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Manual De Defesa Da Fé Católica - 2º Volume
Manual De Defesa Da Fé Católica - 2º Volume
Manual De Defesa Da Fé Católica - 2º Volume
E-book470 páginas10 horas

Manual De Defesa Da Fé Católica - 2º Volume

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Sobre este e-book

O que se espera ao ler um manual? Creio que seja a esperança em sanar inúmeras dúvidas e abrir portas para conhecer aquilo que é desconhecido, além do aprimoramento da fé, crescer na graça e no conhecimento, como narra a escritura (cf. 2 Pe 3,18). Este segundo volume, que nada mais é que a continuação do primeiro, intitulado “Manual de Defesa da Fé Católica”, possui a mesma proposta do anterior: defender a milenar fé católica contra argumentos infundados daqueles que continuam a vender espantalhos e denegrir a Igreja, fundada pelo próprio Jesus (cf. Mt 16,18). O livro não possui a ideia de descredenciar qualquer outra confissão que se oponha à Igreja Católica, mas oferecer ao leitor (leigo, seminaristas, religiosos, padres etc.) a possibilidade de defesa frente a inúmeros ataques que acontecem desde o cristianismo primitivo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de mai. de 2020
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    Pré-visualização do livro

    Manual De Defesa Da Fé Católica - 2º Volume - Érick Augusto Gomes

    Das sombras da imaginação à Verdade

    Mais um livro de apologética para o Brasil? Não, este não é mais um, mas a continuação do primeiro Manual de Defesa da Fé Católica: o que um ex-protestante descobriu sobre a Igreja. Sendo o Evangelho um tesouro no qual encontramos coisas novas e velhas (Cf. Mt 13,52), ele também é uma fonte perene, isto é, nunca esgota sua beleza e força, como nos diz a Escritura: Eis que eu faço novas todas as coisas (Ap 21,5). Dessa forma, entrevemos que o autor, com argúcia, perscruta, numa investigação séria e sólida, os fundamentos da fé católica, apontando para o leitor, seja o mais infante ou o mais douto na fé, pontos, talvez, nunca antes vistos ou aprendidos. Na verdade, aquele que gestou esta obra possui um diferencial: é um protestante converso ao catolicismo. Portanto, a pergunta precípua que deveríamos fazer é: O que teria um ex-protestante a dizer-nos sobre a Fé Católica?

    Uma breve anamnese sobre de quem estamos falando: Érick Augusto, oriundo de uma família presbiteriana, iniciou seus estudos a respeito da Igreja no ano de 2005, e, ao longo de oito (8) anos, foi confrontado com as verdades bíblicas e históricas a respeito da Santa Igreja Católica: a Igreja que é Coluna e sustentáculo da Verdade (1° Tm 3,15) e o Corpo Místico de Cristo (Cf. Cl 1,18), a Igreja dos Santos e dos Mártires, dos Profetas e Doutores, das Virgens e dos Monges, dos Confessores e Pastores, aquela que construiu a civilização, Mãe e Mestra; enfim, a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após longas pesquisas e reflexão, no dia 30 de março de 2013, assumiu publicamente a fé católica, recebendo, neste mesmo dia, o sacramento da Confirmação. Além disso, foi catequista e divulga seu trabalho através do Apostolado, por ele fundado, Accatólica (Apologética Cristã Católica).

    A atitude inicial, caro leitor, para com este trabalho, deve ser de abertura, numa sincera busca pela Verdade, passando do assentimento teórico ao real, isto é, crer não numa ideia abstrata, irreal ou difusa do que seja a doutrina e/ou os ensinamentos católicos, mas crer naquilo que, verdadeira e realmente, crê a Igreja Católica. Em outras palavras: a propaganda hostil contra a Igreja é a célebre falácia do espantalho, ou seja, a criação de um simulacro/caricatura para substituir o que é original faz eco às nossas palavras uma famosa frase do Venerável Fulton Sheen: "Talvez não haja nos Estados Unidos uma centena de pessoas que odeiem a Igreja Católica; mas há milhões de pessoas que odeiam aquilo que erroneamente supõem ser a Igreja Católica". Assim, aos que odeiam o que imaginam ser a Igreja Católica, desconhecendo sua autêntica identidade, o convite que faço é um êxodo: das sombras da imaginação à Verdade (Ex umbris et imaginibus ad veritatem).

