Espiritismo Hoje
De Jr Silva
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Espiritismo Hoje - Jr Silva
JR Silva
ESPIRITISMO HOJE
Tudo a Deus pertence!
Textos elaborados em 2022
Livro publicado em 2022
Medidas: 14 x 21 cm
Fonte Garamound 10, 12 e 20
Capa: Alex e JR Silva
Contatos por jrsilvaespirita@gmail.com
ISBN 978-65-00-59293-1
OEBPS/images/image0002.jpgSUMÁRIO
Apresentação 5
Prefácio 11
1 -Espiritismo não é religião 13
2 -Afinal, o que é o Espiritismo? 45
3 – O Projeto Pedagógico 69
4 - O Espiritismo precisa ser sinônimo
de Liberdade 91
5 -O que estudar no Espiritismo 107
6 -O personalismo é transitório, os nomes pouco importam 133
7 -O debate dentro do Espiritismo 151
8 – Espiritismo e Movimento Espírita 177
9 – Espiritismo e Pureza Doutrinária 197
10 – Espiritismo hoje 219
11 – Mensagem aos espíritas 253
Apresentação
Considerando as generalidades conceituais dos motivadores desta obra, o objetivo principal deste singelo livro é bem simples e modesto: provocar as mentes de espíritas e não espíritas a refletirem sobre o Espiritismo hoje, atualmente. Todavia, de forma mais bem estabelecida, com alicerces mais detalhados na busca profunda por entendimentos, os textos expostos nas páginas seguintes possuem propostas secundárias bem mais ousadas e provocativas. Tais objetivos transitam entre os caminhos das provocações sobre nossa liberdade de questionar, contrapor ou melhorar as opiniões de grandes espíritas; simulam situações em que os conceitos e ideias já bem estabelecidas são tornadas em frágeis afirmações; aludem a temas espíritas sensíveis e dificilmente debatidos com o nível de profundidade que os assuntos complexos exigem; trazem propostas conclusivas ou, ao menos norteadoras, quanto às polêmicas que envolvem o nosso cotidiano e, principalmente, a Doutrina do Espíritos; trazem propostas e afirmações convictas ou provocadoras, todas com base em pensamentos sequenciais ou nas Obras Fundamentais do Espiritismo.
Sem menor valor, este livro tenta construir opiniões sobre o que é o Espiritismo, quais fundamentos estão mais ou menos esquecidos na Doutrina Espírita, quais são as inovações desnecessárias e quais são os indícios de progresso no Espiritismo.
Desde já, não há nenhuma intenção de afirma que o Espiritismo está ultrapassado ou necessita de reformas. Na mesma linha de pensamentos, afirmamos que Allan Kardec é o principal orientador e nome (dentre os encarnados) do Espiritismo. Sendo assim, não há no que se falar em críticas a Allan Kardec nesta obra, pois não acreditamos ser oportuno. No entanto, serão expostas ideias que não são idênticas às de Allan Kardec, de maneira respeitosa e sempre buscando propor o maior esclarecimento possível sobre a Doutrina Espírita.
