Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Estudos bíblicos expositivos em 1Reis
Estudos bíblicos expositivos em 1Reis
Estudos bíblicos expositivos em 1Reis
E-book876 páginas27 horas

Estudos bíblicos expositivos em 1Reis

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Davi, Salomão, Elias: a história contada em 1Reis é repleta de grandes heróis de Israel, homens de coragem e carisma com muitas fragilidades e uma necessidade constante de graça. Mas também não faltam os grandes vilões: Adonias, Simei, Jeroboão, Acabe. Acima de tudo, porém, 1Reis é a história do Deus de Israel, que nunca deixa de amar o seu povo ou de mantê-lo sob seu cuidado real, mesmo quando este escolhe seguir os caminhos da loucura e idolatria.

Que Deus, o Espírito Santo, abençoe todos que lerem este livro com um conhecimento mais profundo de Jesus Cristo, que é o melhor dos reis de Israel e o mais poderoso de todos os profetas de Deus.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de mar. de 2023
ISBN9786559890897
Estudos bíblicos expositivos em 1Reis

Leia mais títulos de Philip Graham Ryken

Relacionado a Estudos bíblicos expositivos em 1Reis

Ebooks relacionados

Cristianismo para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Estudos bíblicos expositivos em 1Reis

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Estudos bíblicos expositivos em 1Reis - Philip Graham Ryken

    Prefácio

    Davi, Salomão, Elias: a história contada em 1Reis é repleta de grandes heróis de Israel, homens de coragem e carisma com muitas fragilidades e uma necessidade constante de graça. Mas também não faltam os grandes vilões: Adonias, Simei, Jeroboão, Acabe. Acima de tudo, porém, 1Reis é a história do Deus de Israel, que nunca deixa de amar o seu povo ou de mantê-lo sob seu cuidado real, mesmo quando este opta por seguir os caminhos da loucura e idolatria.

    Expor 1Reis na Tenth Presbyterian Church em Filadélfia foi um enorme privilégio. Na verdade, esse privilégio parece ainda mais precioso agora que deixei a congregação que amo para seguir o chamado de Deus para servir como presidente do Wheaton College.

    Os sermões sobre Elias foram os primeiros durante meus anos iniciais na Tenth Church, nas ocasiões em que substituí James Montgomery Boice nas manhãs de domingo. Os sermões sobre Salomão e seus sucessores vieram depois. Todo esse material foi cuidadosamente revisto, com a ajuda dos sábios comentários de bons amigos. Lois Denier, Cathy Kempf, Glenn McDowell e Maria Ryken: todos eles sugeriram melhorias para o material de Salomão (parte do qual foi publicado em outros textos). Iain Duguid, Randy Grossman, Rick Phillips e Jonathan Rockey leram todo o manuscrito e me ajudaram corrigindo meus erros, fortalecendo meus argumentos, pedindo um foco mais prático e assim por diante.

    Sou grato a Deus pela ajuda que recebi desses amigos e pela alegria que tenho de servir na comunidade cristã. Devo agradecimentos especiais a Robert Polen, por completar a árdua tarefa de inserir as revisões finais, e a Melvin Marilee, por me ajudar a levar este livro à gráfica. Mas talvez a minha maior dívida de gratidão seja com todos os que oraram por mim enquanto eu estudava, meditava, pregava e, finalmente, escrevia sobre 1Reis.

    Que Deus, o Espírito Santo, abençoe todos que lerem este livro com um conhecimento mais profundo de Jesus Cristo, que é o melhor dos reis de Israel e o mais poderoso de todos os profetas de Deus.

    Philip Graham Ryken

    Wheaton College

    Ascensão e queda da casa de Davi

    Primeira parte

    O rei Salomão: dinheiro, sexo e poder

    Capítulo 1

    Sou rei!

    1Reis 1.1-10

    Então, Adonias, filho de Hagite, se exaltou e disse: Eu reinarei. Providenciou carros, e cavaleiros, e cinquenta homens que corressem adiante dele (1Rs 1.5).

    Em cada simples jogo de damas há um momento emocionante quando uma das peças do jogo de repente se transforma em realeza. Após percorrer todo o caminho e saltar até o outro lado do tabuleiro, uma pedra comum se transforma em dama. Sou dama!, exclama um dos jogadores. Uma segunda pedra comum é cuidadosamente colocada em cima da primeira, e a partir de então a nova dama tem o poder de se movimentar por todo o tabuleiro.

    Muitas pessoas querem fazer do jogo de damas seu modo de vida. Insatisfeitas com seu status comum, elas querem ser o centro real de atenção. Sou rei!, dizem, desejando poder e dinheiro o suficiente para obter o controle e comprar os prazeres que querem na vida. Sou rei! é o que o homem solteiro está dizendo quando satisfaz seu desejo sexual, em vez de assumir o compromisso altruísta com Cristo de amar uma mulher. Sou rei! (ou Sou rainha!, para usar um termo do jogo de xadrez) é o que a mãe dominadora está dizendo quando ela faz de sua própria paz a regra da casa, em vez de buscar o progresso espiritual de seus filhos. E Sou rei! é o que eu digo toda vez que faço dos meus próprios desejos a minha maior preocupação, mesmo que à custa de outros.

    O problema com a construção de nossos próprios pequenos reinos é que assim nunca encontramos o nosso lugar no verdadeiro reino de Deus. Essa questão central na vida cristã é, também, a questão central em 1 e 2Reis. Quem será o rei? Será que aceitaremos a realeza que Deus estabeleceu, ou será que sempre insistiremos em impor a nossa própria vontade na vida?

    O velho rei Davi

    A questão da realeza surge já no início de 1Reis. Os livros de 1 e 2Samuel são dominados pelo reinado de Davi. Mas 1Reis começa dizendo que o rei Davi já velho e entrado em dias, envolviam-no com roupas, porém não se aquecia (1Rs 1.1).

    Para quem admira o rei Davi, essa cena é cheia de pathos. Davi foi um dos maiores reis da terra, talvez o maior. Desde criança, realizara muitas proezas heroicas no campo de batalha: matou leões e ursos para defender os rebanhos e manadas de seu pai; matou gigantes; conquistou reinos; construiu uma fortaleza para o seu povo em Jerusalém; gerou uma dinastia real, foi pai de muitos filhos que seriam os príncipes de Israel. Mas, agora, o famoso rei estava velho e fraco, e de toda a sua antiga grandeza restara-lhe apenas a preocupação de manter-se aquecido na cama (ou devo dizer leito de morte?).

    A fragilização de Davi é um triste lembrete da nossa própria fraqueza. Quando esses eventos ocorreram, o rei tinha cerca de 70 anos de idade (ver 2Sm 5.4). O que aconteceu com ele vai acontecer com quase todos nós: nossa audição ficará mais fraca, nossa visão escurecerá, nossos membros ficarão débeis e frágeis. Finalmente, seremos confinados à cama, e talvez também sentiremos frio. É, portanto, muito importante seguir este conselho das Escrituras: Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: ‘Não tenho neles prazer’ (Ec 12.1). Se, como Davi, dermos nosso coração a Deus quando formos jovens, ainda nos lembraremos dele quando ficarmos velhos, e ele se lembrará de nós.

    Pobre Davi! Enquanto tentava se aquecer, seus servos tentavam ajudá-lo. Vestiram-no com pijamas mais quentes, mas o rei continuava com frio. Empilharam cobertores pesados sobre sua pessoa real, mesmo assim o rei tremia sob as cobertas. Então, sugeriram um remédio prático – mencionado em vários manuais de medicina da Antiguidade:1

    Então, lhe disseram os seus servos: Procure-se para o rei, nosso senhor, uma jovem donzela, que esteja perante o rei, e tenha cuidado dele, e durma nos seus braços, para que o rei, nosso senhor, se aqueça. Procuraram, pois, por todos os limites de Israel uma jovem formosa; acharam Abisague, sunamita, e a trouxeram ao rei. A jovem era sobremaneira formosa; cuidava do rei e o servia, porém o rei não a possuiu (1Rs 1.2-4).

