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Os Segredos Nas Sombras
Os Segredos Nas Sombras
Os Segredos Nas Sombras
E-book538 páginas7 horas

Os Segredos Nas Sombras

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Sobre este e-book

Algo muito errado está acontecendo mas poucos podem ver e muitos serão os afetados. Se uma aliança é formada, vidas se entrelaçam numa trama alucinada onde muitas perguntas surgem e as respostas não são previsíveis, além de gerar muitas outras perguntas. Uma agência secreta, organizada e bastante discreta, não lembra em nada os clichês de cinema, tentando situar-se em meio a fatos novos, mistérios e mortes. São tantos os envolvidos, tantos os imprevistos e surpresas (a maior parte ruins) se sucedendo freneticamente que passo a passo uma pergunta aparentemente sem sentido vai tomando forma: Existe um mundo sobrenatural à nossa volta?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de dez. de 2020
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    Os Segredos Nas Sombras - Huash

    À MINHA ESPOSA MICHELLE, MINHA PRIMEIRA LEITORA.

    À MINHA DOCE MENINA SARAH... A QUEM ESCREVI OS PRIMEIROS

    ESBOÇOS.

    NO MAIS, MEUS PAIS, TIOS, IRMÃS, SOBRINHOS E PRIMOS A QUEM

    DECEPCIONO CONTINUAMENTE NA INSISTÊNCIA EM SER UM SONHADOR.

    ____________________________________________ HUASH

    ÍNDICE___________________________________________PÁGINAS

    CAPÍTULO 1 _ TRILHAS ENLEÁVEIS ............................................ 3

    CAPÍTULO 2 _ MELHOR SERIA IGNORAR...................................... 28

    CAPÍTULO 3 _ CABEÇAS E CORAÇÕES........................................ 52

    CAPÍTULO 4 _ QUESTIONAMENTOS E SALTO ALTO....................... 75

    CAPÍTULO 5 _ RAMIFICAÇÕES................................................... 99

    CAPÍTULO 6 _ A INVASÃO........................................................ 121

    CAPÍTULO 7 _ MOMENTOS E TRATAMENTOS............................... 145

    CAPÍTULO 8_ MUNDOS INTERIORES.......................................... 169

    CAPÍTULO 9 _ ZONA NEUTRA.................................................... 195

    CAPÍTULO 10 _ DORMÊNCIA..................................................... 219

    CAPÍTULO 11 _ INCERTEZAS A BORDO...................................... 243

    CAPÍTULO 12_ CONFLUENTES AFLUENTES.................................. 269

    CAPÍTULO 13_ CRESCER DÓI, NASCER TAMBÉM.......................... 292

    CAPÍTULO 14_ ABISMO VORAZ................................................. 317

    CAPÍTULO 15 _ DE INSTANTE EM INSTANTE............................... 342

    CAPÍTULO 16 _ MUITO LONGE DO FIM....................................... 367

    2

    OS SEGREDOS NAS SOMBRAS _______________________________________________

    CAPÍTULO 1 _ TRILHAS ENLEÁVEIS

    Até aquele momento ele já tinha corrido tanto que pensou de relance que se ele estivesse correndo uma maratona, naquele ritmo, o pódio já estaria garantido. Ele até riria desse pensamento se a situação não fosse tão dramática. Entre os becos daquele subúrbio ele finalmente conseguiu despistar seus perseguidores, pelo menos aparentemente.

    Então se jogou sentado no chão, protegido pelas sombras da noite, atrás de uma caçamba de lixo e várias latas que se aglomeravam por ali.

    Sua respiração estava tão acelerada e barulhenta que ele temia ser ouvido, por isso tentava em vão se conter. Cinco minutos se passaram e ele já conseguia respirar normalmente. Parecia tudo bem, mas resolveu esperar por mais meia hora, só pra ter certeza que estava mesmo em segurança. Daí pensou que meia hora era muito tempo, tempo até para ser encontrado.

    Nesse momento ele ouviu um grito assustador e viu alguém ser arremessado, em linha reta, de encontro ao muro que finalizava o beco, o corpo fez um barulho estrondoso e ele teve a impressão de ouvir ossos se quebrando, o vulto permaneceu imóvel. Logo em seguida ouviu sons de luta. Esticando o pescoço, temerosamente, viu o cara grandalhão cercado de três indivíduos, numa luta feroz.

    O grandalhão se desviou de um soco e acertou um abdômen fazendo um agressor vomitar o ar de seus pulmões, ao mesmo tempo, se esquivava rapidamente de uma voadora que outro, que vinha por trás, tentava lhe aplicar, mas não escapou da joelhada que o terceiro elemento lhe acertava, lhe acertando o quadril, ele soltou um gemido de dor enquanto levava um chute bem violento nas costas e seu corpo era arremessado para frente.

    Sem cair, ele conseguiu se recompor e conter os socos que vieram depois, o primeiro, que se recuperava do soco no estomago, sacou um canivete e se virou rapidamente. Então ele foi surpreendido com a lâmina do canivete atingindo seu tronco, de lado, entre as costelas do seu lado direito, enquanto seu braço esquerdo envolveu o pescoço de um de seus agressores.