    Nesse sentido, é preciso disposição para enfrentar as possíveis rupturas, pois, apesar das palavras de Nosso Senhor serem duras: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua via, a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a encontrará (Mt 16,24-25), elas também são libertadoras: Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará (João 8,32).

    Poderia surgir uma dúvida acerca das possíveis rupturas, expressão mencionada no parágrafo anterior: quais são elas, a que o prefaciador está se referindo?

    Pois bem, grande parte das pessoas possui uma visão deturpada sobre a doutrina e a história da Igreja. Alguns entraves precisam ser retirados para a leitura deste trabalho: ideias já cristalizadas e permeadas de preconceitos, preguiça e comodismo na análise dos argumentos, ignorância e ceticismo a respeito dos temas abordados, ciladas da imaginação e acusações infundadas com um medo de rever os próprios conceitos etc.

    O que é preciso então? Qual caminho trilhar? Simples: é necessário desprezar os interesses materiais, desprender-se de hábitos e costumes arraigados, calcar aos pés os preconceitos, fazer calar os frêmitos da sensibilidade, e ser fiel à voz de Deus, que fala à consciência que é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz (Gaudium et Spes 16). Numa imagem: que todas as paixões instaladas na alma, como um câncer, sejam extirpadas e extraídas, se preciso for, com uma dolorosa cirurgia.

    Cristo exige dos seus seguidores, pois nosso relacionamento com Deus é um relacionamento de amor, um amor que não deve conhecer medidas nem limites, porque quem ama não sabe calcular: quem dá-se por inteiro ao Amado, recebe a Deus por inteiro. Em resumo: estar disposto a tudo pelo Tudo!

    Não há atitude mais imprescindível e difícil que consentir em ser guiado por Deus e não por subjetivismos, ideias prontas ou formuladas a partir de pressupostos anticatólicos. Caro leitor, outro desejo não tenhas senão possuir a Verdade a qualquer custo, estando decidido a deixar-se levar aonde ela bem quiser conduzir, e esta Verdade nos levará a um lugar: à Barca de Pedro; Todos os caminhos levam a Roma, diz o ditado.

    Aos irmãos separados, ditos evangélicos e de outros credos religiosos: a conversão de meu irmão Érick Augusto não foi um caso esporádico, mais e mais protestantes estão descobrindo a beleza e a veracidade do Catolicismo, seja em nosso país ou fora dele. Há uma longa lista de homens e mulheres que fizeram tal transição e não se arrependeram (Cardeal São John Henry Newman, J. K. Chesterton, Scott Hahn, Peter Kreeft, Steve Ray, Dave Armstrong), homens notáveis pelo saber, pelas virtudes e de grande envergadura intelectual, que venceram a pressão do meio, sacrificaram suas posições e prestígio social, sufocaram a voz dos seus sentimentos e paixões, renunciaram a tudo, com exceção de sua consciência, para abraçar a verdadeira Igreja de Cristo, abjurando o protestantismo. Que este livro abra aos nossos irmãos separados o caminho de um regresso para Casa, de volta para o Lar. (Cf. Ef 2,19-22).

    Aos católicos nominais, indiferentes ou que se encontram afastados: é hora de um sério exame de consciência e de buscar as razões que me fazem ser católico. Chega de católicos de IBGE, com conhecimento superficial e uma vivência morna de sua fé. Está na hora de tomarmos uma atitude decisiva, isto é, estudar a fundo a sã doutrina (1° Tm 1,10; 4,6; 6,3; 2° Tm 4,3; Tt 1,9; 2,1), a vida dos santos (a tão grande nuvem de testemunhas de que nos fala Hb 12,1), o Depósito da Fé (2° Tm 1, 12.14), os ensinamentos e o rico patrimônio de 2000 anos que a Igreja possui, de descobrirmos Como cremos e Por que cremos desta maneira e não de outra, dando, assim, a razão de nossa fé a todo que vo-la pedir (Cf. 1 Pd 3,15).

