Artesão Do Meu Futuro
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Artesão Do Meu Futuro - Paulo Henrique Rathunde
ARTESÃO
DO MEU
FUTURO
1
2
ARTESÃO
DO MEU
FUTURO
Paulo Henrique Rathunde
3
________________________________________
Copyright © Paulo Henrique Rathunde
Todos os direitos reservados
Revisão e análise de texto:
Marlise de Cássia Bassfeld
Projeto Gráfico:
Mídia Arte
Impressão e acabamento:
Clube de Autores
Ficha catalográfica:
Marina Cordeiro Lopes – BBR/9-241
________________________________________
Paulo Henrique Rathunde
R 235a
Artesão do meu futuro / Paulo Henrique Rathunde
Curitiba, PM21, 2004
273p
1. Desenvolvimento humano 2. Liderança consciente
3. Desenvolvimento holístico 4. Qualidade de vida
5. Romance. I. Título.
CDD: 658.0019
CDU: 658.3051
________________________________________
2ª Edição: EDITORA: Clube de Autores
www.clubedeautores.com.br
Revisada e atualizada - 2013
Contato com o autor:
phrathunde@hotmail.com
4
Sumário
Prefácio..................................................................................................8
Sou grato..............................................................................................10
Apresentação.......................................................................................11
PARTE I..............................................................................................17
Novas concepções da realidade.......................................................17
1.O dia da chegada...............................................................................19
2. Consequências da crise de identidade.............................................27
3. A realidade mecanicista-iluminista.................................................41
4. A ciência do século XX...................................................................69
5.A teoria dos sistemas vivos..............................................................85
6. A realidade do ser vivo..................................................................107
7. A ordem implícita e a sincronicidade............................................129
PARTE II...........................................................................................139
Sonho e descoberta........................................................................139
8. Consequências da nova visão do século XX.................................141
9.Brasil, uma referência na Terra Nova.............................................153
10. Oportunidades na Terra Nova......................................................163
11.A linha da vida – O momento para agir é agora...........................183
12.Eu, artesão do meu futuro.............................................................193
PARTE III..........................................................................................221
Projetos para a realização de sonhos.............................................221
13.Contextualização de um projeto...................................................223
14.Montando um plano e executando um projeto.............................233
15.A estrutura de um plano de projeto..............................................245
16.O dia da partida.............................................................................257
Epílogo...............................................................................................275
Referências........................................................................................276
Índice.................................................................................................280
5
6
Figuras
Figura 1 - Visão geral do conteúdo do livro........................................15
Figura 2 - Evolução dos paradigmas ocidentais..................................49
Figura 3 - Realidade Mecanicista - Iluminista.....................................51
Figura 4 - O Quântico-relativista.........................................................76
Figura 5 - A Teoria dos sistemas vivos...............................................87
Figura 6 - A evolução da ciência do século XX..................................88
Figura 7 – O desenvolvimento da física..............................................90
Figura 8 - Desenvolvimento da Matemática........................................94
Figura 9 - O Desenvolvimento da Biologia.........................................96
Figura 10 - O desenrolar da teoria dos sistemas vivos........................98
Figura 11 - A realidade do ser vivo - A ciência do século XX..........109
Figura 12 - A realidade do ser vivo - Um novo paradigma...............115
Figura 13 - Análise sistêmica dos ciclos vicioso e virtuoso (Adaptado
de ARAUJO, 2003)...........................................................................148
Figura 14 - A linha do tempo.............................................................188
Figura 15 - Os quatro pilares da identidade.......................................210
Figura 16 – Exemplo de mapa estratégico pessoal............................212
Figura 17 - Exemplo de plano de ações.............................................214
Figura 18 - Resumo da proposta do artesão do meu futuro...............217
Figura 19 - Tabela de argumentações................................................238
Figura 20 – Estrutura-padrão de um plano de projeto.......................247
Figura 21 - Exemplo de EDT (Estrutura de Decomposição do
Trabalho) de um projeto para construir uma cancha poliesportiva...249
7
Prefácio
Compatibilizar o mundo interior com o mundo exterior é a proposta desse novo
milênio. Heráclito (c.544-c.480a.C), filósofo grego, disse que o Universo é uma
mutação constante na qual se equilibram os contrários, e que a harmonia dos
contrários é a razão universal que rege os planos cósmico e humano. Como o
nosso meio ambiente é o cosmos, a vida na Mãe Terra e o Universo interagem e
formam um circuito sagrado de vibrações e ressonâncias que dinamiza e recria
a existência.
