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Você acredita?: 12 doutrinas históricas para mudar sua vida cotidiana
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Você acredita?: 12 doutrinas históricas para mudar sua vida cotidiana
E-book649 páginas13 horas

Você acredita?: 12 doutrinas históricas para mudar sua vida cotidiana

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Sobre este e-book

As doutrinas — aquilo que sabemos e confessamos ser verdade sobre Deus — são cruciais para a vida espiritual de todo crente.

Compreender as doutrinas bíblicas não só nos ajuda a aprender mais sobre Deus, elas mudam radicalmente nosso coração. Contudo, ao olhar de forma bem realista, existe uma lacuna entre aquilo em que dizemos crer e o modo como agimos em nosso dia a dia, podendo nos levar a pecar e nos deixar desencorajados.

Nesta obra, o autor de grandes best-sellers Paul David Tripp examina doze doutrinas centrais que todo cristão deve conhecer. Ao aprender a colocar as doutrinas em prática tornando-as um estilo de vida — não meras ideologias — acabamos com essa lacuna entre o que cremos e como vivemos e agimos. É dessa forma que o evangelho molda a nós e as escolhas que fazemos no dia a dia.
IdiomaPortuguês
EditoraVida Nova
Data de lançamento10 de abr. de 2023
ISBN9786559671533
Você acredita?: 12 doutrinas históricas para mudar sua vida cotidiana

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    Você acredita? - Paul David Tripp

    1

    A Doutrina da Escritura

    embora nossa consciência e a criação revelem de uma forma lindíssima a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, e nos tornem, portanto, indesculpáveis, a mensagem delas não é suficiente para nos proporcionar o conhecimento de Deus e de sua vontade necessário para a salvação. Assim, Deus, em sua sabedoria e graça, em vários momentos e de várias maneiras, revelou-se, declarou sua vontade, preservou e proclamou sua verdade, protegeu a igreja contra a corrupção e os enganos de Satanás e do mundo, registrando sua verdade por escrito. Isso torna a Escritura (a Bíblia, o Antigo e o Novo Testamentos) necessária e essencial.

    A autoridade da Escritura, obra que deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de ninguém, mas somente de Deus, seu autor. Deve ser recebida com alegria porque é a Palavra de Deus.

    O testemunho da igreja junto com a doutrina da Escritura, seu estilo majestoso, a harmonia entre todas as suas partes, o fato de que cada parte dá glória a Deus e revela o único caminho para nossa salvação, bem como a perfeição geral que ela apresenta demonstram em conjunto que se trata da própria Palavra de Deus. Todas as coisas necessárias para a própria glória de Deus e para a nossa salvação, fé e vida foram claramente estabelecidas por Deus na Escritura ou podem ser devidamente deduzidas a partir dela, de modo que nada precise ou deva ser acrescentado por novas revelações ou por novas percepções ou tradições humanas.

    Uma última coisa deve ser dita. Toda a Escritura foi escrita e guiada pela inspiração de Deus — isso se refere a todos os livros do Antigo e do Novo Testamentos, os quais foram escritos por cerca de quarenta autores e abrangem literatura bíblica, narrativa, história, poesia, literatura sapiencial, profecia, evangelhos, epístolas e o Apocalipse. Veja Salmos 19.1-3; Provérbios 22.19-21; Isaías 8.20; Lucas 16.29,31; 24.27,44; João 16.13-14; Atos 15.15; Romanos 1.19-21; 2.14-15; 3.2; 15.4; 1Coríntios 2.10-12; Efésios 2.20; 2Tessalonicenses 2.13; 2Timóteo 3.15-17; Hebreus 1.1; 2Pedro 1.19-20; 1João 2.20,27; 1João 5.9.¹

    Compreendendo a doutrina da Escritura

    Pois a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens, que suprimem a verdade pela sua injustiça. Pois o que se pode conhecer sobre Deus é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, ou seja, seu eterno poder e divindade, são vistos claramente desde a criação do mundo e percebidos nas coisas que foram criadas, de modo que esses homens são indesculpáveis (Rm 1.18-20).

    Deus criou o mundo não apenas para nos proporcionar prazer por meio de sua beleza e nos sustentar por meio de seus recursos, mas também para servir a um propósito moral significativo. Tudo o que Deus criou foi projetado para nos confrontar com a existência e a natureza de Deus e, ao fazê-lo, confrontar nossas ilusões de autonomia e autossuficiência. Todas as manhãs, quando nos levantamos, nós nos deparamos com Deus e ficamos cara a cara com sua existência. Ele se revela no vento e na chuva, no pássaro e na flor, na rocha e na árvore, no sol e na lua, na relva e nas nuvens, em visões, aromas, toques e sabores. Tudo o que existe é um dedo que aponta para a existência e a glória de Deus. O ciclo das estações aponta para sua sabedoria e fidelidade. O fato de todos nós vermos a beleza da criação e sermos aquecidos por seu sol e banhados por sua chuva nos mostra seu amor e sua misericórdia. As tempestades trovejantes, com queda de raios e ventos violentos, apontam para a imensidão de seu poder. O mundo criado é uma exibição em Technicolor e som surround da existência e dos atributos daquele que a tudo criou. A mensagem do mundo físico natural criado é tão abrangente e clara para todos que é preciso lutar para suprimi-la, negá-la e para resistir a essa mensagem.

    Deus é muito bom em construir lembretes de si mesmo na criação, de modo que nós, portadores de sua imagem e criados para nos relacionarmos com ele, nos lembremos dele, de forma reiterada, simplesmente ao olhar para o mundo que ele criou e que nos rodeia em qualquer direção que olharmos.

    Mas Deus, em sua infinita sabedoria, sabia que a revelação geral da criação, a qual nos confronta com sua existência e sua glória, não poderia nos transmitir o tipo de conhecimento — dele mesmo, o conhecimento necessário de nós mesmos, uma compreensão do significado e do propósito da vida, e uma consciência do desastre causado pelo pecado e da condição caída do mundo ao nosso redor — que pudesse nos salvar de nós mesmos, nos mover em direção a ele por sua graça redentora e nos conceder um plano de como deveríamos, portanto, viver, como filhos dessa mesma graça. E, assim, Deus nos deu a maravilhosa e surpreendente dádiva de sua Palavra.

