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Haverá Amanhã
Haverá Amanhã
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E-book429 páginas6 horas

Haverá Amanhã

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Sobre este e-book

Haverá Amanhã retrata a vida de um engenheiro civil, homem simples e pacato que de uma hora para outra, vê sua vida transformada do vinho para a água podre e levando o do paraíso ao inferno da noite para o dia. Haverá Amanhã é uma obra de ficção, mas pode ser a vida de qualquer um. Jonatha Cazarinni é envolvido numa trama onde ele se torna o bode expiatório e após a perda de sua noiva e ver a sua vida despedaçada, transforma se de caça em caçador. Não tendo força ou vontade de viver, decide revidar e ir atrás dos mandantes de uma organização criminosa. Haverá Amanhã relata a luta de um homem inteligente, solitário e determinado a acabar com aqueles que destruíram sua vida e a de seus amigos sem se importar se Haverá Amanhã.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de abr. de 2019
Haverá Amanhã

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    Haverá Amanhã - Francis Lucena

    Haverá Amanhã

    Autor: Francis Lucena

    Fevereiro / 2019

    2

    Livro I

    3

    Capitulo 01

    Jonatha Pietro Cazarinni olhou para o relogio na parede oposta em que estava sentado na poltrona e viu que ainda tinha muito tempo antes de partir de viagem.

    A televisão estava ligada num dos canais de variedades, a apresentadora estava mostrando como se prepara um risoto e neste momento estavam cortando o camarão. A apresentadora fazia questão de salientar a rapidez da preparação e passava os ingredientes para completar o risoto. Por um tempo, um tempo muito breve Jonatha Pietro Cazarinni pensou em como a sua vida lhe era boa e como a sorte lhe sorrira a cada dia.

    Engenheiro formado em engenharia civil por uma das mais renomadas e conceituada universidade do Estado de São Paulo. Tinha um otimo emprego como engenheiro civil numa das maiores empresas do ramo da construção do estado e a poucos dias de se tornar noivo da mulher que amava.

    O que mais eu podia querer da minha vida. – Pensou Jonatha Cazarinni e por um instante olhou para o relogio e teve a nitida impressão que os ponteiros estavam andando no sentido ante horario e a cada fração de segundo que passava, o ponteiro aumentava a velocidade girando pra traz. Baixand o a vista para as suas mãos, lembrou de todo o sofrimento que teve na infancia pobre na cidade Sao Luis .

    - Acorda filho. – Falou Ângela Cazarinni para Jonatha enquanto o balançava para que acordasse.

    Jonatha ainda sonolento, não entendeu o que estava acontecendo e nem porque a sua mãe o estava chamando para acordar naquela hora da madrugada. Apesar da pouca idade que tinha e da pouca claridade no quarto Jonatha conseguiu ver o medo estampado no rosto de sua mãe quando abriu os olhos, não sabia por que ela estava agindo 4

    daquela forma, mas tremeu junto com ela. Ângela Cazarinni estava somente com a camisola azul com estampas de flores silvestres amarelas e verdes que tinha. Ela se mostrava completamente apavorada.

    - Vamos. Vamos filho. Acorda. Nós temos que c orrer.

    - Vamos mulher. Mais depressa com isso. – Gritou João Cazarinni do outro cômodo da casa enquanto pegava uma mala velha e jogava dentro dela alguns pertences de valor. – Temos que ir antes que eles cheguem.

    Minutos depois Jonatha ainda sonolento e s em entender nada do que estava acontecendo foi arrastado para fora do pequeno casebre de tabua que morava desde que nascera. Agarrado a mão de Ângela correu para fora, onde João agarrou a outra mão e seguiu para o mato fechado, João seu pai corria na retaguarda com a mala sob o braço. Correram desabaladamente e entraram pela floresta á dentro. João Cazarinni era caçador nato e tinha um profundo conhecimento de todos os atalhos e perigos da selva que penetraram. Os pulmões de Jonatha ardiam de tanto que correu, parou por um instante, pois não conseguia mais respirar e nem dar mais nenhum passo a frente. João Cazarinni vendo o estado lastimavel que Jonatha se encontrava, entregou a mala para Ângela, pegou Jonatha pelos braços e o colocou sobre os ombros como se fosse um saco de batatas e continuou correndo pela floresta á dentro. Alguns quilômetros depois, João resolveu parar para

    um breve descanso. João Cazarinni encostou as costas numa arvore e olhou para Ângela, no meio daquela confusão toda, sem motivo algum ele começou a rir. Ângela espantou se com o acesso de riso do marido e se olhou, viu do que João estava rindo e começou a ri tambem. Eles simplesmente estavam quase nus. Os poucos restos de roupas que ainda cobriam os seus corpos, estavam em frangalho e esfarrapadas, pareciam

