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Essencialmente Clara!
Essencialmente Clara!
Essencialmente Clara!
E-book153 páginas1 hora

Essencialmente Clara!

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Sobre este e-book

Sinopse do livro: Essencialmente Clara! Quando a ciência e a magia se encontram, o que sobra é a certeza de que nossas certezas já não bastam. Foi isso que aconteceu com André, um garoto quase normal, apaixonado por ciência e por Clara, de quem é também grande amigo desde a infância. Entre tarefas escolares e estudos para as avaliações, ele precisará ajudar a amiga a desvendar os mistérios que envolvem os ancestrais da garota, principalmente Anita, uma bruxa espanhola que viveu no século XVII. Assim, André vive uma aventura instigante e envolvente em busca das raízes da bruxaria. Para livrar Clara e Danna, prima da garota, dos perigos que as aguardam, ele terá de expandir sua mente e aceitar que “há mais mistérios entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã filosofia”. Essa busca será capaz de transformar a mente científica de André? Conseguirá Clara ouvir e aceitar esse chamado ancestral? Para saber, leia Essencialmente Clara!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de abr. de 2015
Essencialmente Clara!

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    Essencialmente Clara! - Adriana Bizuti

    Essencialmente Clara!

    Adriana Bizuti

    Ilustração da capa: Débora Oliveira Lazarini Maria

    2015

    1

    Existem muitas formas de se acreditar em bruxas, sendo elas boas ou más. E até formas de não se

    acreditar nelas. Não existem e pronto. Durante muito tempo, se pensou que bruxas fossem velhas

    enrugadas, corcundas, narigudas, verruguentas, vestidas em seus longos vestidos pretos e voando de

    vassoura por aí. Na verdade, não é nada disso. Bruxas são pessoas como nós, bonitas ou feias, mas o

    que realmente faz delas o que são é a sua relação com a energia extraída da natureza e a total

    integração com os quatro elementos básicos – a água, a terra, o fogo e o ar. Uma bruxa sabe usar

    cada um destes elementos e até outros mais, como as ervas, por exemplo. Algumas delas têm o poder

    de cura. Vendo por este lado, são importantes. Mas nem sempre se pensou assim, nem sei se agora se

    pensa. O fato é que as bruxas já foram muito perseguidas ao longo da história. Mas você deve estar

    se perguntando como eu sei disso tudo. E tudo isso tem a ver com Clara.

    Eu poderia dizer que Clara é um anjo, mas ela é mesmo uma bruxa. Não como aquele garoto

    do filme, mas uma bruxa de verdade. Não! A Clara não voa na vassoura! Isso é invenção do povo, do

    imaginário popular. Ouvi dizer que, há muito tempo, bem antigamente, estas danadinhas usavam um

    alucinógeno, parece que era uma planta chamada mandrágora, e as pessoas tinham a ilusão de que

    elas estavam voando. Mas, como eu ia dizendo, desde bem criança, Clara era diferente. Não sei se

    vou saber explicar muito bem, mas eu percebia nela uma intensa sensibilidade na compreensão de

    tudo, do mundo, das pessoas, até dos animais e das plantas, havia nela uma comunicação muda com

    o universo. Uma interação perfeita!

    Ela olhava ao seu redor com um ar de entendimento e aceitação, como se fosse totalmente

    integrada com o azul, o verde, com a transparência da brisa que soprava seus lindos cabelos e o rosto

    – esqueci-me de falar do quanto ela é linda. O colorido das flores, então! Por mais simples que

    fossem, seu olhar era atraído por elas. O que acontecia era um contato íntimo e secreto entre Clara e

    a natureza, e isso era simplesmente encantador. Eu ficava ali, meio de lado, observando, absorvendo

    aquele encanto que somente seres assim tão maravilhosos são capazes de emanar - Clara e a

    natureza.

    Eu a conhecia bem, sempre fomos muito amigos; vizinhos e amigos. Só tempos depois,

    descobri o quanto eu já a amava naquela época. Um dia, aconteceu algo que confirmou minhas

    suspeitas sobre seu jeito diferente de ser. Estávamos brincando juntos no parque da pracinha quando

    de repente...

    2

    Clara entrou em um tipo de transe, caiu ajoelhada, estática, olhando para o nada e, por fim,

    ouvi-a sussurrar um sim. Tínhamos na época doze e quatorze anos, ela era mais nova, como eu já

    disse. Confesso que fiquei bastante assustado com aquilo. Corri rapidamente em sua direção,

    sacudindo-a para que saísse daquele estado estranho.

    -- Clara, Clara, olha pra mim! Você está me assustando. - Ela me olhou como quem volta do

    além. Não havia nenhuma expressão em seu rosto, aquele olhar parado, de quem acabou de receber

    qualquer notícia e entrou em choque. Fiquei olhando seu rosto, sem saber o que fazer, o que dizer.

    Eu a ajudei a se levantar e fomos para casa em silêncio. Por eu ser um pouco mais velho, sua mãe a

    deixava sair comigo para brincar e eu cuidava dela. Era um bairro tranquilo aquele, em que dois pré-

    adolescentes podiam brincar na praça perto de casa.

    Deixei-a no portão e estava indo embora quando ela me chamou.