    A contratação de Abisague como aquecedor humano suscita mais perguntas do que respostas. Estavam os servos de Davi simplesmente tentando mantê-lo aquecido? Por que, então, organizaram um concurso de Miss Israel para encontrar a garota mais bonita de todo o país? Embora a situação pareça carregada de sexualidade, também sentimos que o rei é rebaixado. Esse não é o Davi que conheceu Bate-Seba, o Davi que foi pai de Salomão e de muitos outros filhos. Nem mesmo uma jovem virgem deslumbrante consegue esquentar seu sangue. Pelo contrário, sua impotência sexual demonstra que ele havia perdido sua vitalidade e virilidade.

    Em breve, o velho rei Davi estará morto e sepultado, fato que evidencia uma das limitações inerentes à realeza do antigo Israel. Todos os reis morreram, pondo em dúvida a realeza para cada nova geração do povo de Deus. Davi foi o melhor dos reis de Israel, mas até ele foi enterrado, onde seu corpo permanece até hoje. Sua mortalidade significava que nunca seria o rei supremo do povo de Deus.

    Isso revela, por via de contraste, a realeza superior que temos em Jesus Cristo, o verdadeiro Filho de Davi e o único Filho de Deus. Jesus também morreu, sendo crucificado pelos nossos pecados. Mas, no terceiro dia, ele ressuscitou para reinar para sempre em majestade real. Jesus Cristo é o Rei imortal de todas as idades (1Tm 1.16). Este é o reino que precisamos, governado por um Rei que nunca mais morrerá, mas que viverá para sempre para nos governar e defender. Jesus nunca sentirá o frio da velhice, mas permanecerá em plena posse de seus poderes divinos por toda a eternidade: nosso Rei para sempre.

    Eu serei rei

    Quando o reinado de Davi estava se aproximando do seu fim, a corte real fervia de intrigas. Os cortesãos cochichavam nos corredores: Quem será o próximo rei?. Essa pergunta estivera na mente das pessoas há anos, da mesma forma que as pessoas há muito especulam sobre quem será o sucessor da rainha Elizabeth II, da Inglaterra. Na verdade, já haviam sido feitas pelo menos duas tentativas de tomar o trono de Davi: a rebelião de seu filho Absalão, que levou a uma guerra civil (2Sm 14-18), e a revolta de Seba, filho de Benjamim (2Sm 20). Davi conseguiu suprimir as duas rebeliões, mas à medida que envelhecia foi ficando mais fraco. Agora, não conseguia nem mesmo se aquecer na cama, e aquilo que um estudioso descreveu como impotência tremente estava deixando um vácuo de poder.2

    O legítimo herdeiro de Davi, segundo Deus, deveria ser Salomão. Embora não fosse o filho mais velho – ele ocupava o décimo lugar na hierarquia de sucessão ao trono –, Salomão era o filho escolhido. Deus nem sempre escolhe o filho mais velho, como ilustra a coroação do próprio Davi (1Sm 16.10-13). Sabemos de 1Crônicas 22.9 que a palavra do Senhor tinha anunciado a Davi que Salomão seria o próximo rei: Eis que te nascerá um filho, que será homem sereno, porque lhe darei descanso de todos os seus inimigos em redor; portanto, Salomão será o seu nome; paz e tranquilidade darei a Israel nos seus dias. Este edificará casa ao meu nome; ele me será por filho, e eu lhe serei por pai; estabelecerei para sempre o trono do seu reino sobre Israel (1Cr 22.9-10). Salomão seria o rei de Israel por eleição divina.

    No entanto, havia outro pretendente ao trono, um candidato alternativo para assumir o reino de Israel. A maioria das pessoas o via como o herdeiro perfeito. Seu nome era Adonias, e ele se parecia muito com Davi em seus melhores dias, mas que, agora, já pertenciam ao passado. A Bíblia o descreve como um homem muito bonito, e ele nasceu logo após Absalão (1Rs 1.6). Do ponto de vista humano, tudo favorecia Adonias: ele tinha todas as qualificações que as pessoas costumam pedir. Assim como o seu irmão mais velho, Absalão (um vínculo ameaçador, dado a guerra civil que Absalão travara contra a casa de seu pai – 2Sm 14.25-27), sua aparência agradava à vista, o que pesa bastante – mais do que gostamos de admitir. No que dizia respeito ao reinado, Adonias parecia o partido perfeito (pelo menos para as pessoas que valorizam a aparência externa, coisa que Deus não faz – 1Sm 16.7).

    Além disso, como filho mais velho ainda vivo de Davi, Adonias era o próximo na linha de sucessão ao trono. Ele era o quarto filho de Davi (2Sm 3.4). O filho mais velho do rei, Amnom, havia sido morto por seu irmão mais jovem Absalão, que, por sua vez, fora condenado à morte. Ninguém sabe o que aconteceu com Quileabe (2Sm 3.3), que simplesmente desapareceu da história e talvez tenha morrido em sua juventude. De acordo com o antigo princípio da primogenitura, a maioria das pessoas teria dito que Adonias tinha um direito legítimo ao trono.

    Assim, o jovem Adonias decidiu aproveitar sua chance, declarando a sua intenção de ser rei após Davi. A formulação exata de sua declaração nos abre uma janela para a sua alma e, talvez, para nossas próprias também: Então, Adonias, filho de Hagite, se exaltou e disse: Eu reinarei. Providenciou carros, e cavaleiros, e cinquenta homens que corressem adiante dele (1Rs 1.5). A estrutura gramatical ressalta a palavra eu. Podemos imaginar Adonias apontando para si mesmo ou até mesmo batendo no peito ao dizer: "Eu reinarei. Além disso, a forma do verbo exaltar" pode indicar uma ação contínua,3 como que para demonstrar que a autoexaltação de Adonias não foi apenas uma ocorrência única – toda a sua vida girava em torno de projetar-se como futuro rei.

    Do ponto de vista meramente humano, a pretensão de Adonias é perfeitamente compreensível. Afinal, quem não gostaria de ser rei? Além disso, a ordem natural das coisas não exige que um rei demonstre alguma iniciativa para merecer a sua coroa?

    Se isso é o que pensamos, precisamos lembrar que esse não era um reino comum. A casa real de Davi fazia parte do plano de Deus para a salvação do mundo. Davi tinha recebido uma promessa divina e pactual segundo a qual sua dinastia persistiria para sempre, que seu trono seria estabelecido eternamente (2Sm 7.16-17). Essa era a vontade de Deus. Também seria obra de Deus, o que significa que, em vez de fazer sua própria escolha do rei, Israel deveria confiar em Deus para que este fornecesse o homem de sua escolha.

    Alguns comentaristas interpretam o declínio de Davi como crise constitucional. A razão da rivalidade entre os filhos de Davi sobre quem seria rei, dizem eles, era que o procedimento constitucional de regulamentar a sucessão ainda não havia sido estabelecido.4 Mas esse não era o problema verdadeiro. Israel tinha uma política de sucessão real. Sua política era a determinação divina: Deus ungia o seu próprio rei em seu próprio tempo. Como disse na Lei de Moisés: estabelecerás, com efeito, sobre ti como rei aquele que o Senhor, teu Deus, escolher (Dt 17.15). O problema era que homens como Adonias (e também como Absalão) não aceitavam a escolha de Deus, mas continuavam se exaltando. Eles nem sequer aguardaram a morte de seu pai (cf. Lc 15.12), mas tentaram tomar à força algo que só Deus podia dar.