    Foi quando ele constatou surpreso que aquele que estava sendo estrangulado era o mesmo que há pouco havia sido arremessado contra o muro. De imediato olhou para o lugar onde ele deveria estar estirado, e não entendeu porque não estava.

    3

    ____________________________________________ HUASH

    Mal teve tempo de achar aquilo estranho, ao perceber que o homenzarrão mostrava cansaço demais para continuar lutando. E estava torcendo para ser apenas cansaço.

    Ele foi deslizando devagar, apoiado numa parede, sem soltar o outro que se debatia, ele não conseguiu divisar direito a cena que veio a seguir, por causa da escuridão, mas lhe pareceu que um dos agressores ficou de joelhos enquanto o outro, na frente dele, fincou algo parecido com uma adaga no seu peito. Um quarto agressor surgiu de repente, caminhando até ele, inclinando-se à sua frente.

    - Então é assim que as coisas vão terminar? Desse jeito?! –

    Disse ele com a voz meio engasgada, provavelmente por causa do sangue que começava a subir pela sua garganta.

    - Foi você quem pediu esse final! – E dizendo isso arrancou a adaga. O grandalhão estremeceu algumas vezes e pendeu para o lado.

    No momento seguinte, a figura que surgira saíra de cena e os outros dois agressores, com certo esforço, tentavam livrar o amigo deles que estava ainda envolto pelo braço esquerdo do outro cara. Um deles soltou um urro de raiva.

    - Ele matou dois dos nossos! Que diabos! Eu disse que ele era perigoso, a gente tinha que ter trazido mais gente!

    - Trazer quem? Chamar reforços é ruim pra nós, lembra?

    - Eu pensei que ia dar pra pegar o cara de surpresa!

    - E ainda tem isso pra piorar tudo... uma testemunha!

    - Não vai dar tempo, o cheiro está por toda parte!

    - Ainda assim, não é melhor verificar?

    - Acho que ele não viu nada. Ajuda aqui! Já perdemos tempo demais!

    Um carro veio de ré, trazido por um terceiro elemento. Os dois corpos foram colocados lá dentro. Eles fecharam o porta-malas. Um deles se encostou no carro e acendeu um cigarro enquanto o outro deu uma olhada em volta.

    - A gente não devia limpar a cena toda?

    - Já limpamos o que deu pra limpar.

    4

    OS SEGREDOS NAS SOMBRAS _______________________________________________

    - Podemos ter deixando alguma coisa...

    - Você não está ouvindo a sirene da polícia?

    - Não...

    - Nem eu, mas vamos ouvir logo, fizemos muito barulho.

    - Eu acho que não. Mas é você quem sabe.

    - Melhor não cometermos nenhum erro mais.

    Ao dizer isso, ele jogou uma bituca de cigarro no chão, deu uma última olhada em volta e entrou por último no carro, e saíram rapidamente.

    O garoto permaneceu escondido. Demorou mais uns quinze minutos para sair, quis ter certeza que não ia ter mais problemas, o dia já estava amanhecendo e ele precisava voltar rápido para casa. Ao sair do beco, tapou os olhos com uma das mãos, só então reparou no quanto ele estava sujo. Mas vivo. Foi quando sentiu uma mão pesada no seu ombro e se virou de uma vez, assustado e logo em seguida foi atingido por um soco forte no seu rosto, estabacando no chão.

    - Desgraçado! Você achou mesmo que ia passar batido?

    * * *

    Os cavaleiros vinham ao longe, ele arregalou os olhos, sabia que havia muitos assaltantes por aquelas estradas, mas não esperava ser atacado por eles ou mesmo ser visto, já que viajavam a maior parte do tempo durante a noite, quando o tempo era mais fresco, ou melhor, gelado. Eles tinham acabado de desmontar acampamento para seguir viagem, caminharam muito pouco. Aqueles sujeitos, fossem quem fossem, deviam ser bem preguiçosos já que esperaram o dia esmaecer para ataca-los.

    Junto com ele, seguiam apenas quatro homens, dois ao seu lado dentro da carruagem, mais dois condutores que se revezavam e cuidavam dos animais durante as paradas, também devidamente paramentados, treinados e preparados caso precisassem entrar em algum confronto.

    Mas lutar num terreno desértico como aquele era algo que não tinham muito hábito, nenhum deles. Cada um daqueles tinha uma besta. Ele mesmo, o chefe deles, não estava acostumado, sempre usara 5

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    arcos e flechas e agora atirar com aquela engenhoca era algo que ainda o deixava desconfortável, embora fosse bem mais prático, mas se adaptar a algumas novidades sempre era mais difícil para pessoas como ele.

    Era um gigante... mais de dois metros de altura, muito corpulento e com a pele quase azul, de tão negra. Era muito inteligente, mas há anos não entrava numa luta corporal que fosse, sabia que estava mole e que aquele seria um confronto de onde poderia não sair vivo, mas estava mais preocupado com os demais viajantes. Embora com eles a situação fosse muito diferente.