    5

    mais com as fantasias que usavam em festas comemorativas. Jonatha olhava para o pai e para a mãe e não entendia porque eles estavam rindo, pois a sua vontade era de chorar. Estava com o rosto todo marcado pelos galhos das arvores que lhe bateram enquanto corria. Alguns cortes eram superficiais, mas alguns estavam sangrando e doendo. A dor era forte, mas ele era mais forte que elas e não chorou. Aguentou firme, pois na sua cabeça, nada ia lhe acontecer porque os seus pais estava m rindo felizes.

    Enquanto descansavam deitados na grama, Ângela olhou na direção da casa que haviam deixado para traz e na noite escura viu a claridade das chamas que imaginou estarem envolvendo o casebre que moraram ate algumas horas atras.

    - E agora. – Perguntou Ângela para João Cazarinni.

    - Agora. Agora não temos mais nada que fazer a não ser irmos em frente. – Respondeu João se levantando e pegando a mala com uma das mãos e Jonatha com a outra.

    Andaram por varios dias e noites pela floresta. Se alimentaram com o que encontraram pelo caminho e quando acharam que ja se encontravam seguros, pararam a beira de um lago e imensamente cansados, adormeceram.

    João Cazarinni estava de guarda e o cansaço o dominou completamente. João calculou que os seus perseguidores haviam desistido, estava completamente errado. Os seus perseguidores não haviam desistido da caça, so haviam perdido o seu rastro, isto aconteceu por alguns quilometros. Ele não sabia, mas os seus perseguidores estavam a poucas horas de distancia e seguindo o seu rastro em passo rapido.

    Jonatha Cazarinni acordou com o sol forte batendo nos seus olhos. Abriu os e viu ao seu lado no lugar que antes estava Ângela, uma poça grande de sangue. Olhou apavorado para os lados e não viu nenhum sinal da mãe e nem do pai.

    6

    João e Ângela haviam desaparecido sem deixar rastro. Jonatha não viu os sinais de luta que havia na terra, desorientado e com medo se viu completamente so no meio de uma selva desconhecida.

    Alguns dias depois Jonatha foi encontrado por um casa l de idosos. Estava desnutrido e andava desorientado pela estrada.

    - Qual e seu nome filho. – Pergunta o velho.

    Jonatha tremendo de medo e frio não responde.

    - Vamos ficar com ele. – Disse Maria das Dores descendo da camionete e abraçando Jonatha.

    - Mas nós não podemos ficar com ele. Não sabemos nem quem ele e. Deve ter alguem procurando ele.

    - Ninguem vai saber, e se perguntarem, a gente fala que e nosso neto. Que a mãe dele morreu de algum de alguma coisa.

    Assim aconteceu quase vinte anos atras. Seis me ses depois Jonatha Cazarinni passou a frequentar a escola primaria da cidade de São João da Balisa. Jonatha se mostrou uma criança inteligente e gostava de ler os livros que encontrou na biblioteca da escola. Adorava escrever e fazer calculos matematicos.

    Quando completou os estudos, prestou vestibular para varias faculdades do estado e sendo aprovado no vestibular da faculdade de engenharia civil da cidade de Lavras no estado de Minas Gerais, resolveu se mudar.

    Miguel Antonio das Dores e Maria Conceição das Dores seus pais por adoção, receberam a noticia com grande alegria, mas no intimo eram so tristeza, não gostaram da ideia de Jonatha estudar em outra cidade. Eles sabiam que perderiam o contato com o seu filho querido. Não gostaram, mas aceitaram e festejaram. Intimamente sabiam que um dia isto

    7

    ia acontecer um dia. Os dois foram com Jonatha ate a rodoviaria da cidade para se despedirem.

    - Sentirei saudades. – Diz Jonatha para Maria das Dores ao ver as lagrimas nos olhos da mulher enquanto o abraçava.

    - Não se esqueça de nós. – Diz Miguel apertando a mão de Jonatha. – Nós nos orgulhamos de voce.

    - Eu jamais me esquecerei de voces. – E abraçando novamente os dois. – Voces são a minha familia.

