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Cartas Entre Um Católico E Um Evangélico
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Cartas Entre Um Católico E Um Evangélico
E-book290 páginas4 horas

Cartas Entre Um Católico E Um Evangélico

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Sobre este e-book

O livro Cartas entre um Católico e um Evangélico se trata de uma conversa respeitosa entre dois cristãos que analisam e refletem sobre a fé, bem como sobre eventos que ocorreram em igrejas, além de traçarem interpretações a Bíblia, conforme estudiosos gabaritados. Mariano escreveu na fé católica e Cléverson na evangélica. Leia e confira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de set. de 2020
Cartas Entre Um Católico E Um Evangélico

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    Cartas Entre Um Católico E Um Evangélico - Mariano Soltys E Cléverson Israel Minikovsky

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    Cartas entre

    um Católico e

    um Evangélico

    Mariano Soltys

    Cléverson Israel Minikovsky

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    [ 5 ]

    Ficha catalográfica

    SOLTYS, Mariano e MINIKOVSKY, Cléverson Israel.

    Cartas entre um Católico e um Evangélico. Edição do autor: São Bento do Sul, 2020.

    [ 6 ]

    Dedicatória

    A todos aqueles que usam de sua fé para a fraternidade e união em Cristo.

    [ 7 ]

    Agradecimentos

    Agradecemos a Deus, a Nosso Senhor Jesus Cristo e ao Espírito Santo, que nos iluminou nessas cartas.

    [ 8 ]

    Prefácio

    Nada é tão simples que baste se posicionar favorável ou contrariamente. Na capa em cujo espaço gráfico se buscou uma paridade no aspecto visual entre católicos e evangélicos, o que se vê é isto: um texto buscando fidedignidade escritural rechaçando imagens em o Nome de Deus Invisível, e, ao lado, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, na representação de uma mulher bonita, meiga, mas oprimida. O que vale mais: o dogma expurgando todo tipo de recurso ótico, ou a conveniência pastoral que apela para a psique do fiel? Na aprendizagem espiritual importa mais o conteúdo ou a didática, ainda que a forma prejudique a matéria?

    A persistência do fator morte, ipsu facto, é o bastante para justificar a busca incessante de referências existenciais nas filosofias e nas religiões. Até o momento, os autores desconhecem sugestão capaz de desbaratar a proposta da tradição judaico-cristã. E como mais do que nunca se veja o mundo carente de sentido e significado, filhos de descrentes lotam igrejas cristãs de diferentes vieses.

    A Idade Média Europeia retrata uma sociedade em profundo estado de crise que encontra balizas no âmbito da religião cristã. Nossa crise, hoje, se encontra, mais do que em qualquer outro lugar, radicada no campo ideológico, pensamental. Isto significa, portanto, que a religião não vem de fora, ad hoc, resolver os problemas sociais, mas que ela é parte não só da solução, bem

    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    como do próprio problema. A questão, logo, é mais aguda e complicada.

    Enquanto os cristãos não nos amarmos uns aos outros, a rigor, cristianismo aí não há. E quem dera, possamos os cristãos abraçar afetuosamente o judeu e o islâmico, e todos os povos e indivíduos do planeta. Ao que parece, o exercício da ética cristã tem se limitado a afirmar ser uma denominação religiosa melhor que as outras, cujas lideranças cobiçam ovelhas do rebanho alheio.

    Quiçá, nos acusem de contradição pragmática: desafiamos o amável leitor a uma atitude prática, por meio de um livro, uma tarefa de muitas letras e pouco contato. É bem verdade, mas, por ora, não se inventou meio mais apropriado para tratar de tais matérias senão pela escrita.

    Se para absolutamente nada servir esta obra, à guisa do pior cenário possível, que ela se preste a isto: chamar a atenção para a relevância e urgência das realidades espirituais, em nenhuns outros livros tão bem desenhadas como na Bíblia Sagrada. Boa leitura! Deus o abençoe com a largueza da sua graça!

    Cléverson Israel Minikovsky

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    Cartas entre um Católico e um Evangélico1

    CATÓLICO – Boa tarde, irmão em Cristo! Passamos aqui a trocar essas cartas a fim de estabelecer uma reflexão sobre a fé e sobre Cristo. Possamos, através da teologia, iluminar aqueles que não conhecem ainda essa riqueza que temos a nosso dispor. Possamos humildemente trafegar nos saberes a que a nossa discussão vai se desenvolver. Lendo um texto de Vanderlei de Lima, em site Católico Aleteia2, pus-me a refletir.

