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Artesão Do Meu Futuro
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E-book1.026 páginas5 horas

Artesão Do Meu Futuro

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Sobre este e-book

Artesao do Meu Futuro é um livro que alia conhecimentos filosóficos, científicos e religiosos para promover a reflexão em torno do entendimento que o homem pode fazer de si e de suas relações com o mundo, para construir uma proposta de administração do próprio cotidiano. Na obra, o autor Paulo Henrique Rathunde afirma ser possível melhorar continuamente as condições de vida e resgatar a harmonia em nosso Planeta ao se levar em conta o potencial transformador que temos - característica da natureza humana. Propõe, ainda, que cada um seja responsável pela construção do próprio futuro. Com base numa visão ampla, como a de um artesão que demonstra em ato todo o processo de sua criação, os resultados serão coerentes com uma ética focada na vida. O livro, escrito em forma de romance, relata em linguagem tocante a experiência de seis alunos na imaginária Escola Travessia. Entre as aulas, em que são discutidos conceitos de várias áreas do conhecimento, eles dialogam sob a perspectiva de observar a sua trajetória, transcendendo-a e desenvolvendo possibilidades de vida mais criativa e transformadora.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de jan. de 2013
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    Artesão Do Meu Futuro - Paulo Henrique Rathunde

    ARTESÃO

    DO MEU

    FUTURO

    1

    2

    ARTESÃO

    DO MEU

    FUTURO

    Paulo Henrique Rathunde

    3

    ________________________________________

    Copyright © Paulo Henrique Rathunde

    Todos os direitos reservados

    Revisão e análise de texto:

    Marlise de Cássia Bassfeld

    Projeto Gráfico:

    Mídia Arte

    Impressão e acabamento:

    Clube de Autores

    Ficha catalográfica:

    Marina Cordeiro Lopes – BBR/9-241

    ________________________________________

    Paulo Henrique Rathunde

    R 235a

    Artesão do meu futuro / Paulo Henrique Rathunde

    Curitiba, PM21, 2004

    273p

    1. Desenvolvimento humano 2. Liderança consciente

    3. Desenvolvimento holístico 4. Qualidade de vida

    5. Romance. I. Título.

    CDD: 658.0019

    CDU: 658.3051

    ________________________________________

    2ª Edição: EDITORA: Clube de Autores

    www.clubedeautores.com.br

    Revisada e atualizada - 2013

    Contato com o autor:

    phrathunde@hotmail.com

    4

    Sumário

    Prefácio..................................................................................................8

    Sou grato..............................................................................................10

    Apresentação.......................................................................................11

    PARTE I..............................................................................................17

    Novas concepções da realidade.......................................................17

    1.O dia da chegada...............................................................................19

    2. Consequências da crise de identidade.............................................27

    3. A realidade mecanicista-iluminista.................................................41

    4. A ciência do século XX...................................................................69

    5.A teoria dos sistemas vivos..............................................................85

    6. A realidade do ser vivo..................................................................107

    7. A ordem implícita e a sincronicidade............................................129

    PARTE II...........................................................................................139

    Sonho e descoberta........................................................................139

    8. Consequências da nova visão do século XX.................................141

    9.Brasil, uma referência na Terra Nova.............................................153

    10. Oportunidades na Terra Nova......................................................163

    11.A linha da vida – O momento para agir é agora...........................183

    12.Eu, artesão do meu futuro.............................................................193

    PARTE III..........................................................................................221

    Projetos para a realização de sonhos.............................................221

    13.Contextualização de um projeto...................................................223

    14.Montando um plano e executando um projeto.............................233

    15.A estrutura de um plano de projeto..............................................245

    16.O dia da partida.............................................................................257

    Epílogo...............................................................................................275

    Referências........................................................................................276

    Índice.................................................................................................280

    5

    6

    Figuras

    Figura 1 - Visão geral do conteúdo do livro........................................15

    Figura 2 - Evolução dos paradigmas ocidentais..................................49

    Figura 3 - Realidade Mecanicista - Iluminista.....................................51

    Figura 4 - O Quântico-relativista.........................................................76

    Figura 5 - A Teoria dos sistemas vivos...............................................87

    Figura 6 - A evolução da ciência do século XX..................................88

    Figura 7 – O desenvolvimento da física..............................................90

    Figura 8 - Desenvolvimento da Matemática........................................94

    Figura 9 - O Desenvolvimento da Biologia.........................................96