A vida se manifesta pelo atrito e a crise acrisola e separa as impurezas.
Atualmente, estamos no crisol e em pleno processo de purificação. Depois de
passarmos pela revolução filosófica, tecnológica e científica, estamos vivendo
uma revolução ética e espiritual. É a revolução do despertar de uma ética
diferenciada, cujos valores se enraízam no espírito e brotam na consciência,
inspirando ações que transformarão o paradigma central do mundo moderno.
Para viver esses valores, precisamos reaprender como entrar em contato com
nossa interioridade, de modo a favorecer renovação pessoal e social. No nosso
modelo pós-moderno tecnológico, mecanicista e imediatista, andamos por
descaminhos que nos levaram a extrair tanto da vida que a empobrecemos.
Espoliamos a natureza, desvendamos segredos da matéria, mas nos
esquecemos de ser felizes. Em decorrência disso, sonhamos menos e nos
preocupamos mais.
As conquistas tecnológicas e científicas facilitaram as operações práticas,
encurtaram distâncias e prolongaram o tempo útil de vida. Porém, nos
afastamos da sabedoria e da sutileza do espírito que nos permite transcender e
descortinar horizontes mais amplos. Nunca precisamos tanto descobrir novos
significados para o que fazemos e qual o sentido de estar vivo. Temos urgência
de reaprender a amar, de pôr a criatividade a serviço do Bem, da beleza, da
brandura, da solidariedade e pureza de caráter.
Este livro indica caminhos, pelos diálogos que abordam as diversas áreas do
conhecimento, à importância de reavaliar posicionamentos diante das rápidas e
irreversíveis mudanças no mundo.
O autor aborda a integração do conhecimento e a prática dos valores humanos
como ponto de partida para mudanças exponenciais na nossa percepção e
comportamento diante da vida.
Paulo Henrique Rathunde assumiu as rédeas do próprio futuro com carinhos
de artesão e sugere uma reprogramação de prioridades pessoais e
administrativas tendo como eixo os princípios universais que fundamentam o
caráter humano.
Certamente, a partir daí, surgirá um relacionamento mais profundo entre as
pessoas e no ambiente de trabalho tudo será mais fluido e bem-sucedido. A
qualidade da produção é otimizada quando a leveza e a alegria aproximam as
8
pessoas. As tarefas são sentidas como etapas de um sonho partilhado e a
competência de lidar com conflitos e com o imprevisível faz que o desconhecido
se torne uma nova realidade.
Como a educação iluminista fragmentou o conhecimento e separou tecnologia
de filosofia, razão de sentimento e o espírito do mundo, não somos educados,
porém treinados, para seguir alimentando um padrão separatista e
individualista voltado para a aquisição de habilidades sem considerar o amor
pelo trabalho que se faz. A vocação – o chamado interior – quando acontece,
envolve o coração e na escolha da profissão o que menos pesa é o lucro que ela
possa oferecer. Toda preocupação com comparação, competição e dinheiro se
fundamenta na tentativa de encaixar determinada meta em alguma das
escolhas que a família e ou a sociedade já fizeram por nós.
Por isso, quando guiados pela ambição artificial, o objetivo se reduz à fama e ao
êxito financeiro. A satisfação e o prazer de servir passam a valer menos. Êxito
também foi separado de excelência e plenitude. A excelência só se manifesta
quando os indivíduos são vistos como pessoas integrais dotadas de corpo,
mente, coração e espírito.