    Antes de embarcar no onibus, Jonatha deu um longo abraço em Maria das Dores e assim que sentou na poltrona numero vinte e seis ao lado da janela, viu a expressão de tristeza estampada nos olhos de Maria e Miguel. Sentiu um no na garganta que demorou horas para passar e foi impossivel engolir.

    Jonatha Cazarinni não sabia, mas aquela seria a ultima vez que veria Miguel e Maria com vida.

    Capitulo 02

    Pontualmente cinco horas e quinze minutos da manhã de segunda feira o onibus estacionou na plataforma da cidade de Lavras e Jonatha Cazarinni desembarcou com mais doze outros passageiros. Apesar do horário, a plataforma estava lotada de jovens universitarios.

    Carregando uma pequena mala simples e uma bolsa de couro cru no braço, atravessou o pequeno saguão da rodoviaria e foi ate o guiche de venda de passagem.

    - Por favor, como e que eu faço para chegar ate a faculdade de engenharia.

    - O ponto de onibus da faculdade e ali. – Respondeu o homem do guiche de passagens e apontando com o dedo indicador para o outro lado da rua. – O ponto final dele e ali e ele vai ate a porta da faculdade.

    8

    - Obrigado. – Respondeu Jonatha se afastando do guiche.

    - Ele demora um pouco. – Gritou o homem de dentro do guiche.

    Para Jonatha o onibus demorou uma eternidade, mesmo assim sentia se tranquilo e sereno. Sentia se satisfeito por estar ali, era um vencedor e não era alguns minutos de atraso que o tiraria do serio. Estava entrando numa faculdade. Seus pensamentos ainda estavam voltados para o casal

    de velhos que deixara dias atras na rodoviaria. Perdido em seus pensamentos, não viu que o onibus chegou e abriu a porta.

    - Voce vai subir ou não. – Perguntou alguem as suas costas. Voltando a realidade Jonatha viu que o ponto de onibus estava cheio de jovens e todos queriam entrar no onibus.

    Segundos depois Jonatha estava pulando para dentro do onibus com a mala na mão. Os outros jovens entraram sem reclamar. A viagem de onibus foi curta o bastante para que Jonatha se arrependesse de ter gastado o pouco que tinha com a passagem. Estava acostumado a andar distancias maiores.

    - Voce vai para a faculdade. – Perguntou um garoto sardento que o reconhecera pela voz.

    - Vou. – Respondeu Jonatha secamente.

    - Muito prazer. – Diz o garoto estirando a mão na sua direção. – Samuel Ishymura.

    - Prazer. – Diz Jonatha retribuindo o cumprimento do garoto. – Jonatha Cazar inni.

    - Voce vai fazer que curso.

    - Engenharia Civil.

    - E no portão quatro. Ele para na frente.

    9

    Cinco minutos depois estavam desembarcando do micro onibus e seguiram andando lado a lado pela rua do campus da faculdade.

    - Voce e daqui da cidade. – Perguntou Jonatha depois de algum tempo.

    - Não. Eu vou me matricular.

    Jonatha parou de andar e olhou para o garoto.

    - Voce tem nome de japones, mas não e japones. Voce vai se matricular nessa faculdade. Que curso voce vai fazer.

    - Engenharia Eletronica.

    - Mas voce e uma criança.

    - Vou completar treze anos no mes que vem. – Respondeu Samuel imponente como se treze anos fossem a coisa mais importante do mundo.

    Perante a expressão de espanto que estava estampada no rosto de Jonatha, Samuel Ishymura acrescentou.

    - Eu sou o que chamam por ai de garoto prodigio.

    - Prodigio.

    - E. Eu sou inteligente demais para a minha idade. Eu comecei a ler com dois anos e a fazer calculos matematicos com cinco. Por alguma razão Jonatha não desconfiou das palavras

    ditas pelo garoto que a primeira vista lhe inspirou ser uma pessoa confiavel.

    O garoto parece ser gente boa. – Pensou Jonatha no momento que entrava no saguão da faculdade.

    Jonatha percorreu o longo corredor ate chegar ao guiche e entregou os documentos e assinou os papeis efetuando a matricula no curso de engenharia civil. Meia hora depois estava saindo da sala da secretaria da faculdade. Ao voltar para o saguão principal, deu de cara com Samuel Ishymura que viera a faculdade para entregar os documentos que faltavam para completar a sua matricula.