    Seu companheiro sentado à sua direita, armou-se de suas facas, não sem antes rapidamente mergulhar seus gumes em seu cantil oval, cheio de um veneno preparado artesanalmente por ele. Ele queria sempre ter certeza que aquele que fosse ferido por ele não sobrevivesse.

    Osher estava com ele a tantos anos que mal se lembrava de quando o conhecera.

    - Finalmente um pouco de Ação! Isso vai ser muito divertido!

    - Seu faro sanguinário me preocupa, Osher. Uma pessoa normal estaria com o coração pulsando de temor, não de alegria.

    - O que mais eu poderia dizer, senhor... esse é o meu dom!

    Aquele era um homem de armas, mas não um troglodita irracional, era muito ardiloso e essa característica o destacava em muito de todos os brutos que conhecia, mas seu amor à violência era um tanto quanto psicótico para ele, entretanto, em circunstâncias como aquela, era bastante útil.

    - Queria que Flammas me visse agora! – Gritou ele rindo muito.

    Mojoo, o chefe de caravana, segurou forte a bainha, onde carregava sua espada. Ele sabia de quem seu amigo estava falando: um lendário guerreiro que vivera a mil e duzentos anos ou mais, um soldado sírio capturado em guerra que começara sua carreira lutando naqueles espetáculos mórbidos na Roma antiga em confrontos violentos com outros gladiadores, animais selvagens e criminosos condenados.

    Diz-se que ele fez trinta e quatro lutas oficiais. Venceu vinte e uma lutas, empatou nove e perdeu apenas quatro, tendo sua vida poupada graças à fama que adquirira, mas o que mais o impressionava 6

    OS SEGREDOS NAS SOMBRAS _______________________________________________

    em sua biografia foi o fato de que, em quatro ocasiões diferentes, ele ganhou o rudis, ou seja, o benefício de sair do estádio com todos os direitos de um homem livre. Mas ele sempre a recusou e permaneceu como gladiador até morrer aos trinta anos. Mas Mojoo não sabia se este morrera lutando.

    - Espero que esses homens gostem mesmo de brigar! –

    Declarou o companheiro à sua frente, tirando seu casaco.

    - Talvez eles não queiram é te enfrentar do jeito que você gosta, Leen!

    - Tudo bem, eu sei me adaptar!

    Aquele era irmão gêmeo de Osher, mas ambos não eram tão parecidos no físico e eram mais diferentes ainda na personalidade e estilo de combate. Leen era mais baixo, mais musculoso e preferia as lutas corpo a corpo, de preferência matando seus oponentes com as próprias mãos, diferentemente do que aprendera sobre seu ídolo olímpico, Melankomas, o famoso e galante boxeador de Caria, uma região da atual Turquia. Ele vencera mais de duzentas e sessenta lutas, mais de setecentos e oitenta anos antes.

    Seu estilo de boxe envolvia se defender dos golpes do outro boxeador, e nunca tentar golpear o outro homem. Invariavelmente, o adversário ficava frustrado e perdia a compostura. Este estilo único ganhou muita admiração por sua força e resistência. Ele podia, aparentemente, pelejar o dia inteiro desse modo, se recusando a atacar os seus adversários, mesmo sabendo que ao fazer isso ele iria acabar rapidamente com o jogo e garantir uma vitória fácil.

    Aqueles dois irmãos sempre se protegiam, morreriam um pelo outro se necessário e, por isso, várias vezes salvaram a vida um do outro também, porém, maior que o apreço mútuo entre eles, estava a dedicação que ambos tinham pelo seu senhor, por ele sempre se arriscaram até demasiadamente, colocando suas vidas em segundo plano, recebendo por maior recompensa para eles, tornarem-se os melhores amigos de seu patrão.

    A postos, pararam o veículo entre dois morros de pedra, desceram e esperaram que o inimigo se aproximasse o suficiente, aguardando o momento crucial.

    O chefe deles sacou sua arma, que ele mesmo criara. Era algo parecido com um gládio, uma espécie de espada curta que, ao invés 7

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    de apenas perfurar, tinha gumes afiadíssimos para cortar seus oponentes, inclusive decapitando seus membros se neles tocassem com a força devida. Era muito pesado, mas não era problema para ele.

    - Posso apelar? – Perguntou Leen.

    - Que pergunta parva é essa? – Censurou seu irmão. – Se não tens galhardia o suficiente, procura abrigo e deixa que cuido deles sozinho"

    - Acalma-te irmãozinho, só queria te irritar!

    - Conseguiste!

    - Homens! Inimigo a caminho, armem-se! – Gritou Mojoo e todos sacaram suas espadas, curiosamente, fincando-as no chão ao mesmo tempo enquanto apontavam as flechas para o alto no instante em que a nuvem de homens ferozes se aproximava rapidamente. E

    dispararam as bestas. Uma. Duas. Três vezes. E correram para eles enquanto as flechas caiam.

    Os homens foram surpreendidos, aquela era uma prática desconhecida para eles, e nenhum tiro foi desperdiçado. Vários deles caíram de seus cavalos enquanto os outros permaneceram na corrida e logo os homens se confrontaram, muitos cavaleiros caíram de seus cavalos derrubados pelo chefe e seus dois principais combatentes.