    Por isso, o Cardeal Joseph Ratzinger conclamava a plenos pulmões: Não deveríamos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Em que consiste ser crianças na Fé? Responde São Paulo: significa ser ‘batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina…’ (Ef 4, 14)¹

    Estamos num período de desorientação, doutrinas e propostas pseudorreligiosas e até mesmo hostis à fé, mas este trabalho cumpre uma fórmula fundamental da existência cristã: praticar a verdade na caridade, com mansidão e com respeito (1° Pd 3, 15).

    Precisamos, continua o Cardeal Ratzinger, possuir uma fé adulta e madura, profundamente radicada na amizade com Cristo, mesmo que a opção de se ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes seja classificado como fundamentalismo. Oxalá que esta leitura edifique e desperte no coração de muitos a presença do Senhor na Igreja, para que assim, ao chegar a missa dominical, após descobrirmos o real sentido de ser católico, exclamarmos com intenso amor e viva alegria: "Creio na Santa Igreja Católica".

    Sem dúvida, este trabalho virá em auxílio dos católicos que desempenham alguma atividade eclesial (grupos, pastorais, movimentos, membros de comunidades…). Por conseguinte, a maturação da fé e do conhecimento do Filho de Deus é uma condição sine qua non para compreender que a fé católica é a perola de grande valor pelo qual nenhum sacrifício é demasiado grande (Cf. Mt 13, 45-46), uma vez que Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (Ef 5,25). Eis um grande mistério: a ligação de Cristo com a sua Igreja (Cf. Ef 5,32; At 9, 1-5). O papel do sábio, afirmava Santo Tomás de Aquino, é transmitir o que contemplou². Creio que este modesto empreendimento cumpre este requisito. Temos aqui não mais um livro de apologética: o conteúdo desta obra foi vivido, lastreado de lágrimas, anos de meditação, fruto de leituras e reflexões, aprofundamento, e permeado de descobertas à luz do tripé católico: Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Sagrado Magistério. Ao mais, apesar da densidade do conteúdo, do mais simples ao mais sábio, qualquer um poderá compreender e acercar-se sem medo ou hesitação dos ensinamentos aqui apresentados.

    O livro divide-se em quatro partes. Na primeira, uma seção sobre Mariologia e textos em defesa da Santíssima Virgem; na segunda, textos referentes à Patrística com temas variados: a Eucaristia, São Pedro, Maria Santíssima, Intercessão dos Santos, Alma Imortal e os livros Deuterocanônicos; na terceira, principais refutações de textos apologéticos protestantes; na quarta e última, um apêndice, uma chave bíblica, catequética e canônica, ou seja, interligações das passagens bíblicas com parágrafos do Catecismo e pontos do Direito Canônico.

    Ao meu irmão e amigo, Érick Augusto, fica um agradecimento por seu serviço à Verdade e à fé católica, ajudando tantas pessoas através do seu simples, mas esmerado Apostolado Accatólica, como também pelo preço e oportunidade de fazer parte deste trabalho, escrevendo este prefácio.

    Faço votos que este promissor manual sirva de auxílio aos nossos irmãos separados e aos que pretendem fazer a travessia do Tibre; aos católicos que estão iniciando ou já possuem alguma caminhada; alcance o maior número de almas; leve o leitor a contemplar o esplendor da Verdade, firmando seu amor à Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

    Confio esta obra ao patrocínio da Santa Mãe de Deus e São John Henry Newman.

    Jeferson Alves de Lima

    O ano era 2007. Recém-chegado na universidade, eu me via em um mundo novo. Novas experiências, novas conquistas, novas amizades. A mais de 600 km de casa, um rapaz completamente imaturo para viver sozinho.

    Antes disso, cheguei a ter algum contato com a igreja protestante em Formiga (MG), porém tinha conhecido apenas do básico: não eram católicos, andavam com a Bíblia para todo lado, gritavam muito em suas igrejas e não acreditavam no Papa.

    Ao chegar em Alegre (ES) para cursar veterinária, tive uma maior abertura para conversar sobre diversos assuntos que não eram comuns em minha casa. Fui convidado a ir a um encontro de estudantes para um momento de oração (ABU – Aliança Bíblica Universitária). Como já era acostumado a rezar, aceitei, mas, ao chegar na sala, percebi que ninguém fez o sinal da Cruz no início do encontro. Era aleluia pra lá, glória a Deus para cá, uma bagunça que eu não conhecia. Tirando as interrupções dos fiéis à fala do orador, a pregação foi interessante. Saí de lá confuso, e não perguntei a ninguém sobre o ocorrido.

