O Pós-Modernismo na Qualidade de Vida dos Líderes Empresariais: uma análise da dinâmica pós-moderna
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O Pós-Modernismo na Qualidade de Vida dos Líderes Empresariais - Suely Campos de Araújo Rocha
1. O AMBIENTE ORGANIZACIONAL PÓS-MODERNO
Portanto, diante da globalização, reage-se com a esquizofrenia característica de todas as revoluções de época: com euforia pela ubiquidade, de um lado, e, de outro, com o impulso de buscar segurança nas próprias raízes e no próprio ambiente (Domenico Demasi) ¹.
No mundo em constante transformação, sobretudo no mundo dos negócios, o papel do executivo nas organizações pós-modernas requer um alto grau de adaptação em face dos grandes impactos e desafios que se apresentam a todo o momento, advindos, principalmente, do fenômeno da globalização. Desse modo, este capítulo trata dos antecedentes históricos desse fenômeno, de seu impacto nas organizações e, consequentemente, da nova ordem social, assim como das adaptações, tanto no Brasil quanto no estado do Amazonas, a esse novo contexto.
1.1 A PÓS-MODERNIDADE
Quando, em um estudo sobre a pós-modernidade a psicodinâmica, que subjaz à relação do líder com seu trabalho, é enfatizada, depara-se com questões de ampla abrangência e de certa forma, polêmicas. Observa-se que neste campo do saber, as produções do conhecimento aproximam as ciências administrativas e sociais da Psicologia, em especial, daquela de referencial psicanalítico.
Introduzida por filósofos da década de 1970, a Pós-Modernidade ganhou contribuições de diversas correntes de pensamento resultando em valiosas descobertas para esse campo do conhecimento. O que pretendo ressaltar, ao iniciar essa abordagem, é que algumas características da pós-modernidade trouxeram impactos sobre a teoria organizacional e sobre o comportamento das pessoas nas organizações. Existe, em vista disso, uma pluralidade de significados, razão por que, para aprofundar o conhecimento a respeito do ambiente organizacional pós-moderno, é imprescindível conhecer as percepções de diversos autores sobre os principais elementos que dinamizam esse ambiente organizacional, como a globalização, as mudanças e a competitividade.
A competitividade, um dos componentes do ambiente organizacional pós-moderno, pode ser entendida como um maestro do cenário contemporâneo. Para alguns especialistas como Talita Luz² esse ambiente competitivo global tem profundo impacto no âmbito dos negócios e das organizações, seja mobilizando parceria entre empresas concorrentes e fornecedoras, seja descolando o poder que cada vez mais flui para a mão do cliente.
1.2 A GLOBALIZAÇÃO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Embora o tema globalização econômica chegue a ser reconhecido como um fenômeno recente, quando se contempla a paisagem histórica do advento da humanidade até os dias atuais, constata-se que esse fenômeno possui raízes nos primórdios da evolução humana, quando, períodos marcados por revoluções e crises suscitaram mudanças profundas de ordem social, política e econômica no planeta, evoluindo e transformando os modelos organizacionais nos mais diversos âmbitos.
Apesar dessa origem secular, o que se compreende, hoje, como globalização teve seus alicerces no início dos anos 70 e a partir de então, tem engendrado uma nova ordem no padrão de relacionamento econômico entre as nações
.³
Observa-se, mediante a literatura, que a definição do tema globalização decompõe-se em duas vertentes de pensamento: uma que procura definir o processo globalização, experienciado e materializado nas estruturas econômicas e sociais do planeta; outra que procura traduzir o aspecto abstrato de um fenômeno que permeia o inconsciente coletivo de uma geração. De qualquer que seja o ângulo estudado, não se pode deixar de reconhecer os fatos históricos como um pano de fundo
para a confirmação das teorias, tornando possível a identificação dos diversos marcos na evolução da humanidade.
O sociólogo Giddens denominou de marcadores socioespaciais
as conexões observadas entre episódio-espaço-tempo, que atestam uma sequência, uma continuidade na história da civilização⁴.
Também, sobre essa relação espaçotemporal, Hall admite ser possível reconhecer novas relações espaço-tempo sendo definidas em eventos tão diferentes como, a teoria da relatividade de Einstein, as pinturas cubistas de Picasso e Braque, os romances de Marcel Proust e o uso de técnicas de montagem dos primeiros filmes de Vertov e Eisenstein⁵.
Reconhecendo-se o papel de catalisador social, econômico e cultural do fenômeno globalização
, é possível atribuir às migrações dos povos primitivos o papel de precursoras do que se vivencia atualmente, como globalização.⁶
Durante toda história da humanidade, as grandes mudanças repentinas coincidiam em geral com a descoberta de novas terras – e com o consequente acesso a outras regiões geográficas e a diferentes estilos de vida. À medida que chegavam aos novos continentes, os exploradores e colonos mudavam os hábitos e costumes não apenas deles próprios, mas também do velho mundo que deixavam para trás.⁷
Com o surgimento das grandes civilizações, verifica-se a gênese da organização social do trabalho, quando os povos primitivos tomaram caminhos distintos de sobrevivência, originando basicamente dois modelos de desenvolvimento: um formado por aqueles que habitavam as proximidades dos grandes rios e constituíram a sociedade agrária e outro formado por aqueles que, impedidos geograficamente de ter acesso à agricultura, dedicaram-se principalmente às atividades do comércio.
