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Sertão & Feitiçaria
Sertão & Feitiçaria
Sertão & Feitiçaria
E-book461 páginas7 horas

Sertão & Feitiçaria

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Sobre este e-book

Sertão & Feitiçaria - A Ordem do Deus Serpente é o romance de estreia que acompanha a jornada de Zeferino Shao, um jovem nordestino recluso que vive na região árida do nordeste. Diante de uma tragédia pessoal, Zezu se vê obrigado a caminhar pelo sertão enfrentando forças malignas de um mago mítico e a ameaça constante do cangaço. A jornada do nosso herói começa muito cedo, ainda na infância, ao lado de seus pais e sua irmã mais nova, Shude. Logo o sertão cobrou o preço do isolamento e pelas mãos de uma sociedade degenerada e habitantes de uma região inóspita, nosso herói é jogado num vórtice de perigo, destruição e ataques constantes de criaturas inomináveis para um distinto filho do sertão. Zezu se envolve com a insurreição de uma classe de magos no sertão nordestino que assola o agreste pregando os chamados novos deuses e seus anseios para moldar um novo mundo de feitiçaria e magia. É nessa jornada pelo sertão nordestino, que Zezu se depara com o misticismo macabro do sertão. Uma guerra silenciosa está sendo travada entre criaturas de proporções titânicas e ameaças de magia negra e feitiçaria necromante. O sertão é um lugar onde o homem ocupa uma posição de inferioridade diante das forças da natureza.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de jun. de 2022
ISBN9781005302986
Sertão & Feitiçaria
Autor

Luke Negreiros

Autor independente, pós-graduado em literatura e artes aplicadas, foi professor universitário de redação e vencedor do III Concurso Cultural de Microcontos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - Campus Araraquara. Nascido e criado no interior de São Paulo por quase toda sua vida, cresceu sob forte influência da ficção científica e quando adulto, seguiu cultivando o desejo genuíno em escrever suas próprias histórias.

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    Sertão & Feitiçaria - Luke Negreiros

    Luke Negreiros

    SERTÃO & FEITIÇARIA - A ORDEM DO DEUS SERPENTE

    Copyright © 2019 por Luke Negreiros. Todos os direitos reservados. Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, empresas, locais ou eventos são ficcionais e puramente coincidentes. A reprodução total ou em partes dessa publicação, sem a autorização expressa e por escrito do autor é restrita e proibitiva.

    e-mail do autor:

    < lunegreiros@gmail.com >

    @ Enzo. Claro!

    Sertão e Feitiçaria é o romance de estreia que acompanha a jornada de Zeferino Shao, um jovem recluso que vive na região árida do agreste nordestino; diante de uma tragédia pessoal, Zezu se vê obrigado a caminhar pelo sertão enfrentando forças malignas de um mago mítico e a ameaça constante do cangaço.

    A jornada do nosso herói começa muito cedo, ainda na infância, quando ele vivia com sua mãe, seu pai e sua irmã mais nova, Shude.

    Logo o sertão cobrou o preço do isolamento e pelas mãos de uma cidade degenerada, os habitantes dessa região inóspita se ocuparam em jogar Zezu em um vórtice de perigo, destruição e ataques constantes de criaturas inomináveis para um distinto filho do sertão.

    Suas ambições de cambito eram simples e fugiam dos conflitos mundanos; nem mesmo uma guerra seria capaz de despertar seu interesse sobre quem ocupa o lado dos vencedores ou dos perdedores.

    Zezu se mostra absorto ao mundo! Isso sim. Pois, dele se conhece a própria insignificância diante dos desígnios dos novos deuses que moldaram esse novo mundo.

    Zeitgeist sertanejo

    A Terra retratada no livro pertence há um tempo distante, o futuro de uma época depois da civilização moderna, marcada por uma nova Era das Trevas. Há quem diga que o espírito desse período pertence a uma era onde todos os avanços científicos recuaram ou foram esquecidos no que ficou conhecido como A Era dos Homens.

    Pouco se sabe e quase nada foi documentado sobre o evento que passou a ser chamado de A Grande Retomada: um período de grandes guerras obscuras onde forças da natureza reivindicaram o lugar que consideravam um direito primal. Uma guerra foi deflagrada por criaturas intraterrenas, adormecidas por eras imemoriais, que se ergueram sob o pretexto de combater as criaturas da superfície e se prepararem para uma ameaça ainda maior; de um outro tempo e espaço.

    Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas o que foi dito, é mais uma daquelas pregações de uma série de dogmas das novas religiões que surgiram após os acontecimentos da Grande Retomada. O que se vê, é que após esses acontecimentos o mundo foi reescrito, redesenhado. E passou a ser conhecido como uma Terra devastada por todas as extensões do seu território. Em termos comparativos seria o equivalente a uma segunda Idade Média, agora com proporções planetárias; se a primeira Idade das Trevas foi considerado, equivocadamente, um retrocesso no avanço da civilização moderna, essa nova passagem não carece de ironia ao reafirmar a sina de sua irmã mais nova.