    Alguma vez você já sentiu essa mesma tentação – a tentação de pegar para si o que você queria no momento em que o queria, em vez de esperar que Deus lhe desse? Crianças pequenas são tentadas a fazê-lo e dizem: Isso é meu!, e pegam o que podem. Crianças maiores são tentadas a fazê-lo e ficam com raiva quando não conseguem impor a sua vontade. Alguns adultos são tentados a fazê-lo e se aproveitam dos prazeres sexuais sem esperar o presente do casamento. Outros são tentados a passar por cima de outras pessoas para serem promovidos, ou a apresentar-se para o ministério sem qualquer chamado da igreja, ou a obter um controle ímpio sobre seu cônjuge por meio da manipulação ou violência.

    De uma forma ou de outra, todos nós somos tentados a nos exaltar. Muitas vezes somos como Diótrefes, que o Novo Testamento descreve como alguém que gostava de colocar-se em primeiro lugar (3Jo 9). Mas quando nós nos colocamos no trono, Deus deixa de ser o Deus da nossa vida e passa a ser apenas mais um de nossos funcionários. Em vez de procurar o seu reino, esperamos que ele nos ajude a construir o nosso. Mais cedo ou mais tarde, ficaremos chateados com ele por não fazer o que esperamos que ele faça por nós. Normalmente ficamos com raiva quando não conseguimos o que queremos, o que torna a raiva uma das melhores evidências para descobrirmos as nossas próprias idolatrias particulares. Quando estamos zangados com o mundo ou com raiva de Deus, podemos ter certeza de que colocamos a pessoa errada no trono.

    Para sua própria glória

    Para reconhecer a forma que a autoexaltação assume em nossa própria vida, precisamos analisar com mais cuidado a forma como Adonias se entronizou como rei. Ele tomou para a sua própria glória e prazer a decisão de fazer-se rei, sem jamais submeter-se ao governo de Deus. Cometemos o mesmo erro sempre que decidimos fazer-nos rei: buscamos a nossa própria honra e prazer sem nos submeter ao governo de Deus.

    Veja as várias maneiras com que Adonias agiu para a sua própria honra. Em primeiro lugar, Providenciou carros, e cavaleiros, e cinquenta homens que corressem adiante dele (1Rs 1.5). Se você quer que as pessoas saibam quão importante você é, é bom ter seu próprio cortejo! Então Adonias reuniu sua legião, por assim dizer – uma guarda de honra de carruagens do palácio, com lacaios correndo à sua frente para anunciar a sua vinda. Mesmo antes de chegar, as pessoas saberiam assim que alguém importante estava a caminho.

    Quando você quer ser importante, a aparência é tudo. Se você quiser ser rei, precisa agir como rei, e isso inclui cercar-se de pessoas que o tratem assim. Você precisa ter alguns seguidores – pessoas que lhe digam quão grande você é. E assim como seu irmão Absalão antes dele (outro vínculo sinistro), Adonias grandiosamente empregou um cortejo de cavalos e carruagens e servos a pé (2Sm 15.1).

    Adonias também buscou assegurar o apoio de alguns dos líderes mais poderosos de Israel: Entendia-se ele com Joabe, filho de Zeruia, e com Abiatar, o sacerdote, que, seguindo-o, o ajudavam (1Rs 1.7).

    Mesmo que suas carreiras terminassem em desgraça, ambos os homens eram líderes-chave de Israel. Joabe era o comandante do exército de Israel e durante muitos anos atuou como braço direito de Davi. Joabe foi o general que ajudara o rei a conquistar Jerusalém, que suprimira todas as rebeliões contra o seu trono real, e que protegera a vida do rei matando seus inimigos (por exemplo, 2Sm 2.13ss.; 1Cr 11.4-6). Infelizmente, Joabe também matara o filho de Davi, Absalão, o que fez com que perdesse o favor real e diminuísse a sua influência política. Mas talvez seu apoio a Adonias lhe permitisse recuperar sua posição de poder no reino.

    Abiatar, o sacerdote, também estava planejando aumentar seu poder. Como Joabe, ele era um dos parceiros do velho rei, um homem que havia acompanhado Davi quase desde o início (1Sm 22.20-23). Abiatar não era o sumo sacerdote, mas talvez o quisesse ser. Em todo caso, decidiu que acompanharia Adonias em sua ascensão ao poder.

    Adonias tinha, portanto, amigos em posições altas – poderosos líderes militares e religiosos que poderiam ajudá-lo a conseguir o que queria. Conhecer as pessoas certas é importante. Se você quiser avançar na vida, ajuda poder dizer coisas como: Sabe, outro dia eu estava conversando com meu bom amigo Joabe, e ele disse.... Também ajuda ter pessoas ao seu redor que lhe digam o que você quer ouvir, apoiando suas ambições e elogiando suas conquistas sem criticar suas falhas ou corrigir seus pecados.

    Adonias também se exaltou ao exibir publicamente a sua riqueza pessoal e seu compromisso religioso: Imolou Adonias ovelhas, e bois, e animais cevados, junto à pedra de Zoelete, que está perto da fonte de Rogel, e convidou todos os seus irmãos, os filhos do rei, e todos os homens de Judá (1Rs 1.9).

    Essa grande festa, com sua longa lista de convidados, serviria a uma série de propósitos políticos importantes. Melhoraria a reputação religiosa de Adonias (Zoelete, a Pedra da Serpente não era exatamente o lugar adequado para fazer sacrifícios a Deus!). A festa também uniria as pessoas, convencendo-as a formar uma aliança política. Compartilhar a mesa era um sinal de solidariedade importante nos tempos bíblicos. Nesse caso, equivalia praticamente a uma cerimônia de coroação pública (1Rs 1.11).

    Adonias fez toda essa autopromoção para fortalecer sua posição política. Ele estava saindo com os amigos certos, passando tempo com as pessoas mais populares e organizando as maiores festas. Ao mesmo tempo, estava passando a impressão de que era profundamente religioso. No entanto, Adonias fazia tudo isso apenas para sua própria honra e glória.

    Somos tentados a fazer-nos rei da mesma maneira. Tentamos impressionar as pessoas com o que temos, com as pessoas que conhecemos ou com quanto estamos fazendo para Deus. Às vezes, nós nos preocupamos mais com o que as pessoas pensam de nós do que com aquilo que realmente somos diante de Deus. Assim, nós nos cercamos com as pessoas que nos dizem que estamos fazendo a coisa certa, mesmo (e talvez) quando estamos fazendo a coisa errada.

    Como isso acontece? Silenciosamente, garantimos que recebamos a maior parte do crédito pelo sucesso de um projeto, ou gabamo-nos do aparelho eletrônico que compramos recentemente, ou fazemos com que as pessoas saibam que estamos vestindo a última moda, ou passamos a impressão de que somos parte da tribo, ou fazemos o que seja que as pessoas da nossa comunidade fazem para ganhar pontos. Talvez alimentamos o nosso senso de autoimportância simplesmente reclamando, ainda que discretamente, sobre a nossa carga de trabalho, sobretudo na boa obra que fazemos no ministério cristão. Mas de um jeito ou de outro, queremos que as pessoas saibam como somos bons. Não podemos fazê-lo andando de carruagem, contratando cinquenta servos e convidando celebridades para um jantar, mas fazemos a mesma coisa de maneiras mais sutis. Nós o fazemos com os objetos que compramos, com aquilo que dizemos e vestimos, e com a impressão que tentamos deixar de sermos algo maior do que realmente somos.

    Prazeres tolos

    Não buscamos apenas a nossa própria honra, buscamos ainda o nosso próprio prazer. É o que Adonias também nos mostra. Não foi apenas para sua própria glória que ele se coroou rei; fez isso igualmente para seu próprio prazer. A Bíblia assim indica, dizendo-nos que Jamais seu pai o contrariou, dizendo: ‘Por que procedes assim?’ (1Rs 1.6). É uma terrível acusação contra Davi de ter fracassado na disciplina paternal. É também um dos comentários mais importantes de toda a Bíblia sobre o tema da educação dos filhos.