Nessa busca por entendimentos, compreensões, interpretações, percepções e amadurecimento de ideias sobre o Espiritismo e seus universos, faz-se necessário estabelecermos, de maneira conjunta e benigna, os princípios fundamentais e necessários deste livro, para que não encontremos conflitos irreparáveis em cada página. Sendo assim, não conseguiremos atingir os objetivos deste livro se não entendermos os princípios abaixo como verdadeiros (ao menos de boa-fé) e isentos de exibirem conflitos conceituais desta obra e, consequentemente, de provocarem conflitos mentais nos leitores e leitoras. Os princípios são:
a) nenhum espírita deve ser considerado perfeito. Entendemos que o único ser com elevado nível de moralidade, ao nível de perfeição relativa, é o sublime irmão que denominamos de Jesus de Nazaré. Nós outros somos aprendizes, alguns mais amadurecidos que outros, mas sempre aprendizes;
b) se nenhum espírita foi ou é perfeito, logo há a possibilidade de nossos maiores espíritas terem cometido algum equívoco em seus pensamentos, dissertações, entendimentos e interpretações sobre o tema Espiritismo. Tal fato não implica que cometeram deslizes, mas relevamos a importância de se ter em mente a possibilidade disso;
c) nada impede que façamos contraposições respeitosas a qualquer ser humano, desde que fundamentadas em raciocínio, sem a mácula das paixões inebriantes, sempre baseadas na razão, busca pela verdade e argumentos sólidos;
d) Jesus de Nazaré é o guia e modelo moral. Ao mesmo tempo, mas sem comparações, Allan Kardec é o guia fundamental do Espiritismo, dentre os encarnados. Allan Kardec foi o principal colaborador do Espírito de Verdade para a apresentação do Espiritismo à Terra. Isso não o torna perfeito ou inquestionável, mas o torna digno de elevado respeito e consideração;
e) desencarnados, médiuns, palestrantes, trabalhadores e autores espíritas não devem ser endeusados. Devem ser compreendidos e respeitados, como todos os seres humanos. Nosso propósito é sempre buscar o esclarecimento e enobrecimento, não buscar divindades ou mestre perfeitos;
f) o Espiritismo é sinônimo de liberdade, liberdade de pensamentos; de oração; liberdade para entender ou não a autonomia do Espiritismo; liberdade para entender que devemos respeitar nossos irmãos ao ponto de mitigar nossa própria liberdade, quando for o caso; liberdade para questionar espíritos, Allan Kardec, autores e médiuns espíritas, ou qualquer outro importante confrade; liberdade para aceitar uma proposição somente quando os nossos critérios racionais forem atendidos exaustivamente; liberdade para viver sem amarras conscienciais;
g) o Espiritismo não é uma construção humana, mas uma revelação espiritual de como a vida acontece, que respeita o nosso nível de entendimento, mas que não é limitada em magnitude por nossa falta de amadurecimento em nível de consciência;
h) este simplório livro considera que as obras fundamentais do Espiritismo são aquelas citadas por Allan Kardec, como tais ao Espiritismo, no Catalogue raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une bibliothèque spirite, de 1869. As obras são: O Livro dos Espíritos; O Livro dos Médiuns; O Evangelho Segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno; A Gênese, os Milagres e as Predições; O que é o Espiritismo?; O Espiritismo em sua mais simples expressão; Resumo da lei dos Fenômenos Espíritas; Caracteres da revelação espírita; Viagem Espírita em 1862; e Revista Espírita (de janeiro de 1858 a abril de 1869). Entendemos que abundantemente encontramos os cinco livros principais de Allan Kardec sobre Espiritismo sendo citados como as obras básicas da codificação
. Encontramos termos ainda como "pentatêuco kardequiano". Todavia, entendemos que sobre o assunto, devemos seguir as orientações e termos utilizados pelo próprio Allan Kardec.
Isso posto, com o intuito de não criarmos um rol de princípios segregadores, é muito oportuno revelar que, se você, amiga leitora ou prezado leitor, mesmo não conseguindo ou não admitindo assumir os princípios acima como verdades desde agora, mas considerando ao menos a possibilidade de um dia assumir como verdadeiras as premissas acima, afirmamos categoricamente que já podemos manter uma relação amigável e respeitosa, para construirmos juntos convicções ou ideias basais ao longo deste livro.
Sendo assim, esperamos que vocês tenham a liberdade em suas mentes suficientemente para que possamos dialogar e refletir juntos sobre temas sensíveis da Doutrina Espírita. Tudo isso, sem as amarras da resistência a novas discussões indiscriminadamente (âncoras a ideias antigas, que impedem discussões mais profundas); sem as dificuldades impostas pelos seres humanos de mentes ainda ricas em reflexos das imposições feitas em outras existências; sem a presença de algum véu que limita a percepção, a visão, a sensibilidade e outros atributos.
É válido deixar claro que não trazemos aqui a proposta de ofender nenhum irmão, encarnado ou desencarnado, citado neste livro, muito menos os leitores. Se eventualmente for exposta alguma ideia que suscite algum tipo de ofensa, por favor, avalie com cuidado fraternal. Se for alguma bobagem sem fundamento, será uma ideia facilmente superada pelos Senhores e Senhoras. Se for alguma inovação (no sentido de reflexão) bem fundamentada, que chame a atenção, então não se ofenda, avalie com seriedade, pois, se é uma ideia bem fundamentada, com base argumentativa séria, carece de avaliação robusta e isenta de melindre.