    É importante nunca deixar de agradecer o fato de que Deus guiou e orientou a escrita de cada porção de sua Palavra, e cuidadosamente geriu o processo pelo qual os vários livros da Bíblia foram protegidos, reunidos e preservados, de modo que pudéssemos ter as próprias palavras de Deus em nossas mãos com a certeza de que o que estamos lendo é, de fato, tudo o que Deus sabia que seria essencial conhecermos e compreendermos.

    Quando refletimos sobre a doutrina da Escritura, é impossível exagerar a importância do que estamos contemplando. A existência, a inspiração, a autoridade e a confiabilidade da Escritura são o fundamento doutrinário sobre o qual todas as demais doutrinas estão postas. Se não há nada de Escritura inspirada por Deus, se ela não me revela as verdades que são essenciais para o conhecimento de Deus, o conhecimento de mim mesmo e o caminho para a salvação, então, não tenho o direito nem a autoridade de dizer o que é verdade para mim ou para qualquer outra pessoa. Se não há nada de Palavra de Deus inspirada, autorizada e confiável, só resta a mim mesmo decidir o que é verdade, seja por minha própria experiência, minha percepção pessoal, seja por investigação conjunta com outros.

    Isso significaria, portanto, que não existe um padrão unificado concedido por Deus ao qual todos nós podemos apelar. Cada pessoa deve descobrir o que pensa ser verdade e, assim, todos devemos fazer o que acharmos certo aos nossos próprios olhos. Não pode haver nenhuma maneira de ter certeza de que aquilo em que você pensa e acredita é certo; portanto, você não tem o direito de defender aquilo em que acredita perante outra pessoa; não existe nenhum sistema de verdade investido de autoridade que possa oferecer um padrão unificado de crenças e de comportamento moral. Estamos à deriva em um mundo (cujos dedos apontam para Deus) sem qualquer meio de saber ao certo o que a palavra transmitida pelo próprio Criador nos proporcionaria. Ninguém tem qualquer base para delinear doutrinas, para declarar que são verdadeiras nem para ensinar que elas devem fornecer a estrutura que guia nosso pensamento, nossos desejos, nossas decisões, palavras e ações.

    Quando consideramos a Escritura uma dádiva da graça de Deus, devemos pensar em outra coisa. Um dos resultados devastadores do pecado é que ele reduz todos nós a tolos. E um tolo olha para a verdade e vê falsidade. Um tolo olha para o mal e vê nele o bem. Um tolo ignora Deus e se coloca na posição de Deus. Um tolo se rebela contra a sábia e amorosa lei de Deus e escreve seu próprio código moral. Um tolo pensa que pode viver sem ajuda, de forma independente. Um tolo não pensará do modo que foi criado para pensar, não desejará o que foi criado para desejar nem fará o que foi chamado a fazer. Mas aqui está o que é fatal em tudo isso: um tolo não sabe que é tolo. Se o tolo não tem olhos para ver sua tolice, ele continuará a pensar que é sábio. Por isso, Deus, na beleza de sua graça, não deu as costas para nossas tolices e foi embora. Ele olhou para a humanidade tola com um coração compassivo, e não só enviou seu Filho para resgatar os tolos de si mesmos, mas também nos deu a maravilhosa dádiva da sua Palavra, para que os tolos reconheçam sua tolice bem como tenham uma ferramenta por meio da qual possam tornar-se progressivamente sábios.

    Muitas vezes já pensei que não saberia viver sem a sabedoria da Palavra de Deus. Eu não saberia como ser um homem responsável sem a sabedoria da Palavra de Deus. Não saberia como ser marido, pai, vizinho, amigo, membro do corpo de Cristo, cidadão ou trabalhador sem a Bíblia. Sem a Escritura, eu não saberia distinguir o certo do errado. Sem as verdades da Palavra, não saberia como compreender o sofrimento nem como reagir diante dele. Sem a Escritura, eu ficaria confuso sobre quem sou e qual é o propósito da minha vida. Sem minha Bíblia, não saberia nada sobre o pecado nem entenderia a verdadeira justiça. Sem a Palavra de Deus, não saberia como lidar com sexo, dinheiro, sucesso, poder ou prestígio. Sem a Escritura, eu não teria nenhuma compreensão das origens e nenhum conceito de eternidade. Sem a Palavra, eu esperaria que as pessoas e as coisas materiais fizessem por mim o que elas não têm poder de fazer. Sem a Palavra de Deus, não teria ideia da minha necessidade de resgate, reconciliação e restauração. Sem a minha Bíblia, não teria compreensão do que significa amar ou do que devo odiar. Sem a Palavra de Deus, eu não teria nenhuma lei sábia e sagrada para seguir e nenhuma graça incrível que me desse esperança.

    A maneira como entendo tudo em minha vida foi moldada pelo conjunto de sabedoria que se encontra somente entre o primeiro capítulo de Gênesis e o último capítulo de Apocalipse.

    Uma verdadeira confissão: escrevi mais de vinte livros sobre vários tópicos, mas nenhum deles teria sido escrito sem a dádiva da Palavra de Deus para mim. Se não fosse pela Escritura, eu não teria nenhuma sabedoria de valor para compartilhar. E, mesmo se eu tivesse a ousadia de tentar escrever algo, não teria confiança na veracidade nem na utilidade do que escrevi, se não fosse pela Palavra de Deus. Minha Bíblia é minha amiga e companheira de toda a vida. Minha Bíblia é meu mestre mais sábio e fiel. Minha Bíblia é meu mentor e meu guia. Minha Bíblia me confronta quando estou errado e me consola quando estou lutando. A Palavra de Deus fez de mim um estudioso diligente, e nunca vou parar de estudá-la até que esteja em meu último lar. Por eu ser um tolo que foi resgatado pela Sabedoria e presenteado por Deus com a dádiva da sabedoria de sua Palavra, minha Bíblia é meu bem material mais precioso. Sei bem que, enquanto o pecado ainda viver em mim, ainda haverá resquícios daquela velha tolice que precisarão ser desenterrados e substituídos pela sabedoria divina; por isso, abro minha Bíblia todos os dias como um homem necessitado e grato. Não posso me orgulhar de qualquer sabedoria que eu possua, porque toda ela vem do meu Senhor e está escrita nas páginas da sua Palavra.

