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Diário De Um Psicopata: Um Desafio No Escuro Para A Comissária Caterina Ruggeri
Diário De Um Psicopata: Um Desafio No Escuro Para A Comissária Caterina Ruggeri
Diário De Um Psicopata: Um Desafio No Escuro Para A Comissária Caterina Ruggeri
E-book390 páginas5 horas

Diário De Um Psicopata: Um Desafio No Escuro Para A Comissária Caterina Ruggeri

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Sobre este e-book

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A Vice Delegada Caterina Ruggeri é uma policial de carreira de quarenta anos da região de Marche, responsável pela seção de Homicídios da Sede da Polícia de Ancona. Juntamente com o Comissário Sergio Adinolfi, de Senigallia, um especialista em perfis criminais, ela persegue um assassino em série psicopata, interpretando estranhos vestígios espalhados nas cenas de seus crimes. Um desafio no escuro para a Dra. Ruggeri, que terá de investigar bem de perto seu círculo familiar.

Chegamos agora à terceira aventura da Comissária Caterina Ruggeri, já conhecida policial da região de Marche, amada por seus fiéis leitores. Ao seu lado está um novo colega, o Comissário Sergio Adinolfi, de Senigallia, um especialista em perfis criminais, com quem terá de perseguir um assassino em série psicopata. A certa altura, Caterina quase sucumbe aos encantos de seu colega, mas o desenrolar do caso não deixa espaço para romances. Um desafio no escuro para a Comissária Caterina Ruggeri, que se verá envolvida na mais introspectiva de suas aventuras. Na verdade, ela descobre que o assassino está mais próximo dela do que qualquer um ouse imaginar, talvez um membro de sua própria família. Ele terá de vasculhar seu passado e seu inconsciente para chegar à solução, mas quando isso parece estar próximo, novas reviravoltas mudam as cartas na mesa. O psicopata parece gostar de criar situações embaraçosas para nossa policial, que, pressionada pelo delegado, pelo magistrado e pelos jornalistas, precisa chegar rapidamente a uma conclusão plausível. Será que ela terá sucesso? Vamos deixar o leitor descobrir, e terá o prazer de encontrar personagens já conhecidos das aventuras anteriores da Comissária e novos personagens intrigantes que surgem neste novo episódio. Mas, acima de tudo, a leitura abrirá janelas para refletir sobre algumas questões candentes, em particular sobre os dramas que, de forma mais ou menos velada, podem ocorrer mesmo no seio de famílias normais. E não estamos falando apenas de violência ou abuso sexual, mas de todos os conflitos e tensões que ocorrem na família, que crianças e adolescentes costumam presenciar e que marcam suas vidas para sempre, mesmo que os adultos não percebam completamente essa dinâmica. Em suma, um alerta aos pais para que tentem garantir que seus filhos tenham uma infância o mais tranquila possível, o que os impulsionará para uma vida adulta equilibrada e responsável. Como de costume, não faltam referências à história e às tradições locais, conferindo um toque leve e agradável à leitura de determinados trechos, criando uma ruptura com a descrição de crimes macabros. Nessa nova investigação, encontramos uma Caterina ainda impulsiva, sim, mas talvez um pouco mais reflexiva, mais madura. Afinal de contas, o avanço da idade e as responsabilidades familiares geram mudanças de comportamento e caráter em cada um de nós, e ela certamente não está imune a isso. O que importa é a inteligência e a intuição, que, graças também à ajuda de seus colaboradores e de seu cão, Furia, a levam constantemente a resolver suas investigações com sucesso.
IdiomaPortuguês
EditoraTektime
Data de lançamento30 de out. de 2023
ISBN9788835457695
Diário De Um Psicopata: Um Desafio No Escuro Para A Comissária Caterina Ruggeri

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    Diário De Um Psicopata - Stefano Vignaroli

