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Bad Guy
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E-book389 páginas5 horas

Bad Guy

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Sobre este e-book

Seok-Min é conhecido como a personificação da pureza. Estudante de Medicina, gosta da ideia de salvar vidas. Usa um anel de castidade que carrega junto a si uma promessa que havia feito dentro da igreja. Passa seus fins de semana fazendo trabalhos voluntários, na igreja ou com sua família. Jung-Woo cursa Arquitetura, mas só aparece nas aulas para causar algum tipo de caos. O garoto tatuado e repleto de piercings é conhecido como problema, tem certa facilidade em criar situações inoportunas. Não usa nada ilícito ou comete crimes, claro que não, mas está longe de ser alguém bom. Ele se considera o cara mau. — Só lhe trarei decepções, Seok-Min, mas ainda assim farei você conhecer o paraíso.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mai. de 2021
Bad Guy

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    Bad Guy - Ohmycherry

    Bad Guy

    OHMYCHERRY

    01. PARAÍSO

    Jung-Woo

    O vento consegue parecer ainda mais gostoso ao longo de mais uma manhã infernal de aulas. O clima gostoso em nada combina com a minha frustração por frequentar essa universidade, principalmente se tratando de cursar algo pelo qual não sinto afeição alguma.

    Mais gostoso que o clima, somente um certo aluno. Um bom garoto, que certamente nunca conseguiria chegar perto de mim se eu não fosse o primeiro a investir, pois...

    Garotos bons não se metem com garotos maus.

    Garotos bons não olham para mim da forma que a maioria faz.

    Garotos bons são como Choi Seok-Min.

    Esse, que nem mesmo me dirige o olhar, foge quando eu me aproximo e ignora qualquer coisa que eu fale perto de si.

    Ele pouco se importa para minha existência, totalmente diferente de todos os outros da nossa universidade. É como se eu fosse um ímã que atrai todo e qualquer olhar, seja de

    homens ou mulheres, por onde quer que eu passe, mas Seok-Min é totalmente imune a todas as minhas investidas.

    No primeiro instante em que o vi pelos corredores, esbanjando sua pureza e simpatia, algo certamente mexeu dentro de mim. Desejo, é isso que me desperta Choi Seok-Min. Olho para ele como se em sua beleza pudesse encontrar uma maneira de mostrar minhas intenções, ainda que seja óbvio o quão confuso ele ficaria. Seok-Min não é capaz de compreender.

    Seok-Min é extremamente puro, nota-se isso não somente na forma que anda e fala ou se veste, mas também no seu olhar e no sorriso cativante que sempre exibe a todo mundo; todo mundo, menos a mim.

    Ele

    praticamente

    desfila

    pelos

    corredores

    da

    universidade, usando sempre roupas brancas, trajando também um jaleco de mesma cor na hora do seu estágio. Sim, eu o observo muitas vezes, por isso sei quais roupas ele costuma utilizar. São tão claras que chegam a cansar meus olhos.

    Já eu, vivo todo de preto, desenhando em meu caderno coisas, pessoas e lugares, causando problemas e atrapalhando as aulas dos professores. Não gosto de Arquitetura, mas é isso que meu pai escolheu para mim; eu não tive o poder de escolha.

    Na verdade, foram poucas as vezes que tive voz dentro da minha própria casa. Muitos dizem que isso acabou moldando minha personalidade, por isso sou o garotinho rebelde, mas na minha opinião nada tem a ver. Esse é o eu que não posso ser dentro de casa. É o eu de verdade.

    — Lá vem o garoto problema — Yoo-Han, um colega meu, comenta conforme me aproximo e me sento na última cadeira da sala. — O que vai aprontar hoje?

    Todos sempre me veem dessa forma, como se eu somente soubesse ter atitudes erradas. Não posso fingir que não é

    verdade, mas acontece que ninguém dentro desse lugar me conhece mesmo. E não posso julgá-los, afinal nem mesmo meus pais têm total conhecimento sobre mim. Nunca tiveram, tampouco se importaram em ter.

    — Nunca apronto — sorrio maliciosamente, colocando um pirulito de cereja entre os lábios e me acomodando melhor em meu lugar. — Talvez provoque um anjo, nada com que se preocupar.

