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Amor: Uma Razão De Viver
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Amor: Uma Razão De Viver
E-book234 páginas3 horas

Amor: Uma Razão De Viver

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Sobre este e-book

O livro conta a história de Tabita , e texto é narrado em primeira pessoa. Tabita vive nas ruas e buscar ajuda para vencer o alcoolismo. A personagem, muitas vezes, sente-se confusa diante de suas tentativas frustradas de abandonar o vício. E sem saber como escapar do alcoolismo, que além de destruir sua própria vida, destrói sua família, Tabita passa a viver como uma andarilha. Ela vive e dorme nas ruas, debaixo de pontes, viadutos e bancos de praças. É uma história de tentativas, caídas e superação na luta contra o alcoolismo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de nov. de 2017
Amor: Uma Razão De Viver

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    Amor - Conceição Aparecida Mendes

    Prólogo

    A manhã estava fria e eu me encolhia toda embrulhada no velho cobertor. Mas algo quebrou a minha rotina diária de mais de seis meses. Eu estava sentada no banco de uma praça, onde tinha passado a noite, quando um senhor já bem avançado em anos, sentou-se ao meu lado. Não dei importância. Mas fiquei imaginando como ele teve coragem. Normalmente as pessoas têm medo dos andarilhos, e passam bem longe de nós, evitando-nos sempre. Havia outros bancos em que ele pudesse ter-se assentado, e assim evitar estar perto de alguém como eu. Mas vai entender. Quis levantar-me e sair dali, mas o meu corpo estava dolorido e eu mal conseguia equilibrar minha cabeça. Fiquei quieta, puxei o pedaço de cobertor velho com o qual eu dormira e enrolei-me nele, e tombei o corpo para o encosto do banco. Devo ter cochilado, não sei, mas de repente levantei-me num grande ímpeto para sair dali. Cambaleie, tentei me equilibrar, mas desmontei novamente no banco. O senhor que havia sentado perto de mim ainda estava lá, e procurou me ajudar segurando o meu braço. Eu olhei para ele com raiva. Seus olhos tinham uma profundidade que parecia absorver tudo à sua volta. Uma sensação estranha fez meu corpo despertar e uma paz imensa fez-me ficar ali. E eu não conseguia desviar meus olhos daquele homem.

    ¾ Você quer conversar comigo? ¾ disse-me ele

    Não respondi, acho que nem entendi direito o que ele havia me perguntado. Eu continuava a olhá-lo. Ele aparentava ter uns sessenta e cinco anos, vestia elegantemente calça e blazer de linho marrom com uma camisa social branca, sua pele era branca, na verdade era branca demais..., ele era alto, tinha barba e cabelos que ainda não estavam de todo grisalhos, e isto realçava seus olhos arredondados e verdes.

    ¾ Meu nome é Antônio ¾ disse ele. ¾ E você, como se chama?

    ¾ O que? ¾ eu estava magnetizada por aquele olhar. Aos meus ouvidos, sua voz parecia-se ao som de um trovão, mas não me irritou, pois ela era firme, clara e limpa.

    ¾ Qual é o seu nome, filha?

    ¾ Tabita.

    ¾ Bonito nome! Senta direito e vamos conversar um pouco.

    Ele me ajudou. Sentou-me de maneira que ficamos olhando um para o outro. O que está acontecendo comigo? Por que estou conversando com este homem? Ele tem cara de médico ¾ pensei. Por que seu olhar me atrai tanto?

    ¾ Onde está seu marido?

    ¾ Como sabe que sou casada? ¾ perguntei assustada. Será que ele é um anjo que veio me ajudar? Não, eu estou delirando.

    ¾ Ora eu estou vendo a aliança em seu dedo ¾ respondeu ele.

    ¾ Ah! É claro, a aliança ¾ disse-lhe eu aliviada.

    Um anjo! Meu deus, eu só posso estar doida mesmo, pensar que existem anjos, ora essa ¾ pensei, e ri por dentro.

    ¾ Então, onde está seu marido? ¾perguntou-me novamente.

    ¾ Eu não moro com a minha família ¾ respondi-lhe, e senti saudades. ¾ Há muito tempo que eu não os vejo.

    ¾ Sei. E como é a sua família Tabita?

    ¾ Eu tenho três filhos. Dois meninos e uma menina. Eles são muito importantes para mim, e não quero vê-los sofrer ¾ falei. ¾ Ralita é a mais moça. Ela já é uma moça. Ela tem um sorriso franco e aberto. Júnior já é mais sério, tem pose de homem adulto, mas é apenas um garoto. Thiago, o meu filho caçula, é muito brincalhão, para ele tudo é festa e alegria ¾ contei-lhe emocionada.