    Os outros dois permaneciam junto ao transporte, ordenados a não entrar na luta a não ser que a mesma chegasse até eles, mesmo sendo eles também bravos guerreiros.

    O combate foi ferrenho e muitos inimigos caíram por terra, Osher foi ferido em um de seus ombros e então eles começaram a recuar rumo a uma parede rochosa.

    - São muitos, senhor! – Gritou Leen.

    - Eu sei, eu sei... devem ter mais uns seis deles.

    - Mas derrubamos pelo menos oito deles, senhor... o que faremos?

    - Acho que não nos resta escolha a não ser...

    - Desculpe, senhor... – interveio Leen - não vais dizer o que penso, vai?

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    - Meu irmão está certo, ainda podemos lutar, eles também estão assustados.

    - Para que essa multidão toda para atacar uns poucos viajantes pela estrada?

    - Pouco importa! Não aceito ser subjugado por esses malditos dessa forma! Aqui vou eu! – Declarou Osher com a mão direita sobre o ferimento no ombro esquerdo. Tinha perdido sua espada e disparado todas as suas facas.

    - Esperem!

    Foi quando outro grupo surgiu, por trás do grupo de atacantes e o combate se tornou traiçoeiro para os assaltantes do deserto. Muitos caíram atravessados e outros tiveram que fugir desesperadamente. No fim, restaram apenas dois transgressores vivos.

    O líder do bando aliado se destacou dos demais, suas vestes estavam sujas de sangue. Ele desceu do cavalo guardando sua espada.

    - Vocês estão seguros agora. – O noticiou estendendo a mão.

    - Fico feliz com isso. – Respondeu o líder dos viajantes, apertando sua mão, aproveitando para se levantar. - Meus homens precisam de ajuda.

    - Kamiel! – Gritou o outro virando-se para trás, logo um jovem com uma barba enorme apareceu.

    - Prepare o transporte, temos que levar esses homens para o acampamento imediatamente!

    - O que ele está falando? – Perguntou Leen para seu patrão.

    Somente ele entendia o idioma que o estranho falava.

    - Eles estão aqui para ajudar, Leen. Vamos segui-lo.

    Leen entendeu e abraçou seu irmão pela cintura para ajudá-lo a caminhar. Em pouco tempo estavam a caminho de algum lugar seguro. Ambos iam na carruagem. Os prisioneiros foram acomodados sobre uma carroça. Mojoo seguia lado a lado com o chefe do bando aliado, a cavalo.

    - Respondi ao seu chamado assim que pude. Mas vejo que fui imprudente em não comunicar minha chegada. Meus homens não mereciam uma surpresa como essa.

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    - Ao que vejo, não são homens comuns.

    - Não mesmo, muito embora eu lamente essa sanha pela guerra que ambos possuem.

    - Ainda não sei se lamento ou elogio tal gana, ghurayb. Sei que lutaram bravamente, e vide a quantidade de mortos que vocês deixaram, essa sanha foi muito útil.

    - Ghurayb significa... forasteiro, certo?

    - Isso mesmo. O senhor fala muito bem meu dialeto, aliás.

    Ele deu de ombros, não estava interessado em elogios naquele momento.

    - Demoraste muito para me responder, tuareg...

    - Eu entendo sua pressa, mas de qualquer modo você teria que esperar muito por uma resposta.

    - Mas não deixa de ser uma perda de tempo e uma dissipação de vidas.

    - Esse bando que te atacou hoje nunca ataca em tão grande número.

    - Isso não faz sentido... então porque utilizaram tão numeroso pessoal?

    - Nada especificamente planejado, posso assegurar. Há criminosos que atacam pela necessidade aliada à preguiça e toda a ambição que carregam. Mas estes também são motivados pelo prazer, são mais monstros que os monstros que eles acham que somos.

    - E o que somos?

    - Queres entrar no ramo filosófico dessa discussão?

    - Esqueça... esqueça... acho que ando em meios muito eruditos, as vezes perco a noção do ambiente onde me encontro.

    - Povos do deserto não são assim ignorantes, muito pelo contrário.

    - Não quis ofender, senhor. Falo desses beócios que nos acometeram.

    10

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    - Esses homens não veem pessoas e sim mercadorias. O

    restante é apenas sujeira para eles. Mas eles não devem encontrar prováveis vítimas há muitos meses.

    - Então o que fomos? Pessoas erradas na hora errada?

    - Com a necessidade certa para eles.

    - Então devem ter mais deles, não é? – Ele concordou apenas sem sequer olhar para ele, apreensivo.

    - Sua carruagem é totalmente estranha a tudo o que conhecemos. Nunca vimos algo assim por aqui.

    - Eu gosto de adaptar minhas coisas, nem sempre dão certo, mas dessa vez funcionou.

    - Como se chama isso?

    - Não dei nome ainda. Eu fiz uma adaptação sobre um bauroche, mas com duas rodas bem largas para não afundar na lama ou encalhar nessa areia.

    - Bem prático. E alto também...

    - Eu deixei um compartimento acima das rodas onde guardamos comida, água, roupas e outros itens necessários.

    - Que engenhoso. Você mesmo projetou tudo?

