Tempos Perdidos
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Tempos Perdidos - Falkner Lawrance
1
Tempos perdidos
A lenda dos três
Falkner Lawrance
__________________________________________________
Todos os direitos reservados; nenhuma parte desta publicação
pode ser reproduzida ou transmitida por meio eletrônico,
mecânico, fotocópia ou de outra forma sem a prévia
autorização do autor.
O direito moral desta obra está assegurado ao autor.
Arte da capa e contracapa: João Cardoletto - Ilustrador
Arte dos mapas: Marcio Batista
Os direitos das artes desta obra estão assegurados.
Você pode adquirir esta obra no site:
www.clubedeautores.com.br
2
Sumário:
Capítulo I - A compaixão do senhor das sombras. 4
Capítulo II - Viagens pelo universo. 22
Capítulo III - Da copa das árvores. 41
Capítulo IV - Tempos perdidos. 63
Capítulo V - O torneio. 79
Capítulo VI - Nordland. 114
Capítulo VII - A lenda dos três. 126
Capítulo VIII - Triângulos amorosos. 136
Capítulo IX - O andarilho. 148
Capítulo X - Apolo. 157
Capítulo XI - Abraçando as sombras. 177
Capítulo XII - Contra a lógica. 195
Capítulo XIII - As ruínas velhas. 204
Capítulo XIV - Valória entra em guerra! 221
Capítulo XV - Os três guerreiros das trevas. 233
3
Capítulo XVI - A guerreira de Odín. 242
Capítulo XVII - O nascimento de uma nova sombra. 263
Capítulo XVIII - A cidade dos felinos. 279
Capítulo XIX - Askan em chamas. 291
Capítulo XX - Dominán Turmentis. 302
Capítulo XXI- Lágrimas celestiais. 318
4
Sobre a hierarquia angelical
"Da primeira tríade fazem parte os serafins, querubins e
tronos. Dominações, virtudes e potestades representam a
segunda tríade.
Principados, arcanjos e anjos são os membros da terceira
tríade."
Capítulo I - A compaixão do senhor das sombras.
Os anjos voavam alto no céu estrelado do planeta
Askan. Centenas deles, trajando suas armaduras celestiais e
empunhando lanças, espadas, clavas, arcos e escudos.
Suas poderosas asas davam-lhes incrível velocidade no
ar, e eles seguiam, decididos, em direção a um castelo escuro e
sombrio no pico da montanha à frente.
Seu líder voava majestoso, liderando o exército. Era um
serafim louro de seis asas e longos cabelos, chamado Dorael,
que trazia consigo uma espada encantada de fogo.
Já bem próximos do castelo, escutaram um barulho
grave, como o bater de um bumbo que ecoou alto pelo lugar e
os fez parar.
Então, enquanto o som repetia-se constantemente,
diversas formas escuras foram surgindo das escadas, torres e
varandas do castelo, até que voaram com suas asas negras ao
encontro dos anjos, seus inimigos, e pairaram no ar.
Pouco tempo depois os dois exércitos já estavam frente
a frente. Era difícil dizer o número exato, mas talvez
estivessem em igual quantidade.
Os anjos caídos trajavam armaduras negras e
empunhavam vários tipos de armas, como machados,
tridentes, martelos de guerra, sabres serrilhados, alabardas e
outros. Alguns poucos possuíam mais de duas asas.
5
Não houve tempo para que Dorael desse ordens.
Segundos depois de terem se posicionado, os anjos caídos
avançaram bradando e se jogaram contra os anjos, com
selvageria.
O som agudo e estridente de armas chocando-se contra
armaduras retumbava sem parar pelo campo de batalha, e
ondas e mais ondas de flechas energizadas, disparadas pelos
querubins arqueiros que estavam na retaguarda, castigaram
sem piedade os anjos caídos, fazendo-os cair do céu e
desaparecer do horizonte.