    Veja o que se aprende do texto, que resumi. Há uma expressão dita por São Cipriano de Cartago, na obra Sobre a Unidade da Igreja, e Santo Agostinho, nas Cartas 50, 141 e 185, e mesmo pelo Catecismo (n. 186) que diz: Fora da Igreja não há salvação . No tempo dele isso se referia à Igreja Católica, e mesmo assim somente Cristo é mediador.

    Mas o corpo de Cristo é a Igreja. O problema estaria em dizer: em qual Igreja? Os Padres da Igreja teriam as respostas, por lidarem com duas situações: 1) cisma, afastar da Igreja sem 1 Mariano escreveu de lado Católico e Cléverson, evangélico.

    2

    Em

    www.pt.aleteia.org/2020/05/18/fora-da-igreja-nao-ha-

    salvacao

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    negar verdades da fé, com a apostasia e 2) heresia, afastando da Igreja por negar verdades da fé. Isso sem falar ainda na sucessão de Apóstolos, e mesmo na Tradição, que revelariam uma identidade com aquela Igreja primeira e verdadeira. Isso se dava até a Idade Média, e quando se encontrou novas culturas, como a nossa sul-americana, a situação teve de ser repensada, a fim de não colocar as pessoas em condenação eterna. Como estariam esses povos que morreram sem nunca descobrirem a Cristo ou a Igreja? São Roberto Belarmino deu a resposta (em obra De Controversiis Liber III), e disse que há duas formas de se pertencer a Igreja: 1) a visível, dos batizados, e 2) a invisível, a de não batizados, mas de consciência reta. Isso nos faz pensar na possibilidade de um direito natural, de uma lei natural, a que estaria em sintonia com o Divino, e também em uma ética dos justos, que poderia se assemelhar a daqueles que cumpriam a Torá ou Lei, antes da vinda de Nosso Senhor Jesus, onde a lei não seria mais o parâmetro único à salvação, ou não sendo para a salvação, uma vez que esta estaria apenas em Jesus Cristo. Então havia dois caminhos, o explícito e o implícito. O reto desejo, a moral e mesmo um comportamento justo poderia ser, antes de Cristo, meios de se encontrar o desejo de se converter a Jesus, de se batizar e mesmo de se fazer parte desse corpo de Cristo, que é

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    a Igreja. Certamente feliz é quem se diz Católico, uma vez que este nome significa universal. Uma unidade assim parece mantida. Não se criam igrejas Católicas conforme o gosto ou desgosto, mas se mantém uma unidade. Uma tradição de 2000

    anos continua, apesar das falhas ou adaptações a que teve de passar a Igreja. Não encontraria uma obra melhor que a Summa Theologica de Tomás, e nem algo tão envolto de filosofia, rico em amplitude teológica, quanto esse material Católico. Tanto a Contrarreforma, quanto o Concílio Vaticano II fazem repensar a situação da Igreja, mas sem negar a sua grande riqueza, onde esta se renova ao mundo atual. Uma bela doutrina dessa Igreja Católica ainda é a doutrina social da Igreja. Em resumo: Fora da Igreja não há salvação. Pois essa é o corpo de Cristo. O que o irmão acha desse assunto e do tema de uma doutrina social da Igreja, o que hoje é tristemente atacado como um comunismo ateu, quando não é?

    EVANGÉLICO: Olá, caríssimo! Sim, só há salvação dentro da Igreja. Contudo, o que seria esse dentro? Porque o étimo grego que explica a origem da palavra Igreja sugere o oposto: Ecclesia, que viria de ek kalos, ou seja, os chamados de fora. Quando foram dizer a Moisés que estavam profetizando sem seu conhecimento, o beato legislador resignou-se a

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    informar quem nos dera que todo o povo de Deus fosse profeta. Igreja é essa empatia coletiva que se situa no plano racional-emocional-espiritual em que se vê transbordar o amor recíproco entre os fiéis e destes para com o Pai Celestial. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) teve boa ideia ao introduzir o uso da Campanha da Fraternidade durante o período quaresmal. Em 2020 o tema escolhido foi