    - Certamente. E meus cavalos são bastante fortes para puxar esse veículo com velocidade. Assim as viagens ficam mais ágeis e menos desconfortáveis.

    - Vocês estão viajando por muitas milhas. Sei que somos vizinhos, mas você está acostumado com essa região?

    - Já passei por aqui há muitos, muitos anos, tempo demais para te explicar. Espero que valha a pena todo esse transtorno que eu tive.

    O seu interlocutor não respondeu de imediato, ficou olhando para frente, respirou fundo. O forasteiro tinha ideia de que ele não tinha culpa, ele praticamente implorou que ele viesse, mas dispôs todos os recursos necessários para que a viagem fosse segura, entretanto ele aparecera sem avisar, antes do esperado. Isso já o eximia da responsabilidade, não era justo culpa-lo.

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    - Eu não sei bem de onde vens... onde nasceste?

    - Sabe... eu vivi uma parte da minha vida no império de Uagadu, mas a partir de algum momento eu não me encaixava mais.

    Mas ainda assim era muito longe desse deserto. Eu não gosto disso, não nego. Mas se essa visita fosse mais pacífica, sei que iria gostar.

    - Somos beduínos, todos nós. Mas alguns de nós trabalham.

    E outros preferem pilhar. Sempre foi assim e já não tenho esperança que o tempo modifique a ambição humana.

    - Vocês fazem ideia do quão misteriosos são, tuareg?

    - Somos cientes de que amamos nossos deuses, que as pessoas são o que mantém esse ambiente vivo e do quão poderoso é esse lugar.

    - Sei o quanto vocês confiam em suas crenças. Também tenho as minhas, mas não sou tão ligado a elas.

    - É ao redor de nossas crenças que nosso modo de vida foi construído.

    - Incrível vocês terem crenças tão fortes, principalmente em um lugar aparentemente tão inóspito.

    - Tudo aqui inspira morte, mas é a vida que brota daqui.

    - Vi isso hoje mais cedo. – Ironizou.

    - A morte é plantada pela maldade de alguns que, filhos dessa terra, são ingratos demais para perceber o mal que fazem a si mesmos ao atacar seu próximo.

    - Nisso devo concordar.

    - Nesses detalhes habita a verdade.

    - Tudo isso é muito bonito de se ouvir. Mas afinal, por que damos tantas voltas ao redor do motivo que realmente importa para eu estar aqui?

    - Dou-te minha palavra que estou procurando um modo de justificar...

    Mojoo resolveu não forçar ainda. Conhecia bem a história dos tuaregs, um povo seminômade constituído por pastores, agricultores e comerciantes que controlavam aquela rota das caravanas no Saara, 12

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    podiam ser encontrados em praticamente toda parte do deserto, ainda que em um número pequeno de pessoas. Mas ele acreditava que nos séculos seguintes o número deles provavelmente cresceria bastante.

    - Podemos esperar chegar ao acampamento. Mas amanhã mesmo preciso partir.

    - Uma viagem tão longa merece um bom repouso.

    - Estou ciente. Mas tenho muitos assuntos a tratar, acredite.

    - Muitos negócios inacabados?

    - Muitos negócios inacabados.

    - Impossível não se encantar, podes querer ficar aqui um pouco mais.

    - Entendo quão precioso esse deserto te seja mas sei que não me acionou para ficar falando das belezas que vejo. Vim de muito longe e para muito longe preciso voltar.

    O viajante ficou observando aquele homem já de meia idade, a pele queimada pelo sol mesmo sob as vestes compridas que usava.

    Sabia que ele não era nativo dali, mas ali chegara há muitos anos, fora adotado pelos nativos e de lá fizera-se parte.

    - Eu sempre preciso sair, mas sempre volto e fico um tempo por aqui o máximo de tempo possível. – Disse o homem do deserto. –

    Os tempos são brutais agora e temo pelo futuro que aguarda por nós.

    - Nós?

    - Sim... não tenho filhos, mas tenho uma parentela e preciso muito que ela receba o suporte que precisa.

    - Família... você quer que eu a proteja...

    - Sim. Ela não faz ideia do que a rodeia.

    - Tem certeza que deseja falar tudo agora?

    - Sei que depois que partir, não o verei novamente e há muito o que dizer.

    - Prossiga.

    13

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    - Eu sei que não vou viver muito mais. E muitos deles também não, depois que eu me for. Eles são muito dispersos e por mais que eu tente alertá-los, eles não se importam.

    - Então por que não deixa que eles cuidem de si mesmos?

    - Eles estão muito apáticos para perceber a própria aniquilação.

    - Escolheste um termo muito grave.

    - É grave. E eu não suporto mais fugir.

    - Fugir de quem?

    - São muitos detalhes. Mas preciso de sua palavra de que vai me apoiar e...

    - Eu ainda não entendo! Por que eu? Há outros para quem você pode pedir ajuda.

    - Eles não são você. Nós somos, de certa forma, irmãos de sina.

    - Será que somos, tuaregue?

    - Você não é como eu, ghurayb..., mas possui muitas peculiaridades similares às nossas.

    - E se eu aceitar proteger sua família? Que contrapartida eu terei?