Borrões coloridos de ataques mágicos atravessavam o
campo de batalha, hora ou outra acertando um desafortunado e
causando explosões que iluminavam à noite.
De dentro do castelo, nas torres, alguns anjos caídos
faziam mira com suas balestras, armas que se pareciam com
arcos de gatilho, e possuíam dardos encantados por eles, que
visavam acertar os pontos vitais ou as asas dos anjos.
Dorael empunhou sua espada de fogo no alto com as
duas mãos, concentrando energia nela. Segundos depois a
espada quase dobrou de grossura, e as chamas tornaram-se
mais vivas, mais dançantes.
À medida que o serafim golpeava a distância na direção
dos inimigos, chamas em forma de arco soltavam-se da lâmina
de fogo e atingiam-nos com força, muitas vezes destruindo
partes de suas armaduras negras com o intenso calor mágico.
No andar da mais alta torre do castelo trevoso, havia
uma cobertura longa e cheia de balistas, máquinas de guerra
lançadoras de imensos dardos.
Alguns anjos caídos com lanças negras subiram pela
escada e se posicionaram nelas, começando um ataque de
artilharia intenso nos anjos, que só foram se dar conta do que
estava acontecendo quando muitos de seus guerreiros já
6
tinham caído devido aos dardos avantajados que perfuravam
seus corpos.
Um dos comandantes do exército dos anjos gritou para
que os arqueiros atacassem as posições de artilharia inimiga. E
então flechas de fogo voaram em grande número nos
artilheiros e nas balistas, algumas das quais pegaram fogo
imediatamente, embora outras tenham permanecido intactas.
Utilizando a força do impulso de suas asas, os anjos
conseguiam esquivar-se de alguns dardos lançados pelas
balistas inimigas, enquanto os artilheiros do exército dos anjos
caídos não podiam se movimentar muito, visto que as balistas
estavam presas em suportes no muro. Não demorou muito e o
andar das balistas foi invadido.
Os querubins arqueiros que conseguiram descer na
cobertura começaram um ataque corpo a corpo, utilizando suas
armas secundárias contra os artilheiros, que não podiam virar
as balistas para atacar, pelo fato de estarem presas no suporte,
que não cedia o suficiente.
A luta na cobertura seguiu-se selvagem. Os querubins
avançavam atacando com extrema destreza os artilheiros, que
viram-se obrigados a se defender usando suas lanças, embora
estivessem em menor número.
Alguns anjos caídos forçaram as balistas fora de seus
suportes, quebrando-os, e em dois atacaram os invasores com
os dardos imensos.
Embora errassem algumas vezes, os artilheiros
começaram a tornar a situação crítica para os querubins, que
continuavam tentando avançar em meio aos dardos que
voavam para todos os lados.
No céu a frente da fortaleza os guerreiros continuavam a
digladiar-se, e os flashes de luz dos ataques mágicos se
tornaram mais intensos na noite.
7
Alguns serafins conseguiram adentrar as torres, dando
início a uma invasão muito bem coordenada ao castelo.
Na extremidade esquerda do castelo, havia outra
cobertura, mas essa possuía grandes catapultas. O andar
também já havia sido invadido, e alguns serafins e artilheiros
inimigos travavam outro sangrento combate corpo a corpo.
Dorael lutava com um comandante inimigo em cima de
uma passarela que ligava algumas torres. Ninguém mais os
atrapalhava, a luta era obra do destino, os dois tinham que se
enfrentar, tinham que deixar a vida decidir quem bradaria em
glória e vitória, demonstrando que estava certo.
Azenael era o nome do comandante-chefe dos exércitos
da lua das trevas, e empunhava com as duas mãos um
poderoso machado de lâmina dupla.
Dorael pulou na direção de seu inimigo, impulsionando
seu corpo com as asas e golpeou fortemente com sua espada
de fogo. O golpe foi bloqueado pela base do machado de
Azenael, que de imediato contra-atacou com um chute certeiro
no peito do serafim.