    Figura 10 - O desenrolar da teoria dos sistemas vivos........................98

    Figura 11 - A realidade do ser vivo - A ciência do século XX..........109

    Figura 12 - A realidade do ser vivo - Um novo paradigma...............115

    Figura 13 - Análise sistêmica dos ciclos vicioso e virtuoso (Adaptado

    de ARAUJO, 2003)...........................................................................148

    Figura 14 - A linha do tempo.............................................................188

    Figura 15 - Os quatro pilares da identidade.......................................210

    Figura 16 – Exemplo de mapa estratégico pessoal............................212

    Figura 17 - Exemplo de plano de ações.............................................214

    Figura 18 - Resumo da proposta do artesão do meu futuro...............217

    Figura 19 - Tabela de argumentações................................................238

    Figura 20 – Estrutura-padrão de um plano de projeto.......................247

    Figura 21 - Exemplo de EDT (Estrutura de Decomposição do

    Trabalho) de um projeto para construir uma cancha poliesportiva...249

    7

    Prefácio

    Compatibilizar o mundo interior com o mundo exterior é a proposta desse novo

    milênio. Heráclito (c.544-c.480a.C), filósofo grego, disse que o Universo é uma

    mutação constante na qual se equilibram os contrários, e que a harmonia dos

    contrários é a razão universal que rege os planos cósmico e humano. Como o

    nosso meio ambiente é o cosmos, a vida na Mãe Terra e o Universo interagem e

    formam um circuito sagrado de vibrações e ressonâncias que dinamiza e recria

    a existência.

    A vida se manifesta pelo atrito e a crise acrisola e separa as impurezas.

    Atualmente, estamos no crisol e em pleno processo de purificação. Depois de

    passarmos pela revolução filosófica, tecnológica e científica, estamos vivendo

    uma revolução ética e espiritual. É a revolução do despertar de uma ética

    diferenciada, cujos valores se enraízam no espírito e brotam na consciência,

    inspirando ações que transformarão o paradigma central do mundo moderno.

    Para viver esses valores, precisamos reaprender como entrar em contato com

    nossa interioridade, de modo a favorecer renovação pessoal e social. No nosso

    modelo pós-moderno tecnológico, mecanicista e imediatista, andamos por

    descaminhos que nos levaram a extrair tanto da vida que a empobrecemos.

    Espoliamos a natureza, desvendamos segredos da matéria, mas nos

    esquecemos de ser felizes. Em decorrência disso, sonhamos menos e nos

    preocupamos mais.

    As conquistas tecnológicas e científicas facilitaram as operações práticas,

    encurtaram distâncias e prolongaram o tempo útil de vida. Porém, nos

    afastamos da sabedoria e da sutileza do espírito que nos permite transcender e

    descortinar horizontes mais amplos. Nunca precisamos tanto descobrir novos

    significados para o que fazemos e qual o sentido de estar vivo. Temos urgência

    de reaprender a amar, de pôr a criatividade a serviço do Bem, da beleza, da

    brandura, da solidariedade e pureza de caráter.

    Este livro indica caminhos, pelos diálogos que abordam as diversas áreas do

    conhecimento, à importância de reavaliar posicionamentos diante das rápidas e

    irreversíveis mudanças no mundo.

    O autor aborda a integração do conhecimento e a prática dos valores humanos

    como ponto de partida para mudanças exponenciais na nossa percepção e

    comportamento diante da vida.

    Paulo Henrique Rathunde assumiu as rédeas do próprio futuro com carinhos

    de artesão e sugere uma reprogramação de prioridades pessoais e

    administrativas tendo como eixo os princípios universais que fundamentam o

    caráter humano.

    Certamente, a partir daí, surgirá um relacionamento mais profundo entre as

    pessoas e no ambiente de trabalho tudo será mais fluido e bem-sucedido. A

    qualidade da produção é otimizada quando a leveza e a alegria aproximam as

    8

    pessoas. As tarefas são sentidas como etapas de um sonho partilhado e a

    competência de lidar com conflitos e com o imprevisível faz que o desconhecido

    se torne uma nova realidade.