    Índice

    PREFÁCIO

    PRÓLOGO

    CAPÍTULO 1

    CAPÍTULO 2

    CAPÍTULO 3

    CAPÍTULO 4

    INTERLÚDIO 1

    CAPÍTULO 5

    CAPÍTULO 6

    CAPÍTULO 7

    CAPÍTULO 8

    CAPÍTULO 9

    CAPÍTULO 10

    INTERLÚDIO 2

    CAPÍTULO 11

    CAPÍTULO 12

    CAPÍTULO 13

    CAPÍTULO 14

    CAPÍTULO 15

    INTERLÚDIO 3

    CAPÍTULO 16

    CAPÍTULO 17

    CAPÍTULO 18

    INTERLÚDIO 4

    CAPÍTULO 19

    INTERLÚDIO 5

    CAPÍTULO 20

    CAPÍTULO 21

    CAPÍTULO 22

    CAPÍTULO 23

    EPÍLOGO

    NOTAS DO AUTOR E AGRADECIMENTOS

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    Mundo subterrâneo

    DIÁRIO DE UM PSICOPATA

    Stefano Vignaroli

    Edição italiana© 2022 AltroMondo Editore

    Edição portuguesa© 2023 Tektime

    Tradução de Kharina Kohl Mensen

    Este livro é uma obra de ficção e as referências a pessoas, lugares ou eventos reais devem ser consideradas pura coincidência e não intencionais. As ideias e os conceitos expressos neste volume constituem a opinião pessoal do autor e não são necessariamente os da editora e dos colaboradores.

    Stefano Vignaroli

    DIÁRIO DE UM PSICOPATA

    Um desafio no escuro para a
    Comissária Caterina Ruggeri

    Para minha esposa Paola

    e meus filhos Diego e Debora

    Há cem de maneiras de morrer,

    cem de maneiras de morrer,

    cem maneiras, cem maneiras de morrer.

    Há cem de maneiras de morrer,

    cem de maneiras de morrer,

    cem maneiras, cem maneiras de morrer.

    A primeira maneira de morrer é estendendo roupas

    e os prendedores ficam presos nos fios

    talvez você perca o equilíbrio para estender um moletom

    o varal se solta e você cai da varanda

    é por isso que não estendo roupas, às vezes nem lavo

    se houver água e eletricidade me eletrocutando pelo cabo

    você corre o risco de morrer desde o dia em que nasce

    por isso, cada momento que passa é decisivo

    os riscos estão por toda parte, especialmente na cidade,

    atropelei você na parada do bonde

    hoje está quente, vou tomar um banho para me refrescar

    então escorrego no mármore, caio e bato a cabeça

    fiz uma festa com fogos de artifício

    perdi o controle, o prédio explodiu

    e o do lado também, veja os mortos no pátio

    você estava passando com seu booster e explodiu do assento.

    Fabri Fibra

    PREFÁCIO

    Sempre tive uma queda por thrillers psicológicos. Entrar na mente do assassino, sondar seus recônditos mais obscuros e entender o que leva uma pessoa aparentemente normal a cometer assassinatos hediondos é algo que me fascina e me empolga.

    E esse é precisamente o tema central do novo romance de Vignaroli: o que acontece quando atrocidades são cometidas por um indivíduo que a maioria de nós definiria como respeitável? Estamos tão acostumados a pensar nos assassinos como pessoas com personalidades limítrofes, filhos de um passado violento e traumático, que o oposto parece quase inaceitável.

    Em vez disso, a pior característica do mal é que ele se espalha por toda parte. O que você faria, por exemplo, se houvesse a possibilidade de que um assassino fizesse parte de sua família? Porque é isso que acontece com a Comissária Caterina Ruggeri, a protagonista do romance, quando se vê investigando a morte de duas mulheres carbonizadas dentro de um carro em chamas. Isso, combinado com um diário perturbador, o diário de um psicopata, encontrado ao lado do carro, torna o livro ao mesmo tempo emocionante e sombrio.

    Mas os romances de Stefano Vignaroli também possuem outra característica extraordinária: ao lê-los, tem-se a impressão de estar percorrendo as vielas das pequenas cidades da região de Marche, no leste da Itália, descritas pelo autor. As referências à história e à tradição locais enriquecem a narrativa, aguçando o interesse do leitor até mesmo pelos menores e muitas vezes subestimados vilarejos italianos.

    Eu diria que O Diário de um Psicopata é uma daquelas histórias de detetive que deixam um gosto estranho na boca, fazem pensar e ensinam. Porque, depois de ler este livro, você entenderá que uma mente criminosa pode se desenvolver mesmo em pessoas decentes e que as perversões mais inomináveis podem surgir sem traumas aparentes. A mente humana é um túnel escuro e inexplorado, e o thriller de Stefano Vignaroli é a prova disso.