Talvez você tenha dúvidas perturbadoras com relação às abordagens aqui
colocadas e considere liderar em valores humanos uma utopia bonita, mas um
desafio difícil de aceitar. À medida que você for lendo este livro, adquirirá uma
compreensão do quanto esses princípios que estruturam a consciência
precisam ser resgatados para que possamos formar lideranças criativas e
eficazes, e empresas promotoras de prosperidade e abundância.
O verdadeiro progresso é aquele que passa pelo filtro do coração humano e uma
empresa que elege princípios éticos como prioridade prepara os alicerces para
transformações profundas na sociedade. Todos nós estamos construindo nosso
futuro e temos sobre os ombros uma responsabilidade sem precedentes. Nossas
escolhas definirão não apenas o nosso futuro e o dos nossos filhos, mas da
espécie humana e do próprio Planeta.
Sejamos artesãos de um mundo melhor e mais feliz.
Marilu Martinelli
9
Sou grato
Do meu berço afloraram as bases firmes do que eu sou
pelo exemplo, pelo amor, pela moral, dignidade.
A meus queridos pais, eternamente serei grato
pois regaram com esmero minha personalidade.
Menino curioso, irrequieto, insatisfeito,
as respostas de escritores anônimos buscava.
Na razão afogava a ideia de uma obra
que a paixão pela vida insistente resgatava.
À perturbadora sensação do existente em trânsito
desvelou-se fonte de princípios e valores
abrindo-se acolhedoras as portas da SBEE.
Saciou minha sede, amenizou as minhas dores.
Do vinho que inspirava pueril filosofia,
surgiam sábias e absurdas, insanas razões.
DaquiAumAno, desafio de almas dúbias em encontros
fermentava sonhos, delírios e paixões.
Mas ainda me faltava a centelha inspiradora
que incendiasse a insegurança pelo sonho embebida.
Foi no Campus 21 finalmente que encontrei
fogo ardente que limpou minha alma reprimida.
Dos amigos, o incentivo e o apoio agradeço
especialmente a Eduardo, mais que amigo, um mentor.
Maury, Falcão, Solange, Celso, Marilu, Marlise e Paulo,
a todos eles aqui expresso meu apreço e meu louvor.
Irmão de sangue, irmão de alma, como incansáveis aves a aprender
a voar mais alto, isso revela origem comum do mesmo ninho.
À conjunção de fatos que rege nossas vidas,
sou grato por cruzar com o seu o meu caminho.
Amados filhos, doces almas, o bom Deus me confiou
a inocência dos seus gestos que me alimenta a inspiração.
Na incontida alegria que hoje trago estão presentes.
A vocês, o reconhecimento de um responsável coração.
O meu peito insensível foi em seu leito acolhido
pelo bálsamo do amor e da sensibilidade.
À minha esposa, com carinho, esta obra eu dedico
e com amor lhe desejo saúde e felicidade.
Pelo suor do rosto que me leva ao crescimento,
pela possibilidade de útil eu ser de fato,
pela luz que embala Seu filho pela vida,
palavras faltam pra expressar o quanto Lhe sou grato.
10
Apresentação
Esta obra é um convite para reflexão, acreditando que as verdadeiras
transformações sociais e, por efeito, a melhoria das condições de vida no
Planeta, podem ocorrer a partir de pequenas mudanças e ações efetivas
de cada um, as quais, no conjunto, promovem as mudanças que
desejamos.
Foi escrito para pessoas abertas ao questionamento e ao repensar de
suas próprias crenças. A proposta não é dar respostas, mas trazer
subsídios para que cada um formule as próprias questões, a partir da
visão de conceitos científicos, filosóficos e espirituais, atualmente
tratados em todo o mundo.
Seu conteúdo traz uma visão otimista sobre as possibilidades de um
futuro calcado em valores humanos, em que a ciência, a filosofia, a
religião e as artes são vistas no mesmo nível de importância, convivem
de forma harmônica e se complementam para levar o homem a um
melhor entendimento de si e do cosmos, em direção a uma vida mais
digna e feliz.
Diz-se muito que, após termos passado pela era agrícola e industrial, já
saímos da era da informação e estamos agora na era da consciência. Mas
o que isso significa? Precisamos compreender nossa condição de seres
integrais e reconhecer a necessidade de um processo contínuo de
autoconhecimento, como atores e portadores da cultura e como
exclusivos responsáveis pela nossa vida, pela nossa liberdade e pelo
nosso bem-estar.
