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Somnium
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E-book73 páginas1 hora

Somnium

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Sobre este e-book

“Somnium – na.fáhh”, de Marcelo Pires Santana, perambula serelepe por meandros inalcançáveis ainda hoje. Algo entre onírico e real, sobrenatural e químico, premonitório e caótico. Personagens como o ente de “calça moletom preta, sem camisa, descalço, fumando um cigarro e com os cabelos compridos até os ombros” ganham corpo, alma e sabe-se lá quais outros tipos de energia nestes relatos fragmentados e imprecisos de relações no limite do imponderável. Gritam por redenção em universos tão desconhecidos quanto a nossa flagrante ignorância perpétua. Enfim, misturam-se no cotidiano entremeado de luz e treva. E aguardam sua vez.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de mai. de 2020
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    Somnium - Marcelo Pires Santana

    sopre. ofegue. lute por fôlego. viva.

    Sonhe. Volte. Sorria. Sinta dor.

    VIDA SEM NARRATIVA NÃO ACREDITO QUE EXISTA

    Marcelus Silveira

    Certa noite, depois de ter contemplado atentamente a Lua e as estrelas, eu me sentei pacificamente na minha poltrona e caí num sono bastante profundo. Em meu sonho, eu parecia pegar um livro da estante a fim de lê-lo. (Somnium, 1634, de Johanees Kepler)1

    Certa vez, lendo Edgar Morin2, comecei a refletir sobre a importância do domínio do fogo como ferramenta para se chegar à nossa condição de humanos, o Homos Sapiens Sapiens - bichos que pensam que pensam. Segundo o Edgar, o controle do fogo, antes da pré-história humana, permitiu maior desenvolvimento dos sonhos, o que, por sua vez, impulsionou e aprofundou (expandiu e intensificou) as nossas vidas até chegarmos a nosso atual passado. Antes de dominar o fogo, nossos antecessores, segundo Monsieur Morin, não tinham sossego. Sentindo-se desprotegidos e frágeis, sem uma chama por perto, não conseguiam dormir profundamente, tampouco sonhar decentemente (e sem essa boa decência da profundidade é que se cria o anti-homo que acaba dando em  capitão presidente paranoico, com sua pistola sob o travesseiro). Finalmente, em um momento de ruptura e domínio técnico, o lume do fogo, na boca das cavernas, permitiu sensações de conforto diante da escuridão. E certamente, o calor no frio da nudez primitiva levou o meio-Homem (Halber Mensch) para sonhos mais elaborados. Para os sonhos Humanos.

    Essa lembrança dos tempos de faculdade me leva a outras de diferentes tempos. Desde que eu conheço o Marcelo Pires - e isso já tem muitas e muitas décadas – este meu amigo foda sempre foi bem inquieto. Fazendo música, tocando sua guitarra, fazendo shows e gravações, o cara sempre esteve flertando com perigos e chamas salvadoras. Em quantas confusões já nos metemos, nas nossa histórias-rocks, eu não sei enumerar. Por sorte, sempre tivemos uns ajudantes por perto, tanto na terra quanto no céu, e estamos aqui, vivos afinal. Penso que por isso mesmo, por causa das confusões  - perigos e chamas - é que nos veio a ajuda que nos manteve vivos, desejantes.

    Marcelo Pe, Marcelo Santana, Dammoni, Tom, Marcelinho, Marcelo Pires... ou simplesmente Marcelo, como sempre o chamei, na sua vida ou na sua arte, foi um cara que sempre esteve com um olho no peixe e outro no gato, nunca calmo ou satisfeito. Desde sempre foi assim, ou pelo menos desde os tempos de Bel!

    De uns tempos para cá, Marcelo assumiu e vem cumprindo essa necessidade quase física, que bate em alguns sujeitos corajosos, de escrever. E – como sempre fez, pelo menos desde os tempos em que tocávamos uns sons e suas composições, sem pensar em dinheiro, fama ou grana, simplesmente pelo desejo de fazer algo, de deixar o seu rastro na estrada.

    Quando eu soube dessa realidade dele, essa de escrever, de registrar suas vivências em livros, confesso que pensei porra, o cara já escreveu umas mil músicas, toca guitarra, desenha, tem a Cabaré Radio, pinta quadros, trabalha como designer, tem filho pra criar, tem que ver pensão... e ainda vai escrever? Esse não quer descanso mesmo!.

    Nesta nova investida como escritor, ele faz o trânsito do primeiro livro - o digno, geográfico e humano A Casa de Bel, nitidamente um livro de memórias do passado e de ficções - para esse novo trabalho Somnium – na.fáhh, um livro feito da substância dos sonhos/pesadelos, e de muita vida vivida, matéria da memória.

    Em seu primeiro livro (Bel), ele me pareceu querer organizar seu passado e a vida como num caderno de viagem, onde se constrói uma estrutura do caminho. Trata-se de um livro de uma época em que ainda não o conhecia, apesar de sempre ter morado no mesmo bairro, o profundo subúrbio das terras realengas.

    Neste novo livro, Somnium – na.fáhh, também na forma de contos (como o primeiro), me pareceu buscar ir além das memórias que tentamos resgatar do esquecimento, contra os desgastes alcóolicos dos nossos neurônios. Neste, seus contos e sonhos são intranquilos e, apesar (ou por causa) de o Marcelo andar sempre perto do fogo, seus novos contos ampliam e aprofundam tormentas e questões de desejo, numa fase adulta e bem mais complicada de sua vida.

    Enfim, isto aqui não se quer uma resenha crítica, apenas um texto que celebra e anuncia, com alegria, este novo filho do meu amigo, este novo filho do fogo! Um livro demasiadamente humano, construído com uma escrita particularíssima, que abre verbos e escancara a imaginação, a vida e a criatividade de Marcelo para o leitor.

    Se tenho esperança de que esse cara sossegue e pare por aqui? Nenhuma. Tenho certeza de que muito fogo ainda há de queimar,  muita coisa boa ainda vai rolar, na vida infinita desse inseparável irmão.   

    1. Johannes Kepler, astrônomo, astrólogo e matemático alemão, viveu na virada do século

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