    Mas o que causou tudo isso, afinal?

    Alguns dos acontecimentos mais marcantes dessa retomada, foram reunidos nos Anais da Era Sertaneja (registros de lembranças, memórias, fatos organizados em ordem mais ou menos cronológica) partindo do pressuposto que o termo sertanejo significa relativo ao originário ou próprio do sertão; que por sua vez retoma o que está longe do litoral, aquilo que é interiorano e que no Brasil é sinônimo de a zona mais seca que a caatinga

    Isto posto, o termo relativo à nova Era das Trevas, ganhou proporções titânicas, pois não se limitava apenas ao antigo continente sulista americano da Era dos Homens; Agora as ocorrências geográficas do planeta, foram moldadas por mudanças extremas nas condições climáticas que estenderam a aridez e a brutalidade do sertão para todos os cantos do planeta, culminando em uma enorme formação estéril e áspera por toda a Terra.

    Tais documentos procuravam traçar uma linha cronológica de acontecimentos na tentativa de organizar as histórias deste novo mundo. Contudo, toda a papelada foi sendo reunida ao longo de muito tempo, por centenas e milhares de regiões por todo o planeta, escritos por diversos autores e por diversas linguagens sem um método pré-estabelecido. Estima-se que os documentos ultrapassavam centenas de milhares de relatos e se misturavam com mitos e folclores locais perante tamanha punição divina; Diante de tamanha desordem, muito desse malote se perdeu ou caiu em descrédito.

    Quando se iniciou uma retomada de um período da paz (a pax millennium), uma ordem esotérica de múltiplas culturas, crenças e origens fundaram uma nova seita de harmonia e de novos deuses — todos retirados dos depoimentos e registros das guerras que sucederam a Grande Retomada. Depois de diversas ramificações e dogmas, surgiu uma igreja renovada que se incumbiu de retomar as antigas escrituras e criar um novo testemunho dos Anais da Era Sertaneja.

    A tarefa era ingrata, durou séculos e ainda nos dias referentes à época em Zezu viveu, haviam rumores da descoberta de documentos peculiares e distintos dos demais que poderiam incorporar esse novo testemunho. Porém, com os mesmos males de uma gerência mundana, tais documentos foram sendo moldados pelas crenças e pelas relações regionais de cada continente, de cada agregação nacional, e de cada região de capitanias ou mesmo cidadelas. Não obstante, a essas intervenções convenientes, diversos malotes foram banidos dos Ofícios Testemunhais da Igreja, e um documento oficial foi guardado pelas casas santas enquanto os arquivos renegados receberam ordem de destruição e queima em praça pública. Os remanescentes se perderam no tempo, tal como as iniciativas anteriores em reuni-los, e o que sobrou da limpeza episcopal do terceiro reinado, ficou conhecido como o livro proibido (que de fato não era apenas um livro em si mesmo, sequer uma única edição, mas uma série de textos proibidos, encadernados em diversos volumes e dispares em tamanho, conteúdo ou mesmo ano de publicação).

    Os textos proibidos ainda servem nos dias atuais como guias e orientação, roteiros ritualísticos e fonte de conhecimento marginal que inclusive, é referenciado por conter histórias fora da época do nosso herói. Histórias essas que permeiam e exploram uma era quase esquecida onde a magia tomou posse do destino de todas as criaturas que sobreviveram a Grande Retomada.

    Anais da Era Sertaneja  a alvorada dos tempos

     no princípio era a palavra / capítulo 0.1a: do Livro Origens

    O universo

    No sistema solar, o planeta antes denominado Júpiter, sempre foi considerado uma proto-estrela. Depois dos acontecimentos tratados em documentos à parte, Júpiter foi considerado parte integrante de um sistema binário de estrelas: Sol / Júpiter.

    É relatado o assalto de uma divindade espacial que atacou Júpiter com uma tempestade de asteroides para ativar positrons (termo usado em registros da cienthia e parte integrante de um possível elemento divino ainda desconhecido na Terra) no interior plantário. Como consequência desse afronte, o planeta passou a irradiar energia; como um Sol infante.

    Os deuses foram provocados e a ira do Titã adormecido recaiu sobre a Terra. Uma reação em cadeia culminou na explosão de energias escaldantes do tamanho de satélites inteiros e foram conduzidas pelas forças do cosmos até a superfície da Terra. A incidência de radiação de um segundo Sol, mesmo que moderada, foi o suficiente para secar a superfície em poucas décadas, espalhando a aridez na terra devastada para todos os cantos do planeta. A superfície ficou vermelha como o planeta vizinho, retendo água escassa somente nas regiões mais profundas da crosta terrestre.