Precisamos entender nossa condição de unidade social e a
interdependência que há em nossas relações com o outro. Precisamos
ter consciência da nossa condição ecológica e da interdependência do
ser humano com seu meio, bem como da nossa responsabilidade como
construtores e construídos. Precisamos compreender nossa condição
cosmológica e a interdependência da espécie humana com o Universo e
com Deus.
Somos livres à medida que entendemos essas relações de
interdependência e assumimos, de forma consciente, o nosso papel
nessa grande peça teatral que é a vida. Ser livre, portanto, significa ter
condições de criar os próprios compromissos perante a vida e responder
por suas consequências.
11
As leis de causa e efeito nos posicionam como responsáveis pelo próprio
destino e evidenciam o enorme potencial de transformação que cada um
traz em si. Somos, por natureza, agentes de transformação. Porém, é
nossa tarefa escolhermos que transformações queremos para o mundo.
Assim, nossas ações, paulatinamente, constroem um futuro na direção
do inferno ou do paraíso.
O conhecimento nos permite estabelecer objetivos que determinam
ações corretas. O agir deve ser subsidiado pelos resultados da ação,
considerando não apenas as consequências diretas, imediatas, lineares
da ação, mas também as consequências circulares em decorrência da
teia de interdependência. Conscientizar-se desses elementos significa
tomar conta do pincel que, aos poucos, produz a obra de arte que cada
um quer para o seu futuro.
Entretanto, de nada adianta um bom objetivo se o caminho escolhido
não conduz a ele. Ao iniciarmos a caminhada, nossos cantis devem
conter os ingredientes que nos levarão ao final vivos, com dignidade e
felicidade. Falamos da paz, do amor, da verdade, da não-violência e da
ação correta para que a caminhada seja tranquila e tenhamos sempre a
ajuda daqueles que já caminharam um pouco mais, tenhamos a
companhia dos entes queridos e possamos ajudar os que necessitam.
Muitas pessoas têm vontade de ajudar, de fazer algo pelo social como
voluntárias, mas não conseguem, pois suas vidas são como novelos de lã
embaraçados. Precisamos permanentemente ajeitar nossa casa interior
para termos equilíbrio e conhecimento de causa. Não se trata de
egoísmo, mas de fortalecer as bases para uma ação efetiva. Trata-se de
começar encontrando o fio da meada e, pacientemente, desvendar-se a
si mesmo, descobrindo quanto valor existe por detrás da confusão.
Outras pessoas têm sua casa arrumada, mas empenham esforços e
energia sobretudo na construção material. São em geral bem-sucedidas,
do ponto de vista mais comum de entendimento de sucesso, mas são
suscetíveis à infelicidade. Basta uma interrupção prolongada no seu
período de trabalho para sentirem-se inúteis, pois, no seu íntimo, sabem
que o que fazem não agrega valor, apenas preenche o tempo e a mente.
Portanto, a consciência deste complexo sistema que é a vida nos permite
tomar decisões mais acertadas sobre o que seja melhor para nós, como
indivíduos, para a humanidade, para o Planeta e para o Universo. Isso é
o que significa estarmos na era da consciência. Não é apenas mais um
modismo, mas um alerta para assumirmos o nosso papel de maneira
efetiva, com liberdade, na construção de um mundo melhor.
12
Analiso aqui a admirável linha do tempo, construída dia a dia como
resultado das ações de cada ser vivo atuando no Planeta. Considero a
ideia ampla de vida, não apenas como matéria orgânica, mas como
complexo inteligente do Universo. Nesse contexto, o homem, consciente
de si, de seu mundo e de sua própria consciência, passa a enxergar-se
como agente responsável pelo bem-estar social, sobretudo quando a
tecnologia disponível o potencializa para ações transformadoras cada
vez mais contundentes. Sua liberdade, limitada pela percepção de
cultura, pela inteligência e contingências, tem os horizontes ampliados
pelo autoconhecimento. À medida que reconhecemos as consequências
das próprias ações e assumimos a responsabilidade como agentes na
vida, ampliamos possibilidades de escolhas, portanto, a própria
liberdade.
