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Por que a Moda é fútil?: uma obra para leigos, apaixonados e curiosos
Por que a Moda é fútil?: uma obra para leigos, apaixonados e curiosos
Por que a Moda é fútil?: uma obra para leigos, apaixonados e curiosos
E-book156 páginas1 hora

Por que a Moda é fútil?: uma obra para leigos, apaixonados e curiosos

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Sobre este e-book

Esta obra é dedicada a todos aqueles que se apaixonaram pela moda, sejam eles admiradores à distância ou profissionais da área. Discutiremos de maneira fácil e objetiva alguns significados e definições do conceito da Moda, levando a uma análise pela ótica do consumo, do luxo e da ostentação.

Trazemos, ainda, um estudo histórico que identifica os pontos e acontecimentos responsáveis por moldar a visão contemporânea a respeito da área, desde sua origem, passando por momentos-chave e chegando aos dias atuais.

Ao final, o leitor irá compreender a razão pela qual a Moda torna-se uma área fútil e banal às vistas da sociedade contemporânea. Quais são as origens, razões e consequências históricas e sociológicas de ações que esvaziaram o campo de valor ao longo do tempo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de out. de 2022
ISBN9786525256894
Por que a Moda é fútil?: uma obra para leigos, apaixonados e curiosos

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    Por que a Moda é fútil? - Giovanna Amorim

    1. MODA: DEFINIÇÃO, ORIGEM E FUNÇÕES

    Moda. Uso passageiro que rege, de acordo com o gosto do momento, a maneira de viver, de vestir etc. O dicionário Aurélio (2020), ao definir o tema, já aponta um fato que irá guiar este estudo: a Moda, em seus conceitos, dita o vestir e reflete tudo que o envolve em uma sociedade. Seguindo esse raciocínio, Avelar (2011) nos mostra o conflito central da Moda: o eterno embate entre a generalidade e a particularidade, a engrenagem que mantém seu sistema.

    O sentimento inicial de um indivíduo inserido em um grupo é parecer-se com ele, mostrar-se parte integrante, e este o faz com o uso da imitação. Lipovetsky (2009) nos mostra essa faceta da Moda, que se apresenta como instrumento de representação, podendo ser utilizada para a afirmação social. A Moda, segundo ele, tem profunda ligação com o prazer de ver e de ser visto e é a partir disso que parte para o ponto da individualização. Embora seja utilizada como signo de pretensão social e forma de apreciar o espetáculo coletivo, a Moda é, também, utilizada como ferramenta para manifestação da singularidade pessoal. Ao investir em si, o indivíduo se diferencia e, portanto, reivindica sua individualidade dentre o grupo inicialmente homogêneo.

    Esse processo é definido por Lipovetsky (2009) como imitação x diferenciação e serve como guia para o sistema de "cima para baixo", também definido por ele. Este sistema está intrinsecamente ligado às diferenças de classes sociais e ao desejo de parecer-se com os hierarquicamente superiores. Essa forma de funcionamento permite que a análise da Moda extrapole a própria vestimenta, sugerindo muito sobre os diferentes grupos sociais e as influências do meio sobre a individualidade (Freitas, 2005).

    A Moda nasce ao final da Idade Média, em uma época marcada pelo surgimento das primeiras fortunas burguesas, que se expandem pelos séculos seguintes. Ao final do século XVII, essa classe contemplava não apenas grandes fortunas, mas, também, as chamadas média e pequena burguesia. Essa nova camada social buscava prestígio e notoriedade e, como ferramenta para tal, passa a imitar o vestuário da nobreza. Embora limitados por decretos de proibição de cópias, a prática passa a ser cada vez mais frequente em tecidos, rendas, bordados e joias (Lipovetsky, 2009). Historicamente, essas peças eram extremamente sofisticadas e luxuosas entre os nobres e muito simples entre as outras classes. A figura 1 mostra um veludo do arquivo do Victoria and Albert Museum. As informações que acompanham a imagem explicam que o veludo era o tecido típico dos ricos e poderosos, por utilizar grande quantidade de seda e possibilitar um belo drapeado. Por questões econômicas e hierárquicas, não poderia ser utilizado por classes mais baixas.

    Figura 1 - Amostra de veludo dos séculos XIII/XIV

    Fonte: Site oficial do Victoria & Albert Museum, 2020.

    O processo de imitação passa a ser cada vez mais frequente, até ser legalizado pelo decreto da Convenção em 1793 (Lipovetsky, 2009). O sistema da Moda se encaixa, a partir desse momento (oficialmente) e por mais de um século, na teoria do trickle down de Simmel (2008). Nela, as classes mais altas ditam a Moda e os costumes, que escorrem para as classes hierarquicamente inferiores por meio da imitação. Simmel nos apresenta um dualismo metafísico representado, novamente, pela imitação-universalização e pela distinção-particularização. Nesse contexto, o indivíduo está em constante formação e vê na Moda um refúgio e uma estabilidade para expressar seu paradoxo, uma estabilidade que, na verdade, se fundamenta na mudança (Freitas, 2005).