Por fim, esta apresentação exige contemplar um aviso sobre o primeiro e segundo capítulos. Não é que identifiquemos como sendo capítulos mais importantes que os demais, mas é que muitos autores colocá-los-iam nas últimas posições ao longo do livro. No entanto, nesta modesta obra, preferimos inaugurar a sequência de capítulos tratando sobre o que é o Espiritismo (ou o que não é) e sequenciando com um capítulo que ratifica o posicionamento inicial, com as cabíveis justificativas.
Diante de tudo isso, convidamos os leitores para discutirmos algumas ideias sobre como percebemos o Espiritismo na atualidade, sem a pretensão de tentar esgotar os assuntos, mas de forma convidativa a refletirmos juntos, sem as barreiras que existem, muitas vezes, somente em nossas mentes.
Prefácio
Não há pouco tempo este livro está destinado a ser lançado. Todavia, mesmo diante das intempéries da vida, conseguimos concluir tal tarefa agora. Orgulhamo-nos de termos concluído esse grande tarefa, na nossa visão minúscula e ainda de aprendizes. Mas não é um orgulho vaidoso e displicente, é o orgulho satisfatório de imaginar em poder contribuir, ao menos, para um irmão ou uma irmã neste planeta.
A tarefa concluída com essa obra é singela, modesta e passível de toda revisão que os grandes nomes do Espiritismo podem fazer. Temos a convicção disso e não temos nenhuma resistência às eventuais ou ordinárias críticas.
Ao mesmo tempo, temos convicção de que entregamos um produto que foi feito com dedicação, labor, análises, convicções e, antes de tudo, boa-fé. Por esses motivos, abundamos a convicção de que as palavras simplórias contidas nos parágrafos de cada capítulo podem contribuir para o progresso do pensamento espírita, mesmo que seja somente no sentido de provocar reflexões mais profundas dos nobres leitores.
É ponto fatídico que não se deve avançar com os carros na frente dos bois. Por isso, este livro vem abrir o campo para discussões mais profundas, que deverão ocorrer em outras obras, mas sempre dentro do equilíbrio e paciência, que se consolida sem a pressa que estremece e a morosidade contaminada pela inércia.
Estamos felizes e contentes, mas ao mesmo tempo convictos de que esse é só um início de uma tarefa maior, que vai além dos envolvidos neste moderno pergaminho, que envolve todos aqueles que forem inquietados com as provocações aqui contidas e que abracem amorosamente ainda mais o estudo da doutrina dos Imortais.
Que Deus nos abençoe nesta jornada, em nossos estudos e em nosso aprendizado.
17 de dezembro de 2022.
Alex.
1 -Espiritismo não é religião
"Apresentando o Espiritismo, na sua feição de Consolador prometido pelo Cristo, três aspectos diferentes: científico, filosófico, religioso, qual desse é o maior?
[...]
A Ciência e a Filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a Religião é o ângulo divino que a liga ao céu. No aspecto científico e filosófico, a Doutrina será sempre um campo nobre de investigações humanas, como outros movimentos coletivos, de natureza intelectual, que visam ao aperfeiçoamento da Humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por construir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual".
Consolador, Emmanuel.
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações
.
O que é o Espiritismo, Allan Kardec.
O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Estes qualificativos são de pura invenção da crítica
.
Obras Póstumas¹.
Certamente o tema deste primeiro capítulo merece considerável respeito, pois desperta, desde o nascimento do Espiritismo na Terra, controvérsias severas no meio espírita e dentre seus opositores.
Outro ponto que merece esclarecimento é nossa seriedade quanto ao tema, pois nossa proposta é tratar de polêmicas, definições ou entendimentos, recentes ou antigos, da maneira mais respeitosa e briosa possível, sem perder o nosso objetivo, que é expandir reflexões e inovar entendimentos, quando possível, rememorando pontos essenciais do Espiritismo. Sendo assim, vamos dividir este capítulo em três seções. A primeira falará sobre as manifestações de Allan Kardec sobre o tema; a segunda discorrerá sobre as exposições de respeitados colaboradores espíritas que já abordaram o tema de maneira incisiva, conclusiva e pertinente; a terceira parte será uma dissertação alusiva ao tema sob o nosso ponto de vista, considerando respeitosamente a abordagem do mestre Allan Kardec e dos demais confrades espíritas.