    Após isso, conversando com colegas de sala que eram evangélicos, fui interpelado sobre questões doutrinárias católicas, questões essas que acredito que todo católico já teve que responder e, muitas das vezes, saiu da conversa aborrecido, não pelo conhecimento do protestante, mas pela sua própria falta de conhecimento sobre sua Igreja e a falsa impressão de que o protestante sabe mais sobre a Igreja Católica que o próprio católico.

    Na época, eu não tinha muito conhecimento doutrinário sobre a Igreja e me deixei abalar pelos questionamentos feitos por eles. Por alguns anos, durante a faculdade, fiquei com a ideia de que meus colegas evangélicos estavam certos em seus argumentos. Como nunca havia estudado profundamente os temas ligados ao cristianismo, fiquei perdido com os sofismas, adulterações bíblicas e interpretações pessoais feitas por eles. Fui deixando de rezar para Nossa Senhora, dei minhas imagens para a minha mãe, deixei de rezar o terço. A única coisa que não deixei de fazer foi frequentar a Santa Missa. Embora nunca tenha deixado de ser católico, estava totalmente distante da verdadeira fé.

    Um dia, com pensamentos voltados contra imagens, contra Nossa Senhora, contra a Eucaristia, pensei: como uma igreja feita com tantas mentiras e falsas doutrinas pode ter sobrevivido por tantos anos e ainda continuar pregando as mesmas mentiras? Foi aí que, ao invés de abandonar minha religião e correr para uma seita qualquer, eu resolvi estudar, pesquisar sobre tudo o que a Igreja ensinava, as contradições e todos os pontos polêmicos que circulam as discussões mais acaloradas. Foi então que conheci, dentre muitos pilares da Fé, dois grandes apologistas, antes protestantes e agora convertidos e Católicos: Scott Hahn e Érick Augusto Gomes. Ambos me impressionaram pela grande sabedoria e conhecimento de causa (vieram do protestantismo). Apesar de vícios e preconceitos contra a Igreja Católica, com a dedicação, humildade e desejo pela verdade, eles conseguiram voltar para casa.

    Como "a coragem é quase uma contradição em termos. Significa um forte desejo de viver que toma a forma de uma disposição para morrer" (Chersteton, 1908), Érick atravessa a cova dos leões, lutando contra a corrente para defender a Verdade bimilenar tanto combatida pelas seitas e movimentos ateus, sem medo das consequências. Seu testemunho e publicações no site accatolica.com são um candelabro que ilumina os que entram (Lc 8, 16), e me guiou para o caminho de volta, fortalecendo enormemente minha Fé em Cristo e em sua esposa, a Santa Igreja. Seu livro Manual de Defesa da Fé Católica é um grande colaborador disso.

    Érick tomou sua cruz e aceitou o chamado de Deus para que ele propague a verdade a todos que tenham a boa vontade de receber a Verdade revelada, perfeitamente interpretada pela Santa Madre Igreja Católica, amparada nos indestrutíveis pilares da Sagrada Tradição, Sagrado Magistério e Sagrada Escritura. O segundo volume desta belíssima coleção é o último da série Manual de Defesa, contendo estudos sobre Mariologia – tema que é tão vilipendiado pelos inimigos da Igreja –, mais estudos sobre os antigos Padres da igreja (Patrística) e, complementando o primeiro livro, diversas refutações de pontos polêmicos, fatos incontrovertidos que provam a fidelidade plena da Igreja Católica Apostólica Romana à revelação Divina. Sabendo que muito ainda pode ser escrito, Érick vai nos brindando com as conclusões de seus profundos estudos, também cumprindo com o pedido de Nosso Senhor Jesus Cristo de dar testemunho da razão de sua esperança (1Pd 3, 15).

    O leitor pode ter certeza de que, de posse dessa obra, ele terá provas da Santidade, perenidade e legitimidade da Igreja Católica em seus quase 2020 anos de história, estará armado contra quaisquer argumentos fracos contra o espantalho montado da Igreja e terá também a certeza de que estaremos no caminho certo, porque ir contra o mundo não é ruim, e, como Católicos, quase sempre estamos nesse caminho.