    Ele olhou para o céu e apontou para a única nuvem no horizonte.

    - Como as águas que mansamente se escondem naquela sombra branca... assim nossa história se esconde num horizonte de segredos. E eu te revelarei tudo o que sei.

    O forasteiro ficou tentando assimilar aquelas palavras, sabia que os homens do deserto gostavam de conversar por enigmas, provavelmente não conseguiriam se comunicar de outro modo. Mas o que ele parecia prometer era muito sério...

    - Estás disposto a permitir que essa nuvem de segredo se converta numa tempestade de revelações?

    - Considere-te um escolhido, ghurayb...

    14

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    - Tens minha total atenção agora.

    - Eu ouvi histórias sobre vós, quando eras um sibi correndo pelas savanas, comendo raízes, apascentando cabras.

    Mojoo se sentiu meio confuso por aquela palavra, até se lembrar que sibi significava menino em sua língua, e ficou surpreso por perceber que aquele estranho sabia demais sobre ele, a julgar que conhecia um pouco de sua tão distante infância.

    - E contaram-me – prosseguiu o outro - de todo o mal que te fizeram, todo esse mal que te segue, mas daqui a alguns anos tu entenderás que nada do que passaste foi em vão.

    - Eu estou chocado... sou um desconhecido para o mundo conhecido, como sabes...

    - Alguém como eu tem que saber o suficiente.

    - E tu sabes o que dizes? E se o que te contaram sobre mim for apenas um vislumbre do que eu realmente sou?

    - Então de nada adiantou cercar-me de tantos olhos e ouvidos...

    - Se realmente tens tanta ciência sobre mim, quando aparentas, provavelmente tais olhos e ouvidos funcionam muito bem.

    - Não sei no que tu acreditas... mas os olhos do coração podem ver muito mais longe que os olhos da carne.

    - Não por acaso um sábio antigo disse que o coração do homem é enganoso, perverso e insondável.

    - Mas eu prefiro ver com esses olhos ainda. Até aqui eles não tem me ludibriado.

    - Teu coração diz que seus informantes te esclarecem bem...

    vejamos.

    - Cuidarás dos meus?

    - Se eu aceitar... de quem devo protegê-los?

    - Isso não importa, pois nem eu sei... mas tenho suspeitas de quem seja essa horda de viciados em destruir vidas.

    - Creio que preciso saber tudo isso.

    15

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    - E saberás, creia... tal conhecimento vale muito mais do que o favor que eu te peço. Peço não, imploro.

    - Estou ciente disso. E muito interessado nisso também.

    Ambos ficaram se encarando por um instante até se darem as mãos. Nesse momento a história de suas vidas começou a mudar o mundo que ambos conheciam.

    * * *

    Tropeçara durante a corrida, mas não chegara a cair, não entendeu por que aquela lembrança vinha à sua mente justo naquela hora, seu fôlego estava hesitante, chegou tarde, a casa estava começando a incendiar, talvez todas as pessoas dentro dela já estivessem mortas, normalmente o fogo é o fim, não o meio. Encontrou um rapaz caído próximo à casa, estava bem machucado.

    Mal acreditou quando constatou que ele ainda estava vivo.

    Sacudiu-o um pouco e ele abriu os olhos com dificuldade.

    Num relance se lembrara... fatos pelos quais passara há alguns anos.

    Ele estava desnorteado naquele lugar. Nunca sentira tanto fedor, nunca tantos barulhos para feriram-lhe a audição, jamais vira tanto movimento. Nunca gostou de cidades, sempre que precisava ir a alguma, era rápido e resolvia o que tinha que resolver e logo voltava para o seu lar.

    Mas tudo estava muito diferente de tudo o que vira antes. Em poucos passos sempre fugira de tais aglomerações, mas agora andava sem parar mas não encontrava saída alguma, mesmo em linha reta era como se andasse em círculos. O sol castigava dolorosamente seus olhos e tudo o que ele queria era encontrar um lugar menos tumultuado onde pudesse se deixar ficar, fugir de toda aquela cacofonia, livrar-se daquela balbúrdia.

    O que eu fiz para merecer iss...

    Uma repentina pancada interrompeu suas reflexões. Caído, levou a mão ao pescoço dolorido e. levantando os olhos, viu dois homens desconhecidos usando roupas estranhas, diferentes do vestuário corriqueiro que toda aquela gente utilizava, eles trajavam chapéus estranhos e calçados que chegavam à altura da canela. Um deles apenas 16

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    batia o porrete numa das mãos e o olhava com um sorriso superior e o outro ficava o cutucando com agressividade, fazendo caretas ameaçadoras, gritando coisas incompreensíveis, sem parar.

    Será que ele está dizendo para eu sair daqui?. Talvez fosse, então ele se pôs de pé com alguma dificuldade e saiu meio cambaleante.

    Suas pernas mal suportavam carregar seu maltratado corpo. Como não via escolha, continuou a caminhar sem rumo, protegendo seus olhos sensíveis demais, com as mãos.

    Ele nunca se sentira tão perdido e não entendia como e por que estava ali. Quem o tinha feito aquela crueldade? Teria sido Saranda?

    Não... não queria acreditar que tivesse sido ela.