    Como a educação iluminista fragmentou o conhecimento e separou tecnologia

    de filosofia, razão de sentimento e o espírito do mundo, não somos educados,

    porém treinados, para seguir alimentando um padrão separatista e

    individualista voltado para a aquisição de habilidades sem considerar o amor

    pelo trabalho que se faz. A vocação – o chamado interior – quando acontece,

    envolve o coração e na escolha da profissão o que menos pesa é o lucro que ela

    possa oferecer. Toda preocupação com comparação, competição e dinheiro se

    fundamenta na tentativa de encaixar determinada meta em alguma das

    escolhas que a família e ou a sociedade já fizeram por nós.

    Por isso, quando guiados pela ambição artificial, o objetivo se reduz à fama e ao

    êxito financeiro. A satisfação e o prazer de servir passam a valer menos. Êxito

    também foi separado de excelência e plenitude. A excelência só se manifesta

    quando os indivíduos são vistos como pessoas integrais dotadas de corpo,

    mente, coração e espírito.

    Talvez você tenha dúvidas perturbadoras com relação às abordagens aqui

    colocadas e considere liderar em valores humanos uma utopia bonita, mas um

    desafio difícil de aceitar. À medida que você for lendo este livro, adquirirá uma

    compreensão do quanto esses princípios que estruturam a consciência

    precisam ser resgatados para que possamos formar lideranças criativas e

    eficazes, e empresas promotoras de prosperidade e abundância.

    O verdadeiro progresso é aquele que passa pelo filtro do coração humano e uma

    empresa que elege princípios éticos como prioridade prepara os alicerces para

    transformações profundas na sociedade. Todos nós estamos construindo nosso

    futuro e temos sobre os ombros uma responsabilidade sem precedentes. Nossas

    escolhas definirão não apenas o nosso futuro e o dos nossos filhos, mas da

    espécie humana e do próprio Planeta.

    Sejamos artesãos de um mundo melhor e mais feliz.

    Marilu Martinelli

    9

    Sou grato

    Do meu berço afloraram as bases firmes do que eu sou

    pelo exemplo, pelo amor, pela moral, dignidade.

    A meus queridos pais, eternamente serei grato

    pois regaram com esmero minha personalidade.

    Menino curioso, irrequieto, insatisfeito,

    as respostas de escritores anônimos buscava.

    Na razão afogava a ideia de uma obra

    que a paixão pela vida insistente resgatava.

    À perturbadora sensação do existente em trânsito

    desvelou-se fonte de princípios e valores

    abrindo-se acolhedoras as portas da SBEE.

    Saciou minha sede, amenizou as minhas dores.

    Do vinho que inspirava pueril filosofia,

    surgiam sábias e absurdas, insanas razões.

    DaquiAumAno, desafio de almas dúbias em encontros

    fermentava sonhos, delírios e paixões.

    Mas ainda me faltava a centelha inspiradora

    que incendiasse a insegurança pelo sonho embebida.

    Foi no Campus 21 finalmente que encontrei

    fogo ardente que limpou minha alma reprimida.

    Dos amigos, o incentivo e o apoio agradeço

    especialmente a Eduardo, mais que amigo, um mentor.

    Maury, Falcão, Solange, Celso, Marilu, Marlise e Paulo,

    a todos eles aqui expresso meu apreço e meu louvor.

    Irmão de sangue, irmão de alma, como incansáveis aves a aprender

    a voar mais alto, isso revela origem comum do mesmo ninho.

    À conjunção de fatos que rege nossas vidas,

    sou grato por cruzar com o seu o meu caminho.

    Amados filhos, doces almas, o bom Deus me confiou

    a inocência dos seus gestos que me alimenta a inspiração.

    Na incontida alegria que hoje trago estão presentes.

    A vocês, o reconhecimento de um responsável coração.

    O meu peito insensível foi em seu leito acolhido

    pelo bálsamo do amor e da sensibilidade.

    À minha esposa, com carinho, esta obra eu dedico

    e com amor lhe desejo saúde e felicidade.

    Pelo suor do rosto que me leva ao crescimento,

    pela possibilidade de útil eu ser de fato,

    pela luz que embala Seu filho pela vida,

    palavras faltam pra expressar o quanto Lhe sou grato.

    10

    Apresentação

    Esta obra é um convite para reflexão, acreditando que as verdadeiras

    transformações sociais e, por efeito, a melhoria das condições de vida no

    Planeta, podem ocorrer a partir de pequenas mudanças e ações efetivas

    de cada um, as quais, no conjunto, promovem as mudanças que

    desejamos.