    10

    Jonatha era um rapaz excepcionalmente bonito. Alto, forte, seus olhos cinzentos e os cabelos negros e crespos. Unidos a sua pele bronzeada pelo sol, causava furor entre as garotas e inveja em muitos homens. No entanto para Samuel, Jonatha inspirou confiança e segurança.

    Jonatha não sabia, mas foi por sentir essa segurança que Samuel Ishymura esperou por ele no saguão. Jonatha Cazarinni era tudo o que Samuel não podia ser. Apesar de ser na concepção da palavra, um genio, não passava de um metro e meio de altura e era magro como um palito.

    - Voce ja tem onde ficar. – Perguntou Samuel assim que se aproximou de Jonatha.

    - Não. – Respondeu Jonatha meio seco.

    - Porque voce não vem morar comigo.

    Jonatha parou e olhou serio. Samuel notou a mudança na sua fisionomia e apressou se em corrigir o que havia acabado de falar.

    - Não e nada disso que voce esta pensando. – E olhando para os pes de Jonatha, levantou a cabeça. – Olha o meu tamanho e olha o seu.

    - Entendo. Mas eu vou logo te avisando que eu não sou guarda costa de ninguem.

    - Nem eu quero um guarda costa. Eu sei me cuidar muito bem. - Tem certeza.

    - Tenho. E que eu consegui uma casa com mais oito estudantes e ainda tem um quarto disponivel. Se interessar, podemos conversar com o sindico.

    Jonatha pensou por alguns segundos e viu que a proposta que estava sendo oferecida não era ruim. Afinal, não tinha para onde ir.

    - Então vamos conversar com este tal de sindico.

    Não era bem um quarto que estava para alugar, mas sim uma vaga num dos quartos. Junto a cama vinha um

    11

    pequeno armario para guardar os pertences pessoais e uma pequena mesa desmontavel que ficava num canto do quarto e era de uso comunitario. Jonatha foi apresentado ao sindico que recebia de bom grado o apelido de baleia.

    Apesar do tamanho o sindico era uma pessoa humorada e mostrou todas as dependencias do imovel.

    - Aqui e a cozinha. As refeições são servidas nos horarios, fora do horario, a comida e a limpeza ficam por conta de quem sujar.

    - Sim senhor.

    - Aqui nós não aceitamos bebidas alcoolicas ou outras drogas de nenhuma especie.

    - Certo.

    - O regulamento da casa esta fixada atras da porta do quarto. O violamento de qualquer uma das normas da casa sem o devido aviso previo e sera multado em dez por cento do valor do aluguel. Tres multas consecutivas no mesmo mes e o contrato sera encerrado. Estamos entendidos meu jovem.

    - Sim senhor.

    Ao final do primeiro semestre Jonatha Cazarinni tinha certeza de que fizera um bom negocio aceitando Samuel Ishymura como seu amigo. Por outro lado Samuel tinha na pessoa de Jonatha o irmão mais velho que nunca teve e sempre desejou ter.

    - Beleza. – Disse Jonatha conferindo as notas do seu boletim. – E as suas. – Perguntou a Samuel.

    - Melhor impossivel. Este semestre ja esta garantido. – Respondeu Samuel querendo aparentar uma pessoa normal.

    - Voce esta de sacanagem comigo. Não ta. Enquanto eu tive que ralar durante noites em claro nos livros, voce tirou dez em todas as materias. Eles não deram mais porque não existe nota maior que dez.

    - Voce vai viajar para algum lugar nas ferias.

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    - Nem pensar. Vou ver se arrumo um emprego temporario. O dinheiro que eu tenho não vai dar para o segundo semestre.

    - Eu vou visitar os meus pais.

    Mesmo com o dinheiro ganho no serviço temporário durante as ferias, no inicio do segundo semestre a realidade bateu na porta dos dois amigos. O dinheiro mal daria para a alimentação.

    No inicio do segundo mes do segundo semestre letivo, ao sair de uma aula e passando por um grupo de alunos veteranos, Jonatha não pode deixar de ouvir parte da conversa de um dos alunos. Ele no momento reclamava de suas notas para os amigos, Jonatha notou que ele estava tendo dificuldade numa das materias do curso. Foi neste momento que surgiu uma ideia que viria a lhe render muito dinheiro e prestigio na faculdade.

    Na mesma tarde daquele dia Jonatha se encontrou com Samuel Ishymura e expos o seu plano para o amigo. Samuel ouviu e achou o plano muito interessante.