    A implicação é que Davi deveria ter responsabilizado seus filhos por seus atos, e que, se tivesse feito isso, Adonias não teria vivido para a glória de uma coroa que nunca deveria ter reivindicado. A Bíblia indica, ainda, que essa medida disciplinadora inevitavelmente teria desagradado o filho, embora tivesse sido para o seu próprio bem. Mas em vez disso, Adonias era rebelde – corrompido de tão mimado. Davi amara seu filho excessivamente, mas não de forma muito sábia. Um pai muito indulgente produzira um filho arrogante. Como Paul House comenta sabiamente: "Uma boa aparência e um status privilegiado, juntamente com a indulgência dos pais, raramente constroem um caráter forte. Tampouco incutem sabedoria".5 Adonias pode muito bem ter tido uma infância feliz, mas a falta de disciplina de seu pai acabou transformando o jovem em traidor.

    Tudo isso são princípios que podemos levar diretamente para os nossos lares cristãos. Pais e mães têm o dever de responsabilizar seus filhos por suas ações. Por que você fez isso? é uma pergunta boa e muitas vezes necessária a se fazer. Ela força as crianças a explicarem suas ações e a examinarem as motivações do seu coração. Isso pode ajudá-las a ver quão pecaminosas são e quanto precisam de um Salvador. Também pode ajudá-las a ver a diferença entre viver para seu próprio prazer e viver para agradar a Deus, entre fazer-se rei e viver para a glória de Deus.

    Os pais precisam saber que esse tipo de responsabilização muitas vezes deixa a criança com raiva. E é claro que a deixa com raiva! A natureza caída se irrita sempre que seus pecados são expostos. Mas esse desagrado da criança pode muito bem ser um sinal de que ele ou ela está recebendo exatamente a disciplina necessária. Claro, a Bíblia também adverte os pais (principalmente o pai) para que não irritem seus filhos (cf. Ef 6.4), o que, muitas vezes, representa uma tentação para os pais. Para evitar isso, cada ato de disciplina deve ser acompanhado por uma comunicação clara e amorosa; arrependimento e reconciliação podem ser necessários em ambos os lados. Mas a questão em 1Reis 1.6 é que uma educação eficaz às vezes desagrada as crianças.

    Caso você seja um pai ou uma mãe, você ama seus filhos a ponto de arriscar seu desagrado? Os pais que nunca desagradam seus filhos não estão fazendo seu trabalho. Muitas vezes, é grande a tentação de tornar seu dia mais fácil deixando seu filho mais feliz, mas fazê-lo de maneiras que negam a autoridade parental. Não importa quanta paz ou popularidade isso lhe renda quando as crianças são pequenas, no fim, isso só vai lhe trazer dor de cabeça. Matthew Henry disse sabiamente que os pais que honram seus filhos mais do que a Deus, como fazem os pais que não os mantêm sob uma boa disciplina, assim abrem mão da honra que poderiam receber de seus filhos.6

    Para evitar essa decepção, os pais precisam da sabedoria do Espírito Santo para saber como desagradar seus filhos apenas para o benefício destes e para a glória de Deus, e não como produto de sua própria frustração. Faça esta pergunta: será que estou impondo essa disciplina porque eu sou bom e estou com raiva ou porque estou pensando clara e cuidadosamente sobre o treinamento que meu filho necessita para obter um progresso espiritual?

    Os filhos precisam entender isso também. Se seus pais às vezes o irritam, isso provavelmente acontece porque eles o amam o suficiente para puni-lo. Se eles perguntarem: Por que você fez isso? ou Onde você estava?, não os exclua. Não decida fazer o que bem quiser. E não diga que não lhes interessa. Interessa, sim. Interessa a eles porque interessa a você, e a tarefa dos pais é ajudá-lo a se interessar por Deus. Caso contrário, você vai crescer e, como Adonias, viverá para seu próprio prazer e nunca receberá a bênção de Deus. Se você fizer-se rei ou rainha, em algum momento descobrirá que sua vida é uma decepção real!

    O rei legítimo e verdadeiro

    O que Adonias deveria ter feito? Um dos melhores pontos para se começar na vida é a primeira pergunta do Breve Catecismo de Westminster. Adonias não conhecia o catecismo, é claro, mas ele poderia ter aprendido seu primeiro princípio da Lei de Moisés: O propósito principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre. Adonias, de alguma forma, inverteu isso. Ele estava vivendo para sua própria glória e seu próprio prazer, e não para a glória e o prazer de Deus. A grande ironia disso tudo é que o nome desse homem significa Deus é o Senhor. No entanto, Adonias queria ser seu próprio senhor, e assim ele nunca se subordinou ao governo de Deus.

    Para ser mais específico: ele nunca se submeteu à autoridade do profeta, do sacerdote ou do rei que Deus havia instituído em Israel. Como vimos, Adonias se reuniu com Joabe, o general, e Abiatar, o sacerdote. Mas ele nunca conversou com os três homens que possuíam autoridade espiritual verdadeira e dada por Deus em Israel: o profeta, o sumo sacerdote e o rei. Assim, lemos no versículo 8 que Porém Zadoque, o sacerdote, e Benaia, filho de Joiada, e Natã, o profeta, e Simei, e Reí, e os valentes que Davi tinha não apoiavam Adonias. Lemos ainda no versículo 10 que Adonias não convidou o profeta Natã, nem Benaia, nem os valentes, nem seu irmão Salomão.

    Isso é importante porque esses homens eram os líderes legítimos de Israel. Muitos estudiosos da Bíblia têm descrito essa passagem como uma luta de poder entre dois partidos políticos rivais: Judá contra Jerusalém, ou a antiga classe política contra os novos revolucionários. Mas isso ignora a questão espiritual mais profunda: Natã era um profeta, um verdadeiro homem de Israel, que teve a coragem de se levantar contra o próprio Davi (2Sm 12.1-15). Zadoque era o verdadeiro sumo sacerdote, um descendente direto de Arão, o primeiro sumo sacerdote de Israel (1Cr 6.49-53). Os outros valentes – como Benaia, que era o capitão da guarda do rei (2Sm 23.20-23), ou Salomão, a quem Deus havia escolhido como próximo rei – representavam o legítimo reinado de Davi.

    Assim, embora Adonias tenha se reunido com os seus apoiadores, ele não consultou o profeta, nem o sacerdote, nem o rei que Deus tinha ungido para liderar seu povo. Ele não os consultou porque sabia que não o apoiariam. Ele tinha tomado a sua própria decisão de ser rei, para sua própria glória e seu próprio prazer, sem jamais se submeter ao governo de Deus, representado pelo profeta, pelo sacerdote e pelo rei.

    Isso nos fornece um princípio prático para quando tomarmos nossas próprias decisões: sempre devemos nos submeter à vontade de Deus. Estou fazendo o que estou fazendo porque é o que eu quero fazer ou porque é o que Deus quer que eu faça? Felizmente, pela bondade de Deus, muitas das coisas que Deus nos chama a fazer são as coisas que queremos fazer. Mas sempre que houver algum conflito, é preciso nos submeter à autoridade de Deus.

    Uma das características das decisões divinas é que elas sempre são tomadas abertamente, com a ajuda dos conselhos divinos, inclusive de pessoas que estão dispostas a nos dizer algumas coisas que não queremos ouvir. Submeter-se a Deus sempre começa com o estudo das Escrituras, que sempre descartam algumas coisas e aceitam outras. Inclui também o conselho das pessoas que Deus colocou em nossa vida para nossa orientação espiritual: pais, ou cônjuges, ou professores, ou chefes, ou pastores e presbíteros da igreja, dependendo da situação em que nos encontramos.

