A dimensão educativa no trabalho social: Exercícios de reflexão
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Sobre este e-book
Este livro contém reflexões sobre a dimensão educativa presente no trabalho de profissionais que, inconformados com a desigualdade social, buscam contribuir com os oprimidos, em qualquer face da opressão.
Aborda sobre a educação que acontece não só dentro dos muros das escolas, mas em vários espaços, onde a informação, orientação, reflexão acontecem para que os educandos - nas palavras de Paulo Freire, "os esfarrapados do mundo, as classes populares, os sem dinheiro, sem poder, sem trabalho, sem terra, com trabalho precarizado", possam ser ouvidos, possam encontrar caminhos para a luta por seus direitos.
Que estas reflexões possam ser compartilhadas pelos educadores que também pensam que a educação, seja aquela que ocorre em sala de aula ou em outros espaços, na sua necessária dimensão ético-política, precisa contribuir com a construção de uma sociedade mais humana.
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A dimensão educativa no trabalho social - Adriana Giaqueto
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Coordenação Editorial: Kátia Ayache
Revisão: Melissa Lemos
Assistência Editorial: Augusto Pacheco Romano, Érica Cintra
Capa: Marcio Arantes Santana de Carvalho
Diagramação: Marcio Arantes Santana de Carvalho
Assistência Gráfica: Bruno Balota
Assistência Digital: Wendel de Almeida
Edição em Versão Impressa: 2015
Edição em Versão Digital: 2015
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial
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Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)
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Sumário
Folha de rosto
Página de créditos
Apresentação
Prefácio
Capítulo 1: Serviço social e a ação socioeducativa frente ao contexto sócio-histórico atual
1. Desafios e perspectivas para a construção da dimensão socioeducativa do Serviço Social
Capítulo 2: A influência de Paulo Freire na escola formal atual...será possível?
1. A educação popular de Paulo Freire
2. A escola formal atual
3. O papel do educador para conseguir atingir a proposta freireana.
Capítulo 3: O pensamento de Paulo Freire e a educação – algumas reflexões
1. Aspectos da pedagogia freiriana
Considerações finais
Capítulo 4: O trabalho socioeducativo desenvolvido no Centro de Referência de Assistência Social - CRAS
Capítulo 5: O trabalho socioeducativo do assistente social enquanto um intelectual orgânico
1. O intelectual na visão Gramsciana
2. O Assistente Social: um intelectual orgânico?
Capítulo 6: O trabalho socioeducativo nas políticas de ações afirmativas
1. A vida que é de todos
: relações raciais no Brasil e ações afirmativas
2. Eu quero a vida que é de todos
: O trabalho socioeducativo nas ações afirmativas e a emancipação
Conclusões
Capítulo 7: Serviço Social e ações socioeducativas: práticas emancipatórias para comunidades negras
1. Os sujeitos deste estudo: os negros no Brasil
2. Contexto contemporâneo: busca pela emancipação
3. Serviço Social e ações socieducativas: efetivação de direitos dos afro-brasileiros?
Considerações Finais
Capítulo 8: O trabalho socioeducativo no processo de emancipação social
1. Breve resgate histórico do processo de participação social
1.1 - O processo de participação social no Brasil
2. A emancipação social
3. O processo de libertação e o trabalho com o povo
4. O trabalho socioeducativo com a comunidade através dos grupos.
Considerações finais
Referências
Paco Editorial
Apresentação
Para mim o utópico não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão a utopia é também um compromisso histórico. (Freire, Conscientização: teoria e prática da libertação — uma introdução ao pensamento de Paulo Freire, 2001, p. 32)
O conteúdo deste livro é fruto de discussões e reflexões realizadas pelo grupo de autores, que se debruçaram sobre o tema relacionado à dimensão educativa no trabalho social.
As discussões foram permeadas pela troca de saberes de diferenciadas áreas, uma vez que é composto por assistentes sociais, pedagogos, administradores de empresa e docentes universitários. O ponto comum, que uniu e instigou a concretização da elaboração do presente trabalho, foi a temática, considerada por nós, como essencial ao longo de toda a trajetória profissional.
É com imensa alegria e satisfação que apresentamos o resultado de algumas das reflexões, com o intuito de que se configure como um estímulo para a continuada construção de conhecimento em relação a um tema que nos é tão caro e fundamental ao nosso trabalho.
Dialogamos com autores que têm iluminado e inspirado as discussões pertinentes à dimensão educativa no trabalho social, entre eles, Paulo Freire, Gramsci, Maciel, através de textos que atravessam as discussões teórica-metodológica, ético-política e técnico-operativa, tanto do Serviço Social, quanto da Pedagogia.