    Eu estava muito cansada e pensar em meus filhos deixou-me triste, meu semblante descaiu mais ainda. Senti a pele de meu rosto pesar toneladas. A respiração estava difícil e os pulmões doíam.

    ¾ Bom, eu ainda não tomei café Tabita, e pelo que vejo você também não ¾ disse ele com um sorriso jovial. ¾ que tal irmos àquele bar para um belo lanche?

    ¾ Acho que não. Eu não estou me sentindo bem.

    ¾ Nada melhor do que um café bem amargo para curar a sua ressaca Tabita. ¾ Venha, levante-se ¾ ordenou-me, e foi logo segurando meu braço e ajudando-me a levantar.

    Ele me amparou e fomos caminhando devagar.

    ¾ Por que você está fazendo isso senhor Antônio? ¾ perguntei-lhe atônita por estar obedecendo e seguindo aquele estranho.

    ¾ Pode me chamar somente de Antônio, Tabita, afinal eu me sinto muito jovem ainda. Bom, quanto à sua pergunta, eu poderia dizer que é por observar que você é uma mulher muito bonita e que teve uma boa educação. O que não deixam também de serem boas razões para ajudarmos uma mulher, não é verdade? Mas eu acho que fui atraído até você ¾ ele disse isso e parou olhando para mim. ¾ Às vezes não há razão específica para o que fazemos Tabita. Apenas temos vontade de ajudar as outras pessoas ou, quem sabe, por que somos enviados! ¾ Antônio diz isso e sorri marotamente.

    Chegamos ao bar, nos encaminhamos para uma das mesas e ele me ajuda a sentar. Ele toma apenas uma xícara de café, enquanto eu após tomar um café bem forte peço pães com presunto e mussarela. Há muito tempo que eu não como com tanto prazer. Estava satisfeita e não sei por que estava até alegre. Durante todo o tempo em que tomávamos café, Antônio permaneceu calado, ele ficou só me observando.

    ¾ Há quanto tempo você é alcoólatra? ¾ perguntou-me de repente. ¾ Antes de você perguntar como é que eu sei, já vou lhe dizer simplesmente que sei. Os comos às vezes nos fazem só perder tempo, pois não acrescentam nada além àquilo que já sabemos.

    ¾ Nossa! Você vai dar um nó em minha cabeça ¾ disse-lhe.

    Ele riu, e esperava por minha resposta. Suas mãos estavam muito calmas sobre a mesa e sua cabeça pendia um pouco para à frente, enquanto seu corpo permanecia ereto, mas suavemente descontraído.

    ¾ Eu não sei lhe responder ao certo. Só sei que gosto de beber. Não sei viver sem estar embriagada ¾ respondi-lhe.

    ¾ E a sua família? Por que você não está com eles?

    ¾ Eles já se cansaram de me ajudar. Eles desistiram de mim ¾ murmurei amargamente. Sentia um nó na garganta, mas controlei-me.

    ¾ Não terá sido você quem desistiu deles?

    ¾ É claro que eu não desisti deles, que ideia idiota ¾ resmunguei, mas no íntimo aquela pergunta incomodou-me. ¾ E eu não sei por que estou conversando com você. Eu vou embora ¾ gritei. Algumas pessoas viraram-se e ficaram nos olhando.

    ¾ Tabita, calma! Você não está em condições de sair por aí sozinha. Diga-me o endereço de sua casa, eu a levarei para lá.

    ¾ Eu não tenho endereço. Eu moro nas ruas. E quando eu tenho vontade de dormir eu deito e durmo em qualquer lugar! ¾ respondi-lhe.

    ¾ Certo, certo... ¾ disse ele pensativo. ¾ Eu gostaria de ouvir a sua historia Tabita. Eu sinto que você está precisando conversar com alguém. E desde que me sentei ao seu lado, lá no banco da praça, que eu tive necessidade de conhecê-la. Eu posso ser um ombro amigo para você Tabita. Todo ser humano precisa de alguém para compartilhar não apenas as alegrias da vida, mas também os sofrimentos.

    ¾ Não gosto de falar da minha vida. Eu mal o conheço! ¾ disse-lhe olhando em seu rosto que se contraiu ao me ouvir. ¾ Preciso ir.

    ¾ Ir para onde Tabita?