A partir da conscientização da complexidade da vida e de nosso
potencial transformador, temos a opção de manter as coisas como estão
e de nos deixar levar pelo destino ou utilizar as ferramentas adequadas
para promover as necessárias transformações na direção de um futuro
melhor.
Para conseguir fazer esta caminhada rumo à realização pessoal, é
necessário começar a fazer algumas perguntas para si mesmo. A
primeira delas é: quem sou? A segunda, o que quero para a minha
vida? . Embora estas perguntas devam incomodar muita gente, as
respostas não são, de forma alguma, óbvias nem mesmo fáceis. Mas a
análise não pára por aí, pois há mais perguntas: Como realizar os
nossos sonhos, as nossas grandes ideias? Como aumentar a
probabilidade de dar certo o que estamos pensando? Eis aqui
perguntas que afligem a todos nós que temos sonhos e grandes ideias
que acabam virando frustrações quando começamos a pensar em
transformá-los em realidade. Na prática, as coisas parecem ser sempre
mais difíceis do que imaginamos, principalmente quando envolvem
outras pessoas e recursos financeiros.
Para auxiliar nestas reflexões, este livro foi estruturado em três partes.
Na primeira, a cultura é vista como uma das limitantes da nossa
liberdade de ação. Analisamos a evolução do pensamento ocidental nos
últimos quinhentos anos, culminando nos mais recentes temas que
estão em discussão nos ramos da ciência, da filosofia e da religião.
O leitor também é provocado a fazer reflexões sobre como a cultura
pode absorver a nossa atenção, fazendo-nos agir de forma inconsciente,
de acordo com os padrões estabelecidos como verdadeiros pela
sociedade. Além disso, esta mesma cultura nos conduz à construção de
13
um sistema de crenças que, aos poucos, cria-nos limites intransponíveis.
É preciso perceber que esses limites são criados por nós mesmos,
configurando-se como os nossos complexos. Portanto, a solução para os
nossos problemas nunca será encontrada em qualquer lugar que seja, a
não ser no interior de cada um.
Na segunda parte, proponho uma reflexão sobre a nossa própria
identidade a ser descoberta, cuidadosamente, como faz um garimpeiro
em busca de pedras preciosas. Muito entulho deve ser retirado para
alcançarmos nossos verdadeiros valores, o verdadeiro ser que habita em
nós.
Neste caminho, buscamos a nossa essência como seres integrais, a
compreensão das influências culturais às quais estamos sujeitos e os
mecanismos de inter-relacionamento e interdependência que nos ligam
ao cosmo. Proponho que a identidade pessoal seja reconhecida na
perspectiva da interatividade do eu com o nós, a sociedade, o ambiente
e a espiritualidade, partindo do princípio de que é por meio dessas
relações que somos capazes de nos conhecer.
Sobre a identidade fortalecida pode-se utilizar estratégias pessoais para
a definição de um propósito maior que dê sentido à existência,
alimentando sonhos. Chega, então, a hora da realização.
A terceira parte deste livro foi escrita para incentivá-lo e ajudá-lo a
construir um plano de projeto atraente, mostrando estratégias que
podem ser utilizadas, com o propósito de organizar e estruturar suas
ideias e aumentar, assim, a probabilidade de realização de um sonho.
Como diz Souza, o primeiro passo para tornar um sonho realidade é
transferi-lo para o papel, formalizando um projeto (2000, p. 99).
Ao longo do livro, muitas vezes, a escolha de uma linguagem
diagramática tem por objetivo servir como instrumento complementar
da leitura, como a síntese esquemática do texto corrido. Cada tópico do
texto corresponde a um elemento do diagrama, tornando-se fácil,
portanto, estabelecer uma relação. Já lançando mão deste recurso, eis
um resumo esquemático da proposta geral deste livro:
14
Figura 1 - Visão geral do conteúdo do livro
Uma outra dica que diz respeito ao formato desta obra é que ela foi
escrita em forma de romance. O cenário é a Escola Travessia e a
história é vivida por seis alunos, sua orientadora e os diversos
professores que compartilham suas aulas durante algumas semanas.