    Fraternidade e vida – dom e compromisso e o lema, Viu, sentiu compaixão e cuidou dele (Lc 10,33-34). Oportuna a iniciativa, numa época assolada pela incerteza, volatilidade que afeta

    com

    mais

    gravidade

    aquelas

    pessoas

    que,

    historicamente, sempre foram marginalizadas. A Igreja compreende ainda a solidariedade, a caridade. Hoje os países ricos praticam solidariedade por interesse. A Alemanha banca os países membros da União Europeia porque se tem o entendimento de que estar rodeado por pessoas que estão integradas ao mundo econômico traz prosperidade para quem é parceiro. Digo isto para mostrar que há uma inteligência no ajudar. Mas o cristão é desafiado a fazer mais: a exercitar a caridade mesmo quando não há perspectiva de retorno, e ajudar imbuído do mais puro amor. Esta é a salvação encontrada dentro da Igreja. E não digo que esta seja a única salvação. Pelo contrário, o socorro mútuo do tempo presente,

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    deve ser prefiguração de uma alegria plena muito mais perfeita no plano celestial. O conceito de ecumenismo precisa tornar-se mais conhecido. Ecúmeno é um termo próprio da área de saber conhecida como geografia. O ecúmeno é o oposto de

    deserto. Pois assim como deserto é o local desabitado, o ecúmeno é o lugar habitado. Ao contrário do que muitos dizem,

    ecumenismo não é uma teoria inventada pelo diabo, e nem sequer pelo conhecimento profano. Ecumenismo é, sim, sinônimo de diversidade. E a diversidade é não apenas tolerada, mas desejada e querida por Deus. O próprio mundo natural é diverso: existem várias camadas geológicas, várias camadas atmosféricas. São muitos os elementos da tabela periódica e se conhecem mais de 10 milhões de compostos de carbono. Muitas são as espécies de plantas. A vida animal se acha na terra e na água. Pululam por toda parte, insetos, mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes, dentre outros. O

    mandamento amar ao próximo como a si mesmo revela esta verdade: o outro é diferente do si mesmo. Não fosse assim, o mandamento simplesmente seria ame a si. O alter, a alteridade, não compreende só o cônjuge, os pais, os filhos, os vizinhos, os colegas de estudo ou de trabalho, mas compreende a todos. Qualquer que seja sua denominação religiosa cristã, a verdade consiste em ampliar o raio dentro do

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    qual se acham as pessoas a quem devemos endereçar nosso amor. Quando o profeta fala do estrangeiro, da viúva, do órfão, estas figuras podem ser identificadas com as pessoas de nosso tempo que sofrem discriminação por condição étnica, cultural, de orientação filosófica, política ou sexual. O meio evangélico brasileiro hoje está passando por um processo de religiosificação. Calcados numa pauta conservadora ou reacionária, líderes eclesiásticos situam-se mais no plano de deliberação a quem devemos excluir do que a quem iremos priorizar. Lembrando que ortodoxia é religião, quando da espiritualidade deriva aquele agir de elevada motilidade, encetado para a consumação do bem, dando por despiciendas grandes discussões apologéticas sobre os dogmas da fé. De nenhum modo desconsiderando a importância de tais discussões, apenas estruturando os respectivos patamares da pirâmide onde são postos os valores segundo seu grau de excelência ôntica. Cristo salva. E a obra salvífica da Igreja tem o condão de iterar aquilo que deixou consumado o seu Cabeça.

    CATÓLICO: Bela lição de sabedoria meu amigo, ao tratar do termo originário de Igreja, onde se teria de vir de fora. Sobre empatia coletiva, vale lembrar que não se trata de qualquer

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    empatia, mas aquela cuja cabeça é Cristo. Sobre o exercício da caridade, este termo é muito valoroso, uma vez que a palavra amor na Bíblia antes era traduzida por caridade. Assim a Epístola aos Coríntios diria que se poderia saber a língua dos anjos, mas sem caridade eu nada seria. Com relação a ecumenismo, a Igreja Católica já de algum tempo que trilha um caminho de troca especial com a igreja Protestante, mais especificamente com a Igreja Evangélica Luterana, da qual os meus avós eram participantes, bem como minha mãe e tios.

    Posteriormente mãe teria se convertido ao Catolicismo.

    Recentes documentos da Igreja Católica também favorecem uma comunhão especial com a Igreja Luterana. Esta é a

    Declaração Conjunta Luterano-Católica sobre a Doutrina da Justificação por Graça e Fé e nela se escreve3: O ouvir comum da Boa Nova proclamada nas Sagradas Escrituras e, não por último, os diálogos teológicos de anos recentes entre as Igrejas Luteranas e a Igreja Católica Romana levaram a uma concordância na compreensão da justificação. Ela abarca um consenso nas verdades básicas; os desdobramentos distintos nas afirmações específicas são compatíveis com ela.

