O Diário De Campo De Estágio Em Serviço Social
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O Diário De Campo De Estágio Em Serviço Social - Gabriel Ramos Nascimento Evangelista
2
O DIÁRIO DE CAMPO DE ESTÁGIO EM SERVIÇO
SOCIAL: concepções, (des)caracterizações e
potencialidades
Gabriel Ramos Nascimento Evangelista
Gabriel Skjeggestad Edições
3
O Diário de Campo de Estágio em Serviço Social: concepções, (des)caracterizações e potencialidades.
Edição: Gabriel Skjeggestad Edições. CNPJ: 44.083.626/0001-84.
Contato editorial: gabriel@gabrielskjeggestad.com
Copyright © 2021 by Gabriel Ramos Nascimento
Evangelista
Todos os direitos reservados.
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5
6
Nenhuma ação nasce com a certeza
da vitória.
Nilce Moretto
7
8
SUMÁRIO
PREFÁCIO .................................................................................... 5
APRESENTAÇÃO ...................................................................... 11
CAPÍTULO 1 ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO
SOCIAL: FORMAÇÃO E EXERCÍCIO PROFISSIONAL
COMO SUBSÍDIOS PARA A COMPREENSÃO DO DIÁRIO
DE CAMPO DE ESTÁGIO ........................................................ 27
1.1 SERVIÇO SOCIAL: FORMAÇÃO, EXERCÍCIO
PROFISSIONAL E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO ............ 30
1.2 APORTES JURÍDICO-NORMATIVOS E ÉTICO-
POLÍTICOS ACADÊMICOS PARA SE PENSAR O ESTÁGIO
SUPERVISIONADO .................................................................. 63
CAPÍTULO 2 DIÁRIO DE CAMPO DE ESTÁGIO:
CONCEPÇÕES, POTENCIALIDADES E DESAFIOS ............. 81
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O DIÁRIO DE CAMPO DE
ESTÁGIO: CONCEPÇÕES E DESCARACTERIZAÇÕES ...... 87
2.1.1. Elementos de composição do diário de campo de estágio
em Serviço Social ........................................................................ 99
2.2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO DIÁRIO DE
CAMPO DE ESTÁGIO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO
PESQUISADOR........................................................................ 109
CAPÍTULO 3 ESTADO DA ARTE DA PRODUÇÃO DE
CONHECIMENTO EM SERVIÇO SOCIAL SOBRE DIÁRIO
DE CAMPO DE ESTÁGIO ...................................................... 119
3.1 EVENTOS DA CATEGORIA: CBAS E ENPESS. ............ 130
3.1.1 Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) ...... 131
9
3.1.2 Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social
(ENPESS) .................................................................................. 137
3.2 REVISTAS E PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS .................. 145
3.2.1 Revista Katálysis .............................................................. 146
3.2.2 Revista Serviço Social & Sociedade ................................ 146
3.2.3 Revista Textos & Contextos ............................................. 148
3.2.4 Revista Temporalis ........................................................... 153
3.3 LIVROS E CAPÍTULOS DE LIVROS .............................. 153
3.4 A TOTALIDADE DO ESTADO DA ARTE DA
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE DIÁRIO DE
CAMPO DE ESTÁGIO ............................................................ 156
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................... 163
REFERÊNCIAS ........................................................................ 175
APÊNDICE A Estado Da Arte Da Produção De Conhecimento
Do Serviço Social Sobre Diário De Campo De Estágio ............ 189
APÊNDICE B Processo De Categorização Do Diário De Campo
De Estágio Em Serviço Social ................................................... 191
APÊNDICE C Proposta De Construção Didático-Pedagógica Do
Diário De Campo De Estágio .................................................... 195
POSFÁCIO: estágio e pandemia ............................................... 209
PREFÁCIO
É com imensa alegria que prefacio o presente
livro acadêmico, de autoria do jovem pesquisador
Gabriel Nascimento Evangelista, graduado em Serviço
Social pela Universidade Federal do Triângulo
Mineiro/UFTM, e com quem tive a honra de partilhar de
encontros/momentos no Grupo de Estudos e Pesquisas
em Fundamentos, Formação e Exercício Profissional em
Serviço Social/GEFEPSS-UFTM.