1.1 O que diz Allan Kardec sobre o Espiritismo ser ou não ser uma religião
Primeiramente, vamos demarcar um ponto de partida bem justo com Allan Kardec, sobre suas mudanças de pensamentos alusivos às inúmeras ideias e argumentos que ele construiu durante seu trabalho de consolidador dos ensinamentos dos Espíritos. Sendo assim, tomemos como base a opinião do respeitado pesquisador espírita Cosme Massi, que em seu vídeo A Polêmica sobre a Obra A Gênese
– Cosme Massi², afirma categoricamente que Allan Kardec mudou, diversas vezes, no contexto das Obras Fundamentais do Espiritismo, textos seus e dos Espíritos, sem prejuízos e sem implicações negativas nas Obras Fundamentais da Doutrina Espírita. O pesquisador afirma naturalmente que Kardec fez isso com propriedade e com a autoridade que a ele competia, e exemplifica temas que foram expostos com modificações de Allan Kardec.
Sobre a afirmação no parágrafo imediatamente anterior, no que compete às mudanças textuais promovidas por Allan Kardec, não há nenhuma crítica sobre tal postura. Ao contrário, entendemos que os pensamentos, sobre qualquer tema do conhecimento humano, evoluem e podem ser ampliados, complementados ou alterados, desde que embasados na lucidez e argumentação raciocinada. Entendemos isso como o progresso do pensamento sobre determinado assunto. Adicionamos a isso dois fatos importantes: a comunicação mediúnica, em regra, é passível de ruídos; o segundo fato é que Kardec, comumente, consultava os Espíritos quando melhorava os textos obtidos pelo artifício da mediunidade.
Reafirmamos que isso não implica nenhum prejuízo para a maestria³ que Allan Kardec tratou os temas espíritas.
Nesse sentido, sobre o tema deste capítulo, é possível notar mudanças consideráveis sobre o Espiritismo ser ou não uma religião, nas Obras Fundamentais do Espiritismo. Todavia, devemos afastar inequivocamente a ideia, supostamente oriunda de Kardec, de que o Espiritismo pudesse ser uma religião convencional, com os elementos característicos (dogmas, ritualísticas, cerimoniais, sacerdotes, degeneração da alma, etc.) e com o conceito bem conhecido de todos.
No entanto, alguns pontos importantes devem ser ressaltados, correlacionados ao tratamento da Doutrina Espírita como uma religião. Sendo assim, convido os leitores a notarem que trataremos de questões fatídicas, não de interpretações nossas.
a) majoritariamente, ao longo da produção literária espírita de Kardec, em especial os cinco livros fundamentais mais conhecidos e a Revista Espírita, é feito um afastamento do Espiritismo quanto aos fundamentos religiosos, como a forma das religiões, a estrutura básica, a fé inquestionável, a dogmática, a heteronomia como princípio, entre diversos fundamentos;
b) majoritariamente, quando Allan Kardec propõe caracterizações ou conceituações do Espiritismo, a ideia é de afastamento religioso e aproximação dos conceitos científicos da época (mesmo deixando claro que o Espiritismo não é uma ciência convencional humana) e das filosofias, sempre com implicações morais;
c) ao longo das Obras Fundamentais, quando Allan Kardec tenta definir o que realmente é o Espiritismo, as ideias propostas giram em torno do Espiritismo ser uma filosofia espiritualista ou uma ciência filosófica;
d) mesmo buscando textualmente conceituar um afastamento do Espiritismo quanto às religiões, Allan Kardec usa, conscientemente ou não, de expressões ou repetições que tendem a unir o Espiritismo ao universo religioso, como as diversas citações de sacerdotes e as reiteradas lembranças de títulos meramente católicos e desnecessários para o Espiritismo (como o título de Bispo, de São, de Santa, A Virgem, anjos, entre outros). Percebamos que os títulos mencionados só importam dentro da religião na qual foram concebidos, e que tais títulos não significam, fundamentalmente, adiantamento ou progresso de nenhum espírito, do ponto de vista racional. Mesmo assim, tais títulos foram abundantemente utilizados por Kardec;
e) somente na Revista Espírita de 1868, publicação de dezembro, que trata do discurso de abertura da Sessão Anual Comemorativa do dia dos Mortos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec discorre primeiramente sobre as possíveis interpretações e entendimentos do significado da palavra religião (baseado em conjecturas sobre a união de pensamentos, significado etimológico da palavra religião, da proposta do Nazareno sobre reuniões, entre outras), até afirmar categoricamente que, considerando uma das possíveis maneiras de se entender religião, o Espiritismo pode ser considerado uma religião, e afirma:
Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza
.