    Foi escrito para pessoas abertas ao questionamento e ao repensar de

    suas próprias crenças. A proposta não é dar respostas, mas trazer

    subsídios para que cada um formule as próprias questões, a partir da

    visão de conceitos científicos, filosóficos e espirituais, atualmente

    tratados em todo o mundo.

    Seu conteúdo traz uma visão otimista sobre as possibilidades de um

    futuro calcado em valores humanos, em que a ciência, a filosofia, a

    religião e as artes são vistas no mesmo nível de importância, convivem

    de forma harmônica e se complementam para levar o homem a um

    melhor entendimento de si e do cosmos, em direção a uma vida mais

    digna e feliz.

    Diz-se muito que, após termos passado pela era agrícola e industrial, já

    saímos da era da informação e estamos agora na era da consciência. Mas

    o que isso significa? Precisamos compreender nossa condição de seres

    integrais e reconhecer a necessidade de um processo contínuo de

    autoconhecimento, como atores e portadores da cultura e como

    exclusivos responsáveis pela nossa vida, pela nossa liberdade e pelo

    nosso bem-estar.

    Precisamos entender nossa condição de unidade social e a

    interdependência que há em nossas relações com o outro. Precisamos

    ter consciência da nossa condição ecológica e da interdependência do

    ser humano com seu meio, bem como da nossa responsabilidade como

    construtores e construídos. Precisamos compreender nossa condição

    cosmológica e a interdependência da espécie humana com o Universo e

    com Deus.

    Somos livres à medida que entendemos essas relações de

    interdependência e assumimos, de forma consciente, o nosso papel

    nessa grande peça teatral que é a vida. Ser livre, portanto, significa ter

    condições de criar os próprios compromissos perante a vida e responder

    por suas consequências.

    11

    As leis de causa e efeito nos posicionam como responsáveis pelo próprio

    destino e evidenciam o enorme potencial de transformação que cada um

    traz em si. Somos, por natureza, agentes de transformação. Porém, é

    nossa tarefa escolhermos que transformações queremos para o mundo.

    Assim, nossas ações, paulatinamente, constroem um futuro na direção

    do inferno ou do paraíso.

    O conhecimento nos permite estabelecer objetivos que determinam

    ações corretas. O agir deve ser subsidiado pelos resultados da ação,

    considerando não apenas as consequências diretas, imediatas, lineares

    da ação, mas também as consequências circulares em decorrência da

    teia de interdependência. Conscientizar-se desses elementos significa

    tomar conta do pincel que, aos poucos, produz a obra de arte que cada

    um quer para o seu futuro.

    Entretanto, de nada adianta um bom objetivo se o caminho escolhido

    não conduz a ele. Ao iniciarmos a caminhada, nossos cantis devem

    conter os ingredientes que nos levarão ao final vivos, com dignidade e

    felicidade. Falamos da paz, do amor, da verdade, da não-violência e da

    ação correta para que a caminhada seja tranquila e tenhamos sempre a

    ajuda daqueles que já caminharam um pouco mais, tenhamos a

    companhia dos entes queridos e possamos ajudar os que necessitam.

    Muitas pessoas têm vontade de ajudar, de fazer algo pelo social como

    voluntárias, mas não conseguem, pois suas vidas são como novelos de lã

    embaraçados. Precisamos permanentemente ajeitar nossa casa interior

    para termos equilíbrio e conhecimento de causa. Não se trata de

    egoísmo, mas de fortalecer as bases para uma ação efetiva. Trata-se de

    começar encontrando o fio da meada e, pacientemente, desvendar-se a

    si mesmo, descobrindo quanto valor existe por detrás da confusão.

    Outras pessoas têm sua casa arrumada, mas empenham esforços e

    energia sobretudo na construção material. São em geral bem-sucedidas,

    do ponto de vista mais comum de entendimento de sucesso, mas são

    suscetíveis à infelicidade. Basta uma interrupção prolongada no seu

    período de trabalho para sentirem-se inúteis, pois, no seu íntimo, sabem

    que o que fazem não agrega valor, apenas preenche o tempo e a mente.

    Portanto, a consciência deste complexo sistema que é a vida nos permite

    tomar decisões mais acertadas sobre o que seja melhor para nós, como

    indivíduos, para a humanidade, para o Planeta e para o Universo. Isso é

    o que significa estarmos na era da consciência. Não é apenas mais um

    modismo, mas um alerta para assumirmos o nosso papel de maneira

    efetiva, com liberdade, na construção de um mundo melhor.