    Todos dizem que Seok-Min é um anjo e eu concordo, se anjos fossem reais certamente pareceriam com ele. A beleza de Choi Seok-Min é inegável, trajando aquelas roupas brancas ele se torna ainda mais um anjinho pronto para ser corrompido pelo demônio que certamente eu sou.

    Não é como se algum dia na minha vida já tivesse me metido em uma encrenca tão absurda quanto parece, mas perto de Seok-Min eu sou mesmo diabólico. Algumas vezes me pergunto como alguém consegue ser tão bom com todo mundo.

    As aulas se arrastam, não gosto delas e nem posso fugir.

    É com a esfarrapada desculpa de estar com sede, que encontro o garoto de jaleco no meio do corredor. Parece estar em algum período sem aula, lê um livro que na capa diz ser sobre anatomia — embora o tamanho possa lhe comparar a uma Bíblia ou algo assim.

    — Olá, Dr. Choi! — lhe provoco, mas ele não tira os olhos de seu livro. Por que ele me ignora se é tão bom com todos?

    — Por que sempre me ignora?

    — Porque eu não deveria falar com você — continua sem me olhar. — Peço que me deixe em paz, por favor.

    Ele nitidamente se incomoda com minha presença, mas não é como se eu fosse conhecido como garoto problema sem nenhum motivo. Por isso, sento-me mais perto dele, recebendo mais uma vez seu silêncio e nada mais. Consigo ser insistente e até mesmo bem irritante quando desejo, mas

    com ele sinto ainda mais vontade de ser atrevido.

    — Só lhe trarei decepções, Seok-Min, mas ainda assim farei você conhecer o paraíso — sussurro, soprando seu ouvido para provocá-lo um pouco mais.

    Pela primeira vez nesse fim de manhã, Seok-Min olha na minha direção. Ele parece não acreditar no que eu disse, seu suspiro que é um misto de cansaço e frustração apenas confirma isso. Mas eu não faria nada contra sua vontade, afinal todas as coisas erradas que faço afetam apenas a mim

    — na maior parte das vezes.

    — Lee, por que não vai incomodar outro? — seu olhar cansado mostra o quanto ele não me quer aqui ao seu lado.

    — Você é comprometido? — pergunto, apontando para seu anel e fugindo totalmente do assunto.

    — Isso não é um anel de compromisso — informa, mexendo no objeto que enfeita sua mão. — É um anel de castidade.

    Por essa eu realmente não esperava, e é um choque tão grande para mim que Seok-Min apenas ri. Jamais conseguiria usar um anel desses e, bem, agora já nem posso mais, de qualquer forma.

    — Sei que para você isso pode parecer um absurdo, mas para mim é uma promessa — uma promessa que eu quero fazê-lo quebrar. — Sexo somente depois do casamento.

    — E você não sente desejos? Digo, você é homem! — ele somente ri outra vez, enquanto eu continuo pasmo.

    Sério, acho impossível alguém aguentar até o casamento ainda virgem. Óbvio que muitos conseguem, mas para mim é impossível. Ok, eu sei que perdi a virgindade cedo demais, mas ainda assim. Seok-Min é mais velho que eu, me pergunto como consegue isso.

    — Tem outras coisas no mundo que aliviam o estresse e dão prazer — continua ele, fechando seu livro após marcar a página onde havia parado. — E elas não envolvem sexo,

    drogas, álcool ou perfurar sua pele com piercings ou tatuagens.

    E assim ele se levanta e vai embora pelos corredores. Eu nada digo, só fico olhando o futuro médico se afastar. Ele é estranho.

    E eu quero tirar o anel de seu dedo.

    Mas sei que Seok-Min jamais me permitiria tocá-lo caso eu não demonstrasse verdadeiro interesse em si. Não um interesse baseado em desejo, em palavras simples, em falsas promessas. Ele precisa de uma garantia de que eu não sou um qualquer, de que eu vou ficar ao seu lado caso tudo desabe, não importando o que venha a acontecer.