    - Eu arrumo os clientes e voce os ajuda nas materias. - O que voce espera ganhar com is so.

    - Eles tem dinheiro, basta melhorarem as notas que pagarão o que pedirmos, vai por mim, nós vamos faturar uma nota.

    - E quanto e que vamos cobrar por aula.

    - Quanto ao valor, pode deixar comigo. Eu consigo o aluno, faço a cobrança e rachamos meio a mei o.

    - Nada disso. – Falou Samuel Ishymura. 60 para mim e quarenta para voce.

    - Feito. – Diz Jonatha apertando a mão de Samuel.

    Naquela mesma noite no quarto, Samuel e Jonatha arquitetaram a forma que operariam dali pra frente com as aulas extras. Jonatha ficou encarregado da divulgação das habilidades de Samuel para os alunos. Quem precisasse dos serviços, teria que fazer uma entrevista com Jonatha que apos

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    a avaliação, fixaria o valor e cobraria do aluno. Samuel Ishymura ficaria encarregado de pesquisar e ministrar a aula para o necessitado.

    Daquele dia em diante não faltou dinheiro no bolso dos dois. Haviam conquistado uma forma de ter uma renda extra e o reconhecimento dos alunos e professores.

    Meses antes de terminar o semestre do terceiro ano. Jonatha estava se preparando para dormir quando alguem bateu na porta.

    - Pois não. – Diz Jonatha abrindo parcialmente a porta.

    - Me falaram que voce e bom em resolver problemas. – Diz um rapaz visivelmente acanhado. Jonatha olhou para suas mãos e notou que ele estava nervoso e apreensivo. Massageava constantemente as mãos enquanto falava.

    - E o que dizem. Voce não quer entrar para conversarmos sobre o seu problema.

    - Obrigado.

    - Voce não disse o seu nome. – Diz Jonatha segurando a porta aberta para que o visitante passasse.

    - João Nepomuceno.

    - Sente ali. – Apontou para a unica cadeira que existia no quarto.

    João Nepomuceno entrou e sentou na cadeira enquanto Jonatha trancava a porta.

    - Eu andei fazendo umas burradas e gastei todo o din..

    - Ei. – Diz Jonatha fazendo sinal para que João parasse com a choradeira. – Não me interessa as razões que te levaram a fazer isso. Eu estou interessado e no seu problema.

    - Bem. Eu estou mal e preciso recuperar minhas notas nesse semestre, senão. Eu to ferrado.

    Jonatha ficou por alguns segundos analisando o aluno a sua frente.

    - Eu pago o que voce quiser. – Complementou João. 14

    O negocio foi acertado e fechado entre os dois. Samuel Ishymura fez o que sempre fazia, ouviu, pesquisou e ajudou João Nepomuceno conquistar as notas que precisava para encerrar o semestre com uma nota razoavel. João ficou tão agradecido que alem do pagamento combinado entre os dois, deu de presente para Jonatha um par de ingressos para uma palestra sobre administração de empresas que aconteceria no final da semana no anfiteatro da faculdade de administração.

    Capitulo 03

    - Vamos cara. – Gritou Samuel Ishymura do corredor ao lado da porta do quarto de Jonatha Cazarinni.

    - So um minuto. – Gritou Jonatha enquanto arrumava a gola do casaco na frente do espelho m inusculo.

    - Nossa. Voce tomou banho de perfume. – Diz Samuel assim que Jonatha abriu a porta do quarto e surgiu no corredor.

    - Esta muito forte.

    - Demais. – Respondeu Samuel tapando o nariz.

    No onibus Jonatha olhava constantemente para os lados para ver se os outros passageiros estavam sentindo o cheiro forte do seu perfume.

    Desceram do onibus no centro do campus universitario e andaram o restante do caminho.

    Pontualmente nove horas da noite e com anfiteatro lotado, a palestrante subiu ao palco com uma saraivada de palmas. Com graça e leveza a palestrante caminhou pelo palco e se aproximou do microfone, respirou fundo e depois de bater com o dedo no microfone, disse o seu nome para o publico.

    - Boa noite a todos.

    Houve um coro de boa noite em resposta.

    15

    - Eu sou Irene Bomjardim. Sou formada em administração de empresas pela Universidade de São Paulo e estou aqui para.... Jonatha Pietro Cazarinni estava de olhos vidrados na palestrante. Ela estava falando. Jonatha perdeu a noção do tempo e do espaço.

