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Os Mundos De Eric Mcwalenski
Os Mundos De Eric Mcwalenski
Os Mundos De Eric Mcwalenski
E-book252 páginas3 horas

Os Mundos De Eric Mcwalenski

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Sobre este e-book

No exílio, o psicólogo e ex-professor Eric McWalenski (Filipe, para alguns), que ajudou a detetive Marie “Bourne” a denunciar um crime de pedofilia, agora investigará o próprio passado, na tentativa de encontrar respostas para os sucessivos e intermináveis sintomas da síndrome pós-traumática que o acompanha. Como se estivesse perdido num labirinto, andando pelos desafiantes caminhos no mundo real (a fome, a solidão, o abandono, a velhice, a morte…), no mundo do passado (memórias anotadas ou não nos diários), no mundo fantástico (sonhos, devaneios, utopias…) e no mundo virtual (superutilização de softwares de segurança nas mídias), McWalenski poderá acreditar ter encontrado a saída, ao ficar diante de possíveis provas que conseguirão derrubar forças poderosas que golpeiam as frágeis instituições do seu sofrido país.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de set. de 2017
Os Mundos De Eric Mcwalenski

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    Os Mundos De Eric Mcwalenski - Marcos Antonio Da Silva Lima

    Marcos Antonio da Silva Lima

    denominada Odontokkkkkkk!!!, ré num processo que ele

    move há quase um ano).

    Psicólogo e ex-professor especializado em Filosofia e

    História, McWalenski, convidado para ir a Sarnyranhópolis

    (capital da República de Sarnhiranhão) pela detetive Marie

    Joanita Francischova (também conhecida como Marie

    Bourne), ajudou a investigar um crime cometido pelo

    senhor Phedophillovich (um homem casado com a

    Escravinovna, irmã por parte de mãe de McWalenski que

    viveu distante dele desde quando foi levada, juntamente

    com o mano Rublopov, pela tia paterna, pra esta capital

    dos Sarnystalinov, representantes da extrema direita da

    ditadura stalinista que comanda aquelas terras). O

    psicólogo terminou descobrindo que o cunhado abusava de

    sua própria filha de sete anos de idade. Depois de

    juntarem as provas, uma fonte de Bourne descobriu que

    aquilo levava a uma rede de pedofilia internacional

    envolvendo gente influente e poderosa, como políticos,

    religiosos, agentes da ex-KGB e juízes. Então Bourne

    formalizou a denúncia via telefone, no Disque 400, direto

    pra Moscou. Ambos tiveram que fugir, uma vez que ela foi

    perseguida por policiais descaracterizados e ele, além de

    perseguido, foi ameaçado e baleado, quase morreu. Marie

    Bourne, que trabalha no La Défense, o centro financeiro

    de Paris, fugiu para a cidade luz primeiro do que

    McWalenski1.

    1

    Sobre essa história, leia O Crime da Rua Sarnystalinov,

    publicado em 2015, por este autor.

    17

    Os Mundos de Eric McWalenski

    Estes detetives tiveram um caso amoroso durante as

    investigações do crime cujo desenrolar ficou anotado no

    livro Disque 400, escrito por Eric McWalenski. Ele se

    apaixonou por ela e esperava propor-lhe algo mais sério.

    Ainda nos momentos de fuga em seu país, após sofrer

    ferimento a bala e cair num lago congelante, sobrevivendo

    graças a solidadriedade de um casal de idosos que vivia

    nas montanhas; durante os dias em que se recuperava na

    casa daqueles que ele passou a considerar como seus novos

    pais por terem tirado-o da beira da morte, Eric

    McWalenski entrou em contato via e-mail criptografado

    com Marie Franscischova. A fonte que ajudou nas provas

    do crime que Bourne denunciou era uma bióloga

    descendente de franceses, sua ex-colega de faculdade. Foi

    esta mulher quem preparou, com seus contatos, a nova

    identidade do então Filipe, que passou a usar um antigo

    nome que só seus familiares por parte de pai sabiam, ou

    seja, Filipe passou a se chamar Eric McWalenski.

    Conseguiram um passaporte para a França e ele viajou

    para Paris, onde foi ajudado por Bourne em sua

    adaptação no exílio.