    Volto para a minha aula sem um pingo de ânimo ou de vontade, tendo em vista o quanto odeio cursar essa porcaria conhecida como Arquitetura. Sento-me próximo de Yoo-Han e pego meu caderno e um lápis, sabendo que a única maneira de aquele inferno parecer um pouco menos chato é na base dos meus desenhos.

    O Kim, ao meu lado, ri quando me vê irritado. Ele gosta de me provocar, e mesmo que não tenhamos qualquer tipo de relação além de sermos colegas, ele é o mais próximo de um amigo que eu já tive. E isso é péssimo, sendo honesto, mas não é como se eu ainda estivesse em um momento da minha vida onde perderia tempo divagando sobre como é ser solitário.

    Foi uma escolha minha, no fim das contas. Optei por somente me relacionar de forma carnal com outros seres humanos e, no meu ponto de vista, está tudo bem. Isso me poupa ter maiores dores de cabeça no futuro.

    Exceto que Seok-Min parece ser uma dor muito gostosa de se sentir. E eu quero isso. Mesmo que acabe me apegando no processo de desvirtuar aquele anjo. Por algumas pessoas, esse sofrimento vale a pena. Por Seok-Min, então, eu não tenho uma sequer dúvida que vale ainda mais.

    — Se não quer assistir às minhas aulas, pode se retirar da sala — o professor diz, parado em minha frente e encarando o meu caderno, onde até então há somente uma porção de rabiscos.

    Como o deboche é meu forte e todos os olhares estão virados na minha direção, sorrio de canto e cruzo as mãos em cima da mesa, encarando o professor sem medo algum da represália. Afinal, ele é a autoridade aqui dentro, mas eu sou o maior quebrador de regras que a universidade já viu e não tenho essa fama sem motivo.

    — Não sabia que rabiscar meu caderno, em silêncio, ofusca seu brilho, professor — meus colegas seguram o riso, enquanto Yoo-Han ao meu lado quase se contorce tentando soar de maneira discreta. — Ou o senhor tem tanta necessidade assim de ter todos os olhares virados na sua direção?

    — Fora da minha sala — o professor tenta manter a calma, mas eu sei que o tirei do sério. — Agora!

    Apenas solto uma risada debochada e guardo meus materiais, jogando a mochila no ombro e piscando para um dos meus colegas. O mais velho da sala me olha e resmunga algo, mas não chego a prestar atenção, pois sei que ele só está irritado comigo. Ele odeia a minha existência e nem mesmo tenta fingir o contrário.

    A maior parte das pessoas me odeia mesmo, de qualquer forma.

    Chegar em casa é sinônimo de paz para a maior parte das pessoas. Para mim, é como entrar em um pesadelo. Apesar do deboche, do sarcasmo e de todas as coisas que eu faço — e todas as outras que inventam —, ninguém sabe o que vivo.

    Ninguém sabe nem metade das coisas que já fiz ou passei, porque ninguém verdadeiramente se importa.

    E foi disso que meus vícios — os pirulitos de cereja, o álcool e o sexo — surgiram. E eu nem me importo mais com tais coisas, são parte da minha vida e acredito que da minha essência também. Fazem parte de quem eu sou hoje.

    Acontece.

    Me atiro no desconfortável sofá e pego meu caderno e um pirulito de cereja após beber duas garrafas de água na tentativa de acabar com a minha sede. Mas eu sei que preciso de álcool para acabar com ela, sei que só isso será capaz de me trazer satisfação de fato, no entanto tinha me prometido que só beberia durante a noite. Não é um vício que eu controlo e, bem, se fosse controlado talvez sequer seria considerado como um vício.

    E está tudo bem.

    Pego meus lápis que já estão ficando pequenos e passo a rabiscar o caderno, sabendo que em breve mais um desenho sairá aqui. Sempre começo dessa forma, de qualquer maneira.

    Repentinamente, então, os lábios gordinhos irrompem minha mente, me martirizando por pensar de forma tão incessante em alguém como ele. Meus desenhos somente retratam coisas que me fazem bem, que fazem eu me sentir seguro, protegido, confortável e com ao menos um pouco de felicidade. Gosto de desenhar árvores, campos, ou personagens de filmes. É o que me deixa lembrar do resquício de inocência e infância que resta em mim.