    Isto e um sonho.. Um lindo sonho e eu não quero acordar.

    A palestrante falava para a plateia enquanto Jonatha se achava voando nas nuvens.

    Jonatha não ouvia uma so palavra do que a palestrante estava falando. Aquela mulher de fala mansa, pausada e doce o enfeitiçara. Ela estava falando sobre os pontos cruciais durante uma entrevista, pontos que o patrão teria com um provavel candidato a uma provavel vaga de emprego.

    A voz de Irene Bomjardim entrava pelos ouvidos de Jonatha e atingiu o ponto central, o coração. Ela possuia uma postura elegante, com os cabelos presos na nuca, oculos com aro fino de metal dourado, corpo escultural com belas curvas e pernas bem torneadas.

    Parece uma Deusa. – Pensou Jonatha e disse para Samuel.

    - Preciso falar com ela.

    Jonatha se mexia agoniado na poltrona.

    - Voce e toda essa plateia. – Respondeu Samuel rindo.

    Jonatha estava completamente enfeitiçado pela palestrante. Era paixão a primeira vista. Samuel encantara se tambem com a palestrante como todos os outros que estavam na plateia, porem estava encantado de uma forma intelectual. Enquanto Irene Bomjardim palestrava junto ao microfone, Jonatha Cazarinni sonhava acordado.

    Imaginou se passeando de mãos dadas com Irene Bonjardim pelo parque municipal da cidade numa tarde de verão. Imaginou se andando entre os canteiros de flores

    16

    vermelhas, amarelas e brancas. Segundos depois imaginou se deitando na relva verde ao lado de Irene e oferecendo a ela uma rosa que pegara no canteiro ao lado. Estava deslumbrado ao ponto de sentir o aroma das flores.

    Capitulo 04

    A campainha do telefone tocou. Tocou varias vezes antes que Jonatha notasse o que estava acontecendo. Perdido em seus pensamentos, lentamente, foi voltando à realidade e esticando o braço esquerdo sobre o braço da poltrona, pegou o aparelho telefonico e o levou ao ouvido esquerdo sem olhar para o que estava fazendo.

    - Alo. – Diz Jonatha Cazarinni com a voz cansada.

    Uma voz autoritaria e feminina falou na outra ponta da linha.

    - Nós estamos prontos. – Disse Sheila Casagrande.

    - Eu vou passar na casa da Irene primeiro. Não devo demorar mais que uma hora ate chegar ai.

    - Ok. – Respondeu Sheila desligando o aparelho.

    Sheila Casagrande despiu se na frente do espelho grande que tinha nas costas da porta do quarto e olhou com orgulho para as curvas bem torneadas do seu corpo. Tinha trinta e dois, mas o seu corpo aparentava como de uma jovem de vinte anos. Sheila se cuidava, fazia caminhadas, corria, fazia academia e so comia comida natural. Ainda nua, sentou se na cama e pegou o telefone na cabeceira, discou o numero da casa de Margarete Casagrande na cidade de Curitiba, no Paraná.

    - Mãe. – Diz Sheila assim que Margarete atendeu.

    - Oi filha. – Responde Marguerite enquanto arrumava o marcador de pagina no livro que estava lendo. – Algum problema.

    17

    - Não mãe. Não tem nenhum problema, senti saudade e vontade de ouvir a tua voz.

    - Que surpresa boa. – Diz Margarete, e notando que o tom de voz de Sheila era melancolico e aparentava tristeza.

    - Espero não ter te acordado.

    - Não filha. Eu não estava dormindo. Estou sem sono. Estava lendo um livro de romance. – Mentiu Margarete. – O tempo aqui esta horrivel, a chuva esta muito forte e trovejando e voce sabe como e, eu morro de medo de trovão.

    Meu Deus, nós estamos falando sobre o tempo quando ha tanta coisa para falar. – Pensou Sheila enquanto Margarete falava.

    - Filha. Sheila. Voce esta ai.

    - Estou sim... Mamãe.

    Sheila ainda chamava Margarete de mamãe. Ela tratava a mãe do mesmo jeito e carinho desde que era uma criança. Sheila Casagrande falava, mas estava absolta, aerea. Sua mente estava em outro lugar. Sheila procurava falar as palavras certas para falar e não alarmar a mãe sobre o que estava acontecendo e o que poderia acontecer com ela se seguisse em frente com o que desejava fazer.