    ¾ É seu Antônio, eu não tenho para onde ir. Mas preciso circular por aí. A estas horas o pessoal do serviço social já está rondando a cidade em busca dos andarilhos para enviá-los para suas casas ou para encaminhá-los às suas cidades. Muitos andarilhos vêm de outras cidades.

    ¾ Entendo. Bom eu estou sempre por aqui. Se precisar conversar com alguém me procure. Eu gostaria muito de ajudá-la ¾ disse ele.

    ¾ Não preciso conversar com ninguém! ¾ respondi-lhe e fui levantando-me. Ele fez menção de levantar-se para me ajudar, mas recusei sua ajuda fazendo um sinal com uma das mãos.

    Eu saí do bar toda encolhida e embrulhada no pedaço de cobertor. Tive um impulso, e olhei para trás. Ele continuava sentado solvendo sua xícara de café. Acho que nunca vou me esquecer de um tipo como ele, senhor de si.

    ¾ Até mais Tabita! Falou-me.

    Eu não lhe respondi, fiz-lhe somente um leve movimento com minha cabeça.

    Maldito Antônio ¾ pensei atormentada com sua voz que não saía de minha cabeça. Durante vários dias, não consegui tirar aquele homem do meu pensamento, chegava a vê-lo quando me embriagava até cair.

    Ultimamente os meus delírios eram mais constantes, sonhava e acordava com a nítida impressão de que estava sendo perseguida, ou que pessoas estavam correndo atrás de mim com porretes nas mãos para me baterem. Eu saía correndo e esbarrando em tudo pela frente. Eu caía e levantava-me a todo instante, até que desmaiava em algum beco ou calçada. Quando recobrava os sentidos estava toda dolorida.

    Depois de vários dias perambulando sem rumo, notei que estava na mesma praça onde eu havia conversado com Antônio. Senti saudades. Como posso sentir saudades de alguém que eu mal conheço? ¾ Pensei refletindo comigo mesma. Tive vontade de revê-lo. Olhei em volta, mas não o vi. Estava uma tarde bonita e estava muito quente, mesmo assim eu estava com o cobertor enrolado em volta do pescoço e cobrindo meus braços. Eu estava com febre nos últimos dias e tinha calafrios o tempo todo, por isso, eu andava encolhida.

    Sentei-me num dos bancos da praça. Bom, acho que passarei a noite aqui ¾ pensei, e recostei-me no banco.

    ¾ Tabita!

    Olhei assustada para os lados. Vi Antônio aproximando-se de mim. Seu olhar era radiante, e os fios brancos de seu cabelo e de sua barba rala reluziam sob a luz dos últimos raios de sol, de modo que seu rosto ficou por um momento resplandecente. Parecia que eu estava tendo uma visão. A luz ofuscava minha visão. Coloquei uma das mãos acima dos olhos para ver se realmente era o meu amigo. É Antônio, é ele mesmo ¾ pensei abrindo um sorriso para ele que já se aproximava de mim. Meu coração acelerou e senti que todo o meu corpo vibrava de alegria por ver aquele rosto amigo.

    ¾ Eu pensei que não veria você nunca mais, Antônio ¾ disse-lhe eu quando ele chegou perto de mim. ¾ Mas você veio. Você está aqui! ¾ conclui sem conseguir esconder minha alegria por vê-lo.

    ¾ Sim Tabita, eu estou aqui!

    ¾ É. Você está aqui!

    ¾ Eu estava esperando por você! E já pedi café e alguns pãezinhos com presunto e mussarela ¾ falou-me ele muito animado, e já me pegando pelo braço. ¾ Venha! Eu ajudo você, vamos lá para o bar.

    ¾ Pensei que não fosse vê-lo mais Antônio.

    ¾ Pois eu tinha certeza que nós nos veríamos novamente.

    Atravessamos a praça, e quando chegamos ao bar, ele me conduziu a uma das mesas que ficava mais afastada. E ali, em cima da mesa, havia um cestinho com pães recheados com presunto e mussarela. Um dos garçons disse a Antônio que já estava trazendo o café.

    ¾ Antônio, eu estou com muito frio ¾ gaguejei. ¾ Se você não se incomodar, primeiro eu prefiro uma dose de bebida... é para esquentar o corpo ¾ balbuciei, e pensei que ele fosse me chamar a atenção, mas ele simplesmente fez um sinal ao garçom e pediu-lhe que trouxesse uma dose de vodca para mim.

    ¾ Pensei que fosse se zangar ¾ disse-lhe receosa com a resposta ou com o sermão que iria ouvir.

    ¾ Tudo bem ¾ disse ele sem demonstrar nenhuma reação contrária.

