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Cimento Vivo
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E-book76 páginas1 hora

Cimento Vivo

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Sobre este e-book

Um ex professor de literatura que enfrenta um drama em busca de si mesmo. Para isso enfrenta obstáculos terríveis pela frente. Será que Mugico Arruda Flores conseguirá essa façanha?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de mai. de 2023
Cimento Vivo

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    Cimento Vivo - Fabio Dos Santos

    CIMENTO VIVO

    CIMENTO VIVO

    FABIO DOS SANTOS

    ROMANCE

    Copyright by Fábio dos Santos, 2023

    Título original:

    Cimento Vivo

    Capa: Fabio dos Santos

    Caracteres: Notebook

    CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte

    Santos, Fábio dos.

    Cimento Vivo/Fabio dos Santos. 2ª edição.

    Maceió: Bibliomundi, 2023

    p.187

    (ficção brasileira)

    Narrativa. 2. Título. I. Ficção Brasileira. CDD

    PRIMEIRO CAPÍTULO:

    Loucura dentro da cabeça...

    Esse era o mundo de Mugico Arruda Flores, negro de barba ruiva, mãos grossas que aparentavam a força de um guindaste, dono de uma inteligência prodigiosa e de uma mente tão complexa quanto a vida que vivia. Ex-professor da rede pública, tendo o sistema educacional o expulsado por causa de suas ideias subversivas, tornou-se dublê de músico e quase ermitão. Senão, vejamos como tudo aconteceu...

    Loucura dentro da cabeça. Sensações estranhas... Para onde quer que ele olhe. Uma confusão dos diabos, fatos que desconcertavam qualquer mortal. E ele, ali, dentro do seu velho costume -–um condenado! Não se largaria nunca! Fugir daquele torrão, por qualquer motivo besta, bastava subir aos nervos a menor raiva que fosse. E, quase se foi, mesmo! Cabeça dura, pode crer. Achava-se bom filósofo, embora sempre submetido à vontade dos políticos; estes, sempre sobre suas costas, cabrestos aniquilando seus anseios, bananas debaixo dos sovacos. Mas, havia uma certa esperança, meio que sem brilho, mas era uma esperança. A terra era seca, porque o tempo a secara, e a esperança, no seu sem-brilho brilhava, insistente. O tempo em que vivia, secara também o coração das pessoas, podia sentir isso. Fazer o quê? Assim era feita sua vida: de cactos, de sangue, de esperança, de fome, de solidão, sobretudo solidão...

    Sim, senhor. Aqueles mofinos do poder veriam uma coisa! E tal coisa cairia dos céus como um relâmpago de Tupã. Que grande lição não seria? Eles abusam da fé das gentes mais ingênuas, todo ano é assim – bando de ladrões! Era bom que chovesse meteoritos, e só assim essa cadeia política sofreria uma reviravolta, mas não, nada acontece, tudo é água de coco e muito sol, praias, farras, modas. Vontade danada de vomitar aquele mundo, numa só cagada matar todo mundo, depois fugir, esconder-se, sei lá!

    Notas de jornais noticiavam toda a podridão: CPI do narcotráfico, deputados em processo de cassação e excomungados pela própria plêiade, um certo juiz Lalau... Quero ver em que tudo isso vai dar! Polícia prendendo polícia. Um presidente que não dá a mínima para seu país, privatizando tudo, tudo, tudo.

    Tudo errado, errado, mesmo. A fome em cada lar, uma burrice coletiva sempre predominante, em época de eleições... Tudo errado, mesmo!

    Sentimentos duros, dentro da cabeça, e também do corpo todo. Viver era o mesmo que se torturar.

    Ele, ali, só, no seu mundo, uma voz grave e cavernosa. E pensar que já tivera uma voz consciente bem melhor e bem mais compreensível. Outros tempos aqueles, regidos de vacas gordas. Hoje, que diferença! O rosto seco, catimbado, a barba sempre por fazer, furando o ar; uns olhos semimortos, remelentos. Ó, insônia acastanhada! Seria Che Guevara para merecer àquela guerra de vida? Mas que diabo de pensamento – era a loucura martelando dentro de sua cabeça.

    E ele ali, ninguém mais sabia que ele existia. Sozinho, sem comando, sem exército, para enfrentar aquela guerra pessoal contra sua forma de vida. Se tivesse que bater em portas esconsas pelo descaso político, seria um Ulisses, um colosso de Titã, um fiel em maometano numa guerra santa.

    No caminho, escutou alguém falar-lhe:

    - Como é que um desgraçado que escarafuncha da noite para o dia com a Sra. Política, e num piscar de olhos consegue trocar os chinelos por sapatos de ouro?

    - Como se chama o deputado que comprou um castelo de 20 milhões?

    - Zé do Boi.

    - Claro. Um sujeito como aquele que mal tinha onde cair morto não soube explicar para a receita.

    - E ainda assim safara-se da prisão.

    E havia outro, certamente fugitivo das querenças fiscais da prefeitura, contrapôs o que o amigo disse emendando revoltado:

    - Um trabalhador como eu, que não deve nada a ninguém senão a própria família, jamais irá tirar o pé da lama... Agora, se tiver parte com o diabo!...

    - E se ele fosse que nem nós, já estaria comendo ovo com farinha no xilindró.

    O outro emendou numa ferocidade incomum:

    - E se fosse um pai de família que nem nós teria sido, no mínimo, humilhado em praça pública.

    Mugico observava a tudo de seu mundo. Engulhou ao ouvir aquilo. Olhou, atentamente para aquelas figuras medonhas perambulando em vão e salvou-lhes as surradas e queimadas beiçolas, pois viu nelas resquícios duma falsa coragem, recôndita desde de menino, quando acompanhava a ação dos adultos ao construírem e destruírem o próprio futuro. Contudo, teve pena mais de si do que deles. Sempre pensara assim. A vida não tinha tanto significado se ele próprio não a amasse. E retirou-se dali, antes que se infeccionasse. Olhar e ver as pessoas, escutar delas os lamentos, tarefa difícil, sentir suas dores e sentimentos. Tudo isso para em busca de uma compreensão dos porquês das criaturas humanas se tornarem insensatas e irreconhecíveis. Eram todos primitivos, talvez...

    Interessante às vezes em que se dispusera em, de rua em rua, colado às paredes das casas e dos muros das mansões, em escutar os últimos acontecimentos que assolavam sua terra e todo o mundo;

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