    O apóstolo Paulo fala sobre a insensatez do pecado e a sabedoria resgatadora da Palavra de Deus:

    Pois a palavra da cruz é insensatez para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus. Pois está escrito:

    "Destruirei a sabedoria do sábio

    e frustrarei o discernimento do perspicaz."

    Onde está o sábio? Onde está o instruído? Onde está o questionador desta era? Não tornou Deus absurda a sabedoria deste mundo? Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, foi do agrado de Deus salvar os que creem por meio do absurdo da nossa pregação. Pois os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, mas nós pregamos Cristo crucificado, motivo de escândalo para os judeus e absurdo para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque o absurdo de Deus é mais sábio que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.

    Irmãos, considerai o vosso chamado: não muitos de vós éreis sábios, segundo critérios humanos, não muitos éreis poderosos, não muitos éreis de nobre nascimento. Mas Deus escolheu o que é absurdo no mundo para envergonhar o sábio; Deus escolheu o que é fraco no mundo para envergonhar o forte; Deus escolheu o que é insignificante e desprezado no mundo, e as coisas que nada são, para reduzir a nada as que são, para que nenhum ser humano possa se gloriar na presença de Deus. E por causa dele vós estais em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós sabedoria da parte de Deus, justiça, santificação e redenção, a fim de que, como está escrito: Quem se gloriar, glorie-se no Senhor (1Co 1.18-31).

    Ao redigir esse poderoso contraste entre a sabedoria humana e a sabedoria de Deus, Paulo está falando sobre a Escritura, tendo como sua mensagem central o evangelho de Jesus Cristo. As palavras de Paulo ecoam as de Davi no salmo 119, em que vemos a sabedoria da lei de Deus. Há esperança para os tolos porque há sabedoria a ser encontrada — não na sala de aula de uma universidade, nem nas páginas de um artigo científico, nem em um podcast popular, nem na lista de bestsellers do New York Times, mas sim nas páginas da Palavra de Deus. Você pode ser alguém altamente instruído e ainda assim ser um tolo. Pode ser um comunicador bem treinado e talentoso e ainda assim ser um tolo. Pode ter sucesso, ser alguém importante e ser um tolo. Pode ter domínio das mídias sociais e ainda assim ser um tolo. Pode ser um indivíduo para quem os demais olham em busca de orientação e ainda assim ser um tolo. Mas ninguém está irremediavelmente preso em sua tolice, porque Deus, que é a fonte de toda a verdadeira sabedoria, é um Deus de graça terna, perdoadora e redentora. A todos os que confessam sua tolice e correm para ele em busca de sabedoria, Deus oferece misericórdia e graça nos momentos de necessidade.

    Gostaria de fazer mais uma observação. Embora o Antigo Testamento tenha sido originalmente escrito em hebraico e o Novo Testamento, em grego, Deus, na sabedoria de sua soberania e na ternura de sua graça, ordenou e guiou a tradução de sua Palavra para as línguas correntes dos povos ao redor do mundo, de modo que as verdades reveladas somente em sua Palavra estivessem disponíveis a todos os que desejassem conhecê-las e viver à luz delas. E ele chamou gerações de estudiosos talentosos, treinados e piedosos para participarem da tradução constante de seu livro, para que ninguém, em lugar nenhum, ficasse sem a dádiva da Palavra de Deus.

    Não só temos a dádiva da Palavra de Deus, mas também temos o dom do Espírito Santo, que nos guia, nos ensina e ilumina a Palavra para nós, a fim de que possamos conhecer, compreender, confessar e nos arrepender. Eu não preciso apenas do conteúdo da Palavra de Deus, mas também da ajuda do Espírito Santo para me capacitar a entendê-la, para me ajudar a aplicá-la, para me dar poder para vivê-la e para me habilitar a levar sua mensagem a outros. Deus me resgata da minha tolice não apenas me entregando um livro, mas também doando a si mesmo a mim, para me revelar a sabedoria desse livro. Como autor, eu não faço isso. Eu escrevo um livro e sigo em frente. Cabe ao leitor, então, entender o que escrevi. Eu não vou de leitor em leitor, nem me sento com eles pelo tempo que for preciso, esclarecendo as coisas que escrevi, garantindo que as entendam e ajudando-os a aplicar o conteúdo do livro em suas vidas diárias. Mas é exatamente isso que Deus faz. Ele vai a todos os lugares aos quais sua Palavra vai. Ele pacientemente se senta com os leitores, a cada vez que estes abrem a Bíblia. E ele os ensina a partir da sua Palavra. Deus não é apenas o autor da sua Palavra, mas também seu maior mestre. Quando você recebe a Palavra de Deus, também recebe o Deus da Palavra, e isso é lindo.

    ¹ Paráfrase do autor da doutrina da Escritura como se encontra em partes da Confissão de Fé de Westminster, cap. 1.

    2

    A Escritura na Vida Cotidiana

    como é viver à luz da inspiração, da autoridade e da suficiência da Palavra de Deus? Bem, se você realmente acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus, por ele preservada para você, não seria ela o bem mais valioso, mais prezado, mais estimado e bem aplicado em sua vida? Você não amaria os momentos em que pudesse sentar-se com sua Bíblia para a ler com atenção, estudar seu conteúdo e meditar sobre suas implicações? Não se comprometeria a ser um leitor ávido e um estudioso vitalício da Palavra de Deus? Não se empenharia para ter certeza de que a entendeu e interpretou corretamente? Não valorizaria os mestres e pregadores que Deus levantou para conduzir você através de sua Palavra? Não gostaria de se assegurar de que tudo o que deseja, pensa, diz e faz seja feito em alegre submissão e cuidadosa obediência à Palavra de Deus? Não gostaria de aplicá-la a todas as áreas de sua vida? Não correria para encontrar consolo nela e não atenderia ao seu chamado? Não teria ela mais influência sobre suas decisões do que seus amigos, o Google ou as vozes no Twitter? A instrução bíblica e o conhecimento teológico não seriam para você uma busca constante, por toda a vida? Você não estaria sempre à procura de cada oportunidade que tivesse para compartilhar sua gloriosa mensagem com outras pessoas? E não lamentaria aqueles momentos em que tivesse de confessar que ignorou ou resistiu à sua mensagem? Não seria a Palavra de Deus aquilo que molda a maneira como você aborda cada área de sua vida? E sua hora favorita do dia não seria aquele momento de silêncio e reflexão, quando se distancia de outras pessoas e de outras responsabilidades, e restam só você, seu Senhor e sua Palavra? Você não louvaria a Deus com sinceridade pela incrível dádiva de sua Palavra todos os dias?