    Filippo Munaro

    PRÓLOGO

    Antes de entrar em casa, Eleonora, com o cigarro aceso na boca, pegou a correspondência na caixa de correio. Era o início da tarde de 21 de dezembro de 2012, o ar estava limpo, um frio vento mistral havia dissipado todas as nuvens e o sol brilhava, embora, apesar de toda a sua força de vontade, não conseguisse aquecer a atmosfera tanto quanto gostaria. Será que alguém havia dito ou escrito que o mundo ia acabar naquele dia? Bem, Eleonora não parecia perceber no ambiente nenhum aviso estranho de terremotos ou enchentes, ou outros desastres naturais iminentes. Em vez disso, foi seu coração que mergulhou na escuridão total há alguns dias, desde que sua companheira Cecilia lhe confessou que havia se apaixonado por um homem e que não queria mais nada com ela. Por quê? Elas eram tão boas juntas, podiam dar vazão a todos os seus instintos sexuais e desfrutar plenamente do prazer que uma dava à outra. Cecilia nunca seria tão feliz com um homem quanto poderia ser com ela. Ela tinha absolutamente que fazer outra tentativa de trazer de volta sua doce companheira. Entrou em casa, colocou as sacolas de compras no chão, que havia recolhido às pressas do supermercado onde trabalhava como caixa, e pôs a correspondência na mesa. Finalmente, conseguiu dar uma tragada em seu cigarro e apagá-lo no cinzeiro, bem a tempo de evitar que alguns centímetros de tabaco queimado caíssem no piso polido.

    Entre todas as cartas, seu olhar foi atraído para um envelope daqueles acolchoados, do tipo usado para enviar CDs ou pequenos livros, para evitar que o conteúdo se estrague antes da entrega. Não havia remetente. Com o coração batendo forte, ela abriu o envelope, esperando uma mensagem de Cecilia. Dentro havia apenas um cartão quadrado com um desenho estranho. Círculos e arcos se entrelaçavam e se cruzavam, simulando um estranho efeito óptico de uma figura tridimensional. Os olhos de Eleonora se fixaram na imagem, que pareceu começar a girar, cada vez mais vertiginosamente, como um redemoinho que quisesse atrair tudo para o seu centro. A mulher perdeu a noção da realidade e começou a ver algumas letras saindo do centro da figura, indo em direção à sua mente e se fixando em um canto remoto de seu cérebro, como pregos martelados na parede. Em certo momento, a combinação de letras formou uma frase: MATE E SE MATE. SUA ARMA É O FOGO.

    A imagem aos poucos parou de girar e Eleonora recuperou a consciência de si mesma e do ambiente ao seu redor, mas não de suas ações, que agora eram comandadas por aquela frase impressa em seu subconsciente.

    Pegou seu celular e ligou para Cecilia.

    Preciso falar com você. Não se preocupe, será a última vez, e então você estará livre para ir embora com seu homem. Em duas horas, em frente ao clube de esportes, estarei no meu carro esperando por você.

    Ela encerrou a ligação sem lhe dar tempo de responder; sabia que a amiga compareceria ao encontro. Se preparou cuidadosamente, escolhendo roupas elegantes e tomando um banho de perfume. Deu atenção ao penteado e aplicou bastante spray para mantê-lo no lugar. Arrumou os brincos e os piercings e, por fim, dedicou algum tempo à maquiagem: base, rímel, batom. No final, ela se olhou no espelho, julgando o resultado mais do que satisfatório. Olhando para o seu reflexo, não pôde deixar de levar a mão até a parte inferior do abdômen, roçar seu púbis e sentir um pequeno arrepio.

    Daquele momento em diante, ela sabia exatamente o que tinha de fazer. Antes de chegar ao local do encontro, ela foi à tabacaria e comprou um maço de cigarros e algumas latas de gás de isqueiro. A morte viria imediatamente após o último ato intenso de prazer.

    CAPÍTULO 1

    Eu estava explicando ao meu colega de Senigallia, o Comissário-chefe Sergio Adinolfi, a função da minha equipe na área regional e as possibilidades de cooperação e intercâmbio com os Distritos Policiais locais nas investigações de crimes hediondos, que também estavam ocorrendo cada vez mais em nossa área. O cara – um homem na casa dos quarenta anos, alto, atlético, com um olhar inteligente, dois olhos azuis que pareciam desnudar você através das lentes de seus óculos – me ouvia atentamente.