    Durante o tempo que ficou se recuperando aos

    cuidados do casal de aposentados, ele aproveitou para

    escrever sobre tudo isso que acabara de viver e sofrer.

    Seus apontamentos diários anotados em código foram

    transformados em um livro que intitulou Disque 400.

    Com muita dificuldade, somente dois anos após chegar na

    capital francesa, sem se comunicar com nenhum parente ou

    amigo, conseguiu publicar seu livro através de uma

    18

    Marcos Antonio da Silva Lima

    daquelas editoras virtuais, embora sem aqueles serviços

    profissionais de diagramação, capa, etc, que são exigidos –

    ele fez tudo, desde revisão ortográfica até o desenho da

    capa, e conseguiram publicar mesmo sem o tal selo de

    qualidade, tendo como despesa, por sua escolha, apenas o

    pagamento do ISBN (International Standard Book Number),

    o padrão internacional de numeração de livros no formato

    impresso. O fundamento deste sistema é a identificação de

    uma edição específica de determinada obra literária. Eric

    pagou também o e-ISBN, ou seja, o ISBN para livros

    digitais.Ultimamente andara desconfiando que fora enrolado

    no tocante aos seus royalties, que até agora se diz, pela

    estatística do site da editora, só contabilizou 4,5 dólares,

    sendo que seu ganho é de US$1,5 por unidade vendida ao

    preço de US$20. Porquanto, só vendera os dois volumes

    impressos que ele próprio comprou e mais um. Uma vez

    tendo observado pelo Facebook que uma parente havia lido

    sua obra de forma virtual - o que lhe daria um lucro

    maior conforme o contrato, já que o livro lido no

    computador ou celular deveria render-lhe, por unidade, em

    torno de cinco dólares-, ficou com a pulga atrás da orelha.

    Ou seja, parece que caíra numa cilada, riscos a que

    escritores pobres e de primeira viagem, empolgados pelo

    sonho de serem reconhecidos pela crítica, tendem a passar.

    Mas o importante era que, através deste trabalho,

    contaria a todos o que se passou, principalmente para os

    conhecidos seus que não sabiam seu paradeiro, sobretudo

    os poucos parentes que o viram fugir e os amigos de

    19

    Os Mundos de Eric McWalenski

    Dalask, cidade onde viveu por vinte anos, e que teve que

    abandonar às pressas, sem se despedir ou explicar o

    motivo, quando encarou o desafio de descobrir que crime

    se passava na casa de sua mana. Escreveu Disque 400

    de forma fictícia (inventou personagens, nomes de lugares,

    etc, mas foi verídico, em seus muitos e pormenorizados

    detalhes dos fatos tais quais presenciou).

    Sabedor que era de que celulares, e-mails, redes

    sociais, etc, estão a serviço de poderosos no que tange ao

    recolhimento de informações, dados de localização,

    gravações de conversas, históricos de pesquisas em sites,

    etc, de qualquer usuário, sobretudo depois das revelações

    de Edward Snowden, McWalesnki passou a estudar um

    pouco sobre o assunto, daí sua raiva manifestada aos

    diretores do Facebook quando não conseguiu acessar aquela

    página. Como ele queria informar às pessoas que o

    conheciam sobre o que lhe aconteceu nos últimos anos e

    voltar a se comunicar com eles, a maneira mais fácil era

    pelo Facebook, a rede social massificada do momento.

    Infelizmente, não encontrou ninguém de seu círculo que

    utilizasse outros meios, digamos, menos reveladores de

    dados, como o Diaspora*, uma rede social federada (a

    propósito, navegava nestas praias há tempos sem nenhum

    amigo conhecido no mundo real e ultimamente dera para

    bloquear um cara que insistia em ser adicionado,

    identificado apenas por cOSmo vindo de um POD do

    Diaspora* chinês, de Pequim; o bloqueou devido a possível

    conteúdo pornô, certamente trazendo vírus). Assim foi que

    lançou o livro no dia em que adicionou os amigos no

    20

    Marcos Antonio da Silva Lima

    Face, de forma que este é um dos seus maiores interesses,

    ao lado do trabalho e agora de Solucielle, que o conforta e

    faz suportar os infortúnios do exílio.

