica muito claro que o
homem sempre teve, e ainda tem, uma grande dificuldade de
entender o nosso Criador, entretanto, enquanto crescia em
inteligência
e,
consequentemente,
ia
adquirindo
novos
conhecimentos acerca da vida e das leis da natureza -
considerando também as conquistas e descobertas realizadas pela
ciência - novos horizontes foram para ele se abrindo.
Esse avanço intelectual da humanidade se deu em vários
campos da área científica, tais como: na astronomia; na química;
na física; na biologia; na antropologia; na psicologia; enfim, tanto
em setores do micro como do macrocosmo. Diante disto, Deus
foi sendo alvo de várias interpretações e definições, atestando ou
não a sua existência e, até mesmo de sua autoria nas coisas
existentes no universo. Teria mesmo o universo sido criado por
Ele ou tudo não passaria de obra do acaso?
Continuemos mais com Joanna de Ângelis:
À medida, porém, que os conceitos éticos e filosóficos evoluíram, a
compreensão da Sua natureza igualmente experimentou consideráveis
alterações. Desde a manifestação feroz à dimensão transcendental, o conceito
do Ser Supremo recebeu de pensadores e escolas de pensamento as mais
diversas proposições, justificando ou negando-lhe a realidade.
Insuficientes todos os arremedos filosóficos e culturais, quanto
científicos, posteriormente, para uma perfeita elucidação do tema, concluiu-se
pela legitimidade da Sua existência, graças a quatro grupos de considerações,
capazes de demonstrá-lo, de forma irretorquível e definitiva, a saber:
26
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume II
Cosmológicas – que O explica como a Causa Única da sua
própria causalidade, portanto real, sendo necessariamente possuidor das
condições essenciais para preexistir antes da Criação e sobre-existir ao sem-fim
dos tempos e do universo;
Ontológicas – que O apresenta perfeito em todos os Seus
atributos e na própria essência, explicando, por isso mesmo, a Sua existência,
que, não sendo real, não justificaria sequer a hipótese do conceito, deixando,
então, de ser perfeito. Procedem tais argumentos desde Santo Anselmo, dos
primeiros a formulá-las, enquanto que as de ordem cosmológica foram
aplicadas inicialmente por Aristóteles, que O considerava o "Primeiro motor,
o motor não movido, o Ato puro", consideração posteriormente reformulada
por Santo Tomás de Aquino, que nela fundamentou a quase totalidade da
Teologia Católica;
Teleológicas – mediante as quais o pensamento humano,
penetrando na estrutura e ordem do universo, não encontra outra resposta
além daquela que procede da existência de um Criador. Ante a harmonia
cósmica e a beleza, quanto à grandeza matemática e estrutural das galáxias e
da vida, uma resultante única surge: tal efeito procede de uma Causa perfeita e
harmônica, sábia e infinita;
Morais – defendidas por Emmanuel Kant, inimigo acérrimo das
demais, que, no entanto, eram apoiados por Spinoza, Bossuet, Descartes, e
outros gênios da fé e da razão. Deus está presente no homem, mediante a sua
responsabilidade moral e a sua própria liberdade, que lhe conferem títulos
positivos e negativos, conforme o uso que delas faça, do que decorrem as linhas
mestras do dever e da autoridade. Essa presença na inteligência humana,
intuitiva, persistente, universal, faz que todos os homens de responsabilidade
moral sejam conscientemente responsáveis, atestando, assim, inequivocamente,
a realidade de um Legislador Absoluto, Suprema Razão da Vida." (03).
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Ricardo Rêgo Barros
Os Espíritos dizem a Allan Kardec, com muita
propriedade, que é pelas obras que se conhece o autor. Com isso posto,
basta que nós observemos à nossa volta e reflitamos sobre a
grandiosidade da obra Divina que demonstra, de maneira
irretorquível, a existência de uma inteligência infinitamente
superior a nossa. Isso nos leva a seguinte conclusão: tudo aquilo
que não foi criado pelo homem, inclusive o próprio homem, foi
criado por um ser Supremo, qualquer que seja a denominação que
a Ele atribuamos. Um Ser possuidor de atributos incomparáveis,
tais como: A Eternidade, a imaterialidade, a imutabilidade, a unicidade, a
Onisciência, a Onipotência e que tenha a soberana justiça e bondade; caso
contrário, teremos que presumir que tudo foi criado, apenas,
como fruto do acaso
.
Ainda segundo o Espírito