Estratégia Dos Vencidos
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Estratégia Dos Vencidos - Marcelo Gomes Melo
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Estratégia dos Vencidos
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14/03/2014
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Marcelo Gomes Melo
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A estratégia dos vencidos?
Sofrer
O carma dos vencidos?
Acreditar
Não sabem que são os
Previamente vencidos
Enterrados na própria esperança
A arma dos vencidos?
Aplaudir, aceitar, acatar.
Abaixar a cabeça
A alma dos vencidos?
Chama-se tristeza
Quem são os vencidos?
Nós, a maioria.
Os que não aprenderam a vencer...
2
I
Chovia a cântaros, como diria qualquer locutor de rádio de antigamente. Helio Rocha Neto, presidente em exercício da empresa de táxi PINHEIRO olha pela janela, pensativo. Suas mãos, que estavam cruzadas às costas, movem-se em direção ao cigarro, que aguardava imóvel no cinzeiro. Rocha Neto observava a fumaça que subia até o teto. Começara a fumar os abomináveis cigarros porque achava que um presidente devia fumar; dava status. Aos idiotas, as decisões mais idiotas parecem brilhantes. Ele encontrava-se em uma situação difícil, complicada: os funcionários exigiam a mudança de toda a diretoria, a começar por ele.
Seria mais do que perder status, sair da presidência. Seria ganhar menos, trabalhar mais, e o pior, correr o risco de ter todas as falcatruas de seu período na administração da empresa descobertas e punidas. E seria necessária muita punição para tanta safadeza, ele pensa, e sorri consigo mesmo.
Colocara seus assessores para achar uma solução urgente para o problema. Enquanto isso teria que ir enrolando o mais que pudesse a comissão de funcionários.
Ele volta a olhar a chuva pela janela. Trinca os dentes, apertando o cigarro entre eles, por um momento, com raiva. Tinha raiva todas as vezes em que pensava em Moacyr Pinheiro.
Dono de oitenta por cento das ações da companhia, Pinheiro fora o presidente da mesma, e deixara um testamento ridículo! Sim, porque para ele, Helio, dono dos vinte por cento restantes das ações era inconcebível e estúpido fazer o que Pinheiro fizera. Deixar todas as suas ações, maioria
3
absoluta, para os mais antigos funcionários da empresa, que passaram a ser donos, e, juntos, acionistas majoritários, era ridículo! Rocha Neto, que possuía o maior montante das ações, indubitavelmente, assumira a presidência, formando a diretoria com gente de sua confiança. Os que eram acionistas aceitaram a decisão sem discutir, mas agora se revoltavam contra os abusos que vinham sendo cometidos durante todo esse período.
Rocha Neto mastiga o cigarro, irritado. Deveria ter tomado mais cuidado. Muito roubo em muito pouco tempo. Os imbecis acabaram percebendo que estavam sendo passados para trás e agora reivindicavam uma participação mais ativa empresa, fazendo parte da diretoria.
Helio Rocha Neto não queria largar o osso. Ganhar dinheiro era tão excitante, enganar os pobres era tão divertido!
Duas batidas secas na porta. Rocha Neto vira-se de onde estava; era sua secretária.
- O que foi, Wanderléa? – pergunta em tom monótono.
- O Dr. Guilherme está aí, Helio, e o Quincas também.
- Mande-os entrar agora, o que está esperando? Ah, venha você também.
A loura oxigenada assente e desaparece por onde entrara. Rocha apaga o cigarro como se estivesse se vingando dele por ter que fumá-lo.
Logo entram na sala Guilherme Faulkis, advogado da empresa, seguido do jovem vice-presidente Quincas Saliciano, e por fim Wanderléa, com seu tablet e caneta em punho.
- Bom dia, Helio – cumprimenta Guilherme com seu tom de voz seco e profissional.
4
- Só se você gostar de chuva, Guilherme. – Helio dá uma última olhada pela janela e então volta para a sua mesa. – Quanto a mim, acho que só teria utilidade para o afogamento dos pobres, como diria o personagem da tevê. – e sorri descaradamente.