    Meu caro, provavelmente a partir de 2014 toda a Polícia, nós, os Carabinieri (Polícia Militar) e a Guarda de Finanças, serão unidas em um único órgão, visando economias consideráveis para os cofres públicos. Muitos de nossos pequenos distritos, bem como pequenos quartéis dos Carabinieri ou das Finanças, serão fechados, e unidades fortes serão criadas na região, com pessoal misto das antigas equipes. Ainda não sabemos como essa reforma será implementada, qual será o cronograma e como nos chamaremos, mas uma coisa é certa: devemos chegar a essa designação fortes e determinados, não nos deixando intimidar por outros. E a Seção de ‘Homicídios e Pessoas Desaparecidas’, que eu dirijo, é um dos nossos pontos fortes. Estou falando isso para garantir sua sobrevivência e, para isso, preciso do apoio de todos vocês que trabalham nas pequenas delegacias, que estão em contato com a realidade cotidiana.

    O colega estava prestes a retrucar, quando nossa atenção foi atraída para uma agitação incomum na rua, a pouca distância do prédio em que estávamos no momento, localizado em um subúrbio de Senigallia, em frente a algumas instalações esportivas, na verdade uma área tranquila e pouco frequentada naquela época do ano. Era, de fato, final de dezembro, os dias tinham se tornado muito mais curtos, a ponto de serem quatro horas da tarde e o sol já estar se pondo no horizonte.

    Um carro estacionado estava pegando fogo, e uma coluna de fumaça preta começava a subir. A princípio pensei que não fosse nada sério, além do prejuízo financeiro que o proprietário teria sofrido com a perda do carro, mas alguns detalhes da cena nos fizeram perceber que se tratava de uma tragédia. O carro não estava vazio, havia pessoas a bordo. Sem sequer vestir nossos casacos, descemos as escadas correndo. Sergio pegou o primeiro extintor de incêndio que apareceu em suas mãos; eu fiz o mesmo e, passando pela guarita, gritei para o vigia chamar uma ambulância e os bombeiros. Quando nos aproximamos do carro em chamas, um Peugeot 207, pudemos verificar a eficiência dos extintores em nossas mãos. O meu estava completamente vazio, enquanto o do Comissário Adinolfi conseguiu abafar as chamas apenas o suficiente para ver que havia muito pouco a se fazer pela pessoa sentada no lado do motorista. Então, com o último jato de espuma exalado, as chamas terminaram seu trabalho, reduzindo o carro a um esqueleto enegrecido. Felizmente, por assim dizer, o veículo era movido a diesel, então não houve explosão.

    Os bombeiros chegaram com as sirenes altas e, em uma fração de segundo, apagaram os últimos focos de incêndio. Um pouco mais adiante, o pessoal do posto 118 prestava socorro a um indivíduo que ainda segurava na mão um tubo de metal e que tinha queimaduras leves no rosto. No chão, inconsciente, uma pessoa, que entendi ser uma mulher. É muito provável que ela tenha saído do lado do passageiro, rastejado por alguns metros envolta em chamas para, em seguida, desabar indefesa. Me senti estúpida, se não tivesse perdido tempo com o extintor, poderia tê-la notado, jogado algo nela para abafar as chamas, para poupá-la de um sofrimento excruciante. Mas, na confusão, eu nem tinha notado seus gritos. Os paramédicos a viraram gentilmente, um deles colocou dois dedos em seu pescoço e disse ao outro: Ela ainda está viva! Vamos lá, temos muito a fazer.

    O segundo paramédico balançou a cabeça. Não há nada que possamos fazer, ela está em uma condição lamentável. Se sobreviver, ficará desfigurada para sempre. Vamos colocá-la no oxigênio e chamar o helicóptero, para que seja levada ao centro de queimados.

    A cena era horrível, tive dor de estômago e estava prestes a vomitar, mas criei coragem, me aproximei do meu colega, que ainda olhava chocado para o cadáver carbonizado da pessoa dentro do carro, e tentei sacudi-lo de volta à realidade.

    Vamos lá, Sergio, não podíamos fazer mais nada. Em vez disso, vamos tentar entender o que aconteceu. Temos que interrogar o indivíduo com a barra na mão antes que o levem ao pronto-socorro. Vamos ouvir o que ele tem a dizer. Enquanto você pega os dados pessoais dele, eu ligo para o Cimino. Algumas descobertas da perícia certamente serão úteis para nós.