    O garçom trouxe o copo com a vodca. Virei o copo de uma só vez. Depois comi os pães recheados com uma enorme voracidade.

    ¾ Então, sente-se melhor? ¾ perguntou-me Antônio.

    ¾ Sim.

    ¾ Você parece não estar bem. O que anda sentindo? ¾ perguntou-me.

    ¾ Eu estou ficando doente, Antônio. Meu corpo dói muito, e tenho tremores e uma febre constante ¾ disse-lhe.

    ¾ Está na hora de você voltar para sua família Tabita.

    ¾ Eu não posso.

    ¾ Nós seres humanos precisamos uns dos outros Tabita. E é natural que uma mãe busque estar perto dos filhos, principalmente quando precisa deles ¾ disse-me ele. ¾ Por que você não pode voltar para junto de sua família? ¾ perguntou-me.

    ¾ É uma longa história Antônio.

    ¾ Conte-me a sua história Tabita. ¾ pediu ele calmamente.

    ¾ Você ficaria entediado de ouvi-la ¾ respondi-lhe, e olhei em volta. ¾ Acho que já deveria ter saído daqui, pois os donos de bares não gostam de nos ver por perto de seu estabelecimento comercial.

    ¾ Claro que não ficarei entediado. Pode confiar em mim Tabita ¾ disse Antônio dirigindo seu olhar em volta. ¾ E não se preocupe, pois ninguém irá nos incomodar ou pedir que saiamos. Foi por isso que escolhi esta mesa mais afastada. Aqui nós estamos à vontade. Este bar ainda é um dos poucos lugares da cidade em que um sujeito pode se sentar, ficar tranquilo observando a vida passar, e bebendo seu drinque sossegado, ou tomando o seu café. Não se preocupe que ninguém vai nos incomodar ¾ explicou-me ele.

    ¾ A princípio, minha história é igual à história das outras pessoas. Nasci de uma família simples, mas que fez de tudo para que eu estudasse e fosse uma boa moça.

    Capítulo 1

    Todos nós nascemos da união entre dois seres, que chamamos casamento. E é a união entre pessoas que se amam que as famílias são constituídas. Eu nasci de uma destas uniões, realizada nos moldes tradicionais. E, como toda criança inocente, cresci desejada e amada por todos os membros de minha família, pois eu era filha única.

    Minha família vivia em uma cidadezinha no interior de Minas Gerais. Minha mãe era dona de casa como todas as mulheres casadas daquela época, cuidando do marido e dos filhos com grande amor e paciência, enquanto meu pai, que era um lavrador, trabalhava com lavouras de feijão.

    Meus pais me deram o nome de Tabita. Eu era muito risonha. Eu tinha os cabelos castanhos e os olhos pretos. Desde bem pequena, para ser exata desde os meus quatro anos, meu pai me levava para trabalhar na lavoura de feijão com minha mãe. Nossa jornada de trabalho começava ao amanhecer e terminava ao anoitecer. Mesmo assim, por mais cansada que estivesse eu estava sempre alegre e rindo. Eu cantava o tempo todo, e pregava muitas peças nas outras crianças enquanto ajudava a plantar e a colher o feijão.

    Meus pais diziam que eu era uma excelente trabalhadora, e estava sempre ajudando os demais. Eu era muito esperta e inteligente. Ao completar seis anos de idade, minha mãe reduziu o meu trabalho na lavoura para que eu pudesse frequentar a escola. E olha que os professores me elogiavam muito, e eles ficavam impressionados com o meu constante bom humor.

    Assim, trabalhando na lavoura de feijão e estudando, eu fui crescendo.

    Capítulo 2

    Durante minha adolescência o que eu mais desejava era encontrar o homem de minha vida, casar, ter meus filhos e minha própria casa. Mas estas coisas que tanto desejamos não acontecem de um dia para o outro.

    Dia após dia eu estudava e ajudava meus pais nos serviços da lavoura e de casa. Tornei-me uma linda garota.

    Em meus devaneios eu sempre sonhava em ser uma grande enfermeira, em poder ajudar a diminuir a aliviar as dores dos seres humanos. Este era um sonho que eu alimentava desde bem pequena, pois eu tinha uma mão muito macia para cuidar de qualquer ferimento, como dizia meu pai. Lembro-me de certa ocasião em que meu pai feriu-se com a enxada na lavoura, quando estava capinando as ervas daninhas, que insistiam em crescer no meio da plantação de feijão. Assim que ele chegou, eu vi o ferimento em sua perna, fui logo pegando panos limpos para limpar o ferimento e

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