    Se a Bíblia que temos em casa e podemos segurar nas mãos é a Palavra de Deus, o que acabei de descrever não deveria ser verdade para todos nós? Infelizmente, porém, não é. Muitos de nós não gastam tempo diariamente com sua Bíblia. Muitos de nós têm um baixo nível de instrução bíblica e carecem de uma compreensão teológica clara. E muitos têm vozes que influenciam sua vida e que, do ponto de vista funcional, desfrutam de mais autoridade do que a Escritura. Muitos não estudam a Palavra de Deus. Muitos só se alimentam dela uma hora por semana, quando nos reunimos para o culto. Não é à toa que ela não influencia:

    nosso senso de identidade;

    a maneira como tomamos decisões;

    a forma de nossas amizades;

    a forma como abordamos nossa formação;

    a maneira como nos dedicamos a nossos empregos e carreiras;

    a maneira como abordamos o romance e o casamento;

    a maneira como criamos nossos filhos;

    a forma como lidamos com conflito;

    a forma como lidamos com o sucesso e o fracasso;

    as coisas que fazemos com nosso dinheiro;

    onde procuramos realização;

    como lidamos com as dificuldades;

    a forma como lidamos com mídia e entretenimento;

    nosso relacionamento com o corpo de Cristo.

    Não deveria causar surpresa que a igreja de Jesus Cristo, sob vários aspectos e em muitos lugares, seja um exército disfuncional que gasta mais tempo lidando com os fracos, os enfermos e os feridos do que conquistando a próxima colina para a causa do reino de Deus e da obra de seu glorioso evangelho da graça. Se eu pudesse ouvir e observar um mês de seu cotidiano, o que concluiria sobre o lugar que a Palavra de Deus ocupa em sua vida? Além de nossa salvação e da presença de Deus, agora, habitando dentro de nós como seus filhos, nossa Bíblia é a dádiva mais preciosa e valiosa que recebemos dele. A grande questão é: Em nossa vida cotidiana, agimos de fato como se ela assim fosse?

    Vamos considerar o que Deus nos proporciona em sua Palavra e por meio dela, para que possamos viver como ele planejou que vivêssemos no lugar em que nos colocou.

    A Palavra de Deus salva

    O apóstolo Paulo diz a Timóteo: Desde a infância você conhece as escrituras sagradas [a Palavra de Deus], que são capazes de torná-lo sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus (2Tm 3.15). Sem a Bíblia, não haveria nenhuma narrativa da redenção, nenhuma mensagem clara do evangelho, nenhum conhecimento dos atributos e do plano de Deus, tampouco conhecimento do pecado e da oferta de perdão por Deus. Não há outra ferramenta mais central para a obra do resgate redentor de Deus do que a sua Palavra, revestida de poder pelo Espírito de Deus. Sem a Bíblia, estaríamos irremediavelmente perdidos, sem Deus e sem esperança neste mundo terrivelmente caído.

    Mas há muito mais. A obra de salvação de Deus não está terminada. Ele ainda está trabalhando em seu coração, expondo o pecado remanescente, convencendo você do que está errado e capacitando-o, pela graça, a viver de maneiras totalmente novas. A Palavra de Deus é essencial não apenas para a graça justificadora, mas também para a graça santificadora (Jo 17.16-17). Se você realmente quer crescer na graça como alguém solteiro, um estudante, um profissional, como pai ou mãe, como marido ou esposa, em seu trabalho, como amigo ou vizinho ou membro do corpo de Cristo, então deve se comprometer com o estudo regular da Palavra de Deus. Se você está preocupado com uma vida de pensamentos e desejos que agradem ao seu Senhor, então deve viver segundo a Palavra de Deus.

    Se você estiver se sentindo derrotado por pecados secretos, deve correr para Deus em confissão, mas também deve correr para a Palavra dele. Se, como pai, você luta com a ira ou tem muitos conflitos em seu casamento, deve recorrer a Deus em busca de ajuda; porém, ao fazê-lo, busque também seu principal instrumento de ajuda, a Palavra dele. Se você está se sentindo oprimido pelo medo e dominado pelo desânimo, pode ser que precise buscar a ajuda de outras pessoas, mas também precisa do conselho e do encorajamento da Palavra de Deus. Se sua vida parece não ter sentido nem propósito, é a Palavra de Deus que sempre lhe dará um motivo para se levantar de manhã e um propósito pelo qual vale a pena viver.

    Deus usou sua Palavra para salvar você; agora ele a está usando para continuar a resgatá-lo e fazê-lo crescer; e continuará a salvá-lo por meio de sua Palavra até que a obra esteja completa e você esteja do outro lado.

    A Palavra de Deus aponta

    A passagem de 2Coríntios 5.15 contém uma pequena frase que não só é explosiva em suas implicações, mas também nos aponta para uma das funções mais importantes da Palavra de Deus na vida de cada um de nós: "E ele morreu por todos, para que aqueles que vivem possam não mais viver para si mesmos". Paulo está dizendo que o DNA do pecado é o egoísmo. O pecado nos coloca no centro do nosso mundo e faz a vida girar à nossa volta. O pecado está relacionado com o foco em si mesmo e a glória para si mesmo. É motivado pelo que queremos, por quando e como queremos. O pecado transforma todo ser humano em um ladrão de glória, pois tomamos para nós o que pertence somente a Deus. O pecado é autocomplacente e autoengrandecedor. O pecado nos faz pensar que somos justos, sábios e fortes, quando não somos. O pecado nos transforma em rebeldes que não querem se submeter a nenhuma lei que não seja a nossa. O pecado nos faz escrever histórias em que nos colocamos no centro do palco, exigindo a atenção e o crédito que achamos merecer.