    Por fim, recomendo a cada Católico desse mundo: leia sua doutrina, estude sobre a história de sua Igreja e tenha em sua coleção as obras de meu amigo Érick, pois é imperativo que o Católico estude e conheça sua fé, para responder sempre que necessário, pois, ao contrário do que é pregado constantemente, "se tornar um Católico não é deixar de pensar, mas aprender a pensar" (Chersteton, 1926).

    Que Deus abençoe essa obra e seu autor, e que Nossa Senhora interceda para que ela atinja o máximo de leitores possível!

    AD MAIOREM DEI GLORIAM

    Marcus Vinícius Martins Gonzaga

    Coeditor do site Accatólica

    Este artigo pretende refutar algumas ideias presentes no vídeo Maria era Cheia de Graça?, de Augustus Nicodemus³.

    É impossível dizer que Maria tenha sido uma simples mulher. Diferente de todas as figuras bíblicas que lemos em toda a trajetória do Velho e Novo Testamento, a Mãe da Igreja (CIC 963) foi a única que cooperou de forma eficaz para a salvação da humanidade, uma vez que deu à luz o próprio Deus. Moisés, Davi, os profetas tiveram participação importantíssima em todo o plano salvífico de Deus, mas foi nela que a promessa foi concretizada na plenitude dos tempos (Gl 4,4-5), pois a profecia veterotestamentária estava ligada à Virgem:

    Is 7,14 Pois sabeis que o Senhor mesmo vos dará um sinal. Eis que a virgem está grávida e dará à luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel.

    Maria foi preparada por Deus para herdar em seu ventre imaculado o próprio verbo de Deus (Jo 1,1). Para tanto, como confirmação dessa verdade, o anúncio do anjo Gabriel revela o que Maria possuía de diferente para receber tal missão:

    Lc 1,28 Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!

    Nossa Senhora foi repleta do favor divino, mas será que ela realmente era cheia de graça? O vídeo do pastor presbiteriano Augustus Nicodemus diz o contrário daquilo que a Igreja Católica sempre preservou. Para afirmar sua tese, ele procura utilizar (ou tentar) os escritos originais (em grego).

    Para tanto, analisarei aqui cada argumento do reverendo e veremos se, de fato, ele colocou as palavras em seus locais corretos e se possui uma base sólida para salvar a sua crença. Para facilitar a compreensão, separei por tópicos suas afirmações no vídeo citado anteriormente e responderei cada uma seguindo sua sequência. As palavras do pastor estarão envoltas em um quadro.

    "A expressão muito favorecida é uma palavra grega só, que significa agraciada, aquela que recebeu graça, que é repetida no verso trinta, quando o Anjo diz à Maria: ‘Não temas porque achaste graça’. Graça aqui é favor diante de Deus."

    Inicialmente, o reverendo Augustus já comete um pequeno deslize afirmando que a palavra grega traduzida como agraciada se repete no verso trinta do evangelho. Na passagem de Lucas 1,28, o termo que define Maria como agraciada/cheia de graça é o κεχαριτωμένη:

    Lc 1,28 (Bíblia de Jerusalém) – Entrando onde ela estava, disse-lhe: "Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo!"

    Lc 1,28 (texto católico) – καὶ εἰσελθὼν πρὸς αὐτὴν εἶπεν, χαῖρε, κεχαριτωμένη, ὁ κύριος μετὰ σοῦ

    Lc 1,28 (texto protestante) – και εισελθων ο αγγελος προς αυτην ειπεν χαιρε κεχαριτωμενη ο κυριος μετα σου ευλογημενη συ εν γυναιξιν

    Este termo trata-se de um vocativo, pois Gabriel, dizendo que a virgem era agraciada, indicava que a palavra estava sendo dirigida a ela sem que tenha citado seu nome. O que me chama atenção no vídeo é que o pastor não se atentou ao fato de que é a única vez em toda a escritura que esse termo é empregado. Lucas o reservou exclusivamente para Maria, para assim indicar o quão importante significava aquela "graça" que foi recebida de Deus.

    Já no verso trinta, o termo encontrado para determinar achar graça é ευρες γαρ χαριν:

    Lc 1,30 (Bíblia de Jerusalém) – O anjo, porém, acrescentou: "Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus."