    Ela parecia devotar a ele uma amizade muito sincera, como sua mãe, sempre o protegendo e lhe dedicando palavras amáveis como um afago... ele já tinha deixado bem claro que não iria mais dormir, que queria permanecer lá, enquanto vivesse, e agora estava numa selva de construções diversas e pessoas egoístas e que pouco se importavam com aquele pobre maltrapilho.

    Tentava pensar num motivo que justificasse toda aquela confusão, mas não encontrava, aliás, concatenar as ideias era impossível naquele momento com toda aquela torrente de pensamentos que deixavam sua cabeça doendo, até mesmo latejando, tamanha a intensidade dos conflitos que estavam em sua mente.

    Ele pensava seriamente em chorar, mas tinha que ser forte.

    Um homem não deve chorar sem um motivo que realmente importa, já lhe dissera seu finado tio diversas vezes. Mas aquela situação lhe parecia ideal.

    Não sabia se estava longe ou perto de onde fora sua casa, talvez ela nem existisse mais, mas com certeza aquele local era muito hostil e ele não tinha a menor noção de onde estava e ninguém, provavelmente, estaria esperando por ele daquela vez. E para piorar, não entendia o que as pessoas falavam. Aquela língua lhe era totalmente estranha.

    Alguns ali o ignoravam, outros chegavam a empurrá-lo e alguns apenas o olhavam indiferentes, ele logo desistia de tentar conversar com algum transeunte, a ideia de ter que aprender mais um idioma o faziam estremecer. Odiava ter que passar por todo aquele 17

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    aprendizado e aparentemente não teria ninguém para ensiná-lo por bem. Mas ele também não queria extrair o aprendizado à força.

    Tropeçou e caiu numa poça de lama, alguém passara de cavalo perto dele e propositalmente o derrubara. Ele rastejou para a sombra, sentou-se apoiando suas costas na parede. Respirou um pouco, tentando colocar seus pensamentos no lugar, se perguntando se aquilo era um pesadelo. Olhou para as suas mãos. Ressecadas, pálidas, sujas

    , não queria nem mesmo ver o seu rosto que deveria estar num estado ainda mais deplorável.

    Sentia fome, muita fome. Há muito não ficava tanto tempo sem comer, talvez não comesse nada há... alguém gritou com ele e ele saltou de lado e surpreendeu-se em conseguir faze-lo, tal era seu grau de fraqueza.

    Uma carruagem passou por ele, o cocheiro pelo menos teve a decência de avisa-lo, talvez aquele fosse o tratamento mais gentil que ele recebera até então. Eu deveria deixar que ele me atropelasse, quem sabe assim pelo menos eu morro... pensou com amargura. Viu uma grande praça, com alguns bancos e árvores.

    Finalmente um pouco de natureza, não eram muitas, mas convidativas o suficiente para se deitar em sua sombra e se acalmar um pouco seus nervos em frangalhos. Caminhou para elas, mas seu gesto foi logo interrompido por aqueles mesmos dois homens que o maltrataram mais cedo.

    A cena era bem parecida: um deles batendo o porrete numa das mãos e o outro o cutucando com força, quase o empurrando e ele se desequilibrou mas dessa vez não caiu, simplesmente os olhou assustado e, percebendo que mais nada faziam, retirou-se e contornou a praça, entrou numa das ruas do outro lado.

    A mais larga delas. Seus olhos ardiam violentamente.

    Precisava descansá-los antes que os estragos se tornassem permanentes. Viu então várias pessoas sentadas nas calçadas. Mãos estendidas, a maior parte das pessoas que por ali passavam sequer as notavam.

    Eram mulheres com seus filhos ao redor, velhos, pessoas doentes, aleijadas, homens cabeludos, sujos, mal encarados, dentes estragados e muito magros. Ele ficou pensando se não deveria se sentar ali também para quem sabe ganhar algumas moedas. Não dava para 18

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    não pensar na ironia daquilo. Outrora ele era um homem abastado, senhor de diversas propriedades e muitos empregados, e agora ali estava, despejado da vida abundante que outrora levava.

    Foi caminhando lentamente, estava faminto e sabia que precisaria de muito mais que apenas algumas moedas para saciar aquela fome. Mas mais do que simplesmente comer, precisava de um lugar para poder se achegar. Achou um beco muito sujo, fétido e escuro.

    Mas seu estado não era nada bom mesmo, estava um trapo, engoliu seu nojo e se jogou ali no chão. Chegou a cochilar, mas não por muito tempo, logo começou a chover e não valeria a pena ficar ali quando começasse a formar enxurrada. Pelo menos não havia tanta claridade. Olhou novamente suas mãos trêmulas. Tremulas de fome.

    "Preciso me alimentar... estou tão faminto que eu comeria uma vaca inteira. Não... vaca não... talvez um cordeiro... não, ainda é grande. Talvez um coelho. Não, nem tanto, um coelho é muito pequeno.

    Quem sabe então um..."

    Sentiu uma batida forte às suas costas e o impacto o derrubou, chegou a ver estrelas. Eram aqueles desgraçados de novo.