    12

    Analiso aqui a admirável linha do tempo, construída dia a dia como

    resultado das ações de cada ser vivo atuando no Planeta. Considero a

    ideia ampla de vida, não apenas como matéria orgânica, mas como

    complexo inteligente do Universo. Nesse contexto, o homem, consciente

    de si, de seu mundo e de sua própria consciência, passa a enxergar-se

    como agente responsável pelo bem-estar social, sobretudo quando a

    tecnologia disponível o potencializa para ações transformadoras cada

    vez mais contundentes. Sua liberdade, limitada pela percepção de

    cultura, pela inteligência e contingências, tem os horizontes ampliados

    pelo autoconhecimento. À medida que reconhecemos as consequências

    das próprias ações e assumimos a responsabilidade como agentes na

    vida, ampliamos possibilidades de escolhas, portanto, a própria

    liberdade.

    A partir da conscientização da complexidade da vida e de nosso

    potencial transformador, temos a opção de manter as coisas como estão

    e de nos deixar levar pelo destino ou utilizar as ferramentas adequadas

    para promover as necessárias transformações na direção de um futuro

    melhor.

    Para conseguir fazer esta caminhada rumo à realização pessoal, é

    necessário começar a fazer algumas perguntas para si mesmo. A

    primeira delas é: quem sou? A segunda, o que quero para a minha

    vida? . Embora estas perguntas devam incomodar muita gente, as

    respostas não são, de forma alguma, óbvias nem mesmo fáceis. Mas a

    análise não pára por aí, pois há mais perguntas: Como realizar os

    nossos sonhos, as nossas grandes ideias? Como aumentar a

    probabilidade de dar certo o que estamos pensando? Eis aqui

    perguntas que afligem a todos nós que temos sonhos e grandes ideias

    que acabam virando frustrações quando começamos a pensar em

    transformá-los em realidade. Na prática, as coisas parecem ser sempre

    mais difíceis do que imaginamos, principalmente quando envolvem

    outras pessoas e recursos financeiros.

    Para auxiliar nestas reflexões, este livro foi estruturado em três partes.

    Na primeira, a cultura é vista como uma das limitantes da nossa

    liberdade de ação. Analisamos a evolução do pensamento ocidental nos

    últimos quinhentos anos, culminando nos mais recentes temas que

    estão em discussão nos ramos da ciência, da filosofia e da religião.

    O leitor também é provocado a fazer reflexões sobre como a cultura

    pode absorver a nossa atenção, fazendo-nos agir de forma inconsciente,

    de acordo com os padrões estabelecidos como verdadeiros pela

    sociedade. Além disso, esta mesma cultura nos conduz à construção de

    13

    um sistema de crenças que, aos poucos, cria-nos limites intransponíveis.

    É preciso perceber que esses limites são criados por nós mesmos,

    configurando-se como os nossos complexos. Portanto, a solução para os

    nossos problemas nunca será encontrada em qualquer lugar que seja, a

    não ser no interior de cada um.

    Na segunda parte, proponho uma reflexão sobre a nossa própria

    identidade a ser descoberta, cuidadosamente, como faz um garimpeiro

    em busca de pedras preciosas. Muito entulho deve ser retirado para

    alcançarmos nossos verdadeiros valores, o verdadeiro ser que habita em

    nós.

    Neste caminho, buscamos a nossa essência como seres integrais, a

    compreensão das influências culturais às quais estamos sujeitos e os

    mecanismos de inter-relacionamento e interdependência que nos ligam

    ao cosmo. Proponho que a identidade pessoal seja reconhecida na

    perspectiva da interatividade do eu com o nós, a sociedade, o ambiente

    e a espiritualidade, partindo do princípio de que é por meio dessas

    relações que somos capazes de nos conhecer.

    Sobre a identidade fortalecida pode-se utilizar estratégias pessoais para

    a definição de um propósito maior que dê sentido à existência,

    alimentando sonhos. Chega, então, a hora da realização.

    A terceira parte deste livro foi escrita para incentivá-lo e ajudá-lo a

    construir um plano de projeto atraente, mostrando estratégias que

    podem ser utilizadas, com o propósito de organizar e estruturar suas

    ideias e aumentar, assim, a probabilidade de realização de um sonho.

    Como diz Souza, o primeiro passo para tornar um sonho realidade é

    transferi-lo para o papel, formalizando um projeto (2000, p. 99).