Gabriel torna público sua compromissada
ousadia de trazer á tona um estudo ainda parco na categoria. Com altas doses de vontade política e
compromisso com a formação profissional de qualidade,
hegemonicamente, defendida pelo Serviço Social crítico
e contemporâneo, ele investe seu estudo na dimensão técnica-operativa, a partir do estágio supervisionado: o diário de campo de estágio, que aqui, vem à baila com
toda potência que lhe é devida. Descortina o trato acadêmico do diário de campo como secundário ou de análise pragmática/tecnicista, e, o confere uma análise com densidade teórico-metodológica, ético-política e
técnico-operativa de forma indissociável.
O livro traz profusão de ideias e debates numa
dinâmica que envolve a/o leitor/a a debruçar-se em mais
conhecimentos acerca da temática. Ainda que o mote do
estudo seja o diário de campo de estágio em Serviço Social, também contempla concepções e diretrizes que subsidiam o diário de campo profissional.
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Numa breve análise de conjuntura, descortina a
realidade atual, especialmente, os desafios enfrentados por estudantes, nos árduos dias e noites dos anos 2020-2021, frente a Pandemia Covid-19, e os devotados
ataques frontais à universidade pública e a civilização brasileira do governo Bolsonaro-Mourão. Assim, com a
leveza própria da escrita de Gabriel, mas numa base analítica histórico-critica densa, abaliza as diversas contradições que rebatem, mormente o estágio
supervisionado
enquanto
síntese
de
múltiplas
determinações da educação superior (versus) do mundo
do trabalho e por intrínseca relação/consequência, a formação (versus) exercício profissional1.
Um livro abastado de contributos para
qualificação do estágio supervisionado em Serviço
Social, a partir da importância e potencialidades do diário de campo. Aponta contribuições para o
adensamento
da
dimensão
técnica-operativa
da
profissão, intrínseca as dimensões teórico-metodológica
e ético-políticas, além de representar, um marco
importantíssimo na organização do campo de
conhecimento das documentações de estágio em Serviço
Social – algo ainda de parcas publicações e pesquisas na
categoria.
Ancorado na sua experiência, como estagiário,
traz extratos do seu didático diário de campo,
alinhavando-o, dialeticamente, com a dimensão
1 Reflexões estas trabalhadas no livro de minha autoria: CAPUTI, L.
Supervisão de Estágio em Serviço Social. Papel Social.
Campinas/SP, 2021.
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educativa da profissão, e assim, versa o diário de campo
de estágio como instrumento pedagógico e estratégico para análise permanente da formação e atuação
profissional,
bem
como
fomentador
de
discussões/estudos da profissão. Uma pesquisa,
inicialmente, estruturada como trabalho de conclusão de
curso, e aqui, revisado e atualizado no formato de livro
acadêmico, traz as finas espessuras de suas reflexões centradas no projeto de formação profissional crítica, alinhada aos princípios da Política Nacional de Estágio
em Serviço Social (ABEPSS, 2010) na sua totalidade. O
que, sem dúvida convoca o compromisso e defesa da
formação profissional edificada num projeto de educação
pública, laica, política, democrática, universal, plural e emancipatória, cujos investimentos orçamentários
públicos possibilite qualificar e referendar socialmente o ensino, a pesquisa e a extensão.
Com a reflexão poética de Guimarães Rosa,
Gabriel articula a direção pedagógica do estágio
supervisionado em Serviço Social com a construção do
diário de campo. Traz para a reflexão em: "quem elegeu
a busca não pode recusar a travessia2", a possibilidade
de interpretar o diário de campo como um instrumento
de
potencialidades
éticas,
políticas
e
teórico-
metodológicas de travessia do estágio supervisionado.