    Será possível que nem debaixo de chuva esses infelizes sossegam?, pensou indignado. Ele era só um infausto caminhando um lugar para chegar.

    Estava já estranha aquela implicância toda. O guarda que ficava sempre calado dessa vez não manuseava o porrete. Só o deixava pendurado olhando para ele enquanto o outro indivíduo o cutucava com a ponta da madeira. E ele parecia muito disposto a ser, no mínimo, desagradável.

    Ele ia recuando, estava fraco, assustado e não se lembrava de ter feito qualquer coisa para ser importunado daquela forma.

    - Pare, pare, me deixe em paz! – Desabafou por fim.

    - 워드 и повеќе 其他 كككك 形成 ككككك ө г үү лбэр!

    - Diabos! Aonde eu vim parar afinal?!

    -句子 φράση!

    - Eu não quero encrenca, vam...

    Num instante ele parou de cutucar e lhe deu uma pancada entre seu pescoço e ombro direito. O outro veio de repente e acertou 19

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    seu joelho esquerdo, de lado. E uma agressão mais forte o jogou ao chão de vez. Tentou levar uma das mãos ao seu joelho mas outra pancada atingiu sua mão.

    Eles querem me matar, não sei por que... não fiz mal algum a nenhum deles. E eu estou famélico demais... eu não posso...

    Aqueles dois passaram a agredi-lo com mais ódio e força e ele sabia que morreria ali. Então, de súbito, resolveu que aqueles dois mereciam ser tratados sem cortesia alguma.

    Cerca de cinco minutos depois, quando a chuva engrossara o bastante para os sons da rua mal serem percebidos, ele saiu daquele beco. Havia sangue em suas roupas, ele caminhava lentamente.

    Não queria ter machucado os dois, mas eles não lhe deram escolha. Respirou fundo. Não queria ter pegado suas moedas também, mas precisava comer algo decente. Queria aproveitar e comprar roupas melhores. Aquele trapo que ele estava usando não era nada adequado àquele lugar, fosse ele qual fosse.

    Sem entender bem a correlação com o momento que vivenciava naquele instante, sacudiu o rapaz, provavelmente alguém designado para fazer a vigilância daquela casa.

    - Você me ouve? Me ouve?

    Ele gemeu, mas já era o suficiente. Não parecia tão mal assim.

    - Você pode chamar ajuda?

    - Sim... sim... eu posso. – Respondeu estendendo a mão para que ele o ajudasse a se levantar.

    - Então saia daqui, rápido! E volte assim que... qual é a palavra...? Assim que puder!

    Correu e, sem pensar muito, arrombou a porta da frente, não conseguia ver nada direito por causa da fumaça mas divisou vagamente as escadas e correu para elas, começando a tossir.

    Acessou o corredor que dava acesso aos quartos e... deu de cara com um dos sujeitos. O homem era alto, tinha a cabeça raspada e era muito forte. Ele estava saindo do último quarto do corredor quando seus olhos se cruzaram. Ele estacou e olhou ferozmente para ele.

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    Sabendo que não ia ter tempo, foi para cima dele e ambos se engalfinharam com força, sendo empurrado contra a parede do fundo, o criminoso armou um soco muito potente e... errou, levou uma joelhada na barriga e ele foi jogado contra o chão, o bandido ainda tentou um chute mas seu pé foi agarrado em pleno ar, seu oponente aplicou uma rasteira e deslocou o joelho dele.

    Ele ficou ali se contorcendo no chão até que seu pescoço fosse quebrado.

    Colocou-se de pé e arrombou as portas de todos os quartos, em um deles divisou a pior cena que poderia ver naquela noite... levou as duas mãos à testa... duas pessoas estavam mortas sobre a cama que começa a sucumbir ao fogo.

    - A menina... – sussurrou para si. Ela talvez estivesse viva ainda. Foi para o último quarto, o que ainda não tinha arrombado e não encontrou ninguém, porém... A janela estava aberta e ele foi até lá, viu ao longe a menina correndo para a mata, gritando por socorro e três homens a perseguindo.

    Ela está viva... que bom, talvez eu consiga salvá-la..., pensou pulando a janela, tocando o chão e rolando de lado. Saltou a cerca e debandou numa correria desesperada. Os atacantes perceberam sua chegada. Dois deles pararam e sinalizaram para o terceiro ir em direção à mocinha. Ambos vieram em seu rumo e ele arremeteu contra eles.

    O primeiro tentou soca-lo, ele se desviou e acertou seu fígado, ele se dobrou e com um giro seu pé direito atingiu o queixo do outro. O primeiro tentou se recompor sacando uma adaga, chegou a atingi-lo de raspão, mas ele não se deteve, acertando seu queixo cheio e o segundo tentou ser traiçoeiro, mas sua mão foi segura de imediato, ele ficou olhando para ele rangendo os dentes.

    - Não sei quem você é... mas você vai...

    Ele foi interrompido por um soco no meio do seu peito e vergou sem palavras.

    - Fico com o coração na mão em fazer isso... – disse ele para o fanfarrão e deixou que ele caísse agonizante no chão, correndo para a mata. Estava muito preocupado se chegaria a tempo, cada segundo perdido era

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