    Lc 1,30 (texto católico) – καὶ εἶπεν ὁ ἄγγελος αὐτῇ, μὴ φοβοῦ, μαριάμ, εὖρες γὰρ χάριν παρὰ τῶ θεῶ

    Lc 1,30 (texto protestante) – και ειπεν ο αγγελος αυτη μη φοβου μαριαμ ευρες γαρ χαριν παρα τω θεω

    Tal expressão utilizada pelo Anjo é usada para Moisés, e encontramos termo semelhante para Noé no Velho Testamento:

    Gn 6, 8 – Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.

    Gn 6, 8 – Νωε δὲ εὗρεν χάριν ἐναντίον κυρίου τοῦ θεοῦ

    Ex 33,17 Iahweh disse a Moisés: "Farei ainda o que disseste, porque encontraste graça aos meus olhos e conheço-te pelo nome."

    Ex 33,17 καὶ εἶπεν κύριος πρὸς Μωυσῆν καὶ τοῦτόν σοι τὸν λόγον ὃν εἴρηκας ποιήσω εὕρηκας γὰρ χάριν ἐνώπιόν μου καὶ οἶδά σε παρὰπάντας

    Isto é, além do termo de Lucas 1,28 não ser o mesmo usado no verso trinta, vemos que aqui o evangelista procura apresentar Maria como uma continuidade dos antigos heróis que foram responsáveis pela manutenção do povo de Deus. De Noé nasceria uma nação que povoaria a terra após o dilúvio; de Moisés o povo renasceria saindo do Egito; e de Maria uma Igreja nasceria por meio de Jesus Cristo. Embora a tradução portuguesa equipare os termos os denominando graça, uma verificação rápida nos originais nos permite afirmar que a profundidade dos termos gregos nos faz entender o porquê de Maria ser plenamente agraciada por Deus.

    "Essa mesma palavra que aparece no verso vinte e oito, ‘muita favorecida’, aparece no texto de Efésios, capítulo um, verso seis, que inclusive nós lemos na liturgia de hoje, quando Paulo diz que ‘Deus nos concedeu a sua graça em Jesus’. A palavra conceder é a mesma palavra no original que aparece aqui. A mesma palavra que é usada para Maria é usada para os crentes."

    Primeiramente, em nenhum momento dos dois versos (28 e 30) do evangelho lemos alguma palavra mencionada como conceder. O anjo a saúda chamando-a de agraciada e posteriormente menciona que nela foi achado graça, mas concedida não há. Aqui, eu só posso dizer como um protestante: Errais por não conhecer as escrituras (Mt 22,29).

    Como já escrevi, o termo que designa a graça de Maria no verso vinte e oito de Lucas é o vocativo κεχαριτωμένη, isto é, é impossível que ele apareça na epístola aos Efésios, já que essa palavra só aparece esta única vez em toda a literatura bíblica, aplicada neste contexto, para a mãe do Cristo.

    Em Efésios encontramos outra palavra, que vem a ser a χάριτοῦν, que indica que foi com a graça de Deus, que vem da sua glória, que Ele nos agraciou:

    Ef 1,6 (Bíblia de Jerusalém) – "Para louvor e glória da sua graça com a qual ele nos agraciou no Amado."

    Ef 1,6 (texto católico) – εἰς ἔπαινον δόξης τῆς χάριτος αὐτοῦ ἧς ἐχαρίτωσεν ἡμᾶς ἐν τῶ ἠγαπημένῳ.

    Ef 1,6 (texto protestante) – εις επαινον δοξης της χαριτος αυτου εν η εχαριτωσεν ημας εν τω ηγαπημενω.

    Curiosamente, essa expressão só aparece neste texto de Efésios, isto é, esse termo é encontrado uma única vez no Novo Testamento, fazendo referência à graça de Deus derramada sobre a Igreja. Sendo assim, as palavras que aparecem nos textos originais não condizem com a afirmação do pastor, que quer determinar uma única palavra para todas as passagens. Maria foi cumulada de graça por Deus, e é nítido que a causa da aplicação de termos distintos é propositalmente para indicar essa diferença.