    Seok-Min não me passa segurança, sequer tranquilidade.

    Ele é unicamente o anjo que eu desejo corromper.

    E, também, está tudo bem sentir-me unicamente dessa forma por ele. A única regra, é que eu não posso iludi-lo.

    Preciso deixar nítido desde o começo que só podemos ter, um com o outro, sexo. E sem romance, de preferência.

    Por isso, me aproximar dele parece ser algo em vão, tendo em vista que Seok-Min é puro demais para entregar seu

    corpo a alguém que ele certamente considera um qualquer.

    Não que eu me importe.

    Após uma tarde toda desenhando e me sentindo a cada instante mais frustrado, chamo Yoo-Han para irmos a qualquer boate que esteja disponível. É dia de semana, mas eu não posso ficar nem mais dois minutos dentro de casa sufocando com coisas que não quero pensar.

    Esse é o maior problema de se pensar muito, eu não consigo fugir dos meus próprios demônios e isso me assusta e, por vezes, controla até a parte mais sã da minha consciência. É um inferno. Odeio essa casa. Odeio as lembranças que ela me traz. Odeio a falta de conforto no que deveria ser meu lar.

    E por mais que raramente admita, odeio estar sozinho o tempo todo.

    Já na boate, certo tempo mais tarde, nada me faz tirar Seok-Min da cabeça. É como se ele tivesse adentrado ali sem nenhum aviso prévio de quando vai sair. O desejo que nutro por ele me consome um pouco mais a cada dia e me faz perceber que, se eu o provar uma vez, vou me viciar tanto quanto em álcool e vou precisar torcer para não morrer de abstinência.

    Porque quando eu conseguir tê-lo e Seok-Min souber que não vai passar de algo carnal, ele jamais vai olhar outra vez na minha direção.

    É por isso que, algumas doses de álcool depois, busco alguém que seja mais ou menos parecido com Seok-Min. Um corpo cheio de curvas — que eu observo sempre apesar do jaleco cobrir praticamente tudo —, lábios gordinhos, um sorriso adorável e olhos miúdos.

    O problema é que todas as pessoas de feição inocente, são falsas. Essa inocência não é real, talvez nem as pessoas sejam. E isso me incomoda. De vida falsa já basta a minha.

    — Não vai pegar ninguém? — Yoo-Han, ao meu lado,

    questiona. Ele está ainda em seu primeiro copo de bebida, eu sequer sei em qual já estou.

    — Só quero beber — é mentira.

    Eu nunca vou para boates com ele sem no mínimo beijar alguém. Faz parte de quem eu sou. E não dou a mínima.

    Logo consigo, finalmente, tirar Seok-Min dos pensamentos quando um rapaz baixo, de cabelos avermelhados com a raiz escura dando indícios de sua presença, aproxima-se sorrateiramente de mim. Como eu estou sentado em um sofá no canto, ele chega perto e se apoia nas minhas pernas como uma desculpa para sussurrar em meu ouvido.

    O convite para sair dali é convincente, mas não estou no ânimo de foder alguém que sequer vai me beijar como eu quero. Porque de toda a porcaria na minha vida, sexo ruim é pior que sexo sem sentimento, e eu geralmente obtenho os dois nas mesmas pessoas — o que me deixa irritado, de verdade.

    Os lábios mais ou menos carnudos me levam de volta aos pensamentos de minutos mais cedo, quando um certo loirinho não desgrudava da minha mente. Reviro os olhos enquanto o ósculo permanece acontecendo, mas rapidamente me livro do rapaz.

    É.

    Talvez esse seja o começo da minha ruína por Choi Seok-Min.

    No dia seguinte, acordo com a típica ressaca. Mesmo acostumado a consumir álcool em uma quantidade incomum para pessoas normais, a dor de cabeça do dia seguinte é algo do qual eu jamais consigo fugir. E isso me frustra a ponto de me fazer repensar se deveria ou não frequentar a faculdade por esse dia.