    Esse conselho é especialmente importante nos momentos em que consideramos fazer algo que não queremos que as outras pessoas saibam. Quando uma criança esconde algo de seus pais, ou um marido guarda segredos de sua esposa, ou um trabalhador engana seu empregador, ou um membro da igreja oculta algo de seu pastor, isso é sempre um indício da existência de um problema espiritual. E foi o que Adonias fez. Ele conversou com Joabe e Abiatar porque sabia que o apoiariam, mas não falou com Natã ou Zadoque, e certamente nunca conversou com seu pai Davi. Se quisermos ouvir somente as pessoas que sempre nos dizem que estamos fazendo a coisa certa, estaremos agindo como os reis de nossa própria vida, e vamos acabar como Adonias. O fato de não querermos que determinadas pessoas conheçam nossos planos pode muito bem ser a prova de que elas na realidade precisam conhecê-los.

    Não busque seu próprio prazer e glória, mas submeta-se à vontade de Deus para sua vida. Para Adonias, isso teria significado consultar-se com Natã, Zadoque e Davi. Para nós, significa submeter-nos a Jesus Cristo, que é o verdadeiro Profeta, o Sacerdote fiel e o Rei legítimo do povo de Deus. Toda vez que encontramos um profeta, um sacerdote ou um rei podemos criar essa conexão com Jesus Cristo, pois o trabalho desses líderes do Antigo Testamento apontava para a sua pessoa e obra. Jesus é o Profeta que fala a Palavra de Deus; ouçamos o que ele diz. Jesus é o Sacerdote que se ofereceu como sacrifício; confiemos nele para o perdão dos pecados. Jesus é o Rei que nos governa e nos defende; peçamos sua proteção.

    Ao contemplar Cristo como Rei, não podemos deixar de notar que sua realeza é a antítese de tudo o que vemos em Adonias. Adonias anunciou sua própria realeza, para a sua própria glória e seu próprio prazer. Mas Jesus fez exatamente o oposto. Ao contrário do orgulhoso Adonias, ele não passeou em carruagens do palácio ou contratou lacaios para anunciar a sua majestade real. Em vez disso, montou um burro humilde, e todos os seus assistentes eram pessoas que o seguiram de vontade própria em livre devoção. Jesus não veio para fazer a sua vontade, mas a vontade do Pai que o enviou, mesmo que isso significasse ser crucificado por nossos pecados. Deixando de lado o seu próprio prazer, ele suportou as dores da crucificação. Então, em vez de exaltar a si mesmo, esperou que Deus Pai o ressuscitasse dentre os mortos e o levantasse ao alto trono do céu (Fp 2.6-11).

    Este é o Rei ao qual servimos: não é um rei que é rei por interesse próprio, mas que governa para o bem do seu povo e da glória de Deus. Agora somos chamados a viver da mesma forma: não fazendo-nos reis, mas coroando Cristo como Rei e servindo aos outros por amor a Jesus.

    Capítulo 2

    Uma conspiração real

    1Reis 1.11-31

    Então, disse Natã a Bate-Seba, mãe de Salomão: Não ouviste que Adonias, filho de Hagite, reina e que nosso senhor, Davi, não o sabe? Vem, pois, e permite que eu te dê um conselho, para que salves a tua vida e a de Salomão, teu filho (1Rs 1.11-12).

    O direito de governar como rei tem causado muitos conflitos amargos. Muitas vezes, irmão tem lutado contra irmão pelo direito de usar a coroa, obrigando os membros da família real e os cidadãos do reino a escolher lados.

    Durante a Terceira Cruzada, o rei Ricardo I – também conhecido como Coração de Leão – travou uma guerra contra os exércitos muçulmanos liderados por Saladino. No entanto, enquanto Ricardo estava lutando para reconquistar Jerusalém, seu irmão, o príncipe João, tentou coroar-se rei da Inglaterra. Às pressas, Ricardo assinou um tratado com Saladino e voltou para casa para defender seus direitos reais. Mas ao atravessar toda a Europa, o rei foi capturado por Leopoldo V da Áustria e feito refém. O resgate exigido equivalia a duas ou três vezes o valor da renda anual do seu reino.

    Todos na Inglaterra se viram obrigados a escolher lados. João ofereceu a Leopoldo a metade do dinheiro para manter Ricardo na prisão por mais alguns anos, para que assim pudesse consolidar seu poder. Enquanto isso, a mãe de Ricardo – Eleanor da Aquitânia – tentou (e conseguiu) levantar o dinheiro para resgatar seu filho favorito e devolvê-lo a seu legítimo trono. Para o reino, foi um conflito – que Ricardo finalmente venceu. Mas enquanto o trono estava sendo disputado, as pessoas foram obrigadas a escolher o homem que seria rei e decidir quanto dariam para apoiar sua causa.

    Enfrentamos um dilema semelhante quando se trata do reino de Deus. Honraremos o verdadeiro e legítimo Rei de Deus, ou tentaremos conquistar a coroa para nós mesmos? Que reino escolheremos? Quanto sacrificaremos para realizá-lo?

    Rivais pelo trono

    O povo de Deus foi confrontado com a mesma escolha durante os últimos dias de Davi, quando o rei se encontrava em seu leito de morte e dois de seus filhos brigavam pela coroa. Com todo mundo pensando na questão da sucessão real, o filho mais velho de Davi, Adonias, decidiu tomar o trono. Eu reinarei, declarou ele (1Rs 1.5), e, em seguida, reuniu o maior número de seguidores que pôde encontrar – sacerdotes, políticos e líderes militares. Então Adonias efetivamente encenou sua própria coroação, matou o novilho cevado e fez uma grande festa não muito longe de Jerusalém. Na verdade, fez o que muitos de nós somos tentados fazer tantas vezes na vida: ele exaltou sua própria honra, buscou seu próprio prazer, e tentou assumir o controle sobre seu próprio destino.

    O que Adonias não fez – como a Bíblia demonstra meticulosamente – foi permitir que Deus decidisse o que ele fora chamado a fazer, nem quando e onde. Foi por isso que Adonias não consultou o profeta (Natã) ou o sacerdote (Zadoque) que Deus tinha ungido para Israel (1Rs 1.8), foi por isso também que ele, de forma muito visível a todos, não incluiu seu irmão Salomão na lista de convidados para sua festa de coroação (1Rs 1.10). Isso explica também por que ele nunca perguntou o que seu pai Davi queria que ele fizesse, apesar de seu pai ser o verdadeiro rei de Israel. Veja só a audácia daquilo que Adonias fez: declarou-se herdeiro real sem ter trocado uma única palavra com o próprio rei!

    O golpe de Adonias ainda estava em pleno andamento quando um homem decidiu tomar uma atitude: Então disse Natã a Bate-Seba, mãe de Salomão: ‘Não ouviste que Adonias, filho de Hagite, reina e que nosso senhor, Davi, não o sabe? Vem, pois, e permite que eu te dê um conselho, para que salves a tua vida e a de Salomão, teu filho’ (1Rs 1.11-12).

    Nesse momento crítico da história do povo de Deus, um homem entendeu exatamente o que estava em jogo. Alguns comentaristas têm acusado Natã de exagerar quando disse a Bate-Seba que Adonias se tornara rei, mas tratava-se de uma avaliação correta e precisa: Adonias estava exaltando a si mesmo como rei (1Rs 1.5). Natã também sabia o que aconteceria se Adonias fosse bem-sucedido em seu empreendimento: Bate-Seba e Salomão seriam mortos, pois na Antiguidade era costume que um rei matasse seus rivais. Toda essa situação representava uma crise real. Ao tentar usurpar o trono, Adonias estava ameaçando a sucessão real e, assim, todas as promessas que Deus tinha feito para a casa de Davi. Isso não era apenas uma luta pelo poder, mas um conflito de vida ou morte para o reino de Deus. Todos tinham de tomar uma decisão que decidiria o destino: a que rei servirei?

    Mensageiros ao rei

    Natã e Bate-Seba decidiram apoiar Salomão, e, ao optarem por Salomão, decidiram que serviriam ao reino de Deus. Podemos aprender algumas lições importantes de seu exemplo, mas primeiro precisamos ouvir sua história, com toda a sua intriga real.

