Idas & Vindas
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Idas & Vindas - Mara Assumpção
O que a Literatura Espírita nos diz ...
A respeito da pluralidade das existências, o Livro dos Espíritos, Cap. IV (perguntas das 166 a 171) nos fala que "todos os espíritos tendem à perfeição, e Deus lhes fornece os meios pelas provas da vida corpórea; mas, em sua justiça, lhes faculta realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova. A alma que não alcançou a perfeição na vida corpórea acaba por depurar-se suportando a prova de uma nova existência. Todos nós passamos por várias existências físicas, com o objetivo de aprimoramento progressivo, expiação. A cada nova existência, o espirito dá um passo no caminho do progresso. Aquele que caminha depressa se poupa das provas; todavia, as encarnações sucessivas são sempre numerosas, porque o progresso é quase infinito. Quando o espírito se despojou de todas as suas impurezas e não tem mais necessidade das provas da vida corpórea, ele se torna um Espírito bem-aventurado, é um Espírito puro."
Em A Gênese
(Cap. XI, p.189) encontramos:
"Mas a encarnação dos espíritos não é constante, nem perpétua; é transitória; deixando um corpo, não retorna a outro imediatamente; durante um lapso de tempo mais ou menos considerável, vive da vida espiritual, que é a vida normal; de tal sorte que a soma do tempo passado nas diferentes encarnações é pouca coisa, comparada ao tempo que ele passa no estado de espírito livre. À medida que o espírito progride moralmente, ele se desmaterializa, quer dizer que, subtraindo-se à influência da matéria, depura-se; sua vida se espiritualiza, suas faculdades e suas percepções se estendem; sua felicidade está em razão com o seu progresso realizado. Mas como age em virtude do seu livre arbítrio, pode, por negligência ou má vontade, retardar o seu adiantamento; prolongar, por consequência, a duração de suas encarnações materiais, que se torna para ele uma punição, uma vez que, por sua falta, permaneceu nas classes inferiores, sendo obrigado a recomeçar a tarefa. Allan Kardec ainda nos diz que "Cada existência é para a alma, a oportunidade de um passo adiante; de sua vontade depende que esse passo seja o maior possível, de vencer vários escalões ou permanecer no mesmo ponto; neste último caso, sofreu sem proveito; e como é preciso sempre pagar sua dívida, será preciso recomeçar uma nova existência, em condições ainda mais penosas". (O Céu e o Inferno – Cap. V – p. 55-56)
Capítulo I
Alberto é Edward
Esquece todo mal. A Justiça é de Deus!
(Emmanuel/Chico Xavier)
Meu pai, infelizmente, não conseguiu cumprir nem uma terça parte do que se comprometera para sua mais recente vida corpórea.
Nossos laços são antigos, e nossos maiores débitos, um para com o outro, vêm de uma jornada antiga, ocorrida na primeira metade do século XVII na Inglaterra. Foi uma época de muitos conflitos, muita turbulência e inquietação: os monarquistas contra os parlamentaristas, e a Igreja Anglicana contra os protestantes. Estávamos em lados opostos.
Fomos inimigos mortais, literalmente. Naquela época, na defesa de suas ideias, seus bens, suas crenças, praticamente tudo era tolerado. Fui assassinado numa emboscada por Alberto, que, na época, chamava-se Edward, um defensor do parlamentarismo, do fim da monarquia e da liberdade de religião.
Entre tantos nomes que já tive nessas idas e vindas, nessa vida, especificamente, meu nome era Henry.
Logo após meu desencarne violento, vi-me perdido e confuso, sem entender o que se passava comigo. Aos poucos, fui tendo a consciência de que estava morto fisicamente; mas não entendia como isso era possível: eu estava morto, mas eu permanecia vivo.
Vivo, com todas minhas angústias, meus pecados, minhas dúvidas, minhas dores! Eu respirava com dificuldade, qualquer tentativa de aspirar o ar profundamente e uma dor alucinante nas costas me derrubava! Era como se eu sempre aspirasse o ar levemente, em pequenos volumes... Um sofrimento constante.
Fiquei vagando pelo orbe terrestre por um bom tempo e, por sintonia vibratória, acabei encontrando e me associando a outros espíritos perdidos, que, igualmente, odiavam Edward/Alberto e queriam vingança.
Hoje, lamento o tempo perdido buscando vingança; culpa da minha ignorância.
Se, naquela encarnação, eu já tivesse o conhecimento que tenho hoje, teria feito tudo de forma muito diferente! Mas, também já aprendi que tudo vem ao seu tempo, nada acontece antes da hora, tudo de acordo com o nosso entendimento.
Por muito tempo, a vida de Edward foi um inferno, pois de tudo fizemos para atrapalhar seu dia a dia, aumentar o seu sofrimento, suas dores, suas angústias: desde perdas financeiras, desequilíbrios emocionais e psíquicos até desencontros e desafetos com pessoas queridas.