A espada de fogo voou alguns metros das mãos de
Dorael, que caiu sentado, e Azenael aproveitou a oportunidade
para ficar na frente da arma, bloqueando assim seu acesso para
Dorael.
O serafim concentrou rapidamente uma energia azulada
em suas mãos e segundos depois, raios azuis dançavam em
volta dela fazendo um estranho barulho. Lançou então, mesmo
sentado, os raios na direção de Azenael com um movimento
muito rápido. O ataque acertou diretamente no peito da
armadura do anjo caído, causando uma explosão que fez as
pedras do muro atrás de Azenael voarem por todos os lados.
No fim das contas, o golpe fora tão forte que acabou
lançando os dois adversários pelos ares, causando assim uma
pausa forçada no combate.
8
Em meio a fumaça grossa que agora subia, Dorael
procurou seu inimigo. Não via nada além de vultos e borrões
dos combates que ainda estavam sendo travados por todos os
lados. O serafim começou a considerar uma retirada, pois
agora estava desarmado, mas a distração lhe custara muito
caro.
Durante os poucos segundos que o serafim se desligou
do combate e pensou na retirada, Azenael avançou voando
pela fumaça, empunhando seu machado no alto.
O anjo caído golpeou fazendo um corte no ar, que
acabou acertando em cheio no ombro de Dorael, destruindo
sua armadura e acertando o corpo. Por pouco não acertara as
asas.
Dorael desceu vários metros no ar, devido à força do
impacto, mas com um movimento inconsciente, agarrou os pés
de seu adversário, levando-o junto.
Dorael aproveitou o impulso para arremessar Azenael
para baixo. O anjo caído desceu com grande velocidade, e
durante a queda, o serafim aproveitou para lançar o ataque de
raios novamente, com apenas uma das mãos.
Azenael pressentiu o ataque e, virando-se, bateu seu
machado com precisão no raio que avançava velozmente.
Porém, ao contrário do que imaginava, o golpe não foi
rebatido, mas o choque das duas forças acabou causando outra
explosão, e Azenael viu-se obrigado a soltar seu machado e
defender-se fazendo um 'x' com os braços.
A pressão da energia jogou o anjo caído para longe, e
Dorael avançou novamente, dessa vez ambos estavam
desarmados.
O serafim descia com incrível velocidade, e quando já
estava bem próximo de Azenael, virou seu corpo e aproveitou
o impulso da queda para desferir um chute de uma perna que
acertou bem no elmo de seu inimigo.
9
Os dois continuaram caindo, a essa altura os exércitos
combatentes já estavam bem mais para cima.
E então, utilizando-se da mesma tática que seu
adversário, Azenael agarrou o serafim pelo pé, que estava
agora bem próximo de seu rosto e arremessou-o para baixo
com brutalidade.
Dorael caiu, e acabou sumindo de vista embaixo de
algumas nuvens. O anjo caído o seguiu, descendo rápido e em
posição de guarda.
Segundos depois um baque surdo. Dorael havia caído
no pico de uma montanha próxima. No entanto, como Azenael
avançava com grande velocidade atrás de seu adversário, não
conseguiu desviar-se da montanha a tempo.
Caiu com violência de cara ao lado de Dorael, e ambos
ficaram desacordados.
A essa altura, parte do combate no castelo estava na
segunda fase. Os serafins efetuaram a invasão com sucesso, e
agora os anjos caídos estavam tentando defender as posições
de dentro, embora ainda estivessem sendo travados alguns
violentos combates do lado de fora.
Num dos salões do castelo, uma luta feroz estava sendo
travada. Os anjos caídos se posicionaram acima das escadas ao
fundo do lugar e atacaram sem dó os invasores com suas
balestras, alguns dardos conseguiram penetrar a armadura
celestial pesada dos serafins, ou acertar as brechas, causando
pesadas baixas.