    Só que, no entanto, mesmo odiando o meu curso esse é o

    único momento em que eu não me sinto sozinho. E mesmo que eu seja bagunceiro, mesmo que eu quebre todas as regras possíveis, gosto de ter todos os olhares na minha direção. Mesmo que sejam de ódio, de raiva, de indignação, ou donos de corações que já parti.

    Foi com a chegada da faculdade que eu aprendi que não importa o tipo de olhar que me dirijam, desde que todos estejam voltados a mim.

    Me arrumo com as mesmas roupas justas de sempre, passo o mesmo perfume de sempre, ajeito o cabelo do mesmo jeito de sempre.

    Porque todos os meus dias são exatamente iguais.

    A professora do dia tem um incômodo desafeto por minha pessoa, então não me importo em tentar me arrumar diferente para impressioná-la. Eu poderia denunciar essa mulher por assédio desde o dia em que me ofereceu notas altas em troca de sexo e eu a neguei, rindo com desdenho e ainda declarando que o que ela tinha no meio das pernas não me despertava o mínimo de interesse. Mas, convenhamos, minha péssima fama na universidade jamais permitiria que eu, um aluno homem, denunciasse uma mulher por assédio.

    Porque o natural — ainda que errado em níveis absurdos

    — seria que eu a fizesse tal oferta e não o contrário.

    Mas, tudo bem, eu a evito o quanto posso e levo minha vida lixo de estudante de Arquitetura em diante, querendo que o prédio exploda e desabe em cima de todo mundo.

    Reviro os olhos assim que entro na sala, tem poucas meninas em um canto e a professora, que usa roupas curtas demais se compararmos a todas as outras que lecionam aqui.

    Não é da minha conta, por mim cada um usa o tipo de roupa que deseja, a minha repulsa é pela pessoa que ela é e não por seus trajes.

    Já uma outra menina da minha sala xinga a professora e a chama de alguns nomes bem ruins. Me parece um absurdo

    uma menina que comete tantos pecados dentro da universidade — de drogas até sexo — condenar uma professora por sua saia curta e blusa decotada demais. A roupa não molda o caráter, sinceramente.

    Não que a professora seja exemplo. É só que a aluna também não é.

    — Jung-Woo — uma delas me chama. Meu olhar firme vira-se na direção dela, sem nenhuma vontade devido à minha dor de cabeça forte. — O que acha de ir em uma festa na minha casa?

    — Na sua casa ou na sua cama? — questiono, segurando um pouco o deboche. — Porque, sinceramente, não tenho interesse em nenhum dos dois.

    Viro-me novamente para frente, vislumbrando o ódio que pendia dos lábios da professora, conforme outros alunos adentram a sala. Ela me odeia por ter sido rejeitada. Quando contei sobre isso para Yoo-Han, ele me perguntou se eu teria aceitado caso a oferta viesse de um professor homem.

    E minha resposta foi que unicamente aceitaria, se fosse Seok-Min, e sequer precisaria de notas melhores. E ele riu naquele instante, óbvio.

    — Você nunca tira o sorriso debochado da cara? — o Kim é o responsável pela pergunta. Ele é o único que conversa comigo, de qualquer maneira. — Parece até que nasceu com esse sorriso.

    — Talvez eu tenha, por isso minha mãe me odeia — eu rio, uma risada amarga e dolorida, mas ele não me acompanha.

    E claramente sequer tem motivos para acompanhar, de qualquer forma.

    Algumas vezes eu mesmo me incomodo com meu sarcasmo.

    02. INCÔMODO

    Seok-Min

    De todas as escolhas que fiz na minha vida, sempre soube que a mais dificultosa delas seria me formar em Medicina.

    Afinal, ser estudante de tal curso não é e nunca poderá ser considerado fácil. Sempre soube de todas as dificuldades que enfrentaria antes mesmo de decidir que queria essa carreira.

    Eu tinha em mente que queria salvar vidas e que qualquer esforço para isso seria válido.

    Jamais desistiria.

    Objetivos são criados para nós alcançarmos. Sinto que o grande propósito da minha vida é justamente poder ajudar pessoas, salvar vidas ou ao menos melhorá-las nem que seja um por cento. Acredito que, se podemos fazer o bem, então o bem deverá sempre ser feito.