A partir da segmentação desses dois modelos primitivos de desenvolvimento, se instauraram duas culturas distintas que construiriam um período histórico reconhecido como dos mais profícuos em inovações ou tecnologias, entre as quais, o arado, que permitiu ao homem a intervenção no seu próprio destino, tornando-o menos dependente da natureza. Assim, é válido reconhecer que, em se tratando da importância atribuída à divisão do trabalho, nenhum autor, antes do professor escocês Adam Smith (1776), fez [...] desse processo a fonte de todo progresso econômico verdadeiro
.⁸
A aceitação da legitimidade desses acontecimentos faz-se necessária para desmistificar a ideia de novidade
apregoada em muitos discursos sobre o tema globalização, e, consequentemente, para que se possa discorrer sobre seus antecedentes históricos.
No século XVI, Hall⁹ atribui ao Humanismo Renascentista um papel especial no cenário de transformação, principalmente às modificações ligadas à concepção do sujeito. Segundo esse autor, deve-se a esse período o nascimento do que se conhece historicamente como individuo soberano
, contrapondo-se à ordem secular e divina de todas as coisas, incluindo-se o indivíduo.
Para José Guilherme Merquior, conforme expressado por Felipe Kaio no 45º Encontro Anual da ANPOCS¹⁰ "[...] o aparecimento do ethos heroico no humanismo renascentista constitui a primeira paideia profana (mas nem por isso irreligiosa) do Ocidente, o primeiro modelo antropocêntrico de formação da personalidade e do caráter".
Tamanha relevância pode ser creditada a esse período do desenvolvimento cultural, que Toffler¹¹ identifica a revolução agrícola em sua teoria das ondas de mudanças ocorridas no período compreendido entre 8000 a.C. a 1650 d.C., como a primeira onda de mudança relativa à humanidade.
É possível constatar, por meio da literatura especializada, o caráter transformador do fenômeno globalização
sobre os costumes dos diversos grupos humanos, gerando novos estilos de vida, novas demandas, pessoais e coletivas, que acabaram tipificando os diversos períodos descritos pela história.
É sobre essa particularidade na transformação dos costumes, que Giddens¹² destaca o papel do século XVII, onde localiza o período chamado modernidade
, referindo-se [...] ao estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência
.
Avançando mais na trajetória histórica, no período compreendido entre os séculos XVIII e XX, configuraram-se acontecimentos significativos para a mundialização cultural, permitindo ao homem a compreensão e a apropriação do mundo a sua volta.
O acontecimento que consagra esse período é representado principalmente, pelo estabelecimento de uma nova forma de divulgação do saber, proporcionado pelo surgimento do racionalismo e mediante a criação da primeira enciclopédia¹³. Sem também deixar de mencionar a relevância do desenvolvimento da energia elétrica, da locomotiva e do para-raios e, ainda, destacando-se no aspecto econômico, a importância de duas grandes revoluções: a americana e a francesa, que foram singulares no âmbito das transformações sociais, propiciando o acesso ao poder a novas classes sociais.
Oliveira acrescenta, como antecedente histórico à globalização, no período entre os séculos XVIII e XIX, a expansão econômica e territorial da Grã̃-Bretanha, que atingiu vários países, como a América do Norte, a Guiana Inglesa na América do Sul, parte da África, Índia e China, notadamente pelo fato de que [...] através de uma marinha mercante muito desenvolvida e uma poderosa marinha de guerra conseguiu impor a sua estrutura econômica, cultural e social em vários continentes
. ¹⁴
Sobre a organização do trabalho, pode-se demarcar o momento histórico que representa um importante referencial nas transformações mundiais: a Revolução Industrial. Na segunda metade do século XVIII, quando da transição do sistema de produção artesanal para o sistema fabril, transformações econômicas e sociais profundas foram sentidas principalmente na e na Grã-Bretanha. Entre elas, o êxodo rural que produziu enormes concentrações urbanas e adicionou outras mudanças importantes no cenário cultural, econômico e social do planeta.¹⁵
Harvey¹⁶ elege, dentre o período compreendido entre os Séculos XIX e XX, três nomes e três grandes feitos, que se perpetuaram nos estudos da organização do trabalho:
I. Taylor, em 1911:
Os princípios da Administração Científica – um influente tratado que descrevia como a produtividade do trabalho poderia ser radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento. ¹⁷
II. Henry Ford¹⁸, em 1914:
Era sua visão, seu reconhecimento explícito de que a produção em massa significava consumo em massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estática e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista.
III. Henri Fayol - Adminstration industrielle et générale, datada de 1916:
Mostrou-se um texto muito mais influente na Europa do que o de Taylor. Com ênfase nas estruturas organizacionais e na ordenação hierárquica