- Quem trabalharia para nós, então? – era a voz de Quincas, que jamais parecia estar preocupado com alguma coisa.
- Vamos ao que interessa – diz Helio, sem responder ao que lhe fora perguntado – O que têm para me dizer, vocês dois? – Helio estava agitado, acendendo outro cigarro.
- Que fumar faz mal à saúde, Helio. – Quincas sorri, irônico – Por que não para? – levanta-se e vai até a janela, que era um imã naquela manhã.
- Antes que eu me esqueça, por que não vai para o inferno, Quincas?
– Helio não estava para brincadeira – Se não colocar essa sua maldita cabeça para funcionar, pode perder o cargo e as mordomias para um capiau qualquer e não demora! – soca a mesa com força e gotas de suor brotam em de sua testa – Acha que estamos brincando aqui?
- Desculpe, não se enerve – continuava tranquilo, sem erguer a voz –Cuidado com a úlcera.
- Eu não tenho úlcera alguma! – estava ficando esverdeado de nervoso.
- Helio, vamos ao que interessa. – interrompe Guilherme, colocando os óculos.
- O que diabos podemos fazer para continuarmos no poder, Guilherme?
5
- Diretamente, nada. – responde Guilherme friamente – Isso está claro. – era, como todo advogado experiente, muito objetivo.
- O que disse?! – Helio estava boquiaberto, um tanto pálido. Do local em que estava, em frente à janela, Quincas deixa escapar outro sorriso, tirando as mãos dos bolsos.
- A única solução é sair. – Guilherme conclui com um suspiro entediado.
- Nunca! – explode Helio, ficando em pé, tragando o cigarro com fúria – Não deixarei o poder sem luta! – era um viking brandindo sua espada, um Átila pronto para devastar o que fosse preciso para continuar no poder.
- Pinochet nacional... – murmura Quincas sarcasticamente e caminha até Helio – Não seja ridículo, Helio. Não estamos no tempo da capa e da espada. O duelo agora é de inteligência e nós temos a obrigação de ter mais massa cinzenta para usar do que um bando de semianalfabetos.
- Não me parece inteligente entregar a companhia de mão beijada. –Helio parece acalmar-se. Senta-se e ataca o cigarro, em sua briga particular.
- Vamos negociar, meu amigo – Guilherme fala, frio como um picolé de iceberg. Na voz dele a palavra amigo era usada como uma arma, não continha nenhum significado especial, sentimental. – A tática é darmos corda para que eles se enforquem.
- Vamos receber a comissão e negociar com eles. Para isso temos que conhecê-los a fundo. – Helio voltara a raciocinar como um empresário acostumado a situações difíceis novamente – Wanderléa, me prepare um relatório completo sobre cada um dos que fazem parte da comissão de funcionários.
6
- Sim, senhor, chefe. – ela vai saindo, mas para ao ouvir a voz de Helio – Sim?
- Quero tudo, entendeu? Até em quantos goles bebem um copo d’água. Para ontem, não esqueça!
Wanderléa sai. Guilherme fecha a maleta e fala com sua entonação gelada.
- Você deve assumir uma posição de concordância total com eles, Helio. O importante é que os ocupantes de postos-chave na diretoria sejam nossos. Mesmo que tenhamos que sacrificar alguns cargos, não esqueça.
- Entre eles, o seu e o meu. – de novo era a voz sarcástica de Quincas.
- A reunião que marquei com eles será amanhã. – Helio estava calmo e decidido. Não pensava mais em perda de poder. – Devo deixar o cargo?
- Não, não. Mostre-se disposto a colaborar com eles no que quiserem, mas sua destituição do cargo deve partir deles. – Guilherme argumenta com mais entusiasmo, dessa vez – Oferecer-se para deixar o cargo seria vestir a carapuça.
- De repente, de acordo com a situação eles resolvem lhe dar um crédito de confiança – Quincas mostra os dentes, cinicamente – Psicologia dos trouxas...
- Bem pensado, Guilherme – Helio ignora o comentário de