Por Uma Fracção: O Último - Temporada 0, #0
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Sobre este e-book
A VIDA É FEITA DE MOMENTOS
Marco Semedo era um homem marcado pelos horrores da guerra até ao dia em que conheceu a mulher que o trouxe de volta à esperança. Mas essa esperança ameaça quebrar.
MOMENTOS BREVES
Desde há semanas que Marco anda a ter dores de cabeça fortes e pesadelos. Sonhos tão vívidos que parecem reais. Quadros oníricos que expõem os seus maiores receios.
QUE DURAM PARA SEMPRE
Quando os pesadelos se começam a misturar com a realidade, Marco procura ajuda especializada e vê-se forçado a abrir uma porta para o seu passado e para os segredos que este encerra…
Ricardo L. Neves
Ricardo L. Neves já matou pessoas que não gostaram das suas histórias. Também já matou pessoas que gostaram das suas histórias. Ricardo L. Neves tem muitos defeitos (entre os quais, matar pessoas), mas não gosta de discriminar. Ah, convém dizer o seguinte: Ricardo L. Neves é um personagem de ficção, assim como todas as suas vítimas. (A maioria, vá.) Em todo o caso, é melhor ter cuidado. Nunca se sabe quando é que a realidade se pode misturar com a ficção. Junte-se à sua mailing-list (via https://tinyletter.com/RicardoLNeves) para ter acesso a conteúdos exclusivos, cupões de desconto e outras benesses.
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Por Uma Fracção - Ricardo L. Neves
A história que está prestes a ler emprega pessoas, lugares e eventos fictícios para conferir uma aparência de credibilidade à sua narrativa.
A VIDA É FEITA DE MOMENTOS
Quando Marco Almeida se voluntariou para combater no Anapatistão, ele acreditava que estava a lutar por uma causa nobre. Confrontado com os horrores da guerra, regressou a Portugal um homem vazio e quebrado, até que conheceu a mulher que o ajudaria a reencontrar a esperança perdida.
MOMENTOS BREVES
Anos depois, tem um emprego estável, uma relação sólida e os demónios do passado estão bem enterrados. A não ser pelas dores de cabeça que o têm afligido cada vez mais nas últimas semanas ou pelos pesadelos tão vívidos que parecem reais, Marco pode dizer que tem uma vida perfeita.
QUE DURAM PARA SEMPRE
Quando os pesadelos se começam a misturar com a realidade, ao ponto de pôr em risco a sua sanidade e a sua vida, Marco aceita procurar ajuda especializada.. Forçado a abrir uma porta para o seu passado e para os segredos que este encerra, Marco irá descobrir que as alucinações que o perseguem desde há semanas estão a tentar avisá-lo de uma tragédia que mudará a sua vida para sempre.
1
O ÚLTIMO (instagram) (17)REMTREX S.A., COMPLEXO Industrial de Alverca
24 de Outubro de 2008, 7:45
APÓS ALGUMA DEMORA, Marco lá conseguiu realizar as manobras necessárias para estacionar o carro no parque da empresa. A Dona Edite e o Vicente dos Recursos Humanos tinham-lhe deixado espaço à míngua para arrumar o carro, contudo a sua dificuldade em efectuar essa manobra naquela manhã não vinha daí. Marco era um exímio condutor, com experiência a conduzir veículos pesados através de territórios hostis, por entre ruelas e vias ainda mais estreitas.
O seu problema nessa manhã era outro.
Ergueu os óculos escuros (sem dúvida um acessório bastante útil naquela manhã nublada) e olhou-se no retrovisor. Tinha a barba cuidada e a pele hidratada; só os olhos é que o traíam. Quem olhasse para ele de relance não veria nada de grave, quem olhasse com alguma atenção, diria que teve que teve uma noite má, ou uma sequência de várias noites más.
Ambos estariam errados.
O problema de Marco não era bem um problema: era uma colecção deles. Desde dores de cabeça que iam e vinham a seu bel-prazer, uma elevada sensibilidade à luz que o deixava desorientado, ou mesmo sonhos tão reais e exaustivos que tornavam as suas noites de sono quase inexistentes. Essas maleitas não eram recentes, pelo contrário, eram algo a que já se tinha habituado. (Ou devia.)
A não ser quando resolviam todas atacar ao mesmo tempo. Era raro, mas acontecia. Mas nunca tão forte e nunca por tanto tempo. Por mais mais de duas semanas que andava naquilo. Ainda estava longe de atingir um estado em que não conseguisse desempenhar as suas funções, no entanto, começava a ser evidente que não faltava muito para isso acontecer. As dificuldades em estacionar e as duas paragens que tivera de fazer a meio do trajecto para evitar algum acidente eram disso prova.
Respirou fundo e tirou o telemóvel do bolso. Verificou se tinha alguma mensagem de Rute, guardou o aparelho e repôs os óculos. Não precisava de olhar para o retrovisor: estava óptimo. (Não estava, mas já estivera muito pior.) Agarrou na mochila, saiu do carro e dirigiu-se para o edifício principal — uma estrutura moderna, toda envidraçada, que suscitava toda a espécie de histórias rocambolescas por parte de quem não fazia a menor ideia do que lá se passava.
A verdade, neste caso, não andava muito distante da fantasia.
Marco atravessou as portas automáticas, deu os bons dias para as meninas da recepção, e foi até à máquina de café. Após tirar as moedas necessárias, tirou a sua bebida com gosto a chá (não sabia o que era, nem queria saber; sabia-lhe bem, o resto não interessava). Seguiu pelo corredor amplo, fazendo um