    "Infelizmente, a tradução latina do grego da vulgata, que é a Bíblia adotada pela Igreja Católica, quando traduziu isso aqui, em vez de agraciada, traduziu como ‘Maria cheia de graça’. É isso que você tem no latim, na vulgata latina. E como resultado, dá a impressão de que Maria não recebeu um favor de Deus, mas que ela era naturalmente uma pessoa cheia de graça de Deus, sempre foi de uma maneira especial, quando, na verdade, o texto está dizendo que a graça foi o fato de que ela recebeu de Deus o privilégio de dar à luz ao filho de Deus (…). Não é que ela era uma pessoa agraciada acima das outras (…)."

    De fato, a tradução da vulgata que corresponde a gratia plena não corresponde satisfatoriamente ao significado da tradução correta, que vem a ser agraciada, entretanto isso não significa que infelizmente São Jerônimo tenha se equivocado. Pelo contrário, o uso da expressão cheia de graça nos permite uma análise profunda no mistério que envolve Maria na economia da salvação. O mesmo Lucas que escreve que Maria é agraciada chama Estevão de cheio de graça (At 6,8), e, para tanto, recorre a expressões diferentes. Para a virgem, o termo é único e reservado exclusivamente à ela na literatura sagrada.

    Maria recebeu um favor de Deus. A graça é um favor imerecido e a Virgem era naturalmente cheia da graça do Altíssimo porque Ele mesmo assim a fez. A interpretação falha do pastor presbiteriano faz com que ele não perceba que, se Maria encontrou graça diante de Deus, é devido a uma ação prévia do Senhor, que a agraciou, e é por isso que ela é chamada de agraciada pelo anjo, já que foi transformada pela graça, já que foi cumulada por essa graça santificadora que a tornou dona da maternidade messiânica. Assim como Jacó foi escolhido antes mesmo do seu nascimento (Rm 9,11-13), Maria foi inundada pela graça para tal vocação. Ela não seria preparada, já estava. A graça de Deus já refletia em sua santidade.

    O pastor Augustus Nicodemus diz que Maria não estava acima das outras criaturas. Ora, dar à luz o próprio Deus não caracteriza um mérito maior do que os outros salvadores de Israel? Se até Salomão foi único por não existir sobre a terra outro homem com sua sabedoria (1 Rs 4,30-31), quem dirá de Maria, que deu à luz a própria sabedoria de Deus, o próprio verbo? A própria escritura atesta isto ao narrar as palavras do anjo: Bendita és tu entre as mulheres (Lc 1,28).

    Sendo assim, é óbvio dizer que Maria foi a criatura mais sublime da criação divina, pois Ela deu à luz o próprio SENHOR.

    Conclusão

    Infelizmente, o protestantismo não reconhece em Maria o canal utilizado por Deus Pai para que a salvação chegasse até nós.

    Diferente dos (de)reformadores que, mesmo após a ruptura, ainda assim mantiveram opiniões católicas, o Pastor Nicodemus foge de tudo aquilo que a história crê, e, para sustentar sua crença, busca alternativas na língua grega, porém erra por desconhecer suas próprias palavras.

    Bibliografia

    BÍBLIA CATÓLICA ONLINE. Septuaginta. Disponível em: . Acesso em 17 fev. 2020.

    BÍBLIA ONLINE RECEPTUS. Textus Receptus. Disponível em: . Acesso em 17 fev. 2020.

    BÍBLIA SAGRADA. Português. Bíblia de Jerusalém. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006.

    PAREDES, J.C.R. García. Mariologia: Síntese Bíblica, Histórica e Sistemática. 1. ed. São Paulo: Ave Maria, 2011.

    Introdução

    Maria é motivo de controvérsia entre católicos e protestantes. O conflito é antigo e já perdura os séculos. Desde que o monge agostiniano Martinho Lutero causou a maior ruptura no cristianismo ocidental, os reformadores foram retirando aos poucos a presença de Maria na espiritualidade ao ponto de desconsiderarem conceitos e dogmas importantes já confirmados pela Igreja Católica (Ocidente e Oriente) há séculos.

    Atualmente, é muito comum que, ao procurar qualquer tema relacionado à Mãe de Deus pela internet, encontremos mentiras e heresias propagadas por embusteiros que, na tentativa de desqualificar a Virgem Santíssima, recorrem a péssimos argumentos e manobras que, infelizmente, levam muitos ao

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