Mandando A Real Sobre As Doenças Mentais
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Mandando A Real Sobre As Doenças Mentais - Carlos Bengio
Mandando a Real Sobre as Doenças Mentais Uma reflexão simples sobre como psicopatas ganham poder social adoecendo as pessoas
Carlos Bengio Neto
Sumário
1. Apresentação ......................................................................................................... 5
2. A Histeria Como Infecção Psicológica e Social .................................................... 7
3. A Infecção Social Histérica e a Influência dos Magos ........................................ 13
4. As Contribuições do Professor Freud .................................................................. 23
5. A Militância do Falo ............................................................................................ 29
6. A Infecção Social Obsessiva ............................................................................... 36
7. Os Intelectuais Esquizoides e a Ideologia ........................................................... 42
8. Propaganda e Comunicação: A Histérica em o Discurso do Mestre ................... 54
9. O Jovem Freud: Sua Obra é Sua Vida ................................................................. 66
Dedico esse trabalho à minha esposa que, do nada, disse:
Carlos, por que você não escreve um livro?
.
3
Enquanto alguns psicólogos permanecem manuseando palavras mortas, os artistas fazem psicologia. Comunicar uma alma a outra é o trabalho dos estetas. Nunca, como agora, numa época em que a escala de valores puramente utilitária predomina na sociedade, mais carecemos de artistas. A arte é um estímulo para a vida.
Mário Ferreira dos Santos
Os sentimentos inconscientes governam o corpo das pessoas em momentos críticos, e quem pode decidir se isso é bom ou mau? É apenas um fato, que deve ser levado em conta o tempo todo por políticos racionais para se evitarem choques desagradáveis.
D.W. Winnicott
4
Apresentação.
Por que o caro leitor deve ler ou esse livro? Uma vez eu escutei alguém afirmar mais ou menos assim: As fronteiras de uma nação estão nos limites de sua literatura
.
Provavelmente era algum comentário sobre algum escritor russo que eu não me recordo agora, mas a afirmação é muito verdadeira, há algumas décadas atrás poderíamos encontrar na nossa literatura o retrato dos tipos psicológicos do nosso povo e das nossas elites
. Por que isso é importante? Se você não sabe quem são seus próximos, provavelmente também desconhece quem você mesmo é.
A literatura brasileira está morta e foram os literatos que a mataram. Existem poucas e honrosas exceções, mas sabe por que você leitor, quando estudante de ensino médio, considerava as aulas de literatura uma chatice? Porque você foi ensinado a confundir o valor literário de um livro ao seu valor histórico, quem disse isso não fui eu, foi o professor Rodrigo Gurgel. A maioria dos brasileiros foi ensinada a ler para passar no vestibular
, recebendo goela abaixo todo tipo de lixo elevado à condição de grande obra literária brasileira
, formaram-se gerações e gerações que nunca encontraram nexo entre literatura e a ampliação da própria consciência.
Eu mesmo devo advertir que não tenho talento nem imaginação suficientes para ser escritor, e esse livro não se propõe a resgatar
nada da literatura brasileira. Mas calma, não estamos tão ferrados assim. Talvez reste algo que ainda possa cumprir a função do zumbi que é a literatura nacional, algo que eu chamo de ‘literatura psicanalítica’.
Poucas pessoas associam Freud ao trabalho de escritor, mas o fato é que ele sempre sonhou e de fato tornou-se um escritor de sucesso, e dos grandes tanto que o nome Sigmund Freud até hoje o mais citado no mundo. A obra de Freud ainda cumpre a função de tornar consciente aquilo que está entalado
na garganta, e se uma obra literária não faz isso então ela não vale nem o papel usado para sua escrita, muito menos seu espaço de armazenamento na nuvem digital. Mas e o valor histórico de uma obra?
Uma tampa de privada antiga pode ter valor histórico, sem nunca deixar de ser apenas uma tampa de privada.
Como retomar a função literária tão importante para a saúde de nossas consciências? Esse livro tenta responder essa pergunta introduzindo o leitor, leigo, psicólogo ou psicanalista a alguns conceitos da psicanálise, na verdade eu quero investigar e explicar, de uma maneira direta, as causas desse mal-estar que as pessoas vivem na sociedade brasileira atual. Como eu faço isso? A partir das categorias psicopatológicas entendidas como possíveis tipos psicológicos reais, ou seja, eu quero que a psicanálise no Brasil retome sua função literária, inclusive superando a chatice de muitas publicações atuais.
Talvez o leitor não esteja familiarizado com a gravidade da situação que, a meu ver, só tende a agravar as doenças mentais. O problema começou a partir da década de 80, quando muitas pequenas livrarias fecharam as portas por várias razões, como publicar em grandes editoras nunca foi uma tarefa fácil gradativamente os psicanalistas perderam suas ambições literárias pessoais, não totalmente porque, é verdade, sobraram às revistas cientificas.