    -- André, desculpa, depois eu te explico.

    Fui embora preocupado. Ao ver minha mãe, dona Marta, a pergunta saiu quase de forma

    imediata e espontânea.

    -- Mãe, será que a Clarinha está doente?

    -- Não sei, filho. Por quê? Você sabe que eu não me dou muito bem com essa gente –

    respondeu sem nem olhar para mim, concentrada como estava na sua leitura.

    -- Nada, não, mãe. Deixa pra lá.

    Eu sei o que você está pensando. Que eu era novo demais para tanta seriedade e para uma

    amizade assim. De fato eu era, mas eu nunca fui tão imaturo como os meninos da minha idade. Eu

    tinha meus amigos, meninos da mesma idade que eu, mas eu separava bem as coisas. É claro que eu

    tive uma infância, e brincava com eles de bola, videogame e de tantas outras coisas. Não se trata

    disso, era tudo normal, mas eu tinha essa incumbência: ficar perto da Clara e isso não era nenhum

    sacrifício.

    As pessoas já nascem predestinadas. Cada um tem uma sina em potencial, um destino, não sei

    bem que nome dar a isso. Não que eu me sentisse alguém especial, não é nada disso, mas eu sentia

    esse compromisso muito bem definido em mim, como um senso de responsabilidade que só se

    adquire talvez alguns anos mais tarde. Por isso dona Consuelo confiava tanto em mim, apesar de

    minha mãe, não sei por que motivo, não gostar dela. Seria por ciúme do filho? Ou por causa da

    religião que ela seguia? Era bem fervorosa minha mãe. A mãe de Clara não frequentava nenhuma

    igreja. E tia Consuelo me paparicava bastante, talvez porque precisasse dos meus favores, ela era

    muito ocupada. E poderia ser isso mesmo que irritava dona Marta. Ou até as duas coisas juntas.

    No outro dia, de manhã, fui buscar Clara para irmos juntos à escola; era uma escola particular

    pequena que ficava bem pertinho de casa, dava para chegar lá à pé. Do nada, ela pegou em meu

    braço e me segurou. Eu parei e olhei para ela. Sabia que queria me contar sobre o ocorrido do dia

    anterior. O que teria a me dizer? Estava curioso, então só fiquei ouvindo.

    3

    -- Vou te contar uma coisa que tem acontecido. Sei que você vai me entender. Faz uns três

    anos que sonho com uma mulher estranha. Ela é muito bonita, tem olhos claros e longos cabelos

    loiros e encaracolados. Parece com minha mãe.

    -- Nossa! Sinistro! Você sonha com ela sempre?

    -- Parece que a cada 12, 13 dias, não sei direito.

    -- E o que ela quer? Ela diz alguma coisa?

    -- No sonho, não, ela não diz nada, só olha e sorri. Tem um sorriso triste e cansado.

    -- E você tem medo?

    -- Não, eu só tenho uma sensação boa quando ela aparece. Eu sinto que ela precisa de mim,

    que eu posso ajudá-la. Mas ontem, pela primeira vez, ela veio quando eu estava acordada. Ou não

    estava? Não sei, porque parecia que eu não estava em mim. Eu me senti flutuar e estava indo ao

    encontro dela. Era muito real. Ela me disse que alguém vai mesmo precisar muito de mim, que eu

    preciso me preparar. Você vai aceitar o chamado? – ela me perguntou. Eu me lembro de

    responder que sim, mas aí você me tocou e eu senti como se tivesse voltado para dentro de mim. Eu

    acho que ela está chegando cada vez mais perto. Ontem mesmo, eu senti que ela queria me dizer

    mais coisas.

    -- Desculpa.

    -- Não tem problema. Ela vai voltar, eu sei.

    -- Mas que chamado será esse? Você já falou sobre isso com mais alguém? Sua mãe, por

    exemplo? Você disse que elas se parecem... às vezes ela sabe de algo.

    -- Eu não consegui entender bem. Já comentei com ela, sim. Ela ficou me olhando, com uma

    cara séria, mas não disse nada. Depois ela ficou vários dias pensativa, cochichava com a vovó, que

    também ficou apreensiva, eu perguntei o que elas tinham, mas sorriram e disseram que não era

    nada. Eu não quis insistir porque elas são tão ocupadas, têm tantos problemas para resolver, desde

    que meu pai foi embora, minha mãe não pensa em mais nada além de trabalhar e cuidar de mim. Foi

    nessa época que a minha avó veio morar com a gente. Então deixei pra lá. E agora eu estou te

    contando. O que pode ser isso?

    4

    Claro que, naquele momento, eu não tinha nada para dizer. Eu não entendi direito aquilo que

    ela tinha me falado e nem mesmo o que tinha acontecido com ela no dia anterior... pensei que

    poderia ser alguma situação de estresse que ela estivesse vivendo, porque uma vez meu pai também

    precisou ficar longe, viajou para o Tocantins a trabalho e por lá ficou durante dois meses. Eu era

    pequeno e sentia tanta saudade que sonhava com ele toda noite, muitas vezes, acordava chorando ou

    todo molhado de suor. Nessa ocasião, minha mãe me disse que eu deveria estar estressado porque

    sentia falta dele. Pode ser.

    E poderia ser

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