Um instrumento necessário para se ampliar o
conhecimento e análise crítica da unidade do diverso entre teoria e prática, entre formação e trabalho
2 ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas.22. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
8
profissional, entre estágio e supervisão, entre ensino-pesquisa-extensão, supervisão de campo e supervisão
acadêmica, enfim, um instrumento que fomenta a
realização de pesquisas, rico de possibilidades temáticas
para análises, por abarcar diversas reflexões do
cotidiano/da experiência da formação e exercício
profissional, enfim, pode acastelar o sentido da práxis da profissão.
Trata de uma pesquisa que responde questões
particularizadas
no
universo
de
significados,
concepções, motivos, valores e diretrizes essenciais
acerca do diário de campo, e assim, o faz,
qualitativamente num processo de aproximações
sucessivas deste objeto de estudo para responder o ponto
principal da pesquisa (de trabalho de conclusão, de curso
que resultou neste livro): como o diário de campo tem sido abordado na formação e no exercício profissional
de assistentes sociais?
Com uma vasta análise bibliográfica (no período
de 1996 e 2020) de Anais de eventos da categoria, artigos
publicados em periódicos e nos livros de Serviço Social
sobre estágio, além da rica análise de seu diário de campo, o Gabriel edifica um estado da arte da produção
de conhecimento sobre diário de campo de estágio
supervisionado. Constrói uma diretriz didática e
pedagógica que adornava elementos centralizais para
construção de diário de campo.
Didática e sabiamente, numa análise histórico-
critica capaz de adensar o debate do estágio no seio da
categoria, envolve reflexões de fundamentos do estágio
9
supervisionado na relação intrínseca entre formação e exercício profissional para a compreensão do diário de campo de estágio em Serviço Social, associado a ancores
jurídico-políticos, normativos do estágio. Trabalha as diversas concepções, potencialidades, desafios e
elementos constitutivos e essenciais do diário de campo
como instrumento didático-pedagógico e documento de
estágio em Serviço Social.
É sem dúvidas um livro admirável para o avanço
do debate em torno do tema, tendo como referência o projeto ético-político da profissão. Leitura basal para toda categoria que busca qualificar o estágio
supervisionado e seu processo de supervisão acadêmica
e de campo. É um livro que convoca a/o leitor/a à (re)pensar os instrumentos, a dimensão técnico-operativa
do Serviço Social no sentido da práxis.
Convido todas e todos ao embarque dessa
travessia!!
Lesliane Caputi.
Triângulo Mineiro, junho de 2022.
10
11
APRESENTAÇÃO
O livro que apresentamos ao público neste
momento é um projeto construído ao longo de vivências
no estágio supervisionado em Serviço Social no curso de
Serviço Social da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM). Acompanhando e participando de
debates sobre estágio em Fóruns de Estágio, Congresso
Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) e Encontro
Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS)
ao longo dos anos de 2017 a 2020 na condição de
estudante e estagiário de Serviço Social foi identificada
a necessidade de reunir numa única publicação o debate
crítico acerca do processo de construção do diário de campo de estágio.
Nota-se muitas inquietações acadêmicas e
profissionais no que se refere ao estágio e ao processo de supervisão de estágio em Serviço Social. Com a
publicação da Política Nacional de Estágio (PNE) da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço
Social (ABEPSS) em 2010 observa-se um aumento
considerável nas publicações sobre estágio e supervisão,
seja em trabalhos, revistas periódicas e livros.
Essas publicações revelam que o diário de campo
de estágio é um instrumento bastante utilizado na
graduação em Serviço Social, no entanto, pouco se
encontra sobre a temática. Isso nos faz refletir sobre a escassez não apenas de publicações sobre o tema, mas também, de pesquisas sobre o tema na formação
graduada e pós-graduada.