    Entretanto, o século XX chega para revolucionar a maneira de disseminação e, até contestação trazida pela roupa e pela indumentária, valendo-se de suas posições de poder e status. Sua nova função como contestadora de identidades torna a Moda protagonista em inúmeros momentos históricos, passando a assumir seu potencial comunicativo e evolucionário (Marques, 2013). A Moda, que já expressava características socioeconômicas e traços culturais, tornou- se uma ferramenta de liberdade. Não há mais apenas um centro de produção da moda, a elite deixa de ser central e diferentes focos assumem o poder, produzindo diversos modismos (Barnard, 2003). Como consequência desta ampliação, surge, também, o conceito da reprodutibilidade. Segundo Walter Benjamin (1987), a partir deste momento, ocorre uma expressiva diminuição da distância entre classes: mais pessoas têm acesso a bens culturais e, assim, o poder cultural deixa de ser tão concentrado. Baitello Jr (2001) expressa que o poder trazido pela Moda: reafirma a liberdade do homem de criar a própria pele, (...) gerada por sua imaginação e fantasia e tornada real por sua engenhosidade técnica.

    É por meio da Moda que uma pessoa envia uma mensagem, expressa seus gostos, desejos e identidades (Marques, 2013). Ela assume, por fim, sua principal função enquanto ferramenta de comunicação.

    Desaparece a função utilitária das roupas, a proteção do corpo contra os perigos externos perde espaço para um desejo por construção de um estilo próprio, a formulação de uma personalidade e de um status. Utilizar as roupas a seu favor é a principal forma de fuga do anonimato, cria-se uma individualidade fluida por meio de códigos e signos da composição da indumentária e essa figura se relaciona na sociedade por meio de expressões culturais, políticas e relações sociais.

    Brandini (2007) afirma que a sociedade poética cosmopolita pós-moderna usa o corpo como a dramatização de subjetividades. Ao alimentar essa fabricação de estilos, a Moda aproxima a construção de personalidades do consumo (Ewen, 1990). Com base neste fato, sua relação paradoxal da imitação x diferenciação se torna campo fértil para o incentivo ao consumo, assim como sua forma de manipular os signos e orientar uma dinâmica produção simbólica. A Moda se torna, dessa maneira, o consumo em si, ora de objetos, ora de ideias (Freitas, 2005).

    Não devemos nos enganar, entretanto, ao colocar o usuário como um sujeito passivo desse sistema. Pelo contrário, o indivíduo possui papel ativo em suas escolhas, mesmo que não consiga se desvencilhar da Moda. Simmel (1988) descreve um processo de inversão da imitação social, no qual o indivíduo, em seu desejo por diferenciação, inicia seu processo por negar a moda e seu senso comum, mas, posteriormente, encontra mais força para suas atitudes ao assemelhar-se a outros que negam com ele. O próprio ímpeto de inverter a imitação não elimina a moda e, sim, aglutina-se a ela.

    A intensificação das informações no mundo contemporâneo pode gerar repulsa por parte de suas personagens. Ao passo que tudo se torna Moda e nada foge dela, a Moda morre pelo seu próprio excesso, se vê banalizada por seus próprios agentes que abandonam a subjetividade e a utilizam apenas como vestimenta, proteção, segurança contra o constrangimento da nudez. Um dos pontos mais maléficos e, ao mesmo tempo, geniais desse processo é que, mesmo vestindo-se pela simples imposição social, o sujeito ainda se vê preso em sua necessidade de pertencimento (Freitas, 2005). Novamente, nada foge dela.

    Este trabalho busca apresentar àqueles que admiram a Moda algumas justificativas e explicações que podem ser utilizadas em sua defesa - de si mesmos e da mesma - nos casos de banalização. O processo descrito acima foi ilustrado no livro O Diabo Veste Prada (2003), adaptado para o filme homônimo (2006). A personagem Miranda Priestly (interpretada por Meryl Streep), nos dá uma breve explicação, mostrando como ninguém, por mais que se considere um outsider, está livre da indústria da moda e de suas decisões.

    "Você acha que isso não tem nada a ver com você. Você abre o seu guarda-roupa e pega, sei lá, um suéter azul todo embolado porque está tentando dizer ao mundo que você é séria demais para se preocupar com o que vestir. Mas o que você não sabe é que esse suéter não é somente azul. Não é turquesa. É cerúleo. E você também é cega para o fato de que, em 2002, Oscar de La Renta fez uma coleção com vestidos somente nesse tom. E eu acho que foi Yves Saint Laurent, não foi? Que criou jaquetas militares em cerúleo. (...) E o cerúleo começou a aparecer nas coleções de muitos estilistas. E logo chegou às lojas de departamentos. (...) E foi assim que chegou a você. E, sem dúvida, esse azul representa milhões de dólares em incontáveis empregos. E é meio engraçado como você acha que fez uma escolha que te exclui da indústria da moda, quando, na verdade, você está usando um suéter que foi selecionado para você

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