    A Terra agora era irradiada por dois sóis. A estrela original e agora Júpiter que emitia uma luminosidade branda com uma radiação moderada apesar dos efeitos devastadores.

     fim da introdução / capítulo 0.1b: Origens 

    Livros Proibidos

    A nova igreja, ao longo de séculos, realizou incursões acadêmicas, com alguns experimentos considerados escusos, sobre o natural e o sobrenatural. Recolheram conhecimento sobre os poderes da terra, do misticismo e da feitiçaria; além do estímulo pelas narrativas e pela cultura dos antepassados. Foram sendo reunidos fatos e relatos históricos dos mais diversos. Porém, como tudo que precede uma revolução, a nova igreja passou por diversas reformas, inclusive dogmáticas e quando ela se tornou a religião oficial dos Impérios, ela passou a condenar toda e qualquer manifestação gnóstica. Mesmo que ela mesma havia se beneficiado e financiado algumas dessas investidas.

    Com o uso das forças militares dos Novos Impérios, ela promoveu uma verdadeira caça à bruxaria, também conhecida como O Martelo. Tais intervenções foram seguidas pela criação de um exército santo como os Cavaleiros Sagrados e os Agentes do Caos.

    Muitos grupos e comunidades gnósticas foram dizimados e o conhecimento foi se perdendo. Surgiram rumores que a própria igreja manteve guardado diversos desses arquivos sob seu domínio. Desta forma, as resmas espalhadas pelo domínio dos Impérios e os segredos da nova igreja, que surgiu o termo Livro Proibido;

    De fato, o Livro Proibido pertence à coleção de outros livros em diversos formatos e conteúdo. Alguns contém poucas páginas de ensinamentos e cultos, rituais e feitiços; outros possuem centenas de relatos pessoais como cartas e correspondências de intervenções divinas detalhadas. Outros registros prometiam evidencias místicas enquanto alguns registravam experimentos e métodos com os mais diversos propósitos. Eles foram compilados e separados por temas, autores ou intenções como foram chamados muito do conhecimento místico. Alguns deles foram escritos e desenhados sobre temáticas anatômicas de criaturas misteriosas, feitiços de necromancia, controle de espécies, poções de visão, magia de cura, entre uma infinidade de outros registros.

    A maior parte do bestiário se encontra na posse de magos e feiticeiros que possuem um interesse especial nos pergaminhos de controle sobre outras espécies. Inclusive os novos espécimes intraterrenas dos krote-escorpiões (espécies descendentes de criaturas mitológicas ainda maiores como kraken, leviatã, megalodontes, golias… Obedecendo uma organização por toda uma hierarquia de monstros — uma verdadeira árvore darwinista de monstruosidades).

    A nova igreja marca presença na cidadela onde Zezu passou a infância, e debaixo da construção de pau-a-pique e estuque frequentado pela população crente e religiosa, guarda uma cópia de um livro da ilusão ou também traduzido para visão / vison — são manuscritos que concedem permissões para que pessoas se comuniquem com criaturas, animais e pessoas impossibilitadas de algum modo (em coma, catatônicas, ou mesmo que vaguem do outro lado da cortina que forma a realidade na Terra);

    As crianças-cobras, por exemplo, possuem o conhecimento para conjurar os mortos (os quais muitos acreditam serem fontes originais da infinidade de registros dessa atividade). Esse poder necromante se reflete na capacidade de se comunicar com seres que estão em outro plano (seja pelo vale da morte ou das arestas das sombras)!

    Em última análise, Sertão & Feitiçaria é uma obra que lida com a crença e suas consequências mais derradeiras; é de se notar, no entanto o preconceito do nosso herói; um preconceito que descamba tanto para o bem quanto para o mal: Zezu é um crente no sentido mais amplo da palavra. Ele acredita que o mundo é pré-concebido, tal como as pessoas que se julgam desgraçadas e por essa ótica, só enxergam a desgraça no mundo. É dessa visão míope que as oportunidades reforçam essa sua visão pré-concebida.

    Zezu é um crente no sentido pessimista da palavra e não como um otimista religioso! Mesmo sem a articulação formal de um senhorio educado da cidade ou mesmo pela falta de variação lexical que foi submetido, Zezu se comporta de acordo com o standard behavior (behaviorismo) e acredita que o modo como as pessoas se comportam é mais sobre o que cada um acredita do que como o mundo é de fato constituído (enxergamos aquilo que acreditamos). Diferente da ideia que as nossas crenças moldam o mundo ao redor.