    - Eu te amo mamãe. – Diz Sheila sem pensar.

    Como e que eu vou dizer a ela. Como e que eu vou dizer a ela que a sua filha querida. Que a filha do major Horácio Casagrande. A filha que ele depositara tanta esperança. Como e que eu vou dizer a ela que a sua filha esta encrencada e que se envolvera com as pessoas erradas e se complicara a ponto de ter pensado em se suicidar. Não haveria outra saída.

    Por uma fração de segundo Sheila se lembrou de como foi dificil se despedir de Margarete Casagrande poucos dias depois da morte do major Horacio Casagrande.

    18

    - Não va. - Disse Margarete abraçando a filha com força e com os olhos mareados e um no na garganta.

    - Eu tenho que ir mamãe. Se eu não comparecer na segunda feira, serei exonerada.

    E Sheila Casagrande tinha que ir. Ja prorrogara a sua partida o maximo que podia. Tinha que se apresentar na academia de policia de São Paulo em dois dias e não podia prorrogar mais. A sua falta significaria automaticamente que ela desistira e estava excluida da corporação.

    - Filha. Sheila. Voce esta ai... Alo. – Diz Margarete preocupada. – Alo. Sheila. Voce esta bem.

    - Estou mamãe. E o meu estomago. E ele que não esta bem. – E não estava mesmo. Sheila estava tendo colicas terriveis. – Eu vou desligar mamãe. Amanhã pela manhã eu te ligo contando as novidades da viagem.

    - Toma um cha de boldo.

    - Obrigado mãe. Eu vou tomar.

    - Tenha uma boa noite minha querida.

    - Um beijo mamãe. – Despediu Sheila e desligando o telefone, virou se de lado para relaxar um pouco.

    Horas depois e ainda acordada na penumbra do quarto, sua mente fervilhava com os problemas que açoitavam a mente sem parar.

    Fechou os olhos para relembrar. Alguma coisa escapou do controle e relembrou. Os primeiros dias na academia de policia, a procura por um apartamento, as horas i nterminaveis de treinamento, os dois anos que passou patrulhando as ruas da periferia da cidade de São Paulo. Tudo isso passaram na sua mente com um filme.

    Um ano e dois meses depois de ter chegado a academia de policia, Sheila Casagrande finalmente foi designada para uma delegacia na zona norte da cidade paulista. A delegacia era um predio agourento e com uma

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    aparencia de desolação. A sala da recepção estava lotada de pessoas deprimentes e com problemas de todos os tipos.

    - O que voce quer. – Gritou o policial de plantão.

    - Policial Casagrande se apresentando. Senhor.

    - Voce e um dos novatos.

    - Sim senhor.

    - Ta atrasada. Dorival. Leva ela para a sala do Delegado.

    Sheila Casagrande foi conduzida pelo corredor ate a sala do delegado de plantão pelo policial Dorival. Sheila pensou ter interrompido alguma coisa importante, pois Dorival estava com uma cara de poucos amigos e se mostrava irritado.

    - Quem e. – Perguntou um policial no corredor para o outro que vinha na sua direção assim que Sheila Casagrande passou por entre as mesas dos detetives.

    - Carne nova.

    Carne nova era como os policiais veteranos chamavam os novatos.

    - Espero que essa fique comigo. Estou precisando de um parceiro e ela e muito gostosa

    Sheila Casagrande foi atendida pelo delegado e depois da entrevista, foi designada a fazer o serviço burocratico na delegacia. Os dias passaram com lentidão e os documentos se acumularam sobre a sua mesa, cada dia que passava a pilha se avolumava. Sheila era otima com uma arma e mais ainda com o cerebro, porem era uma pessima datilografa.

    O trabalho estava todo fora de ordem e atrasado e por mais que se esforçasse, não conseguia dar conta de todas as tarefas. Todos os dias quando chegava ao apartamento, rezava para que fosse transferida para uma delegacia mais ordenada e que pudesse executar o que aprendera na academia.

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    Tudo começou a melhorar numa manhã fria de segunda feira. Sheila estava atras de uma pilha de papeis quando ouviu uma gritaria no corredor. Levantou a cabeça e viu um homem abraçado com um policial. Ele estava usando o policial como escudo e o mantinha sob a mira da arma. Instintivamente Sheila sacou de sua arma e inclinando

    se na mesa fez pontaria e apertou o gatilho. A bala atingiu a mão do agressor. Segundos depois ele agarrado e algemado pelos outros policiais.