    Bate-Seba era conhecida por sua beleza, e pelo pecado de Davi que a levou para sua cama (2Sm 11). O primeiro filho de Bate-Seba morreu, mas seu segundo filho foi Salomão, e quando ele se tornasse rei, ela se tornaria a rainha-mãe – uma posição de grande poder e influência no mundo antigo. O fiel profeta Natã também teve um papel nesses famosos eventos: primeiro, ao repreender Davi por seu adultério (2Sm 12.1-15) e, em seguida, ao abençoar Salomão, como filho amado de Deus (2Sm 12.24-25).

    Agora, chegara a hora de Natã e Bate-Seba entrarem na história mais uma vez. Depois de alertá-la sobre Adonias, Natã confidenciou a Bate-Seba seu plano: Vai, apresenta-te ao rei Davi e dize-lhe: ‘Não juraste, ó rei, senhor meu, à tua serva’, dizendo: ‘Teu filho Salomão reinará depois de mim e se assentará no meu trono? Por que, pois, reina Adonias?’ Eis que, estando tu ainda a falar com o rei, eu também entrarei depois de ti e confirmarei as tuas palavras (1Rs 1.13-14).

    Era um plano astuto. Natã era um estrategista experiente, especialista na arte da persuasão humana. Bate-Seba era a pessoa que tinha o acesso mais direto ao rei, de modo que ela deveria falar com Davi primeiro. Juntos, eles agiriam com determinação em prol do reino de Deus.

    Os conspiradores executaram seu plano com perfeição. Primeiro Bate-Seba entrou no quarto real. A Bíblia nos diz que ela foi para o rei em seus aposentos. Agora o rei já estava muito velho e Abisague, a sunamita, o estava servindo (1Rs 1.15). Sua conversa transcorreu da seguinte forma:

    Bate-Seba inclinou a cabeça e prostrou-se perante o rei, que perguntou: Que desejas? Respondeu-lhe ela: Senhor meu, juraste à tua serva pelo

    Senhor

    , teu Deus, dizendo: Salomão, teu filho, reinará depois de mim e ele se assentará no meu trono. Agora, eis que Adonias reina, e tu, ó rei, meu senhor, não o sabes. Imolou bois, e animais cevados, e ovelhas em abundância. Convidou todos os filhos do rei, a Abiatar, o sacerdote, e a Joabe, comandante do exército, mas a teu servo Salomão não convidou. Porém, ó rei, meu senhor, todo o Israel tem os olhos em ti, para que lhe declares quem será o teu sucessor que se assentará no teu trono. Do contrário, sucederá que, quando o rei, meu senhor, jazer com seus pais, eu e Salomão, meu filho, seremos tidos por culpados (1Rs 1.16-21).

    Bate-Seba se aproximou de Davi com deferência, humildemente se ajoelhando, demonstrando assim seu respeito. Mas ela também se aproximou com franqueza, dizendo ao rei, sem rodeios, o que ele precisava ouvir. Ela o lembrou do que ele havia prometido diante de Deus, ou seja, que seu filho Salomão iria sucedê-lo no trono. Bate-Seba também disse a Davi algumas coisas que ele não sabia, mas precisava saber. Anteriormente, a Bíblia registra que o rei não conheceu Abisague, a bela jovem que fora trazida para mantê-lo aquecido (1Rs 1.4). Mas essa não era a única coisa que Davi não sabia! Não sabia que seu filho Adonias havia se coroado rei. Tampouco sabia quem estava e quem não estava na lista de convidados de Adonias. O rei se encontrava em total ignorância referente ao que estava acontecendo em seu próprio reino.

    Então, Bate-Seba desafiou Davi a agir. Ela apelou para seu senso de dever real. Disse-lhe que a nação inteira estava olhando para ele como líder, esperando que ele declarasse o próximo rei. Bate-Seba também disse ao marido o que estava em jogo: se Davi não agisse, ela e seu filho certamente seriam mortos, pois o novo rei iria considerá-los traidores de seu reino. Ao não convidar Salomão para sua festa de coroação, Adonias estava declarando que seu irmão era um homem morto.

    Assim como faria Eleanor da Aquitânia, Bate-Seba estava fazendo o que podia para garantir a pretensão de seu filho ao trono real. Antes que ela tivesse a chance de expor tudo até o final, Natã se aproximou do quarto real para fazer sua entrada dramática. Ele chegou bem na hora: Estando ela ainda a falar com o rei, eis que entra o profeta Natã. E o fizeram saber ao rei, dizendo: ‘Aí está o profeta Natã’ (1Rs 1.22-23). Assim como Bate-Seba, Natã entrou na presença de Davi demonstrando-lhe todo o respeito, pois Apresentou-se ele ao rei, prostrou-se com o rosto em terra perante ele (1Rs 1.23). Então, com a permissão do rei, Natã disse:

    ... Ó rei, meu senhor, acaso disseste: Adonias reinará depois de mim e ele é quem se assentará no meu trono? Porque, hoje, desceu, imolou bois, e animais cevados, e ovelhas em abundância e convidou todos os filhos do rei, e os chefes do exército, e a Abiatar, o sacerdote, e eis que estão comendo e bebendo perante ele; e dizem: Viva o rei Adonias! Porém a mim, sendo eu teu servo, e a Zadoque, o sacerdote, e a Benaia, filho de Joiada, e a Salomão, teu servo, não convidou. Foi isto feito da parte do rei, meu senhor? E não fizeste saber a teu servo quem se assentaria no teu trono, depois de ti? (1Rs 1.24-27).

    As perguntas de Natã confirmaram tudo que Bate-Seba havia dito sobre Adonias. Natã, como fizera Bate-Seba, contou a Davi sobre a festa de Adonias, disse-lhe quem havia sido convidado, e quem não. Natã também acrescentou algumas informações novas. Deixou claro que o povo estava proclamando Adonias como seu rei, dizendo: Viva o rei Adonias!. Com toda a sinceridade, o profeta queria saber se qualquer uma dessas coisas havia sido feita com o aval da autoridade real de Davi. Caso contrário, como Davi pretenderia reagir a tudo isso? Natã estava desafiando Davi para que não legitimasse os feitos de Adonias, sabendo que uma sucessão correta ao trono só seria possível com a permissão do rei. Enquanto Bate-Seba apelou à compaixão de Davi como marido e pai, Natã apelou à sua autoridade como rei.

    Foi uma estratégia brilhante, perfeitamente executada. Por meio de lembretes e repreensões, Natã e Bate-Seba incentivaram Davi a agir. Teria bastado uma pessoa para adverti-lo, mas Davi talvez tivesse duvidado da veracidade do relato que estava recebendo. Mas esses mensageiros vieram em sucessão imediata, e acompanhados de duas testemunhas – o número exigido pela Bíblia para decidir qualquer assunto criminoso num tribunal da lei (Dt 19.15) – conseguiram convencer o rei. Agora que o rei conhecia a verdade, podia agir adequadamente.

    Honrando o rei do reino

    Alguns estudiosos têm criticado Natã e Bate-Seba por terem sido manipuladores ou mesmo enganadores. Será que Davi realmente jurara que Salomão seria o próximo rei, ou será que Bate-Seba estava fazendo um jogo sujo com um homem que estava velho e senil demais para lembrar o que havia dito a quem? Será que as pessoas do partido de Adonias realmente disseram: Viva o rei Adonias!, ou era apenas uma manobra de Natã para aumentar o efeito da sua história? Walter Brueggemann acusa o profeta de uma política rude e de manipulação.7 Richard Nelson diz que ele enganou Davi com meias-verdades, acusações infundadas e mentiras descaradas.8 O autor chega até a identificar Deus como coconspirador não acusado nessa desprezível intriga de harém.9

    Nunca deveríamos ter medo de reconhecer que, muitas vezes, Deus usa seres humanos pecaminosos para alcançar seus propósitos divinos. Nesse caso, porém, Natã e Bate-Seba merecem ser defendidos contra qualquer acusação de conduta errada. O que fizeram foi executar uma conspiração sagrada, durante a qual agiram juntos para o bem do reino de Deus da forma mais idônea e persuasiva disponível a eles. Seu exemplo nos ensina pelo menos três lições importantes sobre como honrar nosso compromisso com o reino de Deus.