    Isso afeta, inclusive, a reação das pessoas próximas; que também passam a se comportar de tal modo que corroboram com o que cada um acredita, dragando-o para um círculo vicioso de como as coisas são, porque assim são e ponto final.

    Nada de bom vai acontecer até o que pior aconteça antes!

    Essa e outras frases são muitas das idiossincrasias perenes de Zezu que permeiam por todo o seu propósito. É essa crença que joga nosso herói para o pior cenário possível; pois ele acredita que: somente com sacrifício, ele vai conseguir alguma coisa com a mesma dimensão e de igual valor.

    Com todo o esmero que suscita, acompanhe Zezu em sua jornada pela descoberta imersa na penitência; pelo dever de cumprimento e pela honraria nordestina. Acompanhe o embate, nada trivial, contra a culpa que surge como uma tentativa de superar ou dissimular a insignificância pela condição de ser humano. A busca da superação e redenção contra o cultivo e a manutenção da intuição que afirma: tudo que depende de uma pessoa é ocasionado por ela.

    Acompanhe Zezu pela descoberta da vida; tal como uma força que acontece de forma independente.

    Boa leitura!

    Do autor

    1

    Zeferino tinha medo do seu pai. Era aquela ausência de carinho que se misturava com respeito ao longo do tempo. Ou o contrário. É fácil se sentir amedrontado no sertão, naquele mundão. Ter o medo originado onde se deveria ter segurança não deve ser normal. Isso causa solidão. Essa facilidade em se sentir daquele jeito crescia dentro dele, tomava o lugar onde ficava sua infância. Era assim que Zeferino esperava que fosse.

    Sentado à mesa de madeira que um dia já foi uma porta, apoiado sobre cadeiras de uma grosseria só dela, altas e desniveladas, Zezu equilibrava sua chinela. Sob pés que não tocavam o chão, Zeferino calçava a chinela em um pé, o outro ficava pelado, trincado no calcanhar. A borracha da sola descansava sobre a terra, molenga pelo calor de um dia inteiro, exausto pelo arrastar daquele condenado ao diabo. Era o esperado. Zeferino a maltratava. As tiras sofriam com as contorcidas do tornozelo em sua magreza, sujas e cheia de calos. Inquieto, Zezu balançava as pernas de cambita de um lado para o outro. Seus olhos meio-esbugalhados, inchados como caroço de ameixas, não desviavam do doce.

    Sua mãe se debruçava sobre a mesa de jantar. A mesa-de-porta agora serve para refeições. E assim fora de melhor serventia do que no passado. Mãe de Zezu rangia os dentes enquanto esperava, seus olhos de morte eram uma esperança que quase se extinguiu.

    Ela encarava Zezu em sua agonia.

    — Fale qual’coisa, diabo!

    Zezu respondeu numa voz seca, expelida pela garganta arenosa com lábios retorcidos e rachados e secos:

    — Essa rapadura...

    Ela interrompeu com uma piscada longa. Cabisbaixa. Era o máximo de desaprovação que conseguia transmitir naquele momento.

    Com o dedo nodoso, apontou para as duas cadeiras vazias na outra ponta da mesa-de-porta.

    — E Gourath e Shude?

    Ela olhou para a única vasilha que tinha sobre a mesa-de-porta. Havia um thurgoth de caldo ralo e amarelo. O óleo se atracando com a água. Um punhado de arroz que se perdia no fundo. O pé de galinha que boiava e as moscas que rodeavam com olhos de cobiça. O mungunzá molhava a toalha ao cair pelas bordas do prato raso. Era um banquete raro nessas épocas de fome seca.

    Zezu ressentido, comedido como só ele ficava, findou-se em silêncio. Mas seus olhos não enganavam. Ele queria um pedaço daquele doce de pedra que trabalhou o dia inteiro para conseguir.

    Já sua mãe, Dona Lorna, se mantivera daquele jeito, sem se mover bruscamente, economizando energia. Pelos anos que passara naquela casa, filha de seu pai, ela sabia de como as coisas eram feitas. Onde cada um desempenha o seu papel. E de muitos serem como ela e seu filho: a face da desgraça na Terra.

    Dona Lorna segurava um escapulário diferente, com cabeça de uma naja peçonhenta na ponta. Segurava firme, como quem possuía o domínio sobre a criatura.

    — Não se come sobremesa antes de comida, por Yoth!

    Marido de Dona Lorna, Sr. Gourath, pai de Zezu, saiu há tempos para buscar Shude. Quando o Sol laranja ainda pousava na altura dos olhos.

    Os dois se olharam em confidência. As palavras de Lorna soaram com pouca força e a repreendida tornou-se menos contundente. Porém, o recado fora dado. A sobremesa nunca vem antes de comida.