Vivemos um tempo em que mais do que nunca se faz necessário a busca por alternativas de luta para a conquista de direitos sociais, considerando-se as alterações no mundo do trabalho e as consequentes refrações da questão social, seus rebatimentos nas relações sociais, a extrema desigualdade social e as condições de vida da maioria da população com quem dialogamos cotidianamente.
Cada um de nós, em nossos espaços de trabalho, permeados pelas contradições oriundas de uma ordem societária desigual, tem se questionado se o resultado deste trabalho tem contribuído com os oprimidos, nas palavras de Freire, ou classes subalternas, como nos diz Gramsci, enfim, com os sujeitos sociais que compõem as classes expropriadas de seus direitos básicos.
Todos nós temos buscado caminhos para a emancipação humana, caminhos que não estão dados ou construídos, mas que ainda esperam por serem descobertos, desvelados. Questionamos as várias expressões da opressão, como Paulo Freire e outros autores nos mostram, quando trazem o conteúdo referente aos modos pelos quais as ideologias dominantes e opressivas estão entranhadas nas regras, nos procedimentos e nas tradições das instituições e sistemas. Comungamos da ideia de que a conscientização é um processo através do qual as pessoas atingem uma profunda compreensão, tanto da realidade sociocultural que conforma suas vidas, quanto de sua capacidade para transformá-la.
Nesta perspectiva, a educação deve ser solidária, libertadora e emancipadora, deve levar o indivíduo ao engajamento e compromisso político, à curiosidade da leitura de mundo, partindo de uma metodologia dialógica que respeite no educando, o arquivo de informações culturais construídos individualmente em sua comunidade.
Está posta para a educação uma relação didática entre ação e reflexão, uma abordagem praxiológica, isto é, uma ação criticamente reflexiva e de uma reflexão crítica que seja baseada na prática.
O livro está estruturado em temas independentes, mas que guardam uma articulação central, podendo ser lidos de maneira autônoma e na ordem que melhor atender às necessidades do leitor, sem perder a compreensão conjunta da obra.
Os capítulos trazem temas diversos, mas inter-relacionados pela mesma ideia, que é a contribuição da dimensão educativa no trabalho social. Desta forma, discute a concepção de intelectual orgânico na visão gramsciana, aborda sobre a influência de Paulo Freire na escola formal, sobre o trabalho socioeducativo desenvolvido no Centro de Referência de Assistência Social- CRAS, sobre práticas e políticas de ações afirmativas para a população negra no Brasil, a contribuição do trabalho socioeducativo na ressignificação da violência e prevenção da mesma e também sobre o Serviço Social e a ação socioeducativa frente ao contexto sócio-histórico atual.
Pretendemos que estas reflexões possam ser compartilhadas pelos educadores que também pensam que a educação, seja aquela que ocorre em sala de aula ou em outros espaços, na sua necessária dimensão ético-política, precisa contribuir com a construção de uma sociedade mais humana.
Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. [...] Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. (Freire, Terceira Carta Pedagógica, 2000, p. 65-67)
Adriana Giaqueto
Prefácio
[...] nossa tarefa educacional é, simultaneamente, a tarefa de uma transformação, ampla e emancipadora. Nenhuma das duas pode ser posta à frente da outra. Elas são inseparáveis. A transformação social emancipadora radical requerida é inconcebível sem uma concreta e ativa contribuição da educação no sentido amplo [...] e vice-versa: a educação não pode funcionar suspensa no ar. Ela pode e deve ser articulada adequadamente e redefinida constantemente no seu inter-relacionamento dialético com as condições cambiantes e as necessidades da transformação social emancipadora e progressiva em curso. Ou ambas têm êxito e se sustentam, ou fracassam juntas. (Gramsci, 1999, p. 76).
Vivemos tempos de profundas transformações no processo de produção e reprodução social, quando o capital se reorganiza para garantir a acumulação capitalista, momento denominado como financeirização do capital. Nesta fase de evolução do capitalismo, a produção, o processo de trabalho e, de forma especial, os direitos sociais, arduamente conquistados pela classe trabalhadora, são flexibilizados.
O modo de produção capitalista tem incidências na produção da vida social, uma vez que vivemos dentro da lógica de um mercado regulador e de um Estado que se exime de seu papel de formulador de políticas garantidoras de direitos sociais e individuais, expondo a classe trabalhadora à máxima exploração e sem proteção social. São claras as orientações neoliberais e globalizadas, emanadas das agências internacionais e com profundas repercussões nas condições de vida e trabalho da classe trabalhadora.