    Enquanto fazia a ligação, fiquei feliz em perceber que dois oficiais do Distrito haviam descido a rua e estavam trazendo nossos casacos. Na verdade, foi um alívio colocar o sobretudo, pois eu estava começando a sentir bastante frio. Quando a ligação terminou, prestei atenção nas palavras que o sujeito interrogado pelo meu colega estava falando.

    Eu estava passando aqui por acaso, quando notei algo estranho dentro daquele carro. As janelas estavam ficando pretas com a fumaça lá dentro. Havia chamas, mas não eram altas, não escapavam do interior do veículo, e eu podia ouvir os gritos desesperados de uma mulher. Tentei abrir a porta, a maçaneta estava quente, mas insisti mesmo assim. A porta não abria porque estava trancada por dentro. Então, encontrei esta barra de metal e quebrei o vidro. Eu nunca tinha feito isso, e só consegui piorar a situação, fornecendo oxigênio para o fogo; uma chama violenta me atingiu e me jogou para trás. Pude ver aquela mulher envolta em chamas sair pela janela e correr por alguns metros, deixando para trás um rastro de fragmentos de roupas e pobres restos de carne enegrecidos pelo fogo, e depois tombar no chão, se contorcendo. A outra pessoa permaneceu imóvel no banco do condutor. Eu não sabia dizer se ela já estava morta ou se estava parada de propósito porque queria morrer daquela maneira horrível.

    Os paramédicos nos lançaram um olhar severo e colocaram o Sr. Giovanni Bartoli, que era como o cara disse que se chamava, na ambulância.

    Vocês terão tempo e oportunidade para interrogá-lo. Agora ele precisa ser tratado com urgência.

    A ambulância partiu com as sirenes estridentes, enquanto do céu, agora escuro, vinha o som do rotor do helicóptero, que logo pousou no meio do campo de futebol ao lado. A funerária e o furgão da Polícia Científica chegaram com menos pressa. Nesse meio tempo, coletamos também o depoimento do chefe dos bombeiros.

    O carro estava trancado por dentro, provavelmente a pessoa ao volante havia acionado o botão de travamento central. Não toquei em nada, mas dentro do carro notei, entre os restos carbonizados, pelo menos quatro latas de gás butano, do tipo usado para recarregar isqueiros, por exemplo. A vítima, que acredito ser também uma mulher, ainda tem na mão um isqueiro. A causa da tragédia foi ela mesma. Talvez as duas tenham decidido cometer suicídio, fecharam tudo e deixaram o interior saturado de gás, causando assim também um certo grau de atordoamento. Uma faísca do isqueiro foi mais do que suficiente para acender o fogo.

    Péssima maneira de se suicidar, respondi. E, de qualquer forma, uma delas não parecia muito de acordo em acabar torrada. Vamos deixar que a equipe forense tire suas conclusões, Sergio. Nos próximos dias teremos a chance de entender melhor a dinâmica dos acontecimentos e as motivações que levaram essas mulheres a um ato tão absurdo. Enquanto isso, com base na placa do veículo, estamos tentando identificar o cadáver e a pessoa que deveria morrer com ela. A partir de agora, esse é um caso no qual estou envolvida, portanto, conduziremos a investigação em conjunto. Estou voltando para a base, mas vamos manter contato.

    Pode contar com isso!, respondeu Adinolfi, despedindo-se.

    Nos dias seguintes, pude apreciar a competência profissional daquele homem que acabara de conhecer e que imediatamente me impressionou de forma positiva. Se eu tivesse ele ao meu lado, como meu adjunto, em vez de Santinelli, nossa equipe certamente teria uma vantagem.

    Nos encontramos em seu escritório em Senigallia alguns dias depois.

    O carro, um Peugeot 207, pertencia a uma certa Eleonora Giulianelli, 36 anos. Ela era balconista em um supermercado e morava sozinha em um prédio de apartamentos a poucos passos daqui, começou Sergio. Conhecemos ela porque a detivemos algumas vezes e encontramos pequenas quantidades de drogas, pouca coisa, para uso pessoal, então ela nunca foi presa e sua ficha criminal está limpa. Sabemos, no entanto, que frequentava clubes de rappers. Frequentemente, ela ia a festas rave, buscando se drogar de qualquer modo. A mãe, ao reconhecer o corpo, ficou desesperada, mas afirmou que já esperava que Eleonora acabaria mal mais cedo ou mais tarde. E assim foi. Interrogamos as pessoas que a conheciam, que afirmaram que ela era lésbica e tinha um relacionamento estável há algum tempo com Cecilia Bertini, 37 anos, que é a outra mulher que estava no carro com ela. No entanto, essa última recentemente conheceu um homem e se apaixonou por ele e, por isso, estava tentando romper o relacionamento com Eleonora. Juntando esses elementos, acho que podemos tirar conclusões muito próximas da realidade.