    Isso inclui cuidar de todas as pessoas, mesmo que elas não peçam, ou mesmo que não queiram obter nossa ajuda. É uma tentativa válida e necessária, sempre, mesmo quando o mundo inteiro nos faz pensar o contrário.

    Desde que comecei o curso, enfrentei dificuldades. Tive noites de insônia, momentos de fraqueza emocional ao saber tudo que eu precisaria lidar, passei noites em claro estudando, li inúmeros livros e sei que vou ler outros tantos, fiz dois estágios e comecei o terceiro dentro da própria universidade.

    Eu enfrentei um bom tempo sem qualquer distração, totalmente focado em estudar e me tornar o melhor médico que poderia ser. Muitos queriam ser o motivo orgulho dos pais, mas eu queria me formar para ser o meu próprio orgulho, visto que esse curso é o meu grande sonho, no fim das contas, e quem se esforça para levá-lo em diante ainda sou eu.

    Agora, enquanto tenho as aulas práticas do meu estágio na enfermaria da universidade, percebo Lee Jung-Woo me observando. Estou me acostumando, já que todos os dias ele vem fazendo isso. E não é como se não me incomodasse, porque eu tenho que manter distância dele e sei bem disso, mas é que apenas ignorá-lo já deveria ser o suficiente. Só que não é.

    Na verdade, essa é uma tarefa difícil, tendo em vista que cresci em torno de bondade e aprendi a sempre tratar todos com amor mesmo recebendo apenas ódio em troca. Devemos amar ao próximo, não importa como seja ele. E isso se aplica a todos no meu ponto de vista, mas...

    Jung-Woo é uma exceção. E ele não deveria ser, no meu ponto de vista médico, mas no ponto de vista humano eu sei que estou sendo um tanto egoísta.

    — Você não quer treinar respiração boca a boca comigo?

    Estou com falta de ar — ele chega de mansinho, me assustando ao iniciar sua fala tão repentinamente.

    Só nesse instante que paro para reparar mesmo nele: alto, magro, roupas pretas, coturno, cabelo escuro e bagunçado, tatuagens em seus braços e pescoço, piercing no canto da

    boca e na sobrancelha, se não me engano possui um na língua também.

    Ele possivelmente é todo tatuado, e isso até mesmo me inspira curiosidade, mas não ao ponto de questioná-lo sobre ou algo do gênero. Algumas vezes minha curiosidade me deixa um tanto perturbado, por isso é melhor manter minha boca fechada caso não queira falar alguma besteira.

    — Você é muito sem noção — reclamo, vendo-o se aproximar mais. — O que quer aqui?

    — Estou mesmo com falta de ar, vim até você por isso, Dr.

    Choi — me dirige um sorriso de canto.

    — Não sou médico ainda — suspiro, tirando o que tinha em cima da maca para dar uma olhada nele. — Sente-se, por favor.

    Ele o faz, e eu me aproximo mais. E é assim que eu quase literalmente caio. É a primeira vez que temos um contato mais próximo como esse. As conversas que aconteceram até então não podem ser comparadas ao quão entorpecente é estar perto do seu calor ou sentindo seu perfume que parece ser afrodisíaco. É nesse instante que tenho total certeza de que estar ao lado dele é um caminho sem volta.

    E é exatamente por isso que sei o quanto preciso me afastar. Se eu der mais um passo, não vou conseguir voltar atrás.

    Antes de mais nada, vejo sua temperatura e pressão, como em qualquer triagem, encontrando ambos em níveis normais. Por mais que queira crer nele, tudo me mostra que o Lee está me enrolando para me incomodar de alguma maneira. Ele está se tornando craque na arte de me irritar, mas parece não se importar com isso.

    Não acho que ele realmente se importe com alguma coisa.

    Ele só faz o que sente vontade e quando sente vontade, e pronto.

    Isso até me causa certa inveja, em algum nível. Sempre

    temi ser a decepção dos meus pais e, por isso, não vivi como alguém da minha idade. Não aproveitei a minha infância brincando com os vizinhos, assim como não me diverti durante a adolescência com festas e namoros. Eu passei mais de vinte anos com um livro em mãos ou dentro da igreja com outros jovens da minha idade que, por alguma razão, se sentiam tão presos nos próprios medos quanto eu.