    Em primeiro lugar, aprendemos a honrar o rei do reino. Desde o início desta história, tanto Natã quanto Bate-Seba têm honrado o verdadeiro rei de Israel. Eles honravam Davi como rei, embora este estivesse velho e fraco. Quando entraram na presença real de Davi, eles se curvaram diante dele. Em vez de agirem em nome dele, respeitaram o direito que ele tinha de dar seus próprios comandos. Continuaram a honrá-lo até o fim da história, quando Então, Bate-Seba se inclinou, e se prostrou com o rosto em terra diante do rei, e disse: Viva o rei Davi, meu senhor, para sempre! (1Rs 1.31).

    Isso deve ter sido especialmente humilhante para Bate-Seba, pois quando entrou nos aposentos de Davi, ela viu uma bela jovem em sua companhia: Abisague, a sunamita, que havia sido trazida para manter Davi aquecido em sua cama (1Rs 1.2-3). Embora saibamos que Davi e Abisague não tiveram relações sexuais (1Rs 1.4), a mera presença da jovem deve ter sido humilhante para a rainha.10 No entanto, Bate-Seba honrou o rei não porque era um homem perfeito, mas simplesmente porque era o rei. Ela o honrou por causa do seu ofício real.

    Essa é uma das razões pelas quais sabemos que Natã e Bate-Seba eram servos fiéis do verdadeiro reino de Deus. Ao contrário de Adonias, que nem sequer falou com o rei, Natã e Bate-Seba deram a Davi a honra que ele merecia. Eles não fizeram isso simplesmente porque intencionavam levá-lo a fazer o que eles queriam, mas também porque o reconheciam como o rei ungido de Deus.

    Mantemos o mesmo compromisso sempre que honramos Jesus Cristo como o verdadeiro Rei do reino de Deus. Sempre que encontramos o rei Davi nas Escrituras devemos lembrar de Jesus porque ele é o legítimo herdeiro do trono de Davi (Lc 2.4-5). De acordo com o Evangelho de Lucas, Deus dará a Jesus o trono de Davi, seu pai, [...] e o seu reinado não terá fim (Lc 1.32-33). O apóstolo Paulo disse que Jesus é da descendência de Davi (Rm 1.3). O próprio Jesus afirmou que ele não era apenas o filho de Davi, mas também o Senhor de Davi (Lc 20.31-44, cf. Sl 110). E Deus Pai honrou Cristo como Rei, exaltando-o e assentando-o no trono eterno do universo.

    Se Jesus está sentado no trono de Davi como o governante do reino de Deus, devemos honrá-lo como rei. Jesus não é fraco e frágil como o velho rei Davi, mas jovem e forte para sempre, cheio de vida e alegria. Por mais que tenha sido correto que Natã e Bate-Seba homenageassem Davi, Jesus é ainda mais digno de honra. Nós honramos o nosso Rei dando-lhe a honra da nossa adoração: ouvindo seus decretos reais na pregação de sua Palavra, curvando-nos diante dele em oração, cantando seus louvores com canções alegres e oferecendo-lhe o tributo de nossos dízimos e ofertas. Toda vez que nos unimos no culto público de Deus, entramos na sala do trono de Cristo Rei para dar-lhe a honra que só ele merece. Nós também homenageamos o Rei quando dedicamos nossas vidas ao seu serviço real. Sempre que ele nos chamar, viremos; para onde ele nos enviar, iremos; tudo o que ele ordenar, faremos. Jesus é o Rei, e um rei é honrado sempre que o povo de seu reino faz a sua vontade real.

    Crendo na promessa do reino

    Assumir o compromisso com o reino significa também crer na promessa do reino; no caso, na promessa de que Salomão seria o próximo rei.

    Como vimos, algumas pessoas duvidam que Davi realmente tenha prometido o trono a Salomão, ou perguntam se Bate-Seba não teria inventado tudo. Afinal, dizem eles, essa suposta conversa dos dois homens não foi registrada em nenhuma outra parte de Reis. No entanto, isso é o que Deus havia prometido. Na verdade, Adonias pode ter tido conhecimento disso pessoalmente. Por que convidaria todos os seus irmãos para a festa, exceto Salomão, se não soubesse ou temesse que Salomão era o príncipe herdeiro? Também podemos acreditar nas palavras de Bate-Seba. Caso contrário, o que ela disse a Davi teria sido uma blasfêmia, pois chamou sua promessa de juramento feito diante de Deus (1Rs 1.17). No entanto, há boas razões para pensar que Davi tinha de fato prometido o trono a Salomão, e que ele o fizera porque Deus tinha chamado Salomão para ser o rei.

    O próprio profeta Natã fizera a primeira promessa de que Davi teria uma dinastia, quando entregou a ele esta mensagem de Deus: Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino (2Sm 7.12-13). Além disso, sabemos de Crônicas que Deus havia indicado qual dos filhos de Davi se tornaria seu herdeiro. Segundo Davi, Deus disse: Eis que te nascerá um filho, que será homem sereno, porque lhe darei descanso de todos os seus inimigos em redor; portanto, Salomão será o seu nome; paz e tranquilidade darei a Israel nos seus dias. Este edificará casa ao meu nome; ele me será por filho, e eu lhe serei por pai; estabelecerei para sempre o trono do seu reino sobre Israel (1Cr 22.9-10).

    Por isso, quando Bate-Seba disse que Davi fizera um juramento sagrado de que Salomão seria o rei, ela não estava inventando nada. Tampouco era apenas conversa entre marido e esposa. Bate-Seba estava se referindo a um juramento que Davi fizera com base em uma promessa de aliança. Isso é fundamental para a compreensão de tudo o que acontece no primeiro capítulo de 1Reis. Natã e Bate-Seba fizeram o que fizeram porque acreditavam na promessa do reino de Deus – outra razão pela qual sabemos que eles estavam agindo corretamente. Isso não é simplesmente uma sórdida história sobre política de poder, como alguns têm alegado.11 Pelo contrário, sua conspiração real era uma conspiração sagrada, uma conspiração divinamente ordenada, com base nos planos e nas promessas de Deus.

    Nesse contexto, o nome de Bate-Seba parece especialmente significativo, pois significa filha do juramento.12 Na verdade, a segunda parte de seu nome (Seba) tem a mesma raiz verbal da palavra que é usada para jurar nesse capítulo (por exemplo, 1Rs 1.13). Quão apropriado! Bate-Seba era filha da aliança, portanto, acreditava na promessa do reino de Deus, como havia sido professada pelo rei Davi.

    Nós também ouvimos as promessas do reino de Deus. A Bíblia diz que Jesus Cristo, o Filho de Davi, tornou-se o Rei do reino de Deus. Enquanto percorria Israel ensinando e pregando, Jesus anunciava que o reino estava próximo (Lc 10.9), e até mesmo que o reino havia chegado (Lc 17.21). O que Jesus quis dizer com o reino era o governo e o domínio de Deus que ele estabeleceria com a sua morte na cruz e com a sua ressurreição dentre os mortos. O reino de Jesus Cristo é um reino de misericórdia, perdão e vida na ressurreição. Tal reino poderia ser adquirido apenas por meio de um sacrifício pelo pecado e de um retorno da morte para a vida eterna.

    Embora o reino tenha vindo em muitos aspectos, ainda estamos à espera do cumprimento pleno de todas as suas promessas. É por isso que oramos venha o teu reino. Com fé olhamos para o reino que virá em toda a sua dominação completa, e, enquanto esperamos, somos chamados para crer nas promessas do reino de Deus.