Edward/Alberto sofreu de uma obsessão complexa por mais de uma década, quase enlouqueceu, esteve a um passo do suicídio. Não o fez porque apareceu em sua vida uma mulher de muita fibra, de valores éticos, morais e religiosos que acabou por se apaixonar por aquele jovem, bonito, de família nobre e rica, que, na maior parte do tempo, parecia ser astuto, inteligente e generoso. Porém, às vezes, transformava-se em um homem angustiado, triste e perdido, um homem vazio, sem alma, frio e rancoroso.
Essa dupla personalidade fazia de Edward um enigma para ela. Suas famílias compartilhavam dos mesmos ideais políticos, numa época de muita perturbação na Inglaterra.
Essa mulher, ninguém era além da nossa conhecida Maria Clara que, naquela época, chamava-se Emma.
Emma era de família escocesa, protestante e ativa em ações contra a monarquia. Possuía valores cristãos internalizados na sua personalidade, e foi sua influência marcante que despertou Edward para a espiritualidade, para a prática do bem e da caridade.
Ao longo de sua convivência com Emma, Edward foi apaziguando suas emoções, tornando-se um homem mais comedido e ponderado, completamente diferente da sua juventude, época em que tivemos nossas desavenças.
Como espírito obsessor, não gostava da boa ascendência de Emma sobre Edward. Tentei, de todas as maneiras, atacá-la, mas ela estava sempre protegida por seus benfeitores espirituais, em pensamentos elevados e em alta vibração. Eu, nem meus comparsas, conseguíamos atingi-la e, com o passar dos tempos, começamos a perder nossa má influência sobre Edward, que também se beneficiava das elevadas vibrações de Emma.
Não existe melhor proteção para o mal do que atitudes, pensamentos e sentimentos elevados: a prática do bem e da caridade.
Nessa época, desencarnado, mas vivendo como um zumbi, no orbe terrestre, alimentando um forte sentimento de vingança contra Edward e acompanhando o que se passava entre os encarnados, comecei a ter o entendimento do quanto os bons sentimentos, as altas vibrações ajudavam no combate ao mal. Mas, eu não me rendia, não perdoava meu assassino, fazia questão de alimentar meu ódio, meu rancor e, por muito tempo continuei tentando atingir Edward.
Finalmente, durante um novo período em que os conflitos se intensificaram no reino da Inglaterra, Edward afastou-se temporariamente de Emma; minha espera e insistência foram recompensadas.
Longe de Londres, afastado de Emma e convivendo com pessoas totalmente ensandecidas de ódio, raiva e frustrações, eu tive sucesso. Edward, contaminado por toda aquela baixa vibração, baixou a guarda, e conseguimos atingi-lo.
Primeiro, ele começou a ter insônia e sofrer de dores estomacais diariamente. Quando dormia, tinha sonhos perturbadores; acordava agoniado, cansado, irritado e muito agitado.
Sem dormir nem se alimentar direito, sofrendo as pressões e preocupações do momento, sobrevivendo num ambiente hostil e conflituoso, Edward adoeceu gravemente.
Muito debilitado, retornou para Londres. Os médicos da época não conseguiam descobrir o que se passava com ele, enquanto isso, seu estado clínico e emocional se agravava.
Emma dedicou-se a cuidar dele, mas percebia que estava perdendo seu amado. Edward não tinha força física nem para falar. Dia e noite num estado febril e delirante. Eu, em sociedade com outros espíritos ignorantes, acompanhávamos jubilosos tudo o que acontecia.
Entretanto, numa noite fria em que Edward ardia de febre e falava coisas desconexas, Emma, completamente sofrida ante a perspectiva de perder o homem que ela amava, desesperada com a situação que se agravava dia após dia, ajoelhou-se ao seu lado na cama e orou com todas suas forças.
Eram palavras simples, cheias de amor e esperança, palavras que vinham da alma, com todo ardor de sua fé num Deus Misericordioso.
Enquanto orava, lágrimas rolavam por suas faces. Desesperada, colocava todas as suas esperanças nas mãos de Deus.
Só a vontade divina para salvar Edward, que estava desnutrido e desidratado, completamente debilitado, com o organismo entrando em colapso, ardendo em febre. Emma, intuitivamente sabia do poder e da força da prece, quando feita com o coração.
Imediatamente, Espíritos Elevados desceram e aproximaram-se do enfermo. Com a chegada deles e suas elevadas vibrações, fomos magneticamente afastados do recinto, e eles começaram a trabalhar.
Mesmo de longe, acompanhei o que se passava: primeiro, eles conseguiram, através de uma limpeza, feita apenas através do pensamento e da imposição das mãos, libertarem ele de todos os parasitas espirituais que estavam aderidos ao seu períspirito.
Num segundo momento, passes magnéticos. Eram percebíveis, mesmo à distância, flashes de luz, como uma chuva de brilho que descia das mãos daqueles seres superiores e se perdia no corpo físico do doente. Parecia que cada célula do corpo carnal recebia jatos de