Estas aulas trazem fundamentos conceituais baseados na literatura
científica e filosófica atual que, portanto, podem ser utilizados como
referência bibliográfica para outros trabalhos. Contudo, a história que
permeia as aulas ao longo do livro é uma obra de ficção na qual me senti
à vontade para inserir propositadamente diálogos sobre temas algumas
vezes polêmicos, a fim de fomentar a reflexão dos leitores. Para uma
fácil identificação, as aulas e a história foram escritas com fontes de
caracteres diferentes.
Este livro é um convite para atuarmos na peça de nossa vida de forma
leve, descontraída, divertida, aprendendo e ensinando, amando e sendo
amados, num processo em que não há perdedores e, ao final, todos nos
aplaudiremos de pé.
Este trabalho explora também a importância de se conquistar um estado
de felicidade interior que promova as nossas ações, orientadas pela
15
vontade do espírito, pois, como disse Henfil, "Não existe caminho para a
felicidade. A felicidade é o caminho".
Artesão, está na hora de começarmos a construir uma nova
possibilidade de futuro. Pegue suas ferramentas e boa leitura!
O Autor
Curitiba, Outono de 2004
16
PARTE I
Novas concepções da realidade
17
18
1. O dia da chegada
O ser humano existe para permitir uma realização
única de Deus.
Leonardo Boff
– Há algumas regras nesta escola que precisam ser seguidas. É uma
questão de autodisciplina, você sabe. Ensinamos aqui não só o que está
no currículo do curso, mas também tudo o que contribuirá para que
você se encontre como indivíduo ativo, capaz de utilizar plenamente o
potencial daquilo que você é. Há um horário para levantar e para ir para
a cama. O horário das refeições deverá ser respeitado. Um sino será
tocado para anunciar o início de cada atividade. A arrumação da cama
fica por conta de cada aluno. Não recomendamos sair dos limites da
escola pois é muito perigoso, e nunca se esqueça disso. No seu quarto há
roupas de cama e toalhas limpas e as demais orientações que você
precisará conhecer. Há também um revezamento para o trabalho. Você
deve voluntariar-se de acordo com as suas habilidades e anotar o seu
nome semanalmente no quadro de trabalho que fica na entrada do
refeitório. Você vai gostar daqui. O ritmo é bastante puxado, mas os
resultados são excelentes. Além do mais, você fará grandes amigos, pois
as pessoas que farão parte da sua turma não estarão aqui por acaso.
Você perceberá isso facilmente no decorrer de alguns dias. Leopoldo
encaminhará você aos seus aposentos, que será compartilhado com
outros dois rapazes. O sino tocará amanhã às seis horas para os
exercícios de relaxamento e meditação, que começam às seis e quinze. O
café da manhã será às sete horas e a primeira aula às oito. Não se atrase.
Por hoje você poderá caminhar um pouco e conhecer o local. Em nome
da diretoria e de toda a coordenação, dou-lhe as boas vindas e desejo-
lhe uma ótima estada. Alguma pergunta?
19
– Nã ... Não, dona Carmem – falei, após um momento de hesitação,
ainda embriagado com a aparente rigidez da escola e das tantas regras
despejadas impiedosamente em meus ombros.
– Ótimo. Leopoldo!
– Pois não dona Carmem.
– Mostre ao senhor Rafael Alcântara onde é o seu quarto, depois volte
aqui que eu preciso falar com você.
– Sim, senhora. Queira acompanhar-me por gentileza, senhor.
– Claro. E ... e obrigado, dona Carmem.
Cheguei à escola por volta das duas da tarde, num carro preto, guiado
por um tal de Alfredo, motorista aposentado que fazia um bico aqui,
outro ali. Ao entrar pelo portão tive uma daquelas visões que jamais
desaparecem da nossa memória. Com o prédio da escola e um lindo
bosque como pano de fundo, ela estava trabalhando no jardim,
aparando as folhagens. A luz que irradiava de seus olhos chamou-me a
atenção já à primeira vista. Mais tarde descobri seu nome, Silvana.