    O que você crê em relação ao reino de Deus? Deus prometeu que seu reino crescerá até que todas as nações se arrependam e creiam no evangelho (Mt 24.14). Que seu reino será plenamente estabelecido na segunda vinda de Jesus Cristo. Que, quando seu reino vier, haverá um novo céu e uma nova terra. Que em seu reino não haverá mais morte nem dor (Ap 21.4). Que os cidadãos de seu reino experimentarão a alegria plena de estar em casa com Jesus para sempre (Jo 14.1-3). E que seu reino jamais poderá ser abalado (Hb 12.28), e que perdurará por toda a eternidade.

    Você pertence ao reino de Deus? Se sua resposta é sim, então jure sua lealdade contínua a Jesus Cristo como seu Rei e acredite que um dia você verá todas as promessas dele a respeito do reino se tornarem realidade. Creia nisso, mesmo quando o avanço do evangelho parece ser lento, e as coisas parecem estar piorando e não melhorando, ou o mundo parece estar exausto e destruído, ou quando você experimentar luto, perda e dor física, e Deus parece estar longe. Mesmo assim, acredite na promessa do reino do Deus eterno, apoderando-se pela fé em Jesus daquilo que você não pode ver, até que ele volte.

    Trabalhando para o avanço do reino

    Todos que creem na promessa do reino trabalharão para o avanço deste, o que é a terceira e última lição que aprendemos com o exemplo de Natã, Bate-Seba e Davi. Quando os tempos são difíceis, as pessoas às vezes me perguntam o que podem fazer. O profeta Natã e a rainha Bate-Seba decidiram descobrir. Apesar de atrasados e confrontados com uma supremacia esmagadora, eles corajosamente convenceram Davi a fazer um anúncio oficial de sua promessa dada em particular de que Salomão seria o rei. Eles não esperaram por alguma intervenção divina milagrosa, mas agiram corajosamente em prol da honra do rei.

    Não fizeram isso apenas para si mesmos, mas para o reino de Deus. Evidentemente, Bate-Seba agiu também em seu próprio interesse; ao apoiar seu filho, ela estava salvando sua própria vida (1Rs 1.12). Mas tanto Natã quanto Bate-Seba entenderam que o seu próprio destino estava vinculado ao reino do rei legítimo. Então, eles se opuseram ao orgulhoso Adonias, o rei autonomeado que se rebelara contra o reino de Deus, e defenderam Salomão, intercedendo assim em prol do próximo rei de Israel. Dessa forma, estavam fazendo a obra do reino para a próxima geração do povo de Deus.

    No final desse episódio, o rei Davi já havia se unido à conspiração real para fazer o que podia para o reino de Deus. Até então, Davi havia ignorado o que realmente estava acontecendo com o seu reino e fora incapaz de fazer qualquer coisa a respeito disso. Mas ao ouvir Natã e Bate-Seba, seu sangue começou a ferver. Davi entendeu que o que Adonias havia feito era um desafio direto à sua autoridade real. Então, aceitou o desafio, tomando uma última decisão para a glória do reino de Deus.

    Até agora, o rei havia falado apenas duas palavras nesse capítulo (o que ele diz a Bate-Seba no versículo 16 representa apenas duas palavras em hebraico). Mas erguendo-se em sua cama, Davi chamou Bate-Seba de volta para seu quarto real. Talvez tenha sido a primeira ordem real que ele deu em meses, e mesmo assim podemos sentir mais uma vez a verdadeira dignidade real desse homem nesse momento decisivo: Respondeu o rei Davi e disse: Chamai-me a Bate-Seba. Ela se apresentou ao rei e se pôs diante dele (1Rs 1.28). Então Davi fez um juramento sagrado: Então, jurou o rei e disse: Tão certo como vive o Senhor, que remiu a minha alma de toda a angústia, farei no dia de hoje, como te jurei pelo Senhor, Deus de Israel, dizendo: Teu filho Salomão reinará depois de mim e se assentará no meu trono, em meu lugar (1Rs 1.29-30).

    Davi estava se unindo a Natã e Bate-Seba em seu trabalho pelo reino. Ele sabia quem era o Rei verdadeiro do reino. Assim, honrou o Rei de todos os reis, louvando o Deus vivo por tê-lo salvo de muitas provações. Esse é o testemunho do mesmo Davi que conhecemos em Samuel e nos Salmos – o Davi que matou leões e gigantes e que conquistou reinos pela graça remissória de Deus. Davi então repetiu a promessa do reino na qual havia acreditado por tanto tempo, o que confirma a verdade das palavras de Bate-Seba: ele havia prometido a Deus que o filho de Bate-Seba seria o próximo rei. E prometeu que faria imediatamente a obra do reino, assentando Salomão no trono que lhe pertencia por direito. Davi passara a vida inteira fazendo o trabalho do reino. Agora, prometeu que, até o dia de sua morte, agiria publicamente e de forma decisiva em prol do avanço do reino para a próxima geração.

    O que você fará para o reino de Deus? De que lado você vai ficar quando as pessoas se exaltarem e tentarem derrubar o reino de Deus? Você reconhece como o seu próprio destino eterno está ligado ao que Deus está fazendo no mundo de hoje? Como você fará diferença e contribuirá no avanço do reino para a próxima geração?

    O trabalho para o reino pode incluir qualquer coisa boa que seja feita para Cristo como Rei – qualquer coisa que avança seu reino, ou que se oponha a seus inimigos orgulhosos, ou que fale em defesa de seu reinado. Podemos fazer a obra do reino no mercado. Sempre que fizermos uma venda justa, construirmos uma casa sólida, ou engraxarmos bem um sapato – se fizermos isso por Jesus – estaremos avançando a causa do nosso Rei, testemunhando os valores do seu reino. Também podemos fazer a obra do reino em casa. Sempre que colocarmos flores na mesa, ou guardarmos os sapatos espalhados pelo chão, ou decidirmos ser o primeiro a dizer Sinto muito, estaremos testemunhando o reino de Deus. Podemos fazer o trabalho do reino também na sociedade. Sempre que nos opusermos ao mal do aborto, ou trabalharmos para acabar com o abandono de crianças, ou assumirmos um papel ativo no que está acontecendo na vida das pessoas em nosso bairro, também estaremos fazendo a obra do reino. Também fazemos a obra do reino através do ministério da igreja, convidando amigos para adorar, distribuindo bíblias, acolhendo pessoas com deficiências, apoiando os obreiros no exterior, orando pelas pessoas que exercem tipos de ministério que nós mesmos não somos chamados a exercer. Isso vale ainda mais quando compartilhamos com as pessoas o evangelho por meio de palavras que elas possam ouvir e entender, que é a maneira mais direta de avançar o reino de Jesus Cristo.

    Se Jesus Cristo é o Rei, então devemos fazer o que pudermos para o seu reino. Afinal, o próprio Jesus fez tudo o que pôde para o reino. Fez até o que nenhum outro rei se atreveria a fazer: ofereceu seu próprio sangue para salvar seu povo. Em vista daquilo que ele tem feito por nós, é justo que façamos tudo o que pudermos para ele e para o seu reino. Como Matthew Henry disse: Qualquer que seja o poder, interesse ou influência que os homens tiverem, eles devem melhorá-lo ao máximo para a preservação e ampliação do reino do Messias.13 Devemos fazer isso não só para o nosso povo, em nosso próprio lugar, em nosso tempo, mas também para a próxima geração.

    Capítulo 3

    Viva o rei!

    1Reis 1.32-53

    Disse-lhes o rei: Tomai convosco os servos de vosso senhor, e fazei montar meu filho Salomão na minha mula, e levai-o a Giom. 1.34 Zadoque, o sacerdote, com Natã, o profeta, ali o ungirão rei sobre Israel; então, tocareis a trombeta e direis: Viva o rei Salomão! (1Rs 1.33-34).

    Segundo um antigo costume, a morte de um governante é saudada com as seguintes palavras: O rei está morto, viva o rei!. Isso pode parecer uma contradição. Se o rei está morto,

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1