    Ao longo do livro, muitas vezes, a escolha de uma linguagem

    diagramática tem por objetivo servir como instrumento complementar

    da leitura, como a síntese esquemática do texto corrido. Cada tópico do

    texto corresponde a um elemento do diagrama, tornando-se fácil,

    portanto, estabelecer uma relação. Já lançando mão deste recurso, eis

    um resumo esquemático da proposta geral deste livro:

    14

    Figura 1 - Visão geral do conteúdo do livro

    Uma outra dica que diz respeito ao formato desta obra é que ela foi

    escrita em forma de romance. O cenário é a Escola Travessia e a

    história é vivida por seis alunos, sua orientadora e os diversos

    professores que compartilham suas aulas durante algumas semanas.

    Estas aulas trazem fundamentos conceituais baseados na literatura

    científica e filosófica atual que, portanto, podem ser utilizados como

    referência bibliográfica para outros trabalhos. Contudo, a história que

    permeia as aulas ao longo do livro é uma obra de ficção na qual me senti

    à vontade para inserir propositadamente diálogos sobre temas algumas

    vezes polêmicos, a fim de fomentar a reflexão dos leitores. Para uma

    fácil identificação, as aulas e a história foram escritas com fontes de

    caracteres diferentes.

    Este livro é um convite para atuarmos na peça de nossa vida de forma

    leve, descontraída, divertida, aprendendo e ensinando, amando e sendo

    amados, num processo em que não há perdedores e, ao final, todos nos

    aplaudiremos de pé.

    Este trabalho explora também a importância de se conquistar um estado

    de felicidade interior que promova as nossas ações, orientadas pela

    15

    vontade do espírito, pois, como disse Henfil, "Não existe caminho para a

    felicidade. A felicidade é o caminho".

    Artesão, está na hora de começarmos a construir uma nova

    possibilidade de futuro. Pegue suas ferramentas e boa leitura!

    O Autor

    Curitiba, Outono de 2004

    16

    PARTE I

    Novas concepções da realidade

    17

    18

    1. O dia da chegada

    O ser humano existe para permitir uma realização

    única de Deus.

    Leonardo Boff

    – Há algumas regras nesta escola que precisam ser seguidas. É uma

    questão de autodisciplina, você sabe. Ensinamos aqui não só o que está

    no currículo do curso, mas também tudo o que contribuirá para que

    você se encontre como indivíduo ativo, capaz de utilizar plenamente o

    potencial daquilo que você é. Há um horário para levantar e para ir para

    a cama. O horário das refeições deverá ser respeitado. Um sino será

    tocado para anunciar o início de cada atividade. A arrumação da cama

    fica por conta de cada aluno. Não recomendamos sair dos limites da

    escola pois é muito perigoso, e nunca se esqueça disso. No seu quarto há

    roupas de cama e toalhas limpas e as demais orientações que você

    precisará conhecer. Há também um revezamento para o trabalho. Você

    deve voluntariar-se de acordo com as suas habilidades e anotar o seu

    nome semanalmente no quadro de trabalho que fica na entrada do

    refeitório. Você vai gostar daqui. O ritmo é bastante puxado, mas os

    resultados são excelentes. Além do mais, você fará grandes amigos, pois

    as pessoas que farão parte da sua turma não estarão aqui por acaso.

    Você perceberá isso facilmente no decorrer de alguns dias. Leopoldo

    encaminhará você aos seus aposentos, que será compartilhado com

    outros dois rapazes. O sino tocará amanhã às seis horas para os

    exercícios de relaxamento e meditação, que começam às seis e quinze. O

    café da manhã será às sete horas e a primeira aula às oito. Não se atrase.

    Por hoje você poderá caminhar um pouco e conhecer o local. Em nome

    da diretoria e de toda a coordenação, dou-lhe as boas vindas e desejo-

    lhe uma ótima estada. Alguma pergunta?

    19

    – Nã ... Não, dona Carmem – falei, após um momento de hesitação,

    ainda embriagado com a aparente rigidez da escola e das tantas regras

    despejadas impiedosamente em meus ombros.

    – Ótimo. Leopoldo!

    – Pois não dona Carmem.

    – Mostre ao senhor Rafael Alcântara onde é o seu quarto, depois volte

    aqui que eu preciso falar com você.

    – Sim, senhora. Queira acompanhar-me por gentileza, senhor.