    Deixe que eu conte como aconteceu. Eleonora tem um relacionamento mórbido com sua parceira e realmente não suporta que ela a deixe por um homem. Ela quer fazer uma última tentativa, convidando sua amiga para conversar no carro, para convencê-la a ficar com ela. Mas, se não conseguir convencê-la, tem tudo preparado: elas vão morrer juntas. Elas já haviam cheirado butano antes, para obter uma dose barata, então Cecilia não se incomoda com aquelas quatro latas de gás de isqueiro. O fato é que Eleonora sabotou os recipientes para que eles liberassem lentamente o gás no interior do veículo. Cecilia ouve a amiga por um tempo, um pouco tonta com o cheiro de gás, talvez até se deixando acariciar e beijar, mas depois resiste, não quer desistir de seu projeto, tem quase quarenta anos, é hora de colocar a cabeça no lugar e se dedicar a um relacionamento como deveria, com um homem, talvez se casar, quem sabe! Eleonora, enquanto isso, fechou as janelas e trancou as portas com o botão de travamento central, localizado em seu painel lateral, próximo aos botões dos vidros elétricos. Outro comando permite que eles também sejam bloqueados. Ela pega casualmente o maço de cigarros, oferece um para a amiga, leva um à boca e pega o isqueiro. Para garantir que o fogo começasse, Eleonora também passou muito perfume em si mesma, borrifou bastante spray de cabelo e vestiu roupas feitas de fibras sintéticas, facilmente inflamáveis. Basta a faísca do isqueiro e o interior do carro vira um inferno. Eleonora permanece imóvel, pois a morte a essa altura é uma libertação para ela, mesmo que tenha escolhido uma forma atroz de morrer. Certamente Cecilia não é da mesma opinião, que tenta escapar das chamas, tenta abrir a porta, mas está travada, tenta abaixar a janela, mas também está travada, grita em desespero, tenta alcançar com a mão o botão da trava central, talvez consiga, mas agora, devido ao calor, ele não funciona mais, porque o sistema elétrico do carro está em pane. Ela tosse, chora, se desespera, as chamas começam a consumir suas roupas, causando dores lancinantes quando entram em contato com sua pele. Quando pensa que acabou, ouve a janela se estilhaçar, uma chuva de cacos de vidro caindo sobre ela. Alguém a está ajudando, mas, num piscar de olhos, as chamas aumentam seu vigor, ganhando nova força com o oxigênio que chega tão generosamente para alimentá-las. Ela dá um jeito de se jogar para fora do carro, através da janela quebrada, mas agora é uma tocha humana, consegue dar poucos passos e cai no chão. O resto nós vimos com nossos próprios olhos.

    Portanto, podemos arquivar o episódio como um caso de homicídio-suicídio. Quer Bertini sobreviva ou não, sua carrasca está morta, então o assunto está encerrado.

    Seria assim se não fosse por um detalhe, alguns artefatos que a perícia encontrou a poucos passos da cena do crime: um pequeno livro com capa de couro roxo finamente trabalhada, uma vela parcialmente consumida e uma foto de Cecilia Bertini rasgada em quatro pedaços. Cimino me disse que o livrinho, à primeira vista, poderia parecer uma cópia de uma Bíblia ou de um Evangelho, mas as páginas estavam quase todas em branco, exceto por algumas escritas à mão no início. Na página de rosto, um título, escrito em letras maiúsculas: ‘O DIÁRIO DE UM PSICOPATA’. Nas páginas seguintes, o verdadeiro depoimento de um psicopata – que terei a chance de ler quando a perícia terminar seu trabalho com o achado e entregá-lo a mim – e também uma citação do Evangelho de Mateus: ‘O reino dos céus é semelhante a um rei, que celebrou as bodas de seu filho. Enviou os seus servos a chamar os convidados para a festa, e estes não quiseram vir. Enviou ainda outros servos com este recado: Eis que tenho já preparado o meu banquete; meus bois e meus animais cevados já estão abatidos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Mas eles não fizeram caso e foram, uns para o seu campo, outros para o seu negócio; e os outros, agarrando seus servos, os ultrajaram e mataram. Então o rei ficou indignado, e mandou as suas tropas exterminar aqueles assassinos e incendiar a sua cidade. Depois disse aos servos: O banquete nupcial está pronto, mas os convidados não eram dignos; ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e chamai para as bodas a quantos encontrardes. Indo aqueles servos pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e o salão ficou cheio de convivas. Mas entrando o rei para ver os convivas, notou ali um homem que não trajava veste nupcial, e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? Ele, porém, emudeceu. Então o rei disse aos servos: Atai-lhe as mãos e os pés, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.