    - Carne no.. Novata. – Disse o policial de plantão meia hora depois do tumulto. – O tenente esta te chamando na sala dele. – Sheila continuou a datilografar o boletim de ocorrencia. - Agora.

    Sheila pensou em guardar os pertences na gaveta, mas mudou de ideia.

    - Sim senhor. – Diz Sheila batendo continencia para o seu superior na porta.

    - Sente se.

    - Senhor. Se e sobre o ocorrido.

    - Voce sabe que se errasse. Nós estariamos colhendo os pedaços do cerebro do soldado Alencar. Não sabe.

    - Eu sabia que não ia errar. Ja acertei em coisas menores e mais distantes.

    - Muito bem. – Diz o tenente Menenzes alguns minutos depois. – Voce esta afastada dos seus serviços por dois dias. Voce agiu certo, mas preciso te punir para não gerar um problema. de pois...

    - Depois. Senhor.

    - Seus dias de madame acabaram. Estamos com falta de gente com a sua competencia nas ruas e como voce e uma pessima datilografa, e para a rua que voce vai a partir de agora.

    - Sim senhor. – Respondeu Sheila sorrindo.

    - Apresente se ao sargento Tenório. Ele passara as instruções. 21

    - Sim senhor. Respondeu batendo continencia.

    Sheila saiu radiante da sala do tenente Menenzes. O coração estava batendo num ritmo acelerado e prestes a pular para fora do peito.

    - Finalmente. Finalmente eu vou fazer o que sempre quis e fui treinada. – Diz Sheila Casagrande para si no corredor.

    Capitulo 05

    Jonatha Cazarinni desligou o aparelho telefonico e pegou a chave do carro que estava na mesa de canto ao lado da poltrona. Ao lado da mesa, encostado ao sofa, uma pequena mala de couro com algumas mudas de roupa devidamente lavadas e passadas.

    Jogou a blusa que estava sobre o sofa nas costas da mala e depois de verificar se todas as janelas estavam devidamente trancadas e se a valvula do gas estava fecha da, desligou o disjuntor eletrico e saiu pela porta carregando a mala. Fechou a porta e chaveou as duas travas de segurança. No mesmo instante que Jonatha Cazarinni colocava as chaves no bolso e se preparava para descer os degraus da escadaria que o levava a garagem do predio que morava. Do outro lado da cidade um telefone tocava insistentemente num apartamento que aparentemente parecia estar vazio, a não ser pelo barulho da agua que caia do chuveiro.

    Irene Bomjardim estava no chuveiro cantarolando uma musica de sucesso do momento. Minutos depois quando saiu do chuveiro o telefone não estava tocando mais. Saiu do banheiro e entrou no quarto somente com uma toalha enrolada na cabeça. Ao passar pelo espelho, parou por alguns segundos e olhando para o reflexo do seu corpo nu no espelho, não gostou nem um pouquinho que viu e torceu ligeiramente a boca.

    22

    - Preciso urgentemente fazer uma academia. – Disse Irene para o seu reflexo enquanto pegava na pele da barriga e apertava como se fosse um pneu de bicicleta. – Talvez uma plastica.

    Deixando o espelho para tras, sentou na banqueta da penteadeira e apos esfregar a toalha com vigor nos cabelos, pegou o secador de cabelos na gaveta sob a penteadeira e se preparou para colocar o fio na tomada quando o telefone voltou a tocar.

    Irene Bomjardim olhou para o relogio sobre a penteadeira e largou o secador e correu para atender ao telefone.

    - Alo. – Diz Irene sorrindo e rolando nua sobre a cama. Não era quem Irene estava esperando.

    - Irene Bomjardim. – Disse uma voz masculina, a voz era baixa e rouca como um asmatico que estava passando por uma crise de falta de ar naquele momento.

    O sorriso desapareceu completamente da face de Irene no mesmo segundo que reconheceu de quem era a voz rouca do outro lado da linha telefonica. Instantaneamente surgiram algumas rugas na testa e ficando seria, respondeu.

    - Sim. E ela mesma. – Diz Irene sem a minima emoção e por uma razão que ela propria desconhecia, começou a ficar tremula e arrepiada de medo.

    Era a ultima voz que Irene Bomjardim queria e desejava ouvir na face da terra naquele momento. Tinha muitos planos a serem executados.

    A conversa foi breve com o asmatico. O homem falou e Irene ouviu. O

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