5
O problema das revistas especializadas é que nem todas são boas e o público em geral não tem gosto por esse tipo de leitura, se pessoas físicas não se interessam pelas assinaturas as editoras tornam-se dependentes de verbas e interesses do Estado. O lado bom do financiamento estatal é que publicações boas como, por exemplo, a Revista Latino-americana de Psicopatologia Fundamental ganharam alguma sobrevida, e o lado
‘não bom’ é a institucionalização da psicanálise, isto é, sua dependência às correntes politicas e ideológica das instituições governamentais.
Com a internet as plataformas digitais, como a Scielo, passaram a divulgar artigos científicos de modo que ninguém sabe mais o nome da revista que a publicou, sem contar o número de interessados ser restrito a estudantes e pesquisadores. O
professor Manuel Berlinck tem um artigo interessante sobre esse fenômeno, vale a pena procurar e ler.
Em suma, a psicanálise vem perdendo autoridade porque muitos psicanalistas abdicaram da autoria literária e esconderam-se narcisicamente dentro dos seus próprios umbigos, isto é, atrás de revistas que ninguém divulga e ninguém lê. Assim a psicanálise seguiu adoecendo junto com a sociedade, vários psicanalistas fizeram das escolas de formação suas igrejinhas, tornaram-se militantes que repetem frases de efeito dos seus fundadores europeus. A exceção são alguns bons colunistas de jornal.
Existe outro problema, nos anos 90 os estudos sobre genética e neurociência reapareceram no imaginário popular prometendo curar todos os sofrimentos humanos, inclusive as doenças mentais. Como toda falsa-profecia é sedutora esse messianismo cientifico
ganhou muitos adeptos sem, até agora, entregar soluções. Ironicamente, enquanto a psicanálise perdia influência no final do século XX, as doenças mentais só se multiplicaram a partir dos anos 2000 até agora, não é difícil perceber isso.
Talvez o leitor não compreenda o que está em jogo quando discutimos sobre doenças mentais, mas saibam que pessoas mentalmente adoecidas são presas fáceis de movimentos políticos radicais, seitas religiosas fanáticas, charlatões, e como tudo isso junto favorece a fragmentação das famílias, do nosso tecido social e do sistema político: a democracia está fundada na maturidade emocional de cada cidadão, já dizia Winnicott.
Como eu disse, estamos vivendo essa situação de modo que não temos via literária nem para comunicar o problema, quanto mais para pretender resolve-lo. Em tempos de crise escrever é um imperativo ético e espiritual, uma via para retomarmos a nossa própria humanidade e o fio da meada de nossas próprias vidas. Assim nesse livro o leitor pode compreender de maneira simples como surgem às ideologias políticas, como funciona o comportamento das massas, como as religiões se deterioram em seitas que enriquecem poucos empobrecendo e adoecendo muitos, como narcisistas patológicos e psicopatas tiram proveito da situação e, principalmente, como não ser uma vitima.
6
A Histeria Como Infecção Psicológica e Social
Eu estudei sobre histeria na época da graduação em psicologia, já através de uma perspectiva psicanalítica e eu confesso que para um estudante, é muito desestimulante pensar a histeria logo de cara nos termos de Freud que são muito obsessivos, a gente sabe que o Freud estava tentando fundamentar muito bem a psicanálise, e isso pode fazer com que a gente perca o desejo de estudar sobre histeria, não é?
É importante a gente lembrar que a histeria existe antes do Freud, mas é incrível, a gente fala de histeria e imediatamente já vem à cabeça o setting psicanalítico, as histerias de conversa, então a psicanálise vai realmente descrever essa psicopatologia através de conceitos psicodinâmicos, que é uma maneira muito rigorosa, no bom sentido, para poder manejar esse fenômeno na clínica.
Mas, existem outras perspectivas para se estudar a histeria, que é, por exemplo, a perspectiva que a gente pode chamar de psicológica
, seja ela social, política, e é legal você começar a estudar e se preocupar com esse tema de modo a ter desejo de estuda-lo. Então assim eu quero trazer para vocês uma perspectiva sobre a histeria de uma maneira não ligada ao sofrimento da histérica na clínica, não é isso. Eu quero mostrar a histeria como um sintoma de como a gente vê e vive o nosso dia a dia, todos os dias.
Quero dizer, como algo muito mais próximo da gente, mesmo que a gente não saiba. Então, delimitando dessa forma o fenômeno da histeria, eu espero criar o desejo de se estudar a histeria, e depois de fazer isso vamos falar um pouquinho da abordagem psicanalítica sobre a histeria.
Qual a importância de se estudar a histeria? Além de ela ser a porta de entrada para a psicanálise, Freud começa sua carreira como