O ideário neoliberal favorece a expansão do pensamento conservador, contrapondo-se à consolidação de princípios democráticos. Assim, temos modos de vida marcadamente individualistas, competitivos, impregnados da lógica do capital.
Neste contexto, a educação adquire centralidade para o capital diante de seu potencial de influência para a aceitação da sociabilidade capitalista imposta, que é revestida de acirrada forma desumana de exploração. Por outro lado, pode vincular-se ao processo de luta de classes, contra a exploração do trabalho, investindo na construção de uma cultura política contra-hegemônica, capaz de se caracterizar como um caminho de resistência à degradação da sociabilidade humana, imposta pelas leis do capitalismo.
As reflexões sobre a dimensão educativa no trabalho social emergem no debate dos trabalhadores sociais, ciosos por aprofundar os conhecimentos, desvelar os sentidos e significados que esta categoria teórica encerra, tendo como referência a teoria social crítica e o conceito de educação na perspectiva emancipatória.
As produções que compõem o presente livro expressam o empenho de alguns desses profissionais, de diferentes formações, trazendo valiosas contribuições sobre essa relevante temática, tão cara àqueles que, cotidianamente, trabalham com os diferentes segmentos da classe expropriada de seus direitos básicos.
Os autores compartilham, sob diferentes nuances, reflexões sobre a dimensão educativa do trabalho social, comungando com o pensamento de personagens históricos que fazem parte do debate crítico nesta seara, destacamos: Antonio Gramsci, Paulo Freire e seus seguidores.
Recuperando a perspectiva gramsciana na afirmação de Iamamoto; [...] falar em consenso diz respeito não apenas à adesão do instituído, é consenso em torno de interesses das classes fundantes, seja dominada ou dominante, contribuição na hegemonia vigente ou de uma contra-hegemonia no cenário da vida social
(Iamamoto, 1998, p. 64).
Nesta direção, a dimensão educativa do trabalho profissional, pode, sim, contribuir para a criação de uma vontade política capaz de romper com a razão instrumental, que funda a ordem capitalista. Portanto, é essencial aos trabalhadores sociais compreender a esfera da cultura para que possam fortalecer a construção de uma pedagogia própria da classe trabalhadora – de resistência e emancipação – necessária à formação política e ideológica, contribuindo, assim, na produção e difusão do conhecimento crítico sobre a realidade social, capaz de mobilizar as bases de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral
(Gramsci, 1999, p. 95).
A densidade teórica e, marcadamente, a práxis evidenciada nos diversos textos dessa obra demonstram a sintonia dos autores com as demandas inerentes ao tempo presente, dentre elas, a produção de conhecimentos dessa envergadura sobre o tema: a dimensão educativa do trabalho social.
Parabenizo a todos (as) pela iniciativa e ousadia em falar de educação na direção crítica, emancipatória, num cenário avesso, adverso que insiste em naturalizar a barbárie.
Como diria Gramsci: que o pessimismo da razão não seja maior que o otimismo das nossas vontades
. Este é o lema que fica do conteúdo apresentado neste livro, a todos os profissionais: assistentes sociais, pedagogos, professores, entre outros, que buscam cotidianamente encontrar estratégias para desvelar mitos, ideologias, preconceitos que forjam a identidade social posta pela ideologia dominante, desvelando a real face da sociedade capitalista.
Eis o desafio da dimensão educativa do trabalho social - parafraseando Gramsci - oferecer uma educação que propicie a construção de um corpo social autocrítico capaz de se autorregular e prover suas próprias necessidades em prol, não apenas de uns poucos, mas de toda a sociedade.
Franca, julho de 2014
Eliana Bolorino Canteiro Martins
Docente do Depto. de Serviço Social – UNESP/Franca Coordenadora do GEPESSE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Serviço Social na Educação
Capítulo 1: Serviço social e a ação socioeducativa frente ao contexto sócio-histórico atual
Adriana Giaqueto¹
As transformações contemporâneas que afetam o mundo do trabalho, seus processos e sujeitos provocam redefinições profundas no Estado e nas políticas sociais, desencadeando novas requisições, demandas e possibilidades ao trabalho do assistente social no âmbito das políticas sociais.
Para entender as condições em que se insere o Serviço Social brasileiro na contemporaneidade e que, portanto, delineiam as diferentes dimensões do exercício profissional, é preciso refletir acerca do contexto histórico que tenciona a conjuntura mundial, especialmente o seu rebatimento no Brasil.
O Estado se afasta da responsabilidade e dos gastos com a reprodução da classe trabalhadora sem prejuízo para o capital, estabelecendo um sistema de seguridade social pautado na combinação entre mercantilização de serviços