    E mesmo que tivéssemos várias coisas em comum, nunca vi nenhum deles como um amigo ou coisa parecida.

    Apesar disso, tinha alguém que me chamava atenção e que eu considerava especial.

    O triste é pensar que foi justamente por essa pessoa que me destruí pela primeira vez.

    — Respire fundo — peço a Jung-Woo, ouvindo o barulho de sua respiração ecoar pela pequena sala ao mesmo tempo em que seu hálito de cereja bate em meu rosto — de novo.

    Ele puxa, mas o ar parece lhe faltar.

    — Certo! Fez algum esforço físico nas últimas horas? —

    questiono, o vendo negar. — Tem algum problema de saúde ou fuma?

    — Não. A única coisa que pode ser é porque me enfiei em uma briga e bati minhas costas com força.

    Minha vontade é de revirar os olhos, contudo não o faço. É

    um ato desrespeitoso, embora sinta muita vontade de fazê-lo inúmeras vezes ao longo dos meus dias. Geralmente aqueles que me irritavam iam embora ao ver que isso não surtia efeito algum em mim, mas Jung-Woo parece unicamente sentir mais vontade ainda de me deixar irritado.

    Ele é insuportável, na verdade. E sabe bem disso, o que só o torna pior.

    — Certo! — continuo, percebendo a razão de tudo. — Não tem muito que eu possa fazer, deve melhorar em algumas horas. Peço que mantenha sua respiração em um ritmo calmo, sem forçar, sem exercícios e se possível sem álcool.

    — O que o álcool tem a ver? — questiona ao deitar-se na maca quando o guio.

    É um grande folgado! Mas, confesso que vê-lo me obedecer é interessante, pois Jung-Woo não é capaz de aceitar ordens com facilidade. Já o vi pelos corredores discutindo com colegas, professores e até mesmo com o diretor da universidade. Ele não gosta de regras a não ser que seja para quebrá-las.

    Ouço muitas histórias sobre ele ser causador de inúmeros problemas, ele é a personificação do caos, mas sei que muita coisa chega em meus ouvidos de forma exagerada. As pessoas gostam de aumentar, fantasiar e coisas assim.

    Mesmo assim, sei que ele não é nenhum santo, já vi com meus próprios olhos, ter a confirmação de outras pessoas apenas me faz ver que não é implicância de minha parte. Ou talvez seja, ao menos um pouquinho.

    — Com isso nada, mas acontece que não faz bem —

    argumento. Ele parece com frio e é por isso que coloco uma manta por cima de seu corpo. — Fique aquecido, vai fazer bem.

    Me afasto brevemente, guardando alguns objetos bagunçados em seus devidos lugares nos armários. Jamais gostei de bagunça, prefiro manter meu ambiente de trabalho em extrema ordem e organização, assim não corro o risco de me perder quando preciso fazer algo com pressa.

    — Está preocupado comigo? — me puxa para perto da maca, segurando meu braço.

    Não vou fingir que não fui atingido com isso, afinal minha primeira vontade é de puxar o braço com força, porém percebendo tamanha rudeza que teria em meu ato opto por apenas ignorar o acontecido. Ignorar muitas vezes é a melhor solução, assim brigas e desentendimentos são evitados com maior facilidade.

    Mas não posso fingir que não senti um arrepio atravessar

    minha pele, começando por minha nuca e se findando em minha cintura. Jung-Woo não pode ter conhecimento sobre esse fato, ou ele nunca mais vai me deixar em paz. Não posso deixá-lo notar os efeitos que causa em mim, exceto a indignação perante seus atos por vezes ridículos.

    — Serei médico em breve, me preocupar com a saúde alheia é normal.

    E me afasto outra vez, arrumando algumas outras coisas por ali. E Jung-Woo pega no sono, me fazendo rir. Em aparência ele é diferente, mas parece alguém bom.

    O problema é saber que ele só é bom em cometer erros.

    Não é como se isso

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