    Perturbador. O cara se refere a chamas, faz referência ao inferno, mas que significado isso pode ter? Talvez tenha sido a própria Eleonora quem preparou essas coisas, afinal, ela estava em um ponto de ruptura com Cecilia e planejava matá-la. Está tudo lá: a foto rasgada, a referência ao fogo, a vela consumida, a passagem do Evangelho cuidadosamente escolhida.

    Alguma coisa não se encaixa. Se fosse uma mulher escrevendo, ela teria escrito o diário de uma psicopata, não de um psicopata. E o que me faz pensar que ela não escreveu aquele livreto é seu nível cultural. Eleonora trabalhava como balconista em um supermercado, era viciada em drogas e frequentava clubes de rappers. Teremos que ler com atenção o que está escrito nesse diário, mas é evidente que ele é produto de uma mente refinada e culta. O que eu temo é que possamos estar lidando com um lunático, um manipulador, que fez de Eleonora um braço armado para matar sua vítima, talvez permanecendo a uma curta distância da cena para observar o holocausto e espalhar despercebidamente no chão os elementos que encontramos e que representam um desafio dele para nós. Ele poderia ser um assassino em série: ‘Pegue-me se puder’, e está nos dizendo, ‘caso contrário, eu atacarei novamente’.

    Meu Deus, Caterina, isso é tudo conjectura sua. Tudo ainda deve ser comprovado. Mas o que me preocupa é que você falou no plural: teremos que ler com atenção... O que isso significa?

    Ah, sim, tinha esquecido! A carta do delegado, aqui. A partir de amanhã, você estará a serviço do meu gabinete, será meu adjunto no lugar de Santinelli, que nesse ponto assumirá a regência do Distrito Policial de Senigallia. Temos um caso quente em nossas mãos, e o Dr. Spanò acha que, no momento atual, você é mais útil na Homicídios do que neste distrito suburbano. Você vai ver, vai se encaixar bem na equipe!

    Mas..., ele tentou contestar. Não lhe dei tempo, porque dei meia-volta e caminhei até a porta do escritório.

    Vejo você pela manhã. Às oito, pontualidade é importante para mim!