Alguns querubins arqueiros que lutavam nas passarelas
do lado de fora foram chamados às pressas para dentro do
salão, começando um vigoroso contra-ataque, e ondas e mais
ondas de flechas e dardos voaram pelo lugar.
Alguns dos anjos caídos rolavam pelas escadas à
medida que as flechas atravessavam suas armaduras negras ou
acertavam seus pontos desprotegidos. O número de serafins e
10
querubins invasores no salão só aumentava, e os anjos caídos
viram-se forçados a começar uma luta de recuo para o
corredor além do salão.
O corredor era largo e grande, e possuía grandes pilares
nas laterais sustentando o teto. Havia uma passagem sem porta
que ligava os dois ambientes.
Ao fim do corredor, os anjos caídos vinham trazendo
alguns trabucos de tamanho médio, peças parecidas com
catapultas, que lançavam pedra. Arrastavam um grande saco
de pedras para começar o ataque.
Nem ao menos se importaram com o fato de que ainda
havia alguns de seus guerreiros defendendo o salão, fizeram os
trabucos lançarem as pedras por dentro da passagem, e embora
elas não fossem tão grandes, com certeza eram suficientes para
derrubar e levar um inimigo a morte.
Reforços de anjos caídos com balestras chegaram e se
aproximaram da passagem que ligava o salão ao corredor, e
eles, somados aos ataques dos trabucos começaram a retardar
significativamente o avanço dos anjos.
Havia um corredor igual do outro lado do ambiente, e
um pelotão de arcanjos surgiu dali, bradando e empunhando
suas espadas encantadas.
Os trabuqueiros mudaram então de alvo, mirando seus
trabucos no pelotão que acabara de chegar e já avançava
correndo em direção a eles pelo pátio ao meio.
No entanto, poucas pedras foram lançadas, pois não
houve tempo. À medida que o pelotão de arcanjos chegou ao
outro corredor, começaram um ataque impiedoso nos
inimigos, cercando-os.
Suas espadas atravessavam diretamente as armaduras
dos anjos caídos, que estavam em menor número e com armas
inferiores, visto que eram especializados unicamente em
artilharia.
11
A resistência frágil logo foi dominada, mesmo que os
anjos caídos tivessem conseguido acertar alguns arcanjos com
sucesso.
O pelotão que avançava do salão juntou-se ao pelotão
do corredor e os anjos continuaram a invasão.
Chegaram então ao fim do pátio. Havia uma larga
construção de pedra à frente, que era onde ficavam os quartos
dos líderes do exército inimigo.
Natanael, um dos generais dos exércitos dos anjos deu
ordens para que o grupo se dividisse. Metade indo para as
masmorras, que ficavam em um canto isolado perto dos muros
do pátio, e metade invadindo a construção dos quartos.
O barulho das lutas nos andares superiores do castelo
intensificou-se. Provavelmente os batalhões de anjos que
lutavam lá em cima estavam chegando em seus objetivos
finais.
Natanael seguiu com um dos grupos para as masmorras.
Desceram uma escada que dava nos andares subterrâneos e
adentraram um ambiente mal iluminado e fétido.
Avançaram pelo corredor, suas espadas encantadas
brilhando na escuridão. Correram por alguns minutos em
silêncio, até que aconteceu. Dardos de balestras começaram a
atravessar os corredores escuros das masmorras e acertar os
anjos, que caiam aos gritos.
Natanael deu ordem para que os arqueiros
respondessem, e então outro inferno de dardos e flechas
mágicas começou.
Os anjos que iam à frente ajoelharam-se e entraram em
formação defensiva, protegendo uns aos outros.
A maioria das flechas dos querubins eram encantadas
com diversos tipos de energia: Fogo, gelo, veneno, luz. E à
medida que elas voavam longe pelo corredor, criavam campos
12
iluminados e multicoloridos, revelando que os inimigos
encontravam-se há mais de trinta metros deles.