    – Claro. E ... e obrigado, dona Carmem.

    Cheguei à escola por volta das duas da tarde, num carro preto, guiado

    por um tal de Alfredo, motorista aposentado que fazia um bico aqui,

    outro ali. Ao entrar pelo portão tive uma daquelas visões que jamais

    desaparecem da nossa memória. Com o prédio da escola e um lindo

    bosque como pano de fundo, ela estava trabalhando no jardim,

    aparando as folhagens. A luz que irradiava de seus olhos chamou-me a

    atenção já à primeira vista. Mais tarde descobri seu nome, Silvana.

    A Escola Travessia era um local belíssimo, um ambiente rural propício à

    integração do homem com a natureza. Totalmente arborizado, com

    bosques, um belo pomar e uma lavoura cultivada pelos próprios alunos

    nas aulas de prática de alimentação natural.

    Mais acima, em meio a diversas árvores, próximo a um bosque, ficava a

    sede com a administração, as salas de aula e os quartos femininos. A

    pouco mais de vinte metros dali ficava o alojamento masculino. Um

    lindo lago próximo ao pomar preenchia uma ampla depressão que

    quebrava a rotina do vale por onde percorria um pequeno riacho de

    águas cristalinas.

    A infraestrutura contava com uma cancha de esportes, uma piscina e

    sauna, tudo, enfim, que se poderia esperar de um local confortável para

    se passar algumas semanas isolado do resto do mundo. Uma cerca, não

    muito alta, estabelecia os limites da escola para o mundo lá fora.

    Recebemos a recomendação de não ultrapassar a cerca, pois se o

    fizéssemos, a escola não poderia garantir a nossa segurança.

    Após conhecer detalhadamente o meu quarto, onde ainda encontrava-

    me sozinho, pois os meus colegas não haviam chegado, saí para

    caminhar um pouco e conhecer a escola, como havia sido sugerido por

    dona Carmem.

    – Belas frutas, não é mesmo?

    20

    Fui surpreendido com esta observação por uma voz suave e meiga ao

    caminhar pelo pomar, um local repleto de árvores frutíferas de todos os

    tipos, para todos os gostos. Eu mal podia acreditar. Era aquela moça que

    eu avistara no jardim quando cheguei, agora podendo observá-la mais

    de perto. Seus traços eram suaves como uma pluma, seus cabelos loiros

    escorregavam pelo rosto, agitados por uma leve brisa. Tinha um ar

    sereno e demonstrava confiança. Sorri para ela sem saber o que dizer.

    Talvez uma boa tarde fosse o suficiente, apesar de muito tradicional.

    Enquanto eu vacilava com minhas palavras, ela apanhou uma das maçãs

    sobre as nossas cabeças que se impunham num contraste avermelhado

    sobre o verde das folhas. Entregou-me demonstrando a nítida intenção

    de fazer amizade.

    – Sou Rafael, muito feliz por conhecê-la, senhorita – soou um tanto

    formal demais, mas pelo seu sorriso, percebi que não me saí mal.

    – Olá, Rafael, meu nome é Silvana. Seja bem-vindo!

    – Obrigado. Você também é aluna?

    – Oh, não, estou aqui como aprendiz – disse ela – para tornar-me

    professora um dia. Mas já fui aluna desta escola, há dois anos. De onde

    você é?

    – Vim de Curitiba – ao falar de minha origem, lembrei de minha família

    – Engraçado, acabo de chegar e já estou com saudades de meus

    familiares.

    – Posso imaginar. Também passei por isso. Mas quando reencontrei

    minha família após concluir o curso foi um momento tão maravilhoso

    que compensou o tempo que passei distante. Na ocasião, fui convidada

    pela coordenação para assumir a função de aprendiz e tornar-me

    professora. Ao contar a novidade ao meu pai, ele não pôde conter o seu

    entusiasmo, pois era uma oportunidade ímpar de desenvolvimento

    interior. Além disso, ser professora de uma escola como esta é motivo de

    alegria para qualquer família.

    Enquanto falava, eu a observava em todos os detalhes. Sua voz, seus

    gestos, suas palavras. Algo me dizia que não se tratava de qualquer

    pessoa, mas de alguém muito especial.