    CAPÍTULO 2

    A psique humana às vezes é capaz de acionar mecanismos inesperados, transformando um indivíduo aparentemente normal em um criminoso cruel. As causas desencadeantes nem sempre são conhecidas, elas podem ser encontradas no passado recente e remoto, na psique do indivíduo, em eventos incomuns que podem acontecer com qualquer pessoa e que, em alguns indivíduos, desencadeiam reações anormais. A criminologia e a psicologia criminal são ciências, embora não exatas e em constante evolução, que ajudam o investigador a descobrir aqueles indivíduos que, devido a suas características psíquicas, não precisam de muito para superar o tênue fio que separa a racionalidade e a normalidade da adoção de um comportamento nocivo para si mesmos e sobretudo aos outros. Claro, não estamos falando de criminosos comuns: é fácil para qualquer policial prender um ladrão, um traficante ou um receptador nos bolsões da sociedade onde se vive à margem da legalidade, nas favelas das grandes cidades, nas boates dos subúrbios ou nos guetos suburbanos habitados principalmente por famílias de baixa condição social. Aqui, queremos falar daqueles indivíduos de inteligência refinada, que levam a sua vida quotidiana como pessoas normais, trabalhadores tranquilos, talvez profissionais, por vezes pais de família, em quem de vez em quando algo se desencadeia, uma mola, um desejo irreprimível, que os leva a cometer crimes contra pessoas, às vezes até desconhecidas, na maioria das vezes do sexo oposto, transformando-os em assassinos em série. Uma vez consumado o crime, há uma fase de satisfação em que o sujeito volta à sua vida normal, meditando também sobre o quão errado pode ser o que fez. Mas ele conseguiu esconder bem o delito, ninguém suspeitou dele, fez isso até mesmo debaixo do nariz da Polícia, que talvez o tenha interrogado, e conseguiu escapar magnificamente ao responder às perguntas. Quase lhe parece que o que aconteceu foi feito por outra pessoa, numa duplicação da individualidade subjacente à sua esquizofrenia. Mas ele manteve algo como lembrança, uma fotografia, um vídeo, uma parte do corpo da vítima, talvez apenas uma mecha de cabelo, ou um objeto ou peça de roupa que lhe pertencia. E, ao olhar ou tocar esse fetiche, ele fica excitado, até que, uma vez terminada a fase quiescente, ele tem novamente o impulso de agir, de matar, mesmo que seu eu racional perceba que isso é ruim. E isso em um círculo vicioso, que sempre recomeça e colhe vítimas, até que um detetive habilidoso consegue desmascará-lo e capturá-lo. E é seu desejo inconsciente ser capturado, tanto que ele próprio deixa pistas cada vez mais frequentes e cada vez mais enigmáticas, lançando desafios a quem o persegue, como se dissesse: preciso ser detido, mas sou muito inteligente, não deve ser tão fácil me pegar. Tais personagens marcaram a história, tanto distante quanto recente: Drácula, Jack, o Estripador, Gianfranco Stevanin, o Monstro de Florença, Hannibal Lecter, para citar apenas alguns.

    Mas além do que descrevemos acima, há indivíduos, não perigosos em si mesmos, que, para satisfazer seus instintos ou sua sexualidade reprimida, adotam comportamentos desviantes da norma para de alguma forma dar vazão ao seu prazer. Pode ser um comportamento que simula a execução de práticas violentas em si mesmo ou em um parceiro condescendente, nas chamadas práticas sadomasoquistas, ou simplesmente a pessoa pode se sentir atraída pelo fetiche. Há aqueles que se excitam ao ver uma mulher usando salto agulha, ou meias de náilon, e assim por diante. Geralmente é o indivíduo do sexo masculino que é entusiasta dos fetiches; é muito raro que uma mulher tenha as mesmas paixões, exceto para satisfazer seu parceiro, que, se não fosse estimulado por elementos imaginativos, provavelmente falharia na hora H. Afinal, na maioria das vezes não há nada de errado em realizar jogos eróticos com o parceiro. Às vezes, inclusive, esses mecanismos não são compartilhados com a pessoa com quem se faz sexo, mas permanecem exclusivamente na mente daqueles que, por exemplo, atingem o orgasmo imaginando em sua cabeça que estão estrangulando sua mulher. Não que ele realmente fosse fazer isso, mas se aquela fantasia violenta não se desenvolvesse na mente, o sujeito nem chegaria à ejaculação. De onde vêm essas perversões? E quão potencialmente perigoso pode se tornar de repente um indivíduo que abriga tais pensamentos, tais fantasias, talvez nunca confessados e nunca compartilhados com ninguém?

    Vamos dar alguns exemplos.

    Artemio, um nome puramente fictício que não queremos associar a nenhuma pessoa conhecida na face da Terra, é um arquiteto de cinquenta anos, não rico, mas bem de vida, tem uma casa modesta, uma esposa que o ama e respeita, embora as relações íntimas há algum tempo sejam cada vez menos frequentes, e dois filhos agora na casa dos vinte anos. Uma pessoa muito normal, mas vamos voltar no tempo na vida desse homem, até a idade de onze anos. É o início da década de 1970 e Artemio é uma criança falante e inteligente, vai bem na escola, frequenta a sexta série e senta-se na primeira carteira, bem em frente à mesa da professora. A professora de literatura, aos trinta anos, não é belíssima, mas tem duas pernas estupendas e sempre as exibe usando saias ou vestidos curtos, que, afinal, estavam na moda naquela época. Artemio está na fase em que sua puberdade está prestes a explodir e, de sua posição na primeira carteira da fileira do meio, bem em frente à mesa da professora, ele tem uma visão panorâmica das suas pernas, que parece ser uma

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