A Escola Travessia era um local belíssimo, um ambiente rural propício à
integração do homem com a natureza. Totalmente arborizado, com
bosques, um belo pomar e uma lavoura cultivada pelos próprios alunos
nas aulas de prática de alimentação natural.
Mais acima, em meio a diversas árvores, próximo a um bosque, ficava a
sede com a administração, as salas de aula e os quartos femininos. A
pouco mais de vinte metros dali ficava o alojamento masculino. Um
lindo lago próximo ao pomar preenchia uma ampla depressão que
quebrava a rotina do vale por onde percorria um pequeno riacho de
águas cristalinas.
A infraestrutura contava com uma cancha de esportes, uma piscina e
sauna, tudo, enfim, que se poderia esperar de um local confortável para
se passar algumas semanas isolado do resto do mundo. Uma cerca, não
muito alta, estabelecia os limites da escola para o mundo lá fora.
Recebemos a recomendação de não ultrapassar a cerca, pois se o
fizéssemos, a escola não poderia garantir a nossa segurança.
Após conhecer detalhadamente o meu quarto, onde ainda encontrava-
me sozinho, pois os meus colegas não haviam chegado, saí para
caminhar um pouco e conhecer a escola, como havia sido sugerido por
dona Carmem.
– Belas frutas, não é mesmo?
20
Fui surpreendido com esta observação por uma voz suave e meiga ao
caminhar pelo pomar, um local repleto de árvores frutíferas de todos os
tipos, para todos os gostos. Eu mal podia acreditar. Era aquela moça que
eu avistara no jardim quando cheguei, agora podendo observá-la mais
de perto. Seus traços eram suaves como uma pluma, seus cabelos loiros
escorregavam pelo rosto, agitados por uma leve brisa. Tinha um ar
sereno e demonstrava confiança. Sorri para ela sem saber o que dizer.
Talvez uma boa tarde fosse o suficiente, apesar de muito tradicional.
Enquanto eu vacilava com minhas palavras, ela apanhou uma das maçãs
sobre as nossas cabeças que se impunham num contraste avermelhado
sobre o verde das folhas. Entregou-me demonstrando a nítida intenção
de fazer amizade.
– Sou Rafael, muito feliz por conhecê-la, senhorita – soou um tanto
formal demais, mas pelo seu sorriso, percebi que não me saí mal.
– Olá, Rafael, meu nome é Silvana. Seja bem-vindo!
– Obrigado. Você também é aluna?
– Oh, não, estou aqui como aprendiz – disse ela – para tornar-me
professora um dia. Mas já fui aluna desta escola, há dois anos. De onde
você é?
– Vim de Curitiba – ao falar de minha origem, lembrei de minha família
– Engraçado, acabo de chegar e já estou com saudades de meus
familiares.
– Posso imaginar. Também passei por isso. Mas quando reencontrei
minha família após concluir o curso foi um momento tão maravilhoso
que compensou o tempo que passei distante. Na ocasião, fui convidada
pela coordenação para assumir a função de aprendiz e tornar-me
professora. Ao contar a novidade ao meu pai, ele não pôde conter o seu
entusiasmo, pois era uma oportunidade ímpar de desenvolvimento
interior. Além disso, ser professora de uma escola como esta é motivo de
alegria para qualquer família.
Enquanto falava, eu a observava em todos os detalhes. Sua voz, seus
gestos, suas palavras. Algo me dizia que não se tratava de qualquer
pessoa, mas de alguém muito especial.
– O reencontro com familiares, que há muito eu não via, não abraçava,
foi algo mágico e emocionante. Agradeci a Deus por aquele momento e
compreendi que, embora dolorosa, uma separação nos renova e nos
ensina a lidar com sentimentos que de outra forma não poderiam ser
trabalhados. Percebi que o reencontro é sempre possível para aqueles
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que se amam, pois o amor aproxima as pessoas, apesar de qualquer
distância que as separe – continuou ela.