    Naqueles primeiros meses nas terras da Revolução

    de 1789, antes de empregar-se no Le Carrousel du Louvre,

    tudo parecia ser a realização de um sonho para

    McWalenski: estava com Marie Joanita, aquela que poderia

    ser a mãe de seus tão desejados filhos. Continuaram a se

    amar morando juntos por três meses, até ele começar a

    desconfiar que tinha algo errado com as visitas constantes

    da amiga, e fonte, de Bourne que o ajudara a fugir.

    Depois de algumas indiretas dele na busca pela verdade, a

    detetive terminou por surpreendê-lo ao propor um

    triângulo amoroso com aquela bióloga. Só aí é que caiu a

    ficha. Marie confessou-lhe que começou a mudar suas

    preferências amorosas a partir do trauma sofrido pelas

    mortes trágicas de seus dois filhos num "acidente de

    trânsito" lá na Sibéria, causado pelo próprio pai dos

    meninos ao queimar arquivos vivos, pois ele abusava

    sexualmente das crianças, sendo que ela havia descoberto e

    denunciado para as autoridades, que nunca o pegaram –

    fato este que a motivou a se formar em Direito. Pois bem.

    Esse acontecimento a levou a diminuir a vontade de gerar

    filhos novamente e desenvolver o gosto por amar mulheres,

    e a primeira a lhe ajudar nisso, na prática, foi uma aluna

    com sotaque francês que estudava Ciências Biológicas na

    mesma faculdade em que Bourne frequentava e que hoje

    a visita tanto, despertando nele questionamentos sobre o

    comportamento das mulheres.

    21

    Os Mundos de Eric McWalenski

    Obviamente, como McWalenski queria tanto formar

    uma família daquela antiga forma tradicional, monogâmica,

    romântica, resquícios da formação judaico-cristã que

    recebeu (amar uma mulher, ter filhos, acompanhando a

    formação e educação deles desde a fase fetal), e por ainda

    não ter percebido a importância do amor incondicional,

    terminou por não aceitar a proposta, optando por ficar

    apenas como amigo de Bourne e de sua amante.

    Assim, pois, é que foi morar sozinho pela Grande

    Paris. Preferindo nunca arranjar empregos nas áreas em

    que era formado (embora seu francês não fosse lá de se

    jogar fora), optou, desde o começo – e isso faz parte de

    seu disfarce (segundo sua crença, correria menos risco de

    ser reconhecido pelos seus oponentes siberianos, que

    certamente teriam ramificações por ali)-, por trabalhar em

    serviços braçais e/ou insalubres, geralmente extraoficiais,

    oferecidos pelo Gueto, espécie de organização mantida por

    ex-estrangeiros ou franceses que ajuda pessoas vindas legal

    ou ilegalmente (desde que para fins pacíficos ou

    humanitários) para a França.

    Durante sete meses Eric trabalhou como auxiliar de

    cozinha num restaurante nas proximidades da Torre Eiffel.

    Depois de um tempo desempregado e recebendo ajuda

    extraoficial governamental - longe de ser produto de um

    possível resultado do programa de proteção a testemunha

    (não pôde recorrer a este recurso porque foi ameaçado

    indiretamente, se tivesse sido comunicado de forma direta

    a respeito da vontade que o cunhado tinha de matá-lo, aí,

    22

    Marcos Antonio da Silva Lima

    sim, estaria, oficialmente, sob os cuidados dos governantes

    de sua terra) -, voltou a trabalhar como ajudante de

    gesseiro pra uma firma terceirizada durante seis meses.

    Isso, de certa forma, foi bom, pois permitiu a ele conhecer

    boa parte da cidade, incluindo as mansões dos bairros da

    zona oeste, uma vez que esta empresa tinha diversos

    contratos e, como ele era novato, não tinha um ponto fixo,

    ficando sempre à disposição para substituir os funcionários

    que faltavam. Saiu de lá reclamando direito à

    insalubridade. Foi até o Gueto e entrou com uma ação

    judicial que ainda tramita.