Porém, dois parágrafos a frente, justifica o que o levou a não apontar o Espiritismo como uma religião convencional:
Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral
.
Caras irmãs e irmãos, não temos aqui a intenção de realizar especulações sobre as motivações que levaram Allan Kardec a tratar a relação entre Espiritismo e religião da maneira que assim foi feita. Ao mesmo tempo, não há aqui nenhuma crítica negativa sobre a postura de Allan Kardec relacionada ao tema em tela. Ao contrário, entendemos que o assunto discutido foi um dos mais provocadores desde o surgimento do Espiritismo no planeta Terra, e temos convicção de que Allan Kardec e os pioneiros sérios do Espiritismo encontraram severas dificuldades para definir satisfatoriamente o que é a Doutrina dos Espíritos sem causar ainda mais polêmicas e sem se afastarem do objetivo da instauração ou construção do Espiritismo no Mundo.
Para esse nosso início de discussão, ficaremos com esse resumo das exposições de Allan Kardec sobre o Espiritismo ser ou não uma religião, no qual é defendida majoritariamente a ideia do Espiritismo não ser religião, do Espiritismo ser uma filosofia espiritualista ou uma ciência filosófica; e a ideia alternativa colocada na Revista Espírita de 1868, na qual o Espiritismo seria uma religião do ponto de vista filosófico, baseada na união de pensamentos, mas jamais uma religião nos moldes convencionais, por definição ou caracteres conceituais. No entanto, ainda neste capítulo, discorreremos sobre algumas reflexões considerando as maneiras com as quais o mestre Kardec caracterizou e definiu o Espiritismo, bem como os seus argumentos sobre os entendimentos alusivos à religião e sua ligação com o Espiritismo.
Passaremos agora a apontar alguns posicionamentos sobre o Espiritismo ser ou não uma religião, do ponto de vista de obras complementares⁴ e posturas de respeitadas irmãs e irmãos dentro da Doutrina dos Espíritos, tanto de encarnados, como de conhecidos colaboradores desencarnado.
1.2 O que dizem demais espíritas sobre uma possível religião espírita
Antes de iniciarmos alguns relatos fatídicos, é necessário explicarmos que consideraremos aqui as opiniões de espíritas encarnados, ou que conhecemos suas obras ainda como encarnados, e de espíritos desencarnados, notadamente conhecidos por sua colaboração com o Espiritismo. Com isso, não estamos ousando impedir de uma criatura desencarnada se denominar espírita, mas é que diversos dos métodos espíritas de busca pelo esclarecimento não se aplicam aos desencarnados, primordialmente. Dessa forma, não denominaremos espíritos libertos da matéria de espíritas.
Todas as criaturas citadas abaixo merecem nosso mais sincero respeito, seja pela obra material, pela contribuição intelectual ou pela exemplificação moral, junto à humanidade e ao Espiritismo.
De tal forma, iniciaremos com a postura do reconhecido irmão Emmanuel que, sem ressalvas nem obscuridade, trata abertamente o Espiritismo como uma religião (mesmo que extrapole os limites convencionais das religiões). Como exposto na epígrafe deste capítulo, com a primeira citação direta, o prezado Emmanuel categoriza o Espiritismo em três esferas, das quais uma é a religião.
Não diferentemente, o irmão Emmanuel também expõe tal postura religiosa em suas obras psicografadas pelo ilustre colaborador Francisco Cândido Xavier. E mais, corrobora o seu pensamento parafraseando Allan Kardec, quando aponta⁵:
Reportamo-nos a tais referências para recordar que o fenômeno espírita sempre esteve presente no mundo, em todos os lances evolutivos da Humanidade, e que Allan Kardec, desde o início do ministério a que se consagrou,