    A poeira no casebre pousava estática no ar. Pairando resoluta. Igualmente sem força. Também esperando algo. Uma inércia que fazia o tempo parar.

    O torpor foi interrompido por gritos de uma criança no horizonte. Era Shude!

    Os pés arrastados denunciavam a violência. Gourath puxava seu braço de graveto e, com a outra mão livre, segurava uma vara torta cheia de espinhos. Pequenos ferrões ressecados que quebravam quando batidos de jeito na crosta da pele.

    Ela chorava. Gritava que não era sua culpa e que nada aconteceu do modo como haviam lhe contado. Ela esperneava na sua melhor forma de evitar o inevitável. A simplicidade de suas palavras também escondia a gravidade dos seus atos. Na balança entre o que ela dizia e o pior que podia acontecer, ficava a verdade, em algum lugar sumido ali no meio. E ela certamente perdeu: no julgamento e na sentença.

    Eram crianças. Zezu e Shude eram apenas crianças. Mas as implicações da vida adulta avançavam a cada minuto. Incessantes, embora um pouco de cada vez, preenchendo todas as horas de um dia inteiro.

    Gourath chegou à porta do casebre. Ele era aguardado por Lorna que não se alterava:

    — Porque está tão atacado, homem?

    Numa agarranchada, Gourath jogou Shude em direção ao cômodo onde dormiam todos. Ela sabia onde o castigo morava. Postou-se cambaleando com a dor, juntando as lágrimas da injustiça de ser apanhada uma vez mais.

    — Essa desgramada pediu fiado para o Bento. O x’oshu mais traiçoeiro que já passou nesse inferno. Ela e essa peste...

    — Mas o que aconteceu, homem?

    Gourath, mancando por alguma deformação, uma dor crônica que nunca foi tratada, virou-se para Zezu. Ele se lançou por cima da mesa-de-porta e agarrou Zezu pelo colarinho. Deu um puxão e o arremessou para o mesmo cômodo de dormir onde Shude se encontrava agachada. Gourath tirou o cinto e passou a enrolar no punho com a fivela pelo lado de fora. Pronto para mais uma saraivada.

    Logo após se levantar, Gourath notou a barra de rapadura sobre a mesa. Pegou com aquele ódio súbito e jogou-a pela janela, a única abertura na parede que tinham além da porta.

    — Foi esse diacho...

    — ...

    — Eles pegaram essa maldita pedra-doce de fiado! Justo de quem!

    Shude ainda tentava amenizar seus grunhidos. Dizendo que não era bem isso que ocorreu e que eles pagaram pelo doce. Mas era inútil discutir. Zezu já tinha a idade certa para saber. Ele não temia mais a saraivada de porrete. E não se enganava com a dor, pois ela retorcia a carne. Sem trégua. Zezu tinha uma pele tão sensível quanto uma pele de 12 anos de um filho de um diagôro. A ardência era a mesma que Shude recebia. Mas algo nele aceitava, ele ressentia em cada golpe.

    Ele sabia que uma coisa boa só podia acontecer se algo de pior acometesse antes.

    Zezu ficou em silêncio o tempo todo.

    — E advinha de quem foi a ideia?

    — …

    — Desse cãozinho sarnento! — Condenou Gourath.

    Mais duas palmadas em Shude. Gourath pregava.

    — Você apanha porque pediu fiado…

    Mais duas saraivadas em Zezu que segurava as lágrimas:

    — …e você apanha porque deixou sua irmã para trás! O que é qu'eu sempre digo, hã!?

    Mais duas palmadas em Zezu.

    — O qu'eu sempre digo? O maior... protege... o… menor! O maior... protege... o… menor!

    A cada pancada, as sílabas entravam mais fundo. Cravando nos ossos de Zezu. Letra por letra. Uma após a outra.

    Mais duas palmadas em Shude.

    Mais duas em Zezu.

    Alternando entre cintadas e pontapés, palmadas e fiveladas até o suor de sangria escorrer pelos lados.

    Foi assim naquela noite.

    * * *

    Por fim, Zezu e Shude ficaram sem comida. Ambos de castigo no cômodo. Zezu fazia companhia à sua irmã que ainda choramingava.

    Ele ficou à espreita, esperando a lamparina se apagar e mais algum tempo em silêncio.

    Quando o sono caiu sobre Gourath e Lorna, Zezu sem pestanejar, saiu do quarto e pulou a janela. Foi até lá fora e começou a procurar. Era uma aposta perdida em meio a terra e o barro rachado. Quanto mais passava a mão, mais poeira encobria os próprios dedos. Não era possível sumir assim. Não havia uma peste viva de antes até aquela hora, que pudesse ter pego. Tinha que estar em algum lugar. Tinha que procurar direito…

    E ele achou. A barra seca do doce. A mão na areia trouxe a pedra para cima da poeira. Era a recompensa por tamanha provação. Zezu assoprou por cima, tirando a terra de ziquizira e voltou para dentro da casa de seu pai.