Silvana fez uma pausa como se estivesse sentindo novamente a emoção
daquele momento. Aproveitei para fazer uma pergunta:
– E você, Silvana, de onde veio?
– Rio de Janeiro. Eu me acidentei gravemente e fiquei em coma por
alguma semanas. Isso me fez pensar um bocado sobre o significado da
vida. Quando melhorei, vim para cá. É engraçado, não? Às vezes é
preciso que uma tragédia nos tire da rotina para começarmos a fazer
algo por nós mesmos.
– Teve sorte por ter sobrevivido – comentei – E então você desistiu do
jornalismo para tornar-se professora...
– Não é tão simples assim. Quando se passa por uma situação como
estas, ficando entre a vida e a morte, acabamos por questionar os nossos
valores. Aquilo que fazia o maior sentido antes, acaba desabando como
lixo aos nossos pés. Começamos a questionar por que estamos vivos,
qual é o nosso papel neste mundo, percebemos que a distância entre a
vida e a morte é menor do que a espessura de um fio de cabelo. Basta
um descuido e vap
, você, naquele momento, daria tudo o que
conquistou para poder permanecer vivo. E quando melhora, é como se
realmente você tivesse distribuído todos os seus bens, todas as coisas
que lhe davam orgulho de possuir. Não retornamos de uma situação
destas como éramos antes. Este curso acabou ajudando-me a refazer o
meu sistema de crenças e construir novos valores para a vida. Quando
me convidaram para ser aprendiz, não tive dúvidas, aceitei na hora.
– Não sei se eu teria tanto desapego a ponto de largar tudo. Quando
viajo tenho saudades do meu carro, do meu quarto, das minhas roupas,
da minha coleção de canetas...
– Não se preocupe. Quando o curso terminar teremos outra conversa
sobre este assunto e a sua opinião talvez venha a ser diferente. Aliás,
sobre muitas coisas a sua opinião provavelmente será outra. Por
exemplo, você acredita que o fato de nos conhecermos hoje é mero
acaso?
– Se não acreditasse nisso, eu estaria acreditando em predestinação.
Não consigo conceber a ideia de que meu destino já fora traçado e que
não tenho opções sobre ele.
– Também não acredito nisso, mas não precisa ser tão extremista.
Nosso pensamento gera sincronicidades que não há como acreditar
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serem meras coincidências. Creio que o nosso mundo existe em função
daquilo que pensamos. Faz sentido para você?
– Não estou bem certo.
– Vou contar-lhe apenas um dos episódios que me aconteceram, Rafael.
Ao retornar à escola no período seguinte para começar o exercício da
minha nova função, reencontrei uma velha amiga, Cláudia, também ex-
aluna, que se iniciava na função de aprendiz no mesmo dia. Quando
éramos adolescentes, nossa amizade era tão forte que frequentemente
nos flagrávamos adivinhando o pensamento uma da outra. Nossa
amizade tinha algo que ia além dos cinco sentidos. Após partir, quando
seu pai, então militar do exército, foi transferido para o norte do país,
continuamos escrevendo uma para a outra. Ao reconstruir nossos
círculos de amizade escrevíamos cada vez menos, mas mantínhamos a
convicção de que a nossa amizade não se deteriorava, pelo contrário,
fortalecia-se a cada dia, mesmo tão longe uma da outra. A passagem por
esta escola fez-me relembrar da minha velha amiga. Sentia muita
saudade. Escrevi várias cartas, sem receber resposta. Pensei muito nela
e sobre como seria bom se ela estivesse aqui comigo.
– Talvez tivesse mudado de endereço – comentei.
– É, talvez. Mas ao retornar à escola no período seguinte para iniciar
minha atividade como aprendiz, quase caí de costas ao ver Cláudia em
minha frente, também ex-aluna, iniciando na mesma função que eu. Foi
mais um reencontro que comprovou a minha teoria a respeito do amor e
da sincronicidade. Ela não estava ali por acaso; queria o reencontro e
trabalhou mentalmente para