    Mas uma das coisas mais importantes que a Palavra de Deus faz é nos confrontar com outra história. E nessa história não estamos no centro do palco. Nela, recebemos vida e fôlego para servir aos propósitos de outra pessoa, pelo bem da glória de outra pessoa. A história da Bíblia começa com Deus no centro. Ela narra a grande guerra em torno da glória, com o grande capitão, Cristo, obtendo a vitória por meio de sua morte. Essa guerra começa em Gênesis 3 e continuará até que seja finalmente vencida e tudo o que existe sirva à glória de Deus nos novos céus e na nova terra.

    Essa história reiteradamente nos lembra que a glória para si mesmo é a suprema disfunção humana, sempre autodestrutiva. Ela nos ensina que adorar a si mesmo é escravidão e que alguém só encontra a verdadeira liberdade quando entrega seu coração para adorar a Deus. A Bíblia nos lembra que vir a Cristo em arrependimento e fé não é apenas abandonar nosso pecado e receber seu perdão pela fé, mas também renunciar a nossa glória pela dele.

    Mas há algo que cada um de nós precisa entender. Enquanto o pecado ainda habitar dentro de nós, haverá em nosso coração uma guerra em torno da glória. Portanto, todos os dias precisamos enxergar novamente que a vida em que fomos acolhidos tem Deus no centro, não nós. Todos os dias precisamos de uma mensagem que nos aponte para Deus. Todos os dias precisamos ser lembrados de que a vida não tem a ver com nosso conforto ou com o sucesso de nossos planos. Não tem a ver com quantas pessoas nos admiram e nos querem em sua vida. Nada tem a ver com o tamanho de nossa casa ou com a sofisticação de nossa cozinha. Também não tem a ver com estarmos em boa forma e livres de doenças. A vida tem a ver com Deus, sua glória e o sucesso de seus propósitos em nós e por meio de nós. E a Bíblia nos aponta isso, do início ao fim.

    A glória centrada em si mesmo fará de você uma mãe ou um pai facilmente irritável, crítico e propenso a julgar a todos. Esse tipo de glória transformará seu casamento em uma guerra para ver quem consegue o que quer primeiro. Ela fará de você um amigo exaustivo, que acha que só tem direitos e privilégios. Essa glória impedirá que se sinta satisfeito com as coisas e tornará mais natural que você reclame do que agradeça. Ela o fará mais conhecido por suas exigências do que por seu serviço. Fará com que você sempre receba o crédito por aquilo que jamais poderia ter ganho ou produzido por conta própria. Fará com que se sinta ameaçado e com inveja do sucesso dos outros. Ela vai transformá-lo em um consumidor na igreja, em vez de um membro participativo e comprometido com a obra. A glória centrada no ser humano nos engana, nos distrai e nos aprisiona, e pode por fim nos destruir. Deixa em seu rastro uma montanha de entulho e pessoas feridas. Nunca produz bons frutos.

    A glória centrada no ser humano é um argumento a favor do quanto precisamos da Palavra de Deus em nosso coração e em nossos pensamentos, a cada dia de nossa vida. Precisamos que a Palavra nos aponte uma vez mais para uma glória maior do que a nossa, para a única glória que poderá satisfazer nosso coração. Precisamos ter nossa história pessoal progressivamente incorporada na história daquele que nos criou e nos projetou para viver para sua glória. Precisamos ser lembrados de que o evangelho da graça de Jesus tem no centro o senhorio de Cristo. Precisamos ouvir repetidamente que viver como seus discípulos significa estar disposto a abandonar tudo para segui-lo. Precisamos ser humilhados reiteradamente, ser tirados a toda hora desse foco voltado para nós mesmos. E precisamos sentir o entusiasmo se acender em nós novamente, ao reconhecermos que não há nada mais libertador, mais satisfatório e mais restaurador do que viver para a glória de Deus. Isso significa que precisamos que sua Palavra nos aponte continuamente para a centralidade de sua existência e de sua glória.

    A Palavra de Deus ensina

    Lembro-me do meu período de estudante no seminário com carinho e gratidão. Pela graça de Deus, fui capaz de concentrar três anos da minha vida em uma única coisa: o estudo da Palavra de Deus. Isso foi uma bênção singular. Não me recordo de outra ocasião em que estive mais grato e motivado por alguma coisa em toda a minha vida. Eu absorvia tudo aquilo e, para sofrimento da minha esposa, ao final de cada dia, eu repetia, em pormenores e extensamente, cada aula que ouvira. Eu lia longos trechos de livros densos de teologia bíblica para ela. Estava obcecado e emocionado com o que estava aprendendo. Aquilo me fazia acordar cedo pela manhã e me mantinha acordado até tarde da noite. Era tudo em que eu pensava e falava. Tive a mente completamente arrebatada pela Palavra de Deus, de uma forma que nunca tinha me acontecido antes.

    Certo dia, depois das aulas, subi as escadas correndo para o nosso apartamento, no terceiro andar, e disse a Luella: Não estou aprendendo só conteúdos da Bíblia e da teologia, mas, pela primeira vez, estou aprendendo a pensar — pensar de verdade!. Não era só a Bíblia que estava se abrindo para mim; o mundo inteiro estava se revelando, com graus de significado e de compreensão que eu nunca tinha conhecido antes. Enquanto me sentava, dia após dia, estudando a Palavra, eu estava, de fato, sentado aos pés do Criador do mundo e de tudo que nele há. Sim, a Palavra era a ferramenta, mas estava nas mãos do professor supremo, o meu Senhor. Eu estava sendo ensinado como nunca antes fora, não apenas por professores sábios e experientes, mas também por meu Mestre, por meio da majestosa sabedoria de sua Palavra.