    Após poucos dias parado, arranjou, já há mais de

    cinco meses, esse atual emprego como auxiliar de limpeza

    no Shopping Le Carrousel du Louvre, local que o

    despertava interesse como ambiente de trabalho desde que

    chegou à cidade luz, afinal, este centro comercial se

    encontra no subsolo de um dos mais importantes – e o

    mais visitado - museus do mundo. Para sua área de

    estudos, é como se estivesse fazendo uma pós-graduação só

    em pensar que tinha à sua disposição diariamente, para se

    maravilhar, obras de arte e cultura humanas do Ocidente e

    Oriente datados de mais de oito mil anos.

    Nestes dois anos e meio tentando se adaptar no

    exílio, e por força daquilo que o vinha atormentando desde

    o começo de sua vida na Europa Ocidental – a saber, sua

    crescente sensação de que estava sendo vigiado, de que

    poderia ser morto a qualquer momento -, McWalenski, tal

    qual nos seus empregos, também, propositadamente, não

    23

    Os Mundos de Eric McWalenski

    durava muito tempo nos seus locais de morada. Andou

    alugando moradias com um só cômodo no Saint-Ouen,

    Aubervilliers, Pantin, Romainville e atualmente mora em

    Bobigny, uma pequena cidade suburbana a nordeste de

    Paris. Parou de ligar para o serviço governamental onde

    Marie Bourne tinha feito a denúncia porque este órgão

    dizia que, para saber o que procurava, isto é, o andamento

    e resultados dos trabalhos de investigação dos peritos, teria

    que ligar para um número de telefone estatal de

    Sarnyranhópolis. Logo, como não confiava naqueles

    profissionais, não o fez, visto que revelaria sua localização

    atual.

    24

    Marcos Antonio da Silva Lima

    2º Capítulo

    SOLUCIELLE?

    Tu vai passar o resto da vida se escondendo?,

    continuava a ecoar na cabeça dele a pergunta da moça, no

    momento em que ele vestia o uniforme e pegava alguns

    materiais de limpeza solicitados por um colega que estava

    cuidando dos sanitários que ficavam no caminho pra onde

    se dirigia. Esse colega dele era meio esquecido das coisas,

    de forma que McWalenski sempre procurava auxiliá-lo no

    trabalho e o defendia contra os bullyings de que era

    vítima. Com essas atitudes, e uma dose de sorte talvez

    misturada com o fato de que o chefe revelara aos demais

    colegas de Eric que ele estava ali numa emergência, pois

    era professor de formação, mas que ali tinha se

    transformado no melhor auxiliar de limpeza dos últimos

    meses, foi que Eric conseguiu passar pro turno do dia com

    poucas semanas de contrato – e, é claro, às custas de

    muitas braçadas rápidas ao esfregar o chão e lavar os

    vasos sanitários (que aliás lhe provocara certa dor crônica

    no pulso direito).

    Gostava de rememorar aqueles primeiros dias que

    ali chegou porque, mesmo já tendo passado todo esse

    tempo desde que deixou Marie Joanita, jamais quis pensar

    em arranjar outra namorada, tamanho foi seu trauma com

    25

    Os Mundos de Eric McWalenski

    o fim do romance. Assim, o foco nas coisas do trabalho

    era essencial. Ademais, sempre repetia que não devia

    misturar trabalho com vida sentimental. Quando lhe

    dirigiam alguma pergunta com intenção de saberem sua

    intimidade, não se cansava de citar a famosa frase de

    Goethe: "Quando estamos em sociedade, retiramos a chave

    do coração e a guardamos no bolso; quem a deixa no lugar

    são os tolos".

    Todavia, não entendia bem os motivos pelos quais,

    no início, não reparou em Solucielle de forma a atrair-se

    por ela, pelo contrário, chegou até a chamá-la de gorda,

    assim, na cara dela, embora ele explicasse que era pro seu

    bem, pois isso a faria cuidar melhor da alimentação que

    ela o confessava ser exagerada e tinha pouco controle. Na

    verdade, a área cerebral de McWalenski, a que ele não

    comanda, isto é, seu instinto, já tinha percebido a chance

    de conseguir essa mulher pra si. Era uma jogada apelativa

    para o padrão de beleza corporal imposto, há tempos,

    pelos europeus, tão difundido nesses tempos de internet:

    ele poderia ser um velho de dentes horríveis, mas era

    professor formado e tinha relativa experiência de vida;

    enquanto que ela, embora fosse uma jovem de belo rosto,

    estava bem acima do peso ideal para a estatura e sua

    formação educacional ainda não tinha sido completada.