Entretanto, os anjos caídos estavam em menor número,
e com o tempo os querubins arqueiros conseguiram controlar a
situação e avançar, sendo seguidos pelos outros anjos.
Segundos depois, raios iluminaram o corredor mais ao
fundo, batendo diretamente no teto e causando uma enorme
explosão.
Os anjos caídos tinham destruído parte do teto de pedra,
que era grosso e possuía várias camadas, obstruindo assim a
passagem para os invasores com entulhos.
Natanael e os arqueiros tentaram atravessar os entulhos,
mas estavam tendo dificuldade, pois a dimensão em que se
encontravam era muito densa para atravessar objetos.
O general deu a ordem de que todos se afastassem, e
depois alguns ataques mágicos foram lançados sobre as
camadas de entulho, criando uma pequena passagem pela qual
os anjos avançaram.
Havia celas pequenas do outro lado, com alguns
prisioneiros que gritavam, apertados, pedindo ajuda. Os anjos
ignoraram-nos, e continuaram avançando em direção ao fundo
das masmorras.
Chegaram em uma área cheia de celas vazias, o
ambiente agora estava assustadoramente silencioso, e as
únicas luzes disponíveis eram as luzes das espadas encantadas
que os anjos guerreiros empunhavam.
Um barulho de metal rangendo ecoou pela masmorra
silenciosa. Natanael fez sinal para que o grupo parasse.
Parecia que algo estava se arrastando ao fundo do
ambiente, algo grande julgando pela sombra.
Foi assustador. A sombra a frente lançou o corpo de um
animal parecido com um alce colorido nos querubins,
derrubando alguns.
13
Depois de ajudarem-nos a se levantar, os anjos
continuaram estáticos, como se a sombra enorme que estava à
frente estivesse hipnotizando-os.
- Arqueiros! - Gritou Natanael, acabando com o drama.
Umas quinze flechas voaram de uma só vez em direção
a grande sombra, mas o barulho metálico que se seguiu
revelou que as flechas provavelmente haviam batido em uma
armadura pesada. A iluminação das flechas pouco ajudou na
visão do que estava à frente, viram apenas um vulto negro.
O que quer que fosse que estava à frente se irritou com
as flechas. Um urro de fúria terrível ecoou pelas sinistras
masmorras. Alguns anjos gritaram, tapando os ouvidos, outros
soltaram suas espadas.
E então a sombra veio correndo, parecia que seus braços
estavam levantados no alto, embora fosse impossível ter
certeza no escuro.
- De novo!!! - Gritou Natanael.
Mas não houve tempo para os arqueiros atacarem. A
enorme sombra que estava à frente era, na verdade, um imenso
dellen, que significa demônio, na língua nativa de Askan.
O dellen veio empunhando sua espada negra e atacou
sem piedade a primeira linha de anjos, com um golpe circular,
segurando sua arma com as duas mãos.
Alguns querubins voaram pelas masmorras, batendo nas
paredes, e então uma gritaria e correria desesperada começou.
- Ataquem a cabeça, arqueiros, a cabeça!! - Gritava
Natanael.
A criatura possuía dois chifres curvos, cascos-de-cavalo
e vestia uma armadura negra. Seus dentes enormes ficavam a
mostra enquanto ele batia com força nos anjos, que tentavam
se desviar dos ataques.
14
Flechas voaram em direção à cabeça do dellen, que se
esquivou, agachando e avançando em alguns serafins,
atropelando-os.
Um grupo de arcanjos tentou atacá-lo pelas costas com
as espadas encantadas, mas a besta desferiu fortes coices que
jogaram seus inimigos longe.
A situação crítica parecia agradar o dellen, que atacava
com mais ferocidade à medida que ouvia os gritos dos anjos.
Então, uma grande águia de fogo voou pelas masmorras
e bateu, certeira, bem no rosto do dellen, que caiu de costas,
gritando depois da explosão.
Todos olharam para trás, assustados. Dorael havia
conjurado a águia, estava muito machucado, com grandes
partes da sua armadura quebrada, um ombro recém-colocado
no lugar, mas, ainda assim, vivo.
- Continuem avançando para o objetivo! - Disse com
firmeza o serafim líder. - Eu cuidarei do demônio!
Os anjos seguiram pelo corredor, Natanael liderando-os.
O dellen se mexeu no chão, lutando contra o enorme peso da
armadura para se levantar.
Após muito esforço, pôs-se de pé, mostrando os dentes
para Dorael e encarando-o com aqueles imensos olhos que
começaram a se tornar vermelhos como sangue.
- Selarei a sua maldita existência hoje, criatura das
trevas! - Gritou o serafim empunhando sua espada encantada
no alto.
O dellen agachou-se, apanhou sua espada no chão e
correu na direção de Dorael, que continuou parado.
O golpe veio muito forte, mas foi lento o bastante para
que o serafim se esquivasse. A espada da besta bateu com
força no chão, destruindo parte do piso da masmorra.
Dorael correu, contornando o dellen, e fez um corte com
a espada de fogo na perna imensa dele. Depois tomou
15
distância e virou rápido golpeando o ar, e um arco de fogo
separou-se da lâmina, batendo no peito da armadura do dellen,
que estava se virando na hora do ataque.
Com o choque do golpe, houve uma forte explosão, que
jogou os dois adversários longe.
Segundos depois o serafim se levantou ileso e com a
espada em mãos, preparado para mais. O dellen rolou para os
lados no chão, e com esforço conseguiu ficar de pé em
seguida. Sua armadura estava parcialmente quebrada, o
peitoral fora destruído quase que completamente na explosão,
junto com um dos ombros.
A fera urrou alto e começou a dar fortes socos no que
restara do peitoral da armadura, depois com um movimento
brusco foi novamente para cima de Dorael.
O serafim também avançou, bradando, e quando os dois
adversários estavam quase colados um no outro, Dorael fincou
a espada de fogo na brecha da armadura do dellen, acertando
sua barriga.
A fera soltou sua arma imensa. Dorael puxou a espada
de fogo e depois com um só golpe circular, arrancou a cabeça
de seu adversário.
O corpo da fera caiu no chão, com um baque forte que
retumbou alto pelas masmorras. Dorael fechou os olhos e fez
uma breve oração, depois seguiu correndo pelos corredores
escuros.
Quando o serafim encontrou o grupo que tinha mandado
continuar na missão, não estavam tendo mais lutas, mas a
julgar pelos corpos no chão, havia sido travado um combate ali
há pouco...
Os anjos estavam todos juntos, suas espadas iluminando
o ambiente, e alguns deles tentavam arrombar a fechadura da
última cela da masmorra.
16
- Senhor, a missão foi um sucesso, os prisioneiros estão
todos bem. - Disse Natanael.
Dentro da cela, havia quatro anjos, dentre eles uma
mulher. Estavam visivelmente assustados, provavelmente com
o combate que acabara de ser travado.
Um dos arcanjos destruiu a fechadura com um forte
golpe de espada depois de várias tentativas inúteis de
arrombamento com as mãos.
- Vocês estão bem? - Perguntou Dorael, enquanto os
quatro saiam da cela.
- Sim. - Respondeu um dos anjos, que trajava um
roupão azul com iluminação própria. - Vocês estão atrasados...
Dorael riu.
- Não é tão simples planejar a invasão de uma pequena
fortaleza, meu caro Dolpho. A essa altura os guerreiros devem
ter tomado o castelo, não escuto mais o barulho de combates.
Vamos subir. - O serafim líder fez sinal para que os guerreiros
e os quatro ex-prisioneiros o seguissem.
Quando chegaram na parte das masmorras onde havia
os outros prisioneiros, uma nova gritaria começou. Quase
todos estavam implorando para que os anjos os libertassem
daquelas masmorras fétidas, mas Dorael não parou.
A anja Ariana lançou um olhar triste para os prisioneiros
e depois para Dorael, como se tivesse vontade de dizer para
que ele os libertasse.
- Se foram presos por ordem de Moron, que é contra
esse tipo de atitudes, boa coisa, com certeza, não fizeram, e
estão aqui pelas dívidas que acumularam. - Disse Dorael. - A
lei do universo é justa e deve ser cumprida. Agora que
tomamos o castelo, melhoraremos as condições das
masmorras, mas não os libertaremos, até que sua purificação
tenha se completado.
17
Ariana baixou a cabeça, triste, mas visivelmente havia
compreendido as palavras do serafim.
- Por favor, tenha piedade! - Gritou um dos prisioneiros
enquanto os anjos sumiam no corredor.
O grupo subiu as escadas para fora das masmorras, e
quanto chegaram ao pátio, encontraram a situação sobre
controle pelo exército angelical.
Havia prisioneiros amarrados com cordas mágicas no
pátio e alguns corpos dos combatentes caídos. Os anjos
andavam por toda parte.
Dorael seguiu com Natanael para o corredor central,
onde um capitão os esperava, com dois prisioneiros ao lado.
- Senhor. - Disse o capitão, batendo continência. - Todos
os objetivos principais da missão foram completados, no
entanto, tivemos trinta por cento mais baixas do que esperado.
Dorael olhou para os lados, tentando dissipar sua
frustração, então disse para o capitão:
- Traga reforços, precisamos estabilizar a defesa do
lugar, do contrário não conseguiremos barrar os contra-ataques
que virão mais cedo ou mais tarde.
- Sim senhor.
O serafim líder, seguido pelo general Natanael, rumou
para a construção de pedra ao fim do pátio.
Alguns anjos guerreiros guardavam o lugar, e quando
Dorael chegou, todos entraram em formação e bateram
continência.
Um dos serafins que estava ali tomou a frente e dirigiu-
se a Dorael:
- Senhor. Moron está preso na sala do comandante, se
desejar falar a sós, ele o aguarda.
Dorael entrou na sala, onde um anjo caído louro e de
olhos muito verdes estava amarrado.
O serafim fechou a porta e disse:
18
- A sua traição nos custou muitas vidas, Moron, portador
do coração de ouro e guardião dos caídos do norte.
Moron riu.
- Traição? Vocês são a traição. Permitem que aqueles
que, por discordarem de vocês os desafiam, sofram
eternamente nos braços das sombras.
- Eu luto pela justiça. - Respondeu Dorael.
- Vocês com a sua arrogância e prepotência jamais vão
compreender, Dorael. O que farás com os prisioneiros então,
se julga-se o justo? Vos deixará apodrecendo ali, pelo simples
fato de terem cometido delitos que a sua perfeição não lhe
deixas cometer? - Moron cuspiu no chão. - Você, e todos os
que permeiam o trono de Deus são falsos e arrogantes, os
únicos que realmente merecem a prisão.
- Você estava mantendo-os presos, Moron. - Respondeu
o serafim. - Que moral tem para falar de mim?
Moron gargalhou. Uma risada insana, assustadora e
demente.
- Fiz isso de propósito, eles não são prisioneiros. Não
permito que seres que nasceram para serem livres fiquem
enjaulados, como vocês, falsas luzes permitem. E isso
curiosamente me faz ser respeitado e não ter motivos para
encher celas, Dorael. Apenas dar umas boas chicotadas de vez
em quando, para reestabelecer a ordem, mas jamais cometer o
crime que vocês cometem...
Tinha certeza que você viria e queria testá-lo, mostrar
que não és justo como diz, pois vos deixaria presos ali, em
tremendo sofrimento.
Todos erram, mas devem ter a oportunidade de
recomeçar, oportunidade que vocês não dão de verdade,
apenas fingem