    A Palavra de Deus nos ensina de maneiras que são diferentes de qualquer outra coisa. Ela ensina coisas que não aprenderemos em nenhum outro lugar. Não apenas nos transmite conhecimento, mas também forma em nós a sabedoria. E nos revela os mistérios espirituais mais profundos e insondáveis que alguém pode vir a considerar. Como um bom mestre, a Palavra de Deus nos desmonta e depois nos reconstrói. Ela desconstrói pensamentos e motivações do nosso coração e, em seguida, os reconstrói.

    Você não pode se colocar sob o ensino da Palavra de Deus com um coração aberto e disposto e permanecer igual. Ao ensiná-lo, a Palavra recria você à semelhança daquele que o criou e o dotou. A Bíblia tem sido de longe meu melhor mestre. Você assiste às suas aulas todos os dias, com coração e mente prontos a aprender? Você vive sua vida como um estudioso da Palavra de Deus? A Bíblia é o currículo constante de Deus; não há cerimônia de formatura. Não importa há quanto tempo você seja cristão, precisará de suas instruções hoje tanto quanto precisava no primeiro dia como um cristão neófito. Você se verá voltando reiteradamente a passagens que já lhe ensinaram algo antes, apenas para perceber que são tão profundas que têm muito mais coisas novas e frescas para lhe ensinar.

    Amo a forma como Davi expressa esse poder de ensino das Escrituras, em Salmos 119.97-100:

    Como amo a tua lei!

    Ela é minha meditação o dia todo.

    Teu mandamento me torna mais sábio do que meus inimigos,

    pois está sempre comigo.

    Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres,

    pois os teus testemunhos são a minha meditação.

    Sou mais instruído do que os anciãos,

    pois guardo os teus preceitos.

    Todos temos resquícios de formas antigas e antibíblicas de pensar pairando em nossa mente. Todos temos lacunas em nosso entendimento teológico. Todos precisamos de uma compreensão mais profunda e prática dos planos, dos propósitos e do chamado de Deus. Todos precisamos de uma compreensão mais plena e rica do evangelho de Jesus Cristo. Todos precisamos aprender mais sobre a tenebrosa tragédia do pecado. Todos precisamos entender mais profundamente o que significa crescer na graça. E todos precisamos aprender mais sobre como essas coisas se aplicam a situações, relacionamentos e locais de nosso dia a dia. Nenhum de nós sabe tudo o que a Bíblia tem a nos ensinar. Se você acha que domina esse livro, provavelmente significa que não foi dominado por ele.

    A instrução bíblica mudou a maneira como você aborda suas amizades, a maneira como educa seus filhos, sua conduta no casamento, a maneira como usa seu dinheiro? O conhecimento teológico fez com que você vivesse com mais esperança, coragem, amor e alegria nos lugares em que vive e se relaciona? Em que área, neste exato momento, você está lutando para aplicar seu entendimento bíblico e teológico à vida cotidiana? Seu conhecimento bíblico está produzindo sabedoria prática e básica, com uma agenda já definida? Você ainda encontra a alegria que um dia já teve no estudo da Palavra de Deus? A Bíblia é seu mestre mais estimado, procurado e influente?

    A Palavra de Deus resgata

    Deus projetou a Bíblia para funcionar como nosso primeiro socorrista espiritual. Se você lê, estuda e medita regularmente sobre seu conteúdo, será resgatado repetidas vezes. O conceito de resgate é evocativo e nos torna mais humildes. Ele sempre implica a existência de algum perigo próximo, ou seja, de algo que ameace nossa saúde e segurança. Em um mundo caído, em que o mal ainda existe e o inimigo ronda como um leão que ruge, estamos sempre próximos do perigo manifesto e presente. Mas ainda tem mais.

    Porque o pecado ainda habita em nosso coração, somos tentados a nos mover em direção ao perigo, em vez de nos afastarmos dele. O fato é que o pecado nem sempre nos parece perverso ou perigoso. A razão pela qual o pecado é capaz de nos atrair, seduzir e prender em sua armadilha é porque ele é muito bom em se apresentar como algo belo e inofensivo, quando não é nada disso. Se um homem deseja uma mulher, ele não é tomado por um senso de perigo. Não, o que ele vê é beleza e o que ele experimenta é prazer. Se você está fofocando sobre alguém em seu telefone celular, não está sentindo medo pelo perigo do que está fazendo, mas sim sentindo a emoção fulgurante de contar uma história sobre alguém para outra pessoa. Se você está cometendo o pecado da gula, está tão ocupado desfrutando dos prazeres daquilo que está consumindo, que tem pouca consciência espiritual do perigo do que está fazendo. Precisamos da função resgatadora da Palavra de Deus não apenas porque o pecado é perigoso, mas também porque ele se disfarça de tudo, menos de algo perigoso.

    O conceito de resgate também denota a necessidade de uma ajuda que está além daquela que você é capaz de fornecer a si mesmo. Se uma pessoa que precisa da ajuda de um socorrista fosse capaz de resgatar a si mesma, ela não precisaria dele. A verdade humilhante é que, deste lado da eternidade todos nós precisamos ser, de alguma forma, resgatados pela Palavra de Deus. Ela nos fornece poder, sabedoria, direção e percepção que jamais alcançaríamos por conta própria. Uma das maneiras principais pelas quais a Bíblia nos resgata é pelo contraste. Repetidamente, de várias maneiras, ela contrasta o perigo destrutivo do pecado com a beleza e a bênção de seguir nosso Salvador. Por meio de histórias, literatura sapiencial, mandamentos, princípios e encorajamentos do evangelho, a Bíblia nos ajuda a ver a iniquidade tenebrosa do pecado e a beleza resplandecente de uma vida vivida sob o senhorio de Jesus Cristo.

    E, uma vez que não somos seres que resgatam a si mesmos espiritualmente, devemos constantemente nos colocar sob a misericórdia resgatadora da Palavra de Deus.