12
Assim, iniciamos uma pesquisa de conclusão de
curso sobre a temática intitulada "O Diário de Campo de
Estágio
em
Serviço
Social:
concepções,
(des)caracterizações e potencialidades" e identificamos a
necessidade de aprofundá-la e compila-la no formato de
um livro considerando a pouca produção de
conhecimento sobre diário de campo de estágio em
Serviço Social e a relevância acadêmica e profissional das reflexões aqui propostas.
Entendo ser radicalmente necessário tecer muitos
agradecimentos logo nas primeiras páginas deste livro.
Sei que tradicionalmente não há um espaço para
agradecimentos em publicações desta natureza, mas,
aqui também me disponho a romper com esta lógica,
afinal Quem não se expõe, não se legitima
. Assim, agradeço imensamente à Assistente Social Lesliane
Caputi, por trilhar comigo um caminho difícil, mas
também, muito prazeroso, durante minha pesquisa de
conclusão e curso. Sem suas orientações, conselhos e com a sua disponibilidade em socializar comigo as suas
vivências enquanto estudante, estagiária, assistente
social, supervisora de campo, docente e supervisora
acadêmica, a existência deste material que hoje você está
lendo seria praticamente impossível. Grande camarada
compromissada na luta pela educação permanente,
pública, gratuita, laica e socialmente referenciada.
Gratidão!
Agradeço breve e especialmente à Assistente
Social Abiqueila Maciel de Lima, supervisora de campo
de meus estágios, inclusive em um período de pandemia
13
de Covid-19 em um pronto socorro de um hospital
público. Com ela aprendi a escutar com a intenção de ouvir, de acolher e de buscar no exercício de minha profissão a efetivação dos direitos dos usuários com os
quais trabalho. Gratidão!
Esperamos oferecer aos estudantes e assistentes
sociais um trabalho didático, sem reducionismos e
simplificações, com o conteúdo abordado numa
perspectiva pedagógica e que possa auxiliar os sujeitos
envolvidos no estágio supervisionado (estagiário,
supervisores acadêmico e de campo) a trabalhá-lo como
um componente curricular central na graduação em
Serviço Social. Isto posto, boa leitura a todos!
Gabriel Evangelista
Henningsvær, inverno de 2021.
14
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INTRODUÇÃO
"Quem elegeu a busca não pode recusar a
travessia" nos disse Guimarães Rosa3; afinal,
Karl Marx já dizia que "Todo começo é difícil
em qualquer ciência4".
Com poesia e teoria5 afirmamos que buscar o
conhecimento é uma tarefa difícil e muito desafiadora, envolve a compreensão das múltiplas determinações que
constituem a vida social e significa olhar para a realidade com o objetivo e com a intencionalidade de desvelá-la,
3 ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas.22. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
4 À porta da ciência, como à porta do inferno
, escreveu Karl Marx no final do prefácio de Para a crítica da economia política. E, retomou a ideia, em tom mais sóbrio, no prefácio à primeira edição alemã de o Capital:
Todo começo é difícil, em qualquer ciência
. Disponível em
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Marx-200-anos-Por-
onde-comecar-a-ciencia-/4/40110
Disponível também como epígrafe em NETTO, J.P. Introdução ao estudo do método de Marx. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
5 Portanto, cabe tecer inicialmente reflexões significativas acerca da escolha do título deste trabalho O Diário de Campo de Estágio em Serviço Social: concepções, (des)caracterizações e potencialidades. No seguinte livro são abordadas diferentes interpretações do diário de campo de estágio a partir de uma mesma concepção teórico-política. Quanto ao uso do termo (des)caracterizações ressalta-se a necessidade de se caracterizar o diário de campo de estágio, para depois, compreender suas descaracterizações, a justificativa em se escolher este termo se relaciona com o acúmulo de vivências do pesquisador durante o processo de graduação, principalmente durante as vivências de estágios