    Poderia ser uma troca justa, calculara seu

    inconsciente: em breve tempo ele poderia conquistar um

    emprego melhor, conseguir pagar os implantes dentários

    (quem sabe, até com o possível ganho de causa que o juiz

    poderia lhe dar na ação movida por danos morais e

    26

    Marcos Antonio da Silva Lima

    materiais contra a clínica) e, com seus conhecimentos

    adquiridos da formação na faculdade de psicologia e

    especializações, poderia ajudar Solucielle na perca de peso,

    incentivando-a que voltasse os estudos e se formasse na

    área que desejasse, inclusive Teologia, se assim o quisesse.

    E ele estaria disposto até a entrar na religião dela, se fosse

    o caso. E viveriam felizes para criarem um ou dois filhos.

    A mudança de pensamento de Eric no sentido de

    ver ali uma possível candidata a mãe de sua futura prole

    só aconteceu dois meses mais tarde num dia em que ele a

    pegou soluçando de choro num canto do shopping (ela

    tinha sido chamada de preguiçosa por uma ex-colega de

    outro emprego que estava passando por ali no momento

    em que limpava o corrimão de uma escada). Não foi só

    porque ele sentiu dó dela por não saber defender-se, mas

    também porque se sentiu culpado por isso, já que naquele

    dia, e em muitos outros, eles se distraiam demais e

    conversavam muito durante o trabalho, o que fez com que

    o serviço dela ficasse atrasado e produzisse aquela reação

    da transeunte que a conhecia.

    De certa forma, o inconsciente de McWalenski

    continuava a trabalhar no sentido de se fazer atraente para

    aquela mulher que tinha a metade da idade dele. Sabendo

    que seus atrativos físicos estavam prejudicados – jamais

    seria páreo para outro da idade dela -, ele passou a lha

    apresentar a experiência de homem maduro, sempre dando

    conselhos naquilo que a pouca idade e formação

    educacional ainda não a tinham dotada. Solucielle era uma

    mulher já adulta mas ainda com comportamento de

    27

    Os Mundos de Eric McWalenski

    adolescente. A ideia era solidificar na cabeça dela que ser

    inteligente, madura, é ter capacidade de adaptação em

    qualquer área profissional (à guiza de exemplo, enquanto

    não conseguisse ser um professor por estar há pouco tempo

    em Paris, ele poderia ser o melhor auxiliar de limpeza do

    shopping), o que garantiria dar a sensação de segurança

    futura, independentemente dos infortúnios que a vida

    prepara. A honestidade e humildade em primeiro lugar.

    De cabelos negros lisos e longos até a altura do

    umbigo, pele bege, olhos pretos sem maquiagem,

    sobrancelha natural, queixo pontudo que só não se

    sobressaía mais que os belos dentes (raramente encobertos

    pelos cheios lábios sem pinturas artificiais) no momento do

    sorriso; com um corpo acima do peso, tendo como disfarce

    natural o médio volume dos seios, Solucielle era três

    centímetros mais alta que o senhor Eric, como ela gostava

    de respeitosamente se referir a ele. Com apenas uma

    educação a nível fundamental e vida toda ela dedicada aos

    ensinos do Alcorão, o livro sagrado da religião na qual

    nascera, esta criatura era filha de descendentes argelinos

    islâmicos ali instalados há duas gerações. De forma que sua

    maneira de ver o mundo era limitada, embora pura.

    Mas não era apenas isso. Em suas conversas, ele

    descobriu que ela fora abandonada pelo pai ainda muito

    cedo, com seis anos, quando este procurou outra mulher e

    saiu de casa abandonando a esposa com os filhos. Aqui o

    inconsciente de Eric também andou especulando, pois

    sabia, pelos estudos que fizera, de alguns casos de

    mulheres de vinte e poucos anos que passaram a

    28

    Marcos Antonio da Silva Lima

    desenvolver gosto por homens muito mais velhos, como se

    quisessem compensar a ausência da figura paterna com

    quem não conviveram durante a formação no resto da

    infância e adolescência. Faltava descobrir se esse era o

    caso. Mas tinha um empecilho: estava prometida a um

    homem com quem se correspondia por carta havia uns

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