    A Palavra de Deus adverte

    Sejamos honestos: existem na Bíblia algumas passagens bem intimidantes. A Bíblia é, de ponta a ponta, marcada por advertências claras e muitas vezes severas da parte de Deus. Ele advertiu Adão e Eva sobre o preço por comer o fruto da árvore proibida. Alertou seus filhos quando estes encontraram um novo conjunto de tentações na Terra Prometida. O tema dos Profetas é a advertência, seja ela dirigida à idolatria de seu povo ou às injustiças de líderes ímpios. Deus enviou Jonas para pregar uma mensagem de advertência à iníqua Nínive. Cristo adverte severamente os fariseus hipócritas. Jesus alerta os discípulos quando deixa sua missão nas mãos deles. E há advertências nítidas e assustadoras para os crentes; algumas das mais fortes encontram-se em uma série de passagens em Hebreus (2.1-4; 3.7—4.13; 5.11—6.12; 10.19-39; 12.14-29).

    Por que existem tantas advertências na Escritura? Elas estão lá porque Deus nos ama. Veja bem, advertência não é julgamento. Se julgar você fosse tudo o que Deus pretendesse, ele não o alertaria primeiro. Os pais alertam constantemente seus filhos. Eles primeiro alertam para que não toquem no fogão quente, na vela acesa ou na tomada elétrica. Depois, alertam sobre o que é seguro comer e o que é perigoso e, mais para frente, alertam sobre os perigos da internet e das mídias sociais. Em seguida, vêm as advertências sobre os perigos de dirigir um carro ou da tentação sexual. Mais tarde, os pais alertam sobre os perigos ímpares de viver e estudar em uma universidade, sobre as tentações relacionadas ao dinheiro ou os desafios de um relacionamento romântico levado a sério. Cada uma dessas advertências é motivada pelo terno amor dos pais.

    Uma das maneiras pelas quais experimentamos a paternidade de Deus é em seu compromisso incansável de nos advertir sobre os vários perigos da vida neste mundo caído. Cada aviso significa que somos amados por nosso Pai celestial. Cada advertência mostra sua paciência, fidelidade, sabedoria e graça. Cada alerta nos lembra de seu cuidado por nós. Cada advertência nos ensina, mais uma vez, que ele está pronto e disposto a perdoar e a restaurar. Cada aviso é um chamado para confiarmos nele e para segui-lo pela fé. Cada alerta nos lembra de que nosso Pai é infinitamente mais inteligente do que nós. Ele de fato sabe o que é melhor, e devemos ouvi-lo e lhe obedecer.

    Pais, como vocês estão agindo em relação à advertência de Deus para que não provoquem a ira de seus filhos? Maridos, como estão agindo em relação às advertências de Deus sobre os perigos que a infidelidade traz aos seus compromissos matrimoniais? Em sua carreira, como vocês estão agindo em relação às advertências de Deus para que não amem este mundo? Em todas as áreas da vida, Deus nos abençoa com advertências de proteção e de prevenção. Ele faz isso porque nos ama e conhece a suscetibilidade de nosso coração.

    Você não quer ser como a criança que se recusa a ouvir os avisos da mãe e queima o dedo na porta do forno. Também não quer ser como o adolescente que ignora os avisos do pai e toma decisões que alteram o restante de sua vida. Deus nos ama, e por isso pontuou sua Palavra com advertências. Com cuidado paternal, ele diz: Não olhe para lá, não diga isso, não deseje isso, não faça aquilo, não escolha aquilo, não ame aquilo, tome cuidado com isso.

    Levar a Bíblia a sério no dia a dia significa levar uma vida moldada pela proteção das advertências do Pai celestial. Ele nos alerta e somos abençoados. Seja como estudante, chefe, mãe ou pai, casado, trabalhador, vizinho, cidadão, homem ou mulher, jovem ou idoso, executivo ou operário, seja no ministério ou no dia a dia, na vida privada ou na pública, em que áreas você deixou de submeter seu coração e sua vida às amorosas advertências de Deus? Você e eu faríamos bem se resistíssemos ao pensamento de que, em algumas áreas da nossa vida, somos mais espertos que Deus e ao pensamento de que não teremos nenhum preço a pagar por ignorar suas advertências sábias e amorosas. Cada pecado, com a respectiva disfunção pessoal, relacional e situacional dele decorrente, resulta de uma falha em obedecer humildemente às advertências de Deus. E lembre-se: ele não apenas nos alerta, mas também nos dá a graça de que precisamos para viver segundo suas advertências.

    A Palavra de Deus protege

    Os seres humanos precisam de limites. Isso já era verdade antes mesmo de o pecado entrar no mundo e fazer sua obra destrutiva. Adão e Eva precisavam de limites, embora estivessem vivendo como pessoas perfeitas em um mundo perfeito e no contexto de um relacionamento perfeito com Deus. Nenhum ser humano tem uma base de experiência e conhecimentos ampla o suficiente ou é profeticamente sábio o bastante para ser capaz de estabelecer limites para si mesmo. Apenas o Criador, que conhece suas criaturas, o mundo que ele criou para viverem e a vida que foram criados para levar, pode estabelecer o conjunto certo de limites protetores e preventivos. Os limites de Deus, isto é, suas leis, são uma expressão de seu amor por nós. Eles nos protegem do perigo e nos atraem para uma dependência e uma comunhão mais profundas com Deus. O Senhor nos agracia com a sua lei.

    Pense em quando Deus primeiramente deu sua lei no monte Sinai. Em uma incrível demonstração de poder e autoridade divinos, Deus tinha acabado de resgatar Israel de seus quatrocentos anos de sofrimento no Egito, conduzindo-os ao deserto para sua jornada rumo à terra que lhes havia prometido. Mas seus filhos tinham um problema enorme e potencialmente destrutivo. Por haverem sido escravos por tantas gerações, eles não tinham ideia de como viver. Então, Deus lhes deu sua lei civil, cerimonial e moral. Essas leis foram dadas a seus filhos como um sinal de seu amor e de sua graça. A Lei organizou suas vidas, deu forma à sua adoração, protegeu seu coração, estruturou seus relacionamentos com seus vizinhos e forneceu-lhes um sistema legal. Mas, acima de tudo, protegeu os israelitas de si mesmos. A lei de Deus foi uma das principais maneiras pelas quais ele protegeu e preservou seu povo.