    3

    In

    https://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstun

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    Deste modo, mantendo as verdades básicas, tanto a doutrina original da Igreja, quanto aquela que surge de reformadores, ambas mantêm o essencial de Cristo. Depois as Igrejas Anglicana, o Conselho Metodista Mundial e a Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas assinaram o mesmo documento. Logo, se existe a doutrina da graça e da fé, ambas estão no caminho certo. Por outro lado, muitos usam de igrejas para o poder político e o enriquecimento, se deixando levar pelo bezerro de ouro e pela avareza, um dos pecados capitais.

    Busca-se lucrar com o nome de Jesus e assim se confunde esse caminho de justificação, por outro, de uma entrega aos poderes do mundo e do pecado. No site dos Arautos do Evangelho4, em um texto de Hamiltom e Cristiane Buzi se lembra: "No Império Romano havia, por exemplo, uma lei que decretava a confiscação dos bens de quem se declarasse cristão. Em tempos nos quais a tradição e a fortuna muito significavam para a sociedade, essa sanção representava uma prova duríssima, maior ainda que em nossos dias. Não obstante, eles preferiam perder todas as suas posses, a fim de conservar o supremo tesouro da fé. Sabiam que as riquezas

    i/documents/rc_pc_chrstuni_doc_31101999_cath-luth-joint-

    declaration_po.html

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    deste mundo passam e buscavam juntar seu tesouro onde o ladrão não chega, e a traça não corrói (Lc 12, 33)" e

    Analisando o mérito de quem tudo entrega por amor a Cristo, Orígenes acrescenta que quanto maiores são os bens terrenos aos quais se renuncia para seguir a Cristo, maior é o prêmio obtido na eternidade. E, nesse sentido, escreve na sua Exortação ao martírio: ‘Como eu gostaria, se tivesse que morrer mártir, de também deixar casas e campos, […] para receber o cêntuplo que o Senhor prometeu!’. Como ensinou o Evangelho Segundo Lucas, o tesouro verdadeiro está onde a traça não corrói e onde o ladrão não chega. Dar de graça seria o caminho do que proclama o Evangelho. Contudo, as igrejas caminham na evolução e passam a perceber que as doutrinas principais sobre Nosso Senhor Jesus são as que se deve difundir, e não objetivos mundanos, assim como a tentação do deserto, onde o maligno ofereceu todos os reinos do mundo.

    Desse modo, existirá um verdadeiro ecumenismo, quando não se busque o poder temporal ou dinheiro, mas sim a fé e a graça em Jesus. Quem se declararia cristão hoje, se fosse como nos tempos de Roma? Muitos tiram os bens em nome de Cristo, mas seria perder em Seu Nome. Possamos refletir 4 Em https://www.arautos.org/secoes/arautos/ser-igreja-no-

    seculo-xxi-267754

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    sobre isso irmão. Orígenes deixou claro que receberíamos o cêntuplo de Deus ao desapegar. Possam as Igrejas caminhar juntas.

    EVANGÉLICO: Em verdade, a rigor, e isto é uma interpretação, Jesus Cristo não pediu renúncia de bens, mas uma permuta. E

    nessa troca os beneficiados somos nós. Como seria interessante que todos os seres humanos tivessem a capacidade ou pudessem ser ricos em dois planos. Eu me refiro ter muitos bens materiais e muitos bens espirituais. Mas frequentemente vejo pessoas de muitas posses tristonhas, carentes de tudo, inclusive de afeto. À medida que ter sexo não equivale a ter afeto. A proposta de Cristo, para quem se deu o trabalho de estudar as Escrituras, é essa: abrir mão do material, para que se possa agarrar o espiritual. Os bens espirituais estão ligados à razão de ser dos seres, dentro de cuja categoria nós imago Dei estamos incluídos. Porque, se a vida lhe faz sentido, tudo o mais se dá um jeito, inclusive provisão material. Mas abundância de bens materiais pode estar desconexa do sentido. E é aí que vemos endinheirados abatidos, desanimados e deplorando a vida, já tornada um fardo pesado e inútil. Deus nos criou de tal forma que só somos felizes fazendo o bem. Por conseguinte, se justifica

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    pessoas que dizem de si serem materialistas, fazendo obras de caridade. Os tais filósofos ou cientistas sociais não encontram outra estratégia para defenestrar a religião da vida própria e dos outros senão fazendo exatamente aquilo que as pessoas religiosas fazem. Muito se fala em caridade, contudo, é preciso que se diga: quem tem dívida com um irmão ou pessoa de outra denominação, se faz caridade, faz caridade com o dinheiro alheio. Então este gesto é despido de valorosidade.