    – O reencontro com familiares, que há muito eu não via, não abraçava,

    foi algo mágico e emocionante. Agradeci a Deus por aquele momento e

    compreendi que, embora dolorosa, uma separação nos renova e nos

    ensina a lidar com sentimentos que de outra forma não poderiam ser

    trabalhados. Percebi que o reencontro é sempre possível para aqueles

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    que se amam, pois o amor aproxima as pessoas, apesar de qualquer

    distância que as separe – continuou ela.

    Silvana fez uma pausa como se estivesse sentindo novamente a emoção

    daquele momento. Aproveitei para fazer uma pergunta:

    – E você, Silvana, de onde veio?

    – Rio de Janeiro. Eu me acidentei gravemente e fiquei em coma por

    alguma semanas. Isso me fez pensar um bocado sobre o significado da

    vida. Quando melhorei, vim para cá. É engraçado, não? Às vezes é

    preciso que uma tragédia nos tire da rotina para começarmos a fazer

    algo por nós mesmos.

    – Teve sorte por ter sobrevivido – comentei – E então você desistiu do

    jornalismo para tornar-se professora...

    – Não é tão simples assim. Quando se passa por uma situação como

    estas, ficando entre a vida e a morte, acabamos por questionar os nossos

    valores. Aquilo que fazia o maior sentido antes, acaba desabando como

    lixo aos nossos pés. Começamos a questionar por que estamos vivos,

    qual é o nosso papel neste mundo, percebemos que a distância entre a

    vida e a morte é menor do que a espessura de um fio de cabelo. Basta

    um descuido e vap, você, naquele momento, daria tudo o que

    conquistou para poder permanecer vivo. E quando melhora, é como se

    realmente você tivesse distribuído todos os seus bens, todas as coisas

    que lhe davam orgulho de possuir. Não retornamos de uma situação

    destas como éramos antes. Este curso acabou ajudando-me a refazer o

    meu sistema de crenças e construir novos valores para a vida. Quando

    me convidaram para ser aprendiz, não tive dúvidas, aceitei na hora.

    – Não sei se eu teria tanto desapego a ponto de largar tudo. Quando

    viajo tenho saudades do meu carro, do meu quarto, das minhas roupas,

    da minha coleção de canetas...

    – Não se preocupe. Quando o curso terminar teremos outra conversa

    sobre este assunto e a sua opinião talvez venha a ser diferente. Aliás,

    sobre muitas coisas a sua opinião provavelmente será outra. Por

    exemplo, você acredita que o fato de nos conhecermos hoje é mero

    acaso?

    – Se não acreditasse nisso, eu estaria acreditando em predestinação.

    Não consigo conceber a ideia de que meu destino já fora traçado e que

    não tenho opções sobre ele.

    – Também não acredito nisso, mas não precisa ser tão extremista.

    Nosso pensamento gera sincronicidades que não há como acreditar

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    serem meras coincidências. Creio que o nosso mundo existe em função

    daquilo que pensamos. Faz sentido para você?

    – Não estou bem certo.

    – Vou contar-lhe apenas um dos episódios que me aconteceram, Rafael.

    Ao retornar à escola no período seguinte para começar o exercício da

    minha nova função, reencontrei uma velha amiga, Cláudia, também ex-

    aluna, que se iniciava na função de aprendiz no mesmo dia. Quando

    éramos adolescentes, nossa amizade era tão forte que frequentemente

    nos flagrávamos adivinhando o pensamento uma da outra. Nossa

    amizade tinha algo que ia além dos cinco sentidos. Após partir, quando

    seu pai, então militar do exército, foi transferido para o norte do país,

    continuamos escrevendo uma para a outra. Ao reconstruir nossos

    círculos de amizade escrevíamos cada vez menos, mas mantínhamos a

    convicção de que a nossa amizade não se deteriorava, pelo contrário,

    fortalecia-se a cada dia, mesmo tão longe uma da outra. A passagem por

    esta escola fez-me relembrar da minha velha amiga. Sentia muita

    saudade. Escrevi várias cartas, sem receber resposta. Pensei muito nela

    e sobre como seria bom se ela estivesse aqui comigo.

    – Talvez tivesse mudado de endereço – comentei.

    – É, talvez. Mas ao retornar à escola no período seguinte para iniciar

    minha atividade como aprendiz, quase caí de costas ao ver Cláudia em

    minha frente, também ex-aluna, iniciando na mesma função que eu. Foi

    mais um reencontro que comprovou a minha teoria a respeito do amor e

    da sincronicidade. Ela não estava ali por acaso; queria o reencontro e

    trabalhou mentalmente para

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