    O mesmo vale para nós. Deus conservou e reafirmou sua lei para nós na Bíblia. Não há sequer um dia de nossa vida em que estejamos livres da necessidade de sermos protegidos pelas normas de Deus, segundo se revelam em sua Palavra. Se você for mãe, precisa da lei de Deus para contê-la e direcioná-la à medida que se dedica à tarefa árdua e de longo prazo de educar seus filhos. Como marido, você precisa da lei de Deus para tratar sua esposa segundo o plano de Deus e para permanecer fiel aos votos da sua aliança. Como trabalhador, você precisa da lei de Deus para moldar a maneira como faz o seu trabalho, relaciona-se com seu chefe e coopera com seus colegas de trabalho. Na universidade, você precisa da lei de Deus para moldar sua vida ali e a maneira como cumpre as responsabilidades de seu papel de aluno. Na sua vida privada, você precisa da lei de Deus para estabelecer limites para seus pensamentos, desejos e comportamentos.

    Como qualquer pai amoroso, Deus Pai, em sua Palavra, estabelece limites de proteção para nós. Ele não faz isso para nos roubar a liberdade e a alegria, mas para que sejamos libertos da escravidão e da tristeza que sempre ocorrem quando pecadores escolhem o próprio caminho. Embora Jesus Cristo tenha cumprido a Lei e arcado com toda a pena por nós a rompermos, ele reformulou e restabeleceu a lei moral para nós, pois sabia que precisaríamos dessa proteção até chegarmos ao outro lado e estarmos livres de nossa suscetibilidade pecadora de seguir nosso próprio caminho.

    A Palavra de Deus encoraja

    Todos precisamos de encorajamento. Nem você nem eu podemos viver sem esperança. Mas o que é esperança? É tanto uma expectativa quanto um objeto. Nela há algo em que você coloca seu coração (expectativa) e há alguém ou algo que você busca para obtê-la (objeto). Deus sabia que neste mundo quebrado, que geme e não mais funciona como ele pretendia, precisaríamos de encorajamento diário, ou seja, de esperança constante. Deus sabia que este mundo caído, habitado por pessoas nada perfeitas, jamais seria capaz de nos oferecer uma esperança sólida, segura, fiel e confiável. A esperança horizontal e presa a este mundo sempre decepciona.

    Assim, Deus nos deu sua Palavra e, ao fazê-lo, ele nos deu a si próprio. O que quero dizer com isso? Uma das maiores dádivas da Palavra é que a glória do Deus por trás dela respinga por todas as suas páginas. Deus sabia que neste mundo viveríamos desesperados por esperança; portanto, ele retirou a cortina que nos separava e nos revelou a si mesmo em esplendorosa glória. Considere Isaías 40, passagem em que a linguagem humana é expandida ao máximo a fim de captar a majestade de Deus.

    Mas Deus não somente revela seu poder e sua glória: ele também quer que saibamos que ele é soberano (Dn 4.34-35). E há ainda mais. Ele quer que saibamos que está perto: Nunca te deixarei nem te desampararei (Hb 13.5). Além disso, quer que saibamos que é um Deus de perdão e graça: Ao Senhor nosso Deus pertencem a misericórdia e o perdão (Dn 9.9). Esses são apenas alguns exemplos de temas da autorrevelação de Deus em sua Palavra. Ele sabe que precisamos de esperança e age, por meio de sua Palavra, para que concentremos nele nossa esperança e estejamos seguros de que a esperança nele nunca, jamais nos desapontará.

    Como a Palavra de Deus nos encoraja? Ela nos lembra que a esperança vertical não é um mero desejo, um sonho duvidoso, mas sim a expectativa confiante de um resultado garantido. E por que pode ser assim? Porque o objeto da nossa esperança é o Senhor do céus e da terra, o Criador, o Salvador, que nos convida a depositar nele nossa esperança.

    A Palavra de Deus motiva

    Embora eu ame aquilo que fui chamado a fazer, não acordo todos os dias me sentindo motivado. Às vezes me sinto incapaz. Às vezes a tarefa me parece muito grande. Às vezes estou exausto. Às vezes duvido do resultado do meu trabalho. Às vezes a preguiça é mais difícil de vencer do que no dia anterior. Às vezes os problemas me distraem. Sejamos honestos: a fé não é algo natural para nós. Natural é a dúvida, é a preocupação, é a negação, é o medo; a coragem da fé, porém, não nos é natural. Aqui vemos novamente uma das maneiras pelas quais a Palavra de Deus é uma grande bênção. Deus se inclina para me encontrar em minha luta, e me motiva por meio das grandes e preciosas promessas de sua Palavra.

    Encontramos literalmente milhares de promessas na Escritura. As promessas de Deus marcam todo tipo de literatura bíblica e transtornam cada período da história bíblica. Onde quer que seu povo esteja, seja o que for que esteja enfrentando, Deus os saúda com suas promessas. Ele faz isso para motivar a fé deles e levá-los a agir com coragem. Suas promessas encorajam, fortalecem e trazem esperança e, por isso, motivam-nos a não ceder à ideia de desistir e a continuar fazendo o que ele nos chamou a fazer.

    Por causa das promessas de Deus para nós, não medimos nossa capacidade ou nosso potencial para o sucesso ou a vitória com base em justiça, sabedoria ou força próprias, mas sim com base na magnitude e na certeza daquilo que ele nos prometeu. Então, mesmo quando sabemos que somos fracos e estamos cientes de nossas falhas, continuamos em frente, por causa de todas as coisas boas que ele prometeu ser, fazer e entregar para nós.

    Você não precisa que eu lhe diga que a vida neste mundo caído pode ser terrivelmente desencorajante. Tudo, desde falhas mecânicas até aquelas cometidas por familiares e amigos, pode deixar a vida complicada e difícil. E, porque não somos capazes de ver o que está por vir adiante, não sabemos quando a vida ficará difícil outra vez. Também temos de lidar com nossa própria fraqueza e nossa tendência a nos desviar. Mas vemos a ternura do coração de Deus à medida que ele derrama sobre nós suas promessas, para que fiquemos encharcados com sua graça motivadora. Tempos difíceis e áridos virão, mas somos convidados a nos colocar sob

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