    Primeiro quite suas pendências (tire a trave do seu próprio olho), para em seguida ajudar a outros. Muitos comerciantes dizem: Não é a religião que paga!. Porque tem católico bom pagador e católico mau pagador, evangélico bom pagador e evangélico mau pagador. Quem tem dívida, pode pagar e não paga, ou não se esforça para regularizar sua situação e participa da Ceia (independente se é na celebração católica ou evangélica), está tomando a própria condenação. Por que está escrito: Se tens um entrevero com teu irmão, reconcilia-te e, empós, participa da celebração (de memória, mais ou menos isto). Conhecedores da natureza do ser humano, nos perguntamos: há muitas coisas que ofendem mais a uma pessoa comum, do que ser logrado no dinheiro e nos negócios? Quem muito foi ofendido, muito deve ser reparado.

    Ouço algumas pessoas dizerem: todo mundo tem alguma

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    dívida hoje em dia! Em primeiro lugar: mesmo que sejam maioria, não são todas as pessoas que se acham endividadas.

    Em segundo lugar: se todos forem para o inferno iremos também nós? Ainda antes de praticar a caridade universal, desde o vizinho até o estrangeiro que está em nosso país de passagem, quero dizer uma coisa: devemos praticar a caridade para conosco mesmos. Quanto tempo não tiramos para um retiro espiritual ou simplesmente ler um trecho da Bíblia com atenção? Passo seguinte: praticar a caridade para com nosso cônjuge e nossos filhos. Muitos jovens se casam na expectativa de ter uma vantagem afetiva. Mas nossa cara-metade não terá a mesma disposição de quando era jovem e desfrutava da energia da pouca idade. E quanto aos filhos, eles, eu diria, não podem se relacionar conosco como nós nos relacionamos com a pessoa amada. Isto significa que o desprendimento deve ser total, uma decisão empenhada de esforço. Vivendo tudo isto, quem sabe, será possível anunciar e testemunhar o evangelho para terceiros. Não sei quem disse isto, na verdade ouvi da boca de muitos pregadores, pregue o evangelho, se for preciso use palavras. A palavra convence, o exemplo arrasta.

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    CATÓLICO – Há riquezas do mundo e há riquezas do Reino do Céu. Mas com amor ao próximo como a si mesmo, toda a riqueza se possui, por cumprir o mandamento. Mas a grande riqueza parece ter sido a espiritual, e por isso foi dessa que Salomão pediu, quando teve a oportunidade. Também Nosso Senhor Jesus teria dito que é o caminho, a verdade e a vida. E

    quem procura a riqueza, o faz pela verdade. Mas é nos pobres que está a bem-aventurança. Talvez além da renúncia e da troca, esteja em principal o desapego. Lembra Josemaría Escrivá5 que: Dá-me, Jesus, um Amor qual fogueira de purificação, onde a minha pobre carne, o meu pobre coração, a minha pobre alma, o meu pobre corpo se consumam, limpando-se de todas as misérias terrenas... E, já vazio todo o meu eu, enche-o de Ti: que não me apegue a nada daqui de baixo; que sempre me sustente o Amor. O desapego de si favorece para que se cumpra o amor do outro. Em um tempo de pleno consumismo e individualismo, de redes virtuais e pouco sentido para com o outro, de alteridade, há de se desapegar de si mesmo para ir até o outro, e na realidade.

    Somente o Pai do Céu é a nossa riqueza, e todas as outras vêm Dele. Do mesmo modo, não se deve fazer uso do espiritual para apenas si mesmo, mas pregar o Evangelho pelo 5 Forja, 41.

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    Cartas entre um Católico e um Evangélico, por Mariano Soltys e Cléverson Israel Minikovsky

    mundo. Por isso bem nominada a Igreja é de Católica, pois é de todos, universal. Também porque, apesar de não se ter alguma Bíblia traduzida, pelo ato de fé e amor a Deus, a Jesus, se vá até o próximo em ato de amor, na ação

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