    Um e mais outro afago e Zezu levou a barra para o quarto. Sua irmã estava de goela fechada pelo choro. Contudo, não recusou a partilha e pegou uma torinha do doce.

    — Vá com calma. — Ele disse — Senão afoga.

    Enquanto o doce esfarelava dentro dos lábios rachados de Zezu, aquela lembrança lhe voltava a memória. A fala de Gourath de agora há pouco não lhe saía da cabeça.

    Com o gosto da rapadura na boca, o doce misturado com o amargo do couro que pulsava na pele fina, Zeferino Shao, filho de Gourath Shao e Lorna, aprendeu a segunda lição mais importante daquela planície avermelhada dos campos de juazeiros.

    Zezu não apanhou porque pediu fiado para um pícaro falastrão; desaforo de seu pai.

    Zezu apanhou porque foi pego.

    2

    No dia seguinte, Zezu sofreu uma represália. Era para os dois, ele e seu pai, irem trabalhar na cidade. Gourath ficou resmungando o caminho todo.

    — Quer aprender a ser homem… então vai! Trabalhar até tarde e não só quando a barriga aperta. Onde já se viu!

    Os dois continuaram com trabalho duro durante a semana, dia após dia. Gourath ensinando à sua maneira o valor do serviço, do suor, da família e mais um monte de coisas.

    O último dia em particular foi cheio. Duro como havia prometido. Zezu e Gourath trabalharam na praça central com o realejo da sorte. Mesmo com mãos pequeninas, ele recolheu o caixote, fechou os cartões com as crendices e os pensamentos e foi devolver o papagaio. Nem isso era dele. Alugavam o bichano para atrair a freguesia. Esse trabalho não tinha muita serventia para quem morava ali. Ele mesmo já fora rechaçado pelos adultos, pais das crianças que gastavam seus tostões com essa brincadeira.

    — Precisamos de festa. E uns viajantes pra gente. — Confessou Gourath, sabendo que aquela ocupação não tinha futuro. Mas era a única coisa que sabia fazer. Continuava resmungando, tirando a calça larga de arlequim enquanto se equilibrava sobre a carroça que os levava de volta para casa.

    — Com essa desgraça, e esses vaqueiros. Afasta qualquer um… — engoliu o resto do pensamento. Estava cansado.

    A noite caía quando Gourath e Zezu pegaram a caravana de volta. Sentados na caixa do carro de boi, Zezu pendurava seu cambito para fora dos fueiros.

    — Cuidado com a chaveta. — Alertou seu pai. — Se machucá, cê se vira com sua mãe, viu!

    Zezu nem ergueu os olhos e ficou parado, encarando o balançar hipnótico das rodas de madeira que batiam no chão e oscilavam para lá e para cá, parecendo que iam estatelar a qualquer momento. Gourath ressentia a apatia de sua criança, mas era para o seu bem.

    — Tá vendo a pisada do boi? — Apontou para dentro da roda de madeira, mostrando o rastro que o boi da frente deixava pelo caminho. Zezu meneou com a cabeça que sim.

    — Então! — Ele continuou. — O que cê está vendo?

    Zezu entornou a cabeça para um dos lados, como quem fizesse o cérebro funcionar com solavancos e arriscou.

    — Eh! O boi está cansado?

    — Hum! Só isso? O que me diz da patada de trás? Como está?

    — …

    Com paciência Gourath respondeu a própria pergunta.

    — Tá mais funda, não tá?

    Zezu confirmou meneando mais uma vez.

    — Quer dizer que a perna foi machucada. Tá dura. Se você soltar esse bicho sozinho, vai ver que a pata da frente dá uma passada mais curta, vai ficando menor. Entende? Ele deveria parar por dois dias, ou três. Senão, não adianta. Nunca sara.

    — Mas como ele não tem outro... — Zezu se referindo à um outro boi que pudesse substituí-lo.

    — É isso mesmo. Como não tem outro, a gente tem que engolir o sofrimento. A dureza vem antes do sossego, muleque.

    Gourath passou a mão na cabeça de Zezu.

    Foi quando um solavanco quase derrubou os dois de cima da tampa de madeira assentada na caixa. Gourath olhou por cima do assento para verificar o que se passava na frente com o cocheiro. Não era buraco ou jaguatirica. Era coisa pior.

    Depois de desviar, Zezu se assustou com a silhueta de cócoras que surgiu do seu lado. Sentado na beira da estrada, rugindo sons guturais com movimentos espasmódicos de ânsia; uma criatura medonha se contorcia para dentro de si mesma. Ela olhou por cima do ombro e encarou Zezu, que não desviou o olhar. Ficou paralisado. Um pouco assustado, afinal, foi pego desprevenido, mas sem medo.

    — Oh, diacho! — Gourath voltando a resmungar — Criatura de mau agouro dos infernos!

    A besta, que tinha as proporções iguais a de Zezu, se retorceu ainda mais como quem escutasse a desavença. Mostrou os dentes pequenos e afiados, o cenho apertado de desaprovação enquanto a carroça se afastava, deixando-o mais longe. A luz azul da noite reluziu por cima de suas escamas e um breve reflexo acometeu Zezu. Era bonito de certo modo, como pele de peixe refletindo um arco-íris, mas sem muita cor. Era cinzento. Não que as coisas naturais tivessem essa cor, só era assim, embora mais discretos quando coberto pela areia do sertão que enfeiava, tingindo tudo e a todos de sépia.

    A criatura sumiu, coberta pela poeira das rodas de madeira.

    O que parecia desgosto foi logo cortado por gritos de ordem. Um tiro no alto e a caravana parou de súbito. Alguns tripulantes caíram e outros se recolheram quando tomaram ciência do perigo. Era o cangaço. Três deles, com um mosquetão Mauser bufando a fumaça na ponta do cano. Eles eram poucos, mas como o bando não anda sozinho… Devia de ter mais deles pelas redondezas. Era suficiente para ninguém reagir.

    Eles apontaram o mosquetão para o diligente que ergueu a mão. Os capangas estavam era com pressa, nervosos. Só pegaram o saco de couro costurado e saíram em disparada. Surrupiaram todas as economias de Sérpio, o condutor. Mas com a vida preservada, era melhor que ele agradecesse. Afinal, cabra morto não recupera tostão perdido.

    Gourath não engoliu a desavença e resmungava baixo.

    — Cabras da peste!

    Quando percebeu que o perigo era maior que aquele revés, Gourath olhou para cima da carroça, com a vista perdida no horizonte. Seu semblante se fechou, formando olhos atentos e dentes rígidos. Pulou para a frente do assento, bem ao lado da regeira, baforando.

    — De onde vieram essas cabras? Diga homem!

    O cocheiro Sérpio, apontou com o queixo em direção ao Norte, ou o que parecia ser o Norte para Zezu. Gourath fez a leitura do perigo que Zezu não entendeu de imediato.

    Gourath pulou por cima de um cavalo que estava com a caravana. Era o caminho de casa. Foi de lá que os cangaceiros saíram e cruzaram com a caravana. Gourath deu a meia volta sobre o cavalo. Partiu em disparada gritando sem tempo a perder para Zezu.

    — Fique aqui! Volto já!

    Gourath galopava pela trilha seca do agreste. Uma rota de mercantes que ligava os quatro cantos do sertão na tentativa de unir o povo num mesmo infortúnio. Lembrá-los que eles não eram os únicos sofredores dessa terra castigada. Assim mesmo, existiam cantos ainda mais sofridos pela seca e pelo abandono. Eram terras que rejeitavam semente, terra que nada brota. Planícies inteiras amaldiçoadas pela vontade divina e envenenadas por tempos imemoriais. Tão antigos que a própria caatinga resolveu crescer por debaixo. Era num desses cantos que Gourath havia fixado residência, longe dos latifúndios, longe da água prometida no subsolo e de qualquer plantação. Era ali que ele pensava ser o lugar mais seguro, um lugar de ninguém.

    Mas algo de muito ruim chegou. O cangaço não perdoa. Filhos da mesma terra, eles não temem a aridez do vento. Eles são como a gente. É difícil tirar um carrapato quando ele tem mais vontade que você em continuar agarrado, sugando o seu sangue.

    Gourath trotava com todas as forças que restavam no animal. A aflição aumentava, não pelo medo que acometeu no passado. Das ameaças de outras ocasiões, a coação do cangaço e as desavenças habituais dos filhos do sertão. Sua angústia era para com aqueles que prometeu proteger. Sua família; Shude e sua mulher Lorna.

    Zezu se aguentava mais um bocado sozinho, mas precisava de fazer alguma coisa. Já Gourath se aproximou do morro que vizinha sua moradia.

    Uma vermelhidão pontou no horizonte, do lado do juazeiro que ficava no ponto mais alto. Formou-se um céu pintado de amarelo e vermelho. Era fogo. Labaredas que queimavam a sua morada. O pior cometeu.

    Gourath saltou com o cavalo pelo terreno peleado, todo esburacado ao avistar sua casa em chamas. Do chão ao teto, da terra batida às telhas de barro. A madeira do estuque enegrecida rangia de dor. Gourath desesperado, gritava o nome das duas: Lorna e Shude. Somente sua esposa respondeu. Gritando palavras de urgência.

    — Pegaram. Pegaram Shude!

    — Onde?!

    — Na cidade! — Ela disse — Rápido homem, foi agorinha. Por Yoth!

    — Cabei de vir de lá! Tem certeza?

    — Oras eu sei porque sei, homem! Corre! Cadê Zezu?

    Gourath deu meia volta e galopando numa pressa que nunca havia experimentado.

    — Ele está bem! Busco depois.

    E partiu em disparada.

    Gourath percorreu o caminho de volta, ainda atrapalhado. Como podia? Por eles não passaram, tinha certeza. Ficou imaginando alguma rota, que rodeava o entorno. Sabia que haviam várias. Mas não importava tanto, pois todas desembocavam em um único destino. Seus galopes se apertaram em direção à cidade. Atento ao fuzuê que pudesse entregar a posição do cangaço, mas não havia barulho pela trilha. Eles pilhavam as cidades para sobreviver, um aqui outro ali, e cobravam proteção botando medo para quem quisesse se juntar aos macacos do latifúndio ou os gambás do estado. Por onde passavam, deixavam terror e gritaria.

    Gourath passou como um trovão pela caravana e de longe avistou Zezu, no mesmo lugar que ordenou que ficasse, porém, mais afoito e assustado. Gourath nem fez menção de parar com o cavalo e com os olhos procurou falar para que Zezu não saísse do lugar, pois tinha coisa importante para resolver!

    Zezu não se conformou, Gourath pediu tanto para ele assumir a responsabilidade de um adulto e quando a prova lhe vem de pronto, seu pai pedia para ficar parado? Que diacho de ensinamento era esse?

    Com o cenho em riste, bravo que só ele, Zezu imitou o pai pulando sobre o último cavalo. Sem sela e sentado no tronco magro e ossudo, Zezu colocou o bicharrão para correr. — Rah! Rah! Vah!

    Levou mais tempo que Zezu imaginou para chegar na cidade. Pensava ele que estava voando, mas, na verdade, chegou tarde. De fato, chegou no momento em que seu pai estava atarracado com um cangaceiro. Era um daqueles que acabara de assaltar a caravana. Havia outro estirado no chão, com a mão no bucho aberto. Com a queixada riscada e a venta para cima, era difícil dizer se estava morto, mortinho. Mas Zezu apostaria dois conto que aquele cão jazia. Gourath estava por cima do segundo cangaceiro que se estrebuchava para sair daquela posição. Zezu nunca tinha visto seu pai brigar por nada. Pelo menos não se lembrava. E seu pai aperreava a adaga perto do cangote do chifrudo. Seus olhos saltavam com a ira de um condenado quando tentam tirar o mínimo que tinha. Era o semblante de um desgraçado de uma vontade calejada, sem hesitação. Era o seu sangue afinal. O maior protege o menor! Era…

    — Pai! — Gritou Zezu.

    3

    Gourath olhou para Zezu surpreso e seu semblante se atenuou por um instante. Foi só um momento, ligeiro como faísca, mas que decidiu briga. Pelo olhar de Zezu, seu pai não conseguiu furar o cangaceiro, terminar o trabalho e partir para o último capanga. Sim, tinha o terceiro diacho que Zezu não tinha visto. Ele saiu, sabe-se lá de onde, e com a adaga paraibana furou Gourath por trás. Entalando a lâmina pelo sovaco, ele ergueu um risco acima da costela. O cangaceiro enterrou 40 cm de ferro sujo nele. Pegou o pulmão, com certeza. A dor dilacerou o seu rosto, mas o grito não saía pela boca. O corpo torceu e foi morrendo sozinho na secura do chão. O som de todo o resto se abafou e tudo ficou surdo. O tempo corria diferente. Devagar, mostrando cada detalhe como que se Yoth estivesse caçoando sobre o que Zezu havia feito.

    Os dois cangaceiros saíram tocando a areia da roupa e sem olhar para trás, abandonaram os restos da briga. Gourath estirado no chão. Zezu desceu do cavalo e se aproximou. Com pernas bambas ele foi chegando. O que iria falar para a sua mãe? Pensava que seu pai é quem teria que lhe dar explicações. Ele não conseguiria. E quando o inferno parecia caminhar pelas bandas do agreste, nada mais poderia molestar a sua disforia. Foi quando uma cauda explodiu debaixo da terra, jorrando uma saraivada de areia, pó e sílica. Debatendo-se sobre a superfície árida. O seu atino fez com que Zezu experimentasse seu maior medo até então. Não bastasse o corpo de seu pai, Zezu teria que lutar pela vida contra uma criatura dos infernos, nascida